segunda-feira, 25 de março de 2024

Balanço da gestão Júnior Bandeira (2021-2024) em Lajeado


Júnior Bandeira  segue para finalizar mais um mandato como Prefeito da Cidade de Lajeado. Esse é o seu quarto mandato á frente do Paço municipal (levando em consideração o mandato tampão com a cassação do Dr. Tércio em 2019 pela justiça eleitoral). Ou seja, nos seus trinta e poucos anos de emancipação política Lajeado teve á frente da sua gestão essa figura – que gostem ou não – deixará sua marca. Mas nesse mandato especificamente que se finda em 2024 – e pode ser o último – qual seu legado? É uma gestão que merece continuidade através da eleição de outro nome desse grupo político ou é hora de mudança?

Mudança teremos de qualquer jeito. Pois ainda que o candidato eleito em 2024 seja do grupo político do Júnior Bandeira o estilo de administração será outro. Fala-se no vice-prefeito Edilson Mascarenhas (Nego Dilson). Será que mesmo com a máquina pública na mão ele tem alguma chance contra o principal candidato da oposição? Candidato esse que atende pelo nome de Dr. Tércio – e que além do apoio do Governador Wanderlei Barbosa também conta com o apoio de um histórico alinhado do Júnior Bandeira – o Senador Eduardo Gomes. 

Enfim, o próprio Júnior Bandeira parece ter se conformado que seu grupo político não tem um nome pelo qual vale a pena sacrificar a sua imagem. E se futuramente vier hipotecar o seu apoio a alguém será meramente protocolar. Há não ser que esse nome fosse do seu genro e secretário de finanças – Carlos Cacá. Mas o apoio do Eduardo Gomes a pré-candidatura do Dr. Tércio mostra que esse projeto não existe. Talvez no futuro, afinal de contas Cacá é jovem e deixa uma boa impressão para população lajeadense.

Aliás se a atual gestão Junior Bandeira sairá com uma visão positiva por parte da população isso se deve ao Secretário de Finanças Carlos Cacá – que fez com que o turismo em Lajeado de fato se tornasse uma política pública. Daí que os principais feitos dessa gestão seja a reforma do Balneário Ilha Verde, da Praia do Segredo e a realização de um calendário de eventos com atrações artísticas para atrair turistas. Além do arroz com feijão que todo gestor faz que é a manutenção dos serviços básicos como educação, saúde e limpeza urbana.

Muito pouco para o que a cidade necessita e tem condições financeiras de fazer. Por isso não temos dúvida em afirmar que se trata de uma gestão mediana – que do ponto de vista da melhoria da qualidade de vida da população pouco avançou. E se há um campo que mostra bem isso é a educação. 

Ora, é inadmissível que uma cidade com as condições financeiras que Lajeado tem, não tenha unidades escolares de excelência – que atendem em regime integral. Com laboratório de informática, laboratório de ciências da natureza, laboratório de produção audiovisual, refeitório, piscina entre outros (não vou nem entrar aqui na questão da valorização dos profissionais da educação). Assim como cursos técnicos profissionalizantes que de fato prepare o jovem para o trabalho, bolsas de estudo universitário para jovens de família de baixa renda, bem como a melhoria da rede de apoio ao turista por meio de qualificação profissional.  

A gestão dos resíduos sólidos é outro problema que não foi enfrentado por essa gestão. É inadmissível que a cidade tenha um lixão ativo (podem negar, mas não podem esconder a realidade). Para piorar, na entrada do principal ponto turístico da cidade.

Outro ponto crítico dessa gestão é o enfrentamento das expressões da questão social como a fome, a falta de moradia, a gravidez na adolescência, drogas entre outros. 

É importante destacar que a gestão atual não teve uma oposição ferrenha como foi com seus antecessores. Sobretudo na Câmara de Vereadores. O único momento de questionamento a gestão foi por parte dos professores da rede municipal reivindicando valorização salarial. O fato é que o principal adversário da gestão foi as restrições impostas pela pandemia de COVID-19 no biênio 2020-2021- o que não pode servir de desculpa para o que não foi feito.

