terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Tem que respeitar!?

Diante de uma enxurrada de denuncias que parece não ter fim os governistas gritam categoricamente para que respeitem a história do ex-presidente Lula. No entanto tal pedido deveria ser feito para o próprio Lula, pois ele é o principal responsável por jogar a sua história na “lata de lixo da história”. Pois foi isso que ele fez quando abriu mão do projeto histórico pelo qual dedicou boa parte de sua vida. Quando traiu a classe trabalhadora aliando-se a burguesia e dilacerou a esquerda brasileira. 
 
Ora, tal figura não merece o nosso respeito. Pois o projeto politico e os interesses que ele representa há muito tempo que deixou de ser os interesses do povo trabalhador do campo e da cidade. Ou alguém tem alguma duvida de que um sujeito que se alia com figuras como José de Alencar, Henrique Meireles, Fernando Collor, José Sarney, Abílio Diniz, Paulo Maluf entre outros tem algum compromisso com a classe trabalhadora?

Nós sempre respeitaremos o Lula retirante, o Lula operário, o Lula líder sindical, o Lula que combateu a ditadura militar, que lutou pela redemocratização do país. Respeitaremos, sobretudo o Lula que por muito tempo foi um dos principais lideres da esquerda desse país. Mas este Lula morreu. Morreu por suas próprias mãos. Muitos ainda não perceberam isso. Agarram se ao passado, não perceberam que cultuam um morto. Ou talvez saibam e preferem iludir-se até que encarar a realidade.

Escrevo essas linhas com a tranquilidade de quem há muito tempo não se ilude com o lulismo – desde a reforma da previdência que retirou direitos dos trabalhadores ainda em 2003. E mesmo antes dessa onda de denuncias em torno de sua figura. Quando ainda em 2009 ele nadava numa popularidade de mais 80% de aprovação do seu governo, estávamos nas ruas de Goiânia protestando pelo abandono da reforma agrária – a qual ele prometera fazer em uma canetada quando assumisse a presidência.

Ao contrário da direita, não fazemos a critica ao individuo Lula, mas sim ao projeto politico que ele representa – um projeto que não interessa aos trabalhadores. E que no fundo é o mesmo projeto de partidos como PSDB e DEM além de outros tantos que hoje fazem oposição ao governo federal e que temem uma possível candidatura de Lula em 2018.

Por fim, não é com nenhuma satisfação ou com festa que acompanhamos as diversas denuncias envolvendo o ex-presidente Lula. Lamentamos muito pelo que ele fez com sua própria historia. Pois se há algum responsável pela perda de respeita a sua figura, este responsável é ele mesmo. É o próprio Lula que jogou sua história na “lata de lixo da história”.

Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Velha Chácara

Crônicas da UFT: Marxismo de gabinete.

Caros camaradas que acompanham as minhas publicações no blog “das barrancas do rio Tocantins”. Essa crônica pretende ser a primeira de uma série que pretendo escrever a cerca das questões mais relevantes que ocorrem na UFT – Campus de Palmas. Claro, sempre com o olhar critico que caracteriza os meus textos, como também numa linguagem popular. Com isso pretendemos contribuir para que os debates que ocorrem dentro do campus a cerca das diversas questões do cotidiano da nossa sociedade possam ecoar para além dos muros da universidade. E nessa primeira crônica vou falar sobre uma questão que tem me incomodado muito na UFT- Campus de Palmas que é o marxismo de gabinete.

Isso mesmo, professores que se dizem marxista, que fazem um discurso revolucionário, que elaboram artigos fundamentados no marxismo, mas que na prática estão totalmente alheios a luta concreta da classe trabalhadora tocantinense pelos seus direitos. Ou se omitem quando projetos contrários ao interesse do povo são implementados com o apoio da universidade.

Pegamos como exemplo, o MATOPIBA, que foi lançado na UFT com a presença da ministra da agricultura Kátia Abreu. Os marxistas de gabinete dizem ser contra o projeto, no entanto nenhum esteve presente na manifestação contraria que ocorreu no campus, também nenhum professor fez uma notinha se quer contestando esse projeto que tirará direitos das populações tradições do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Foi um silencio total em relação à violência sofrida por estudantes na manifestação que ocorreu. E agora aparecem dizendo que são contra o MATOPIBA. Mas por que não fazem isso publicamente, por que só fazem isso na sala de aula?

