quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Anderson Silva: De herói a anti-herói


*Por Pedro Ferreira

Acompanhei perplexo o nocaute sofrido por Anderson Silva no octógono do UFC diante do jovem americano na sua sétima defesa do cinturão dos pesos médios de MMA (Artes Marciais Mistas), até então Anderson não havia perdido uma luta neste evento, e sua performance no octógono era tão fascinante, mostrando uma superioridade tão grande a frente dos seus adversários que parecia mesmo que ele era imbatível.

Negro de origem humilde encontrou no esporte assim como tantos outros atletas brasileiros a oportunidade de fugir da miséria que nocauteia milhões de brasileiros. Seu sucesso logo o jogou com o apoio massivo da mídia no patamar de um herói e ídolo do povo brasileiro.

Tal como jogadores de futebol como Pelé, Ronaldinho, Romário e mais recente o Neymar. Pilotos de automobilismo como Ayrton Senna, Jade e Dayane dos Santos na ginastica, Cesar Cielo na natação entre outros. É apenas alguns exemplos de atletas jogados a condição de ídolos e heróis da pátria.

Atletas que levam nas costas as esperanças de um povo oprimido e explorado ao extremo, e que vê no sucesso desses ‘heróis fabricados’ uma chance para esquecerem suas frustações bem como de aceitarem sua condição de explorado. Assim quando esses atletas nos frustram com a derrota, somos obrigados a encarar a realidade.

A mídia que antes jogavam esses atletas a condição de heróis, diante da derrota, passam a trata-los como um anti-herói, os mesmos se tornam descartáveis, já não servem para continuarem alienando o povo. Assim a mídia parte por tanto em busca de novos heróis.

Anderson Silva tem sentido isso na pele. De herói a anti-herói. Eu que sempre admirei Anderson como lutador (não como herói ou ídolo) não posso deixar de confessar a minha decepção com sua derrota, mesmo sempre imaginando que uma hora ela viria. Também me recusei a ver o massacre e demonização desse grande atleta pela impressa e opinião pública quase em sua totalidade.

Só agora alguns dias, tive coragem de ver a entrevista dele no programa da Marilia Gabriela e não me arrepende, inclusive foi diante dessa entrevista que pensei escrever este artigo. Entrevista a qual mais uma vez vi o grande atleta que ele é, bem como um grande ser humano.

Hoje penso que Anderson Silva nos deu uma grande lição, mesmo sem querer. Lição de que antes de ser um ídolo ou herói, ele é humano, que tem suas fraquezas e que comete erros, que não é invencível e não pode carregar nas costas a responsabilidade de fazer com que tenhamos dias melhores. Pois isso deve ser tarefa de todos nós.

Tal como reconheceu a derrota, que Anderson Silva também não se deixe levar pela opinião de que é um anti-herói, mas que não volte a se achar que é um herói quando dê a volta por cima, pois acredito que dará e estarei acompanhando na sua próxima luta e torcendo por ele.

Que não se deixe manipular, tornando-se apenas um produto para gerar riqueza e alienar o povo. E pela entrevista que vi, senti que ele tem consciência disso. Deve por tanto voltar a sua origem tirando de suas costas qualquer responsabilidade que não tem, acreditando no que não é. E voltar a lutar simplesmente por prazer.

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