Diante disso somos levados a afirmar que essa gestão não tocou nos reais problemas da cidade. Estava mais preocupada em promover uma imagem positiva para o público externo do que com as necessidades da sua população. Com isso respondemos as nossas questões iniciais da seguinte forma: em relação ao legado que essa gestão deixa salientamos sobretudo um investimento no turismo – o que não deixa de ser positivo por que gera emprego e renda. Mas ainda há muito o que se avançar para que o turista se sinta acolhido na cidade – a começar por um centro de atendimento ao turista. No entanto,  pensando nos problemas estruturais nada se avançou. Por isso não temos dúvida em defender a necessidade de mudança á frente da gestão municipal,  não só de nome. Mas de alguém que esteja de fato preocupado com o desenvolvimento sustentável de Lajeado.

Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. E Professor da Rede Estadual de Ensino do Tocantins.

quarta-feira, 20 de março de 2024

Está na comunidade ou com a comunidade

Quando estudante de Filosofia na Universidade Federal do Tocantins (UFT) participei como bolsista do Programa de Iniciação a docência  (PIBID) – que na prática consistia em acompanhar as atividades de um professor de filosofia numa unidade escolar em Palmas – auxiliando-o quando necessário. Inclusive ministrando aulas. No meu caso fui encaminhado para a Escola Frederico José Pedreira Neto. E vendo a minha desenvoltura a professora logo me encarregou de assumir as aulas da 3° Série do Ensino Médio. E posteriormente da 2°Série.

As aulas aconteciam nas sextas-feiras no período vespertino. Com isso eu tinha toda a semana para planejar o que e como fazer. Ou seja, tinha tempo mais do que o suficiente para planejar uma boa aula. Os estudantes eram bem participativos e com isso as aulas rendiam muito. Houve oportunidade que a aula acabava e eles queriam continuar discutindo. Mas nunca me senti parte da comunidade escolar. Nunca convivi verdadeiramente. Ia de forma pontual, dava minhas aulas e depois seguia para faculdade. Não vivia o dia a dia, não participava dos eventos, não vivia no território em que a escola estava localizada. Ou seja, eu estava na comunidade, fazia parte dela de alguma forma, mas não vivia com a comunidade. Não estava integrado a ela verdadeiramente.

Sempre acreditei, sendo coerente com a perspectiva educacional que me insiro, na necessidade do educador criar um vínculo com a comunidade em que irá atuar. E criar esse vínculo significa conhecer o território que a escola está inserida. E não há melhor maneira para isso do que viver no território. A partir daí terá mais condição de desenvolver o seu fazer pedagógico tendo como ponto de partida a realidade que o estudante está inserido. 

Do contrário, ou seja, não vivendo no território que a escola está inserida não significa que não fará um bom trabalho – que não possa dar boas aulas – aulas que certamente contribuíram para formação do estudante. Mas não é só a isso que resume o processo formativo – pelo menos não na minha perspectiva. A saber, uma educação libertadora fundamentada na ideia de que não basta conhecer, é preciso transformar determinada realidade.

Essa perspectiva pedagógica acredita que no processo formativo, além do aspecto educacional há um aspecto social – que só estando no território em que a escola está localizada. E conhecendo a realidade dos estudantes, podemos dar a nossa contribuição para a sua efetivação. De modo que nunca me passou pela cabeça, ao me tornar um educador, apenas está na comunidade, mas sobretudo está com a comunidade.

Isso é importante quando vamos trabalhar em territórios marginalizados. Sobretudo porque há toda uma narrativa preconceituosa acerca desses lugares e consequemente das pessoas que vivem ali – o que pode nos levar a uma postura arrogante – inclusive quando nos comportamos como uma espécie de salvadores com a missão de tirar aqueles pobres diabos da escuridão. 

Vivendo com a comunidade conseguimos perceber os seus reais problemas como também suas potencialidades. E a partir daí conseguimos desenvolver um trabalho mais consequente.