Outro caso na UFT que os marxistas de gabinete e demais professores se silenciaram foi em relação às denuncias investigadas pelo ministério público federal de corrupção por parte da reitoria. Ainda hoje a um silencio total sobre essa questão na universidade. Nenhuma manifestação, nenhuma notinha, nenhum posicionamento publico mais consequente.

E se esses marxistas de gabinete não ajudam a construir nem um movimento de esquerda forte na UFT. Imaginem na sociedade em geral. É ai que não os vemos mesmo. Nem no campo das ideias esses senhores contribuem. Claro que em tudo há exceções, e nesse caso são exceções mesmo, tanto que contamos nos dedos de uma mão professores que de fato são marxistas engajados com as lutas populares no Tocantins.

Já dizia Lênin: Sem trabalho, sem luta, o conhecimento livresco do comunismo, adquirido em folhetos e obras comunistas, não tem absolutamente nenhum valor, uma vez que não faria mais que continuar o antigo divórcio entre a teoria e a prática, esse mesmo divórcio que constituía o mais repugnante traço da velha sociedade burguesa.

E infelizmente essa é uma das características do marxismo de gabinete, que mais trabalha contra a luta revolucionária do que propriamente para o seu desenvolvimento. Estes senhores nos faria um grande favor se assumissem o que são na verdade – conservadores e oportunistas. Mas se não assumem o que são, é nossa tarefa revolucionária desmascara-los e encaminha-los para o pântano como dizia Lênin:

“...achamos, inclusive, que seu lugar verdadeiro é precisamente no pântano, e, na medida de nossas forças, estamos prontos a ajudá-los a transportar para lá os seus lares. Porém, nesse caso, larguem-nos a mão, não nos agarrem e não manchem a grande palavra liberdade, porque também nós somos "livres" para ir aonde nos aprouver, livres para combater não só o pântano, como também aqueles que para lá se dirigem”.

Eis ai a tarefa daqueles que de forma coerente e consequente vivem o marxismo e lutam por uma universidade popular.

Pedro Ferreira Nunes é estudante de filosofia da Universidade Federal do Tocantins.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Reforma administrativa do governo Marcelo Miranda: E a cultura novamente paga o pato.

Menos de um ano após ser recriada a secretaria de cultura volta a ser extinta pelo governo Marcelo Miranda (PMDB). Tal mudança se dá por causa da reforma administrativa que visa reduzir os custos com á maquina pública devido à conjuntura de crise que o estado vem passando.

Mas por que mais uma vez a secretaria de cultura? É sempre a mesma história – se o estado está em crise e tem que si cortar gastos – fecha-se a secretaria de cultura. Essa velha receita vem sendo aplicada nos últimos anos no Tocantins pelos dois grupos políticos que se revezam no poder. Tanto por siqueiristas como pelos pemedebistas.

A única diferença é que agora em vez de ser anexada a secretaria de educação tal como fez o governo Siqueira, a cultura fará parte da nova secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia, Turismo e Cultura. Ora, se antes com uma própria pasta a cultura já era deixada de lado, imagine nesse novo contexto.

Para o governo de plantão a cultura é descartável – só é prioridade nos discursos. E por tanto não é de se admirar que seja a primeira a pagar o pato quando o governo precisa reduzir gastos. Ora, se era para fechar em menos de um ano antes fosse melhor nem ter sido recriada. E por que então o governo Marcelo Miranda recriou e agora volta extinguir a secretaria de cultura? Uma coisa é fato, não era para fortalecer a cultura tocantinense, pois esta não será fortalecida enquanto não houver uma continuidade na implementação das politicas da área cultural, e que para tanto é fundamental politicas de estado e não de governo.