Pedro Ferreira Nunes – Graduado em Filosofia. Com especialização em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Educação do Tocantins.

sexta-feira, 15 de março de 2024

Algumas impressões do romance “O canto da carpideira”, da Lita Maria

Com o avançar dos anos acredito ser natural que aja uma evolução na literatura produzida no Tocantins, sobretudo no campo da prosa. O romance “O canto da Carpideira”, da Lita Maria é um exemplo nesse sentido. Trata-se de uma obra bem escrita na qual a sua trama narrativa consegue nos envolver, nos fazer pensar e nos emocionar. 

Lita Maria é o pseudônimo da goiana, radicada no Tocantins, Lucelita Maria Alves. E a sua vivência como filha de um trabalhador rural e de uma costureira certamente a inspirou no seu processo criativo. Como também autores como Raquel de Queiroz, Gabriel Garcia Márquez, Graciliano Ramos e João Guimarães Rosa. Membro da academia palmense de letras, Lita Maria é certamente uma das escritoras mais talentosas produzindo literatura no Tocantins. Além do “o canto da carpideira” (2014, EDUFT), ela já publicou outras obras como o livro de poemas: “Carretel de Rosas” (2012).

A obra retrata a vida sofrida de pessoas que aprendem desde muito cedo a conviver com a morte. Daí que o nome do romance faz alusão a personagem responsável por conduzir o ritual funebre com inselenças e orações – a carpideira. Um aspecto interessante em relação as mortes retratadas no romance é que não são por causas naturais ou como produto das relações conflituosas entre os indivíduos do lugar. Mas pela falta de condições básicas para uma vida digna. Tanto que as famílias quando se vê numa situação difícil em relação a assistência em saúde recorrer ao serviço das anciãs do lugar que possui o domínio de saberes populares. Essas senhoras dão assistência mesmo quando as famílias não possuem condições. Como no caso da família da pequena Dora que se vê órfão aos 6 anos de idade.

Temos consciência de que o sertão retratado na obra já não é o mesmo de hoje. Ainda que muitas famílias, mesmo nas grandes cidades, continuam sem ter acesso á condições de vida digna. Mas é importante para compreendermos nossas origens e ter uma ideia maior do que aqueles que denominavam esse território (o antigo norte goiano) de corredor da miséria.

É interessante como a partir das figuras femininas que aparecem no romance, além da carpideira também a raizeira e parteira. Analisarmos o lugar que as mulheres ocupa  nas comunidades tradicionais – como detentoras do conhecimento científico, digamos assim. Enquanto o papel dos homens é o serviço braçal por meio do qual alimentam a família. 

Já do ponto de vista da escrita, a autora consegue elaborar uma trama envolvente em que ela vai tecendo as estórias transformando monotonia em dinamicidade. Afinal de contas como ela diz estamos num lugar “onde tudo é igual, sem ser rotina.” Há algumas repetições desnecessárias. Mas nada que prejudique a leitura e a qualidade do romance. Talvez tenha sido intencional no sentido de evidenciar o que queria passar. Percebemos que há uma preocupação da autoria em descrever detalhadamente o cenário. E conseguiu de maneira competente.

O que a autora consegue também é nos sensibilizar diante de tantas tragédias que poderiam ser evitadas. Na sua apresentação da obra a Professora Rose Bodnar salienta a influência de autores como Gabriel Garcia Márquez e Graciliano Ramos. Concordo totalmente. Mas também acrescentaria Raquel de Queiroz, sobretudo no romance O quinze.

É importante destacar que do ponto de vista estilístico a obra não traz nenhuma novidade. Quanto a temática também não. No entanto isso não diminui de forma alguma a obra, sobretudo em relação ao conteúdo – esse sim é original.

Abro um parentese para dizer que cheguei a esse livro a partir de uma conversa com um estudante do Ensino Médio de uma turma que eu ministrava aula. Ele ia fazer o vestibular da Universidade Federal do Tocantins (UFT) e não sabia qual seria a obra regional que iria cair na prova. Demos uma olhada no edital e descobrimos que seria “O canto da carpideira”, da Lita Maria. A autora não me era estranha, mas a obra nunca havia lido. Me comprometi então com o estudante que iria trabalhar o livro numa aula,  para tanto eu tinha que ler. E assim fiz.

Gostei tanto da obra, tanto do ponto de vista literário como das questões filosóficas e sociológicas que ela sucinta, que escolhi para trabalhar num projeto de filosofia e literatura. E não poderia deixar de recomendar a leitura para o público em geral. Aqueles que se interessarem podem encontra-la numa versão digital (em pdf) pesquisando no Google. Já os que assim como eu prefere o papel, pode adquirir junto a editora da Universidade Federal do Tocantins.

Pedro Ferreira Nunes – Graduado em Filosofia com especialização em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor na Rede Estadual de Educação do Tocantins.

domingo, 10 de março de 2024

Conto: - Aquela filha da puta está conseguindo mexer com minha cabeça

Entrei no bar. Estava tocando Rolling Stones. Sentei num canto, pedi ao garçom uma dose de conhaque. E perguntei se havia algum problema fumar ali. Ele disse que não. Então acendi uma cigarrilha e comecei a degusta-la juntamente com o conhaque enquanto apreciava os riffs do Keith Richards. Ela disse que estaria por ali, mas ainda não havia chegado. Que horas chegaria?

- Aquela filha da puta está conseguindo mexer com minha cabeça. 

Aquela frase me  chamou atenção. Olhei discretamente para o lado para ver quem havia dito. Não conhecia. Mas a partir dali não pude deixar de prestar atenção na conversa.

- Confesso que quando nos conhecemos, ela não me chamou muito atenção. Apesar das provocações, que eu levava como brincadeira, não passava por minha cabeça qualquer intenção de ficar com ela. Inclusive naquela noite. Mas as coisas foram acontecendo de um jeito que... aconteceu.

- Como assim?

- Quando estávamos naquele rolê na nigth teve um momento que ela chegou e disse que tinha uma mulher afim de mim. Eu sinceramente não tinha percebido. Ai essa mulher chegou e confessou o seu desejo. Mas disse que tinha outra afim de mim. E me questionou com quem eu iria ficar.

- Tava podendo, ein?!

- Maluquice isso, não?!

- Mas e aí?!

- Entre as duas. Ela é quem tinha alguma chance. Álcool demais na cabeça. Coração mole. E... Vou ver de qual é. Daí investi. E vi que eu de fato tinha muita chance. Não deu outra acabamos na cama. 

- A galera Tava comentando que você tinha pego.

- Não sei  como vazou. Mas digo para ti, que sei que não vai falar para ninguém. Peguei sim.

- Rapaz. E qual o problema?!

- Ela tem namorado.

- Fodasse. O problema é dela (e dele que é corno).

- Mas o povo comenta. Não pega bem.

- Não pega bem para ela.

- E a gente ficou de novo. 

- De novo?

- Sim. Naquele outro rolê lá. 

- Hum. E daí?!

- E daí que agora não consigo tirar aquela filha da puta da cabeça. 

- Apaixonado, meu?!

- Não. De forma alguma. Não é paixão. Não sei ti explicar o que é. Mas não é paixão. 

- Olha, olha.

- Não quero namoro ou qualquer compromisso sério. Apenas ficar, apenas transar. O nosso beijo se encaixou de uma forma. E o sexo foi tão gostoso que agora não consigo esquecer.

- Isso é paixão, meu caro. 

Enquanto ouvia aquela conversa eu me questionava quem seria aquela mulher que tinha fudido com a mente daquele pobre diabo. Foi então que quem eu estava esperando chegara. E ouvi o seguinte comentário. 

- Caralho. Ela acabou de chegar.

Eu olhei para ver se estava chegando mais alguém além da minha namorada. Mas não havia mais ninguém. 

I'll never be your beast of burden

I'll never be your beast of burden

Never, never, never, never, never, never, never be...”