A decisão tomada pelo governo Marcelo Miranda mostra a forma oportunista como ele trata a cultura no Tocantins – esta claro que a reabertura da secretaria de cultura não tinha como objetivo fortalecer a cultura tocantinense, (tanto que agora em menos de um ano ela torna a ser extinta), mas desviar o foco das várias greves que seu governo enfrentou ano passado e do descontentamento geral da população. Assim a reabertura da secretaria de cultura, o salão do livro e outros eventos culturais não passaram de uma cortina de fumaça para enganar setores da área cultural e a sociedade em geral. Como também para atender aliados políticos. Pois não foram poucas as denuncias dando conta de que neste curto espaço de tempo, a secretaria de cultura sob a gestão do Melck Aquino voltou a funcionar como um balcão de negócios tal como na época da Kátia Rocha.

Não dá para aceitar a justificativa do governo Marcelo Miranda para a extinção da secretaria de cultura. Está claro que não é isso que irá resolver os problemas financeiros por que passa o Tocantins. Aliás, a reforma administrativa em curso, é um engodo politico – não resolve nada. Tal como não resolveu nada a reforma administrativa feita por Siqueira Campos há dois anos com a mesma justificativa de cortar gastos.

Se de fato quisesse cortar gastos o desgoverno “Marcelo Miranda” deveria extinguir as regalias e privilégios para parlamentares e funcionários do alto escalão do governo. Como por exemplo, o auxilio moradia, decimo quarto e decimo quinto salários, verbas indenizatórias. Redução dos salários de deputados, secretários, do governador e da vice-governadora. Dispensar servidores comissionados (especialmente os fantasmas), e chamar os concursados. Mas isso o governo não faz. Preferi aprofundar o modelo neoliberal no Tocantins.

Por outro lado à classe artística tocantinense continua inerte, não se organiza, não se mobiliza, não protesta. Prefere silenciar-se, esperando que o governo lhes dê alguma migalha na forma de um edital. Alguns conseguem, mas a grande maioria sofre sem conseguir produzir e divulgar sua arte. Enquanto as coisas permanecerem assim, a cultura tocantinense continuará pagando o pato.


Pedro Ferreira Nunes é educador popular, poeta e escritor tocantinense.

Sobre o documentário: S.O.S Rio Tocantins

No ultimo dia 14, foi lançado na internet o documentário S.O.S Rio Tocantins, do cineasta miracemense Cássio Renato Cerqueira. O curta metragem mostra de forma poética a seca no rio Tocantins a partir da visão dos canoeiros e barqueiros que fazem a travessia entre as cidades de Miracema e Tocantínia.

O documentário S.O.S Rio Tocantins não é a primeira obra artística a chamar a atenção e denunciar a destruição do principal rio que corta o Estado do Tocantins, especialmente a partir da construção das Usinas Hidrelétricas de Lajeado e do Peixe Angical. Também lembramos do documentário “Tocantins – rio afogado” do cineasta Hélio Brito, além de musicas, poemas entre outras formas de arte – que tem cumprido muito bem esse papel. Mesmo que na maioria das vezes estas obras de arte são completamente ignoradas.

Iniciativas como a do cineasta Cássio Renato Cerqueira são fundamentais para chamar a atenção do povo tocantinense para situação calamitosa do rio Tocantins, situação que a cada ano só piora. Obras como o documentário S.O.S Rio Tocantins cumpri duas funções fundamentais: denunciar um modelo de desenvolvimento energético baseado no lucro e não na vida, e que é extremamente nocivo ao meio ambiente. E em segundo lugar conscientizar a população sobre o seu papel na luta para preservar a nossa maior riqueza que é a natureza.

Por tanto recomendamos a todos a assistirem essa importante obra do cinema miracemense e tocantinense, que é o documentário S.O.S Rio Tocantins e a compartilha-lo amplamente. Que o conteúdo do mesmo possa ser trabalhado, sobretudo nas escolas públicas do nosso Estado. E que outras iniciativas como essa possam surgir tanto no cinema, na musica, nas artes plásticas, no teatro e na literatura. O Rio Tocantins é um patrimônio do povo tocantinense e todos nós devemos lutar para preserva-lo.

assista o documentário no link: https://vimeo.com/151639469


Pedro Ferreira Nunes é educador popular, poeta e escritor tocantinense.