Por Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino americano  que gosta de ler, escrever, correr e ouvir rock in roll.

terça-feira, 5 de março de 2024

Algumas questões sobre a educação pública no Tocantins

Os problemas que têm ocorrido nesse início de ano letivo na rede estadual de educação do Tocantins, sobretudo a falta de professores, já eram previsíveis devido ao ritmo de tomada de posse daqueles aprovados no último concurso. Pois por mais que o Governo do Tocantins tenha otimizado o processo através da posse digital. Há um prazo a que todo convocado tem direito, que deve ser observado. Sem falar que nesse meio tempo alguns acabam desistindo da vaga. Portanto, não há muito o que fazer. Se não esperar que todo o processo de tomada de posse dos novos concursados se efetive. Enquanto isso as escolas precisam se organizar para atender a comunidade escolar, sobretudo os estudantes, sem maiores prejuízos.
No nosso ponto de vista o problema se deu no cronograma do concurso público. Esse deveria ter sido melhor organizado para que ao iniciar o ano letivo de 2024, o processo de tomada de posse já tivesse sido concluído. Mas é importante ressaltar que apesar desse problema o ano letivo não está prejudicado. É certamente um início difícil, mas os ganhos a médio e longo prazo são enormes. Diante disso, devemos reconhecer a importância da realização do concurso público por parte do atual Governo do Tocantins (Wanderley Barbosa) e a convocação dos aprovados - uma bandeira que levantamos há vários anos como um passo fundamental para melhoria da educação pública no Tocantins.
Nós que atuamos na educação sabemos da importância que é ter estabilidade para poder exercer um trabalho de excelência. De modo que não poderíamos estar mais felizes por essa conquista por parte de diversos colegas. Para a rede também é muito importante pois ela pode investir na formação continuada desse profissional, sabendo que este investimento gerará um retorno positivo para as escolas e consequente a qualidade do ensino. Por fim, é uma conquista de todos os tocantinenses, que é quem colherá os frutos de uma educação pública de qualidade.
Outro fator que devemos reconhecer é a melhoria da estrutura das unidades escolares, ainda que haja muito o que se avançar nesse sentido. Tanto que quando se fala hoje em ampliação da educação em tempo integral, muitas escolas, sobretudo no interior, não tem condição de ofertar esse regime de ensino por falta de condições estruturais. O investimento em tecnologia e laboratórios precisa também ser enfatizado. Como também a valorização, do ponto de vista financeiro, dos profissionais que estão na sala de aula, como também a oportunidade de aperfeiçoamento através de cursos de Especialização e Mestrado.
No entanto há questões que precisam avançar e outras ser revistas. Por exemplo em relação a gestão democrática das escolas. Sobretudo no que diz respeito à eleição de diretores pela comunidade escolar. Nesse sentido o município de Palmas, dá um passo à frente - exemplo que esperamos ser seguido pela Rede Estadual de Ensino. Já em relação ao currículo esperamos que sejam revistas modificações que reduziram o espaço das humanidades na grade curricular de ensino - por exemplo a retirada do Componente Curricular de Filosofia da 3ª Série do Ensino Médio, de Sociologia da 2ª Série do Ensino Médio e de Arte da 3ª Série do Ensino Médio. 
Imagine o quanto isso não é prejudicial para o estudante da Rede Estadual de Ensino, que está cursando a Terceira Série do Ensino Médio e no final do ano se depara com questões de filosofia no ENEM e outros processos seletivos para ingresso no Ensino Técnico ou Superior. Mas esse não é o principal. Uma educação que se pretende formar para o exercício da cidadania e para o trabalho não pode abrir mão das competências e habilidades desenvolvidas pelas humanidades. Nessa linha, acreditamos que precisa ser revista a carga-horária dos ditos itinerários formativos em detrimento da formação geral básica. Sobretudo referente aos componentes curriculares da área de humanidades mas também da dita ciências da natureza.
Enfim, não podemos negar os avanços significativos que a educação pública no Tocantins tem vivido, sobretudo no que diz respeito a valorização profissional e a melhoria das estrutura das unidades escolares. Como também a realização do concurso público e a convocação dos aprovados, inclusive daqueles que foram aprovados acima das vagas imediatas disponibilizadas no edital. Por outro lado, não podemos deixar de pontuar questões que precisam avançar, além de outras que precisam ser revistas. Pautar essa discussão é fundamental para que vislumbremos mudanças nesse sentido.
Pedro Ferreira Nunes - Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica na Rede Estadual de Ensino do Tocantins.

sexta-feira, 1 de março de 2024

A importância da comunicação comunitária na Escola Pública

Com a popularização da internet tivemos uma revolução no campo da comunicação (ainda que as grandes empresas midiáticas continue controlando o fluxo da informação). A internet quebrou o monopólio dos veículos tradicionais. Permitindo uma comunicação direta com um público determinado. Isso permitiu o fortalecimento da comunicação comunitária. De modo que hoje qualquer organização pode construir canais direitos de comunicação e a partir daí fortalecer vínculos e promover a participação.

Dito isso é importante definirmos conceitualmente a nossa compreensão do que é comunicação comunitária. De acordo com Cavalheiro e Iser (2018), citando Peruzzo (2006), “significa o canal de expressão de uma comunidade por meio do qual os próprios indivíduos possam manifestar seus interesses comuns e suas necessidades mais urgentes”. Ou seja, feita pela comunidade e para a comunidade.

Não é possivel pensar uma comunidade sem processos de comunicação que articule, direcione e promova as ações dos grupos que a compõem. Nesse sentido as instituições de ensino, enquanto comunidades escolares, não podem abrir mão de uma política de comunicação – que deve está explicitada no seu Projeto Político Pedagógico  (PPP). 

É evidente que sempre houve uma politica comunicacional nas escolas. No entanto, com a suspensão das aulas no contexto da pandemia de COVID-19. Tornou-se necessário uma atualização dessa política comunicacional com a apropriação das mídias digitais fundamentais para manutenção de vínculo entre a comunidade escolar. Como também divulgar para o público em geral as ações que estavam sendo realizadas. Pois ao contrário do que alguns pensavam, professores e demais servidores não estavam de braços cruzados (recebendo sem trabalhar).

Superado a pandemia de COVID-19, a necessidade das escolas manter ativo os canais criados não perderam sua função. Pelo contrário. A necessidade de uma politica de comunicação, que vai além dos meios tradicionais, é fundamental. E aqui estou falando sobretudo da escola pública que tem uma função social importante na sociedade. Nessa linha nada melhor do que mostrar essa importância divulgando as ações realizadas pela comunidade escolar entre os muros da escola.

A escola pública tem sido atacada cotidianamente a partir da justificativa de que a mesma seria sinônimo de fracasso. Tal discurso tem como objetivo privatiza-la, transforma-la em mercadoria. Resistir a esse processo é fundamental.  E uma estratégia importante nesse sentido é divulgar o que – apesar da falta de condições adequadas – produzimos na escola pública. E quem melhor do que nós que estamos no chão da escola, assumir essa missão. 

Outro fator importante é o fortalecimento de uma gestão democrática. Ora, uma gestão democrática se faz com participação. Mas como participar sem informação/formação. Nesse sentido uma comunicação efetiva é fundamental.

Como efetivar uma comunicação comunitária? O ponto de partida é compreender-se como parte de uma comunidade. Entender que o fortalecimento dessa comunidade passa pela participação de todos. Em termos mais práticos é necessário a elaboração de um plano com estabelecimento de objetivos, metas, ações e responsáveis por concretiza-las. Ou seja, colocar no papel o que se quer comunicar, com qual objetivo, através de quais canais e quem será o responsável. 

Óbvio, para que isso aconteça de forma eficaz é necessário se apropriar das técnicas comunicacionais. Isso significa necessariamente que os indivíduos responsáveis precisaram passar por formação. A partir do momento que a comunidade se apropria dessa técnica torna-se independente dos meios tradicionais – que são pautados por interesses comerciais. Ou seja, por conteúdos que dão mais ibope. Já a comunicação comunitária está preocupada com a cidadania. Com a busca pelo bem comum.

Diante disso enfatizamos a nossa defesa da comunicação comunitária na Escola Pública. Acreditamos que essa é fundamental para o fortalecimento da comunidade escolar, do processo educacional. E consequentemente de uma sociedade democrática. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica. 

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Uma noite em Macondo

Cheguei em Macondo por volta de umas 18h. Nunca havia estado ali. Mas era como se eu conhecesse cada palmo daquele lugar. Percorrir as ruas do povoado e vi dezenas de rostos que me pareceram familiares. Pietro Crispi ainda não havia fechado sua loja de música. Ou seria o seu irmão? O padre Nicanor na porta do seu templo pregava para as moscas. Arcadio voltando da escola provavelmente seguia ao encontro de Santa Sofia de la Piedad. Numa esquina, Pilar Terneira nos braços de um amante qualquer. 

Ao passar pela taberna de Catarino não me contive e entrei. Pedi uma bebida e fiquei observando o movimento das mulheres cheirando flores mortas, atendendo a clientela. Num canto atracado com uma qualquer me pareceu Aureliano José. Provavelmente tentando esquecer de Amaranta. O lugar estava animado. Mas eu precisava seguir viagem. Aquela pequena de olhar convidativo ficaria para outra oportunidade. Quem sabe?!

Segui caminho e avistei a casa dos Buendias. Vi uma jovem senhora bordando. Creio que era Amaranta. Em outro canto um senhor conversava sozinho em baixo de um pé de árvore. Era o velho José Arcadio Buendía conversando com o espírito do Prudêncio Aguilar. Visitacion passou apressada rumo a cozinha onde estava Dona Úrsula preparando algumas guloseimas. Como não admirar dona Úrsula – ela representa a figura trágica da mulher que é obrigada a deixar de ser para si – doando-se integralmente a família. E aquela, não era uma família qualquer. 

Que coisa estranha. No interior o tempo parece passar mais lentamente. Mas aquela noite não. Quando me dei conta já era quase manhã. E eu precisava ir embora dali. Mas não podia fazer isso sem antes passar no cemitério e visitar o túmulo do grande Melquiades. E assim o fiz. No caminho passei numa casa que provavelmente pertencia a José e Rebeca. Por um segundo me pareceu ver o vulto de uma figura toda tatuada – sim, era a casa do casal que se formou de uma paixão avassaladora.

Passei no cemitério. Sentei ao lado do túmulo do velho Melquiades, acendi um palheiro, e enquanto fumava fiquei meditando sobre aquela figura – que dedicou toda a vida a busca pelo conhecimento. E havia impregnado naquele povo – sobretudo no José Arcadio Buendía – a paixão pelo extraordinário. Só esqueceu de dizer que quem ousa seguir o caminho do extraordinário é tido como louco. E acaba tendo um final trágico. E de tragédia os Buendias entendiam bem – afinal de contas estavam condenados a cem anos de solidão.

De repente me pareceu ouvir um trotar de cavalos. A frente da tropa três figuras se destacavam. Roque Carniceiro, Gerineldo Márquez e o grande Coronel Aureliano Buendía – com seu ar solitário e um olhar perdido no horizonte. Pronto, agora eu podia partir satisfeito de Macondo. Tinha visto o mais famoso dos Buendias – o terror dos conservadores. 

Segui viagem esperando voltar um dia aquela cidade. Reencontrar aqueles rostos conhecidos, tomar umas na taberna de Catarino. Quem sabe me deitar com uma daquelas mulheres cheirando a flores mortas. Vai saber o que a vida nos reserva. Talvez eu até me case com uma das filhas do Sr. Moscote e fique morando ali. 

Ou não. Talvez quando eu retornar, Macondo já tenha se modificado bastante. Sobretudo com a chegada das modernidades trazida pelos gringos da companhia bananeira. Muito desses rostos conhecidos estarão descansando no cemitério – José Arcadio Bundía e seus filhos – netos e bisnetos – que herdaram não só sobrenome, mas também os nomes que vão se repetindo – Joses e Aurelianos. E as tragédias. Visitacion, Dona Úrsula, Rebeca, Amaranta. Já não encontrarei a taberna de Catarino, Pilar Terneira e nem as mulheres cheirando a flores mortas.

Nessa Macondo não me interessa viver. Apenas passarei buscando em alguma paisagem, lembranças do passado – dos velhos rostos e lugares. E seguirei meu caminho. Quem sabe eu não sou um desses condenados a cem anos de solidão.

Pedro Ferreira Nunes – apenas um rapaz latino-americano que gosta de ler  escrever, correr e ouvir Rock in roll.