terça-feira, 19 de abril de 2016

Resenha: “Como ler um texto de filosofia”, de Antônio Joaquim Severino.

Por Pedro Ferreira Nunes 

Em “Como ler um texto de filosofia”, Antônio Joaquim Severino – licenciado em filosofia pela Universidade Católica de Louvain – Bélgica, doutor pela PUC-SP e livre-docente em filosofia da educação da Universidade de São Paulo, onde atualmente é professor titular. Busca através desse livro dá algumas orientações, em especial para os jovens estudantes que se iniciam na leitura sistemática de textos filosóficos, pois como bem ressalta, a leitura de um texto filosófico é diferente de um texto literário. “Como ler um texto de filosofia” trata-se, portanto de uma obra expositiva, paradidática que procura transmitir conhecimento.
O livro é enumerado pelo autor da seguinte forma: Primeiro com a apresentação da obra ou a introdução. Segundo o desenvolvimento que é subdividido em quatro partes: Sendo que a primeira parte ele abordará a questão do texto, da comunicação e da leitura. A segunda parte será feito um exercício de leitura, a terceira parte teremos a abordagem da pesquisa no processo de leitura e a quarta parte um outro exercício de leitura. E por fim a conclusão do livro com as indicações bibliográficas.
A questão fundamental abordada pelo filosofo Antônio Joaquim Severino neste livro está expresso no nome da própria obra – como ler um texto de filosofia. Para tanto o autor vai apresentar uma espécie de manual que deverá ser seguido por aqueles que não têm familiaridade com esse estilo de escrita. Pois para o autor a leitura analítica de um texto filosófico tem que ser feito de uma forma sistemática.
E qual a importância de se ler um texto de filosofia numa sociedade que nega a importância do pensar filosófico? Em “Como ler um texto de filosofia”, Antônio Joaquim Severino dirá que é extremamente importante à leitura de textos filosóficos para o desenvolvimento do processo educacional, e que isso reflete na nossa própria existência. O fato é que não se pode negar a importância da filosofia na construção do pensamento ocidental, e que mesmo sendo desvalorizada a filosofia resiste.
Ainda segundo Antônio Joaquim Severino a filosofia é uma modalidade do conhecimento e filosofar é um exercício intelectual, um processo que não se dá de forma isolada, mas sim coletivamente. O autor também falará de como a experiência do pensamento e da linguagem se confundem. Sendo que a linguagem garante a objetividade e a exterioridade – questões importantes no processo de educação. Sendo que no processo de educacional há que se destacar a comunicação – que se dá tanto através da via oral como escrita, no entanto a oral vai se perdendo com o tempo, já a escrita permanece sempre viva.
É então que na primeira parte de “como ler um texto de filosofia”, o autor irá tratar do texto, da comunicação e da leitura. Da relação entre escritor e leitor – de como o meio de onde viemos e a nossa formação cultural pode interferir na forma com que compreendemos o texto.
Antônio Joaquim Severino irá dizer que quando um autor elabora um texto – ele concebe e codifica. Já o leitor busca a decodificação e a compreensão desse trabalho. Ele então dirá que não basta conhecer os símbolos é preciso também conhecer as ideias do autor para se fazer uma leitura analítica. Pois a leitura analítica nada mais é do que compreender o texto na sua totalidade. Por tanto em “como ler um texto de filosofia”, Antônio Joaquim Severino ressalta claramente que é possível se ler um texto quando se conhece os símbolos, porém não o compreendemos se não soubermos as ideias. Assim a leitura analítica deve abarcar toda essa totalidade – tanto decodificar como compreender.
É então que ele vai apresentar quais as etapas que o leitor deve seguir para fazer uma leitura analítica. São elas: Analise textual, analise temática, analise interpretativa, problematização e reflexiva.
O autor também mostrará a importância da preparação da leitura mediante uma analise textual. Que deve, por exemplo: Fazer a leitura por partes, conhecer o autor, saber para quem e para que o texto foi escrito. É também necessário fazer uma leitura panorâmica (conhecer o texto previamente). Pesquisar as fontes, as referencias e o vocabulário do qual não estamos familiarizado. Outra questão que deve ser feita é o resumo do texto, fazer uma analise temática (compreender o texto objetivamente).
Antônio Joaquim Severino deixa claro que compreender um texto não é interpreta-lo. O dialogo se dá num segundo momento quando o leitor vai dialogar com o autor e com o texto. No entanto para fazer esse dialogo é preciso ter maturidade intelectual – fazer a problematização e a reflexão pessoal. Por fim, registrar as referências utilizadas e as conclusões.
Na segunda parte o autor irá apresentar um exercício de leitura, para tanto se utilizara de um texto do pedagogo Paulo Freire, onde exemplificará como deve ser feito o processo que ele apresentou na primeira parte do livro. Mostrando passo a passo como deve ser feito a sistematização para leitura analítica.
Já na terceira parte o autor irá destacar a importância da pesquisa, sendo que “a atividade de pesquisa busca em fontes apropriadas subsídios, esclarecimentos, informações que nos darão conta da mensagem que o autor quis nos passar por meio do seu texto”. (como ler um texto de filosofia. Pag.51). Dai a sua importância. Nessa atividade de pesquisa deve ser feito por tanto uma ficha bibliográfica, uma ficha biográfica, ficha temática, fichário pessoal, as fontes de pesquisa em filosofia, textos clássicos, dicionários, histórias, introduções e revistas.
E na quarta parte o autor irá apresentar um outro exercício de leitura, para tanto se utilizará de um texto um pouco mais complexo do filosofo Descartes, onde exemplificará como deve ser feito o processo que ele apresentou na terceira parte do livro “como ler um texto de filosofia”. Aliás, o livro “como ler um texto de filosofia”, do filosofo Antônio Joaquim Severino não apresenta uma conclusão. O autor encerra a obra com as indicações bibliográficas.
A opção do autor em não fazer uma conclusão pode ser explicada pelo que foi colocado na apresentação dessa obra – o objetivo é apenas apresentar algumas orientações iniciais para jovens estudantes que estão se iniciando na leitura sistemática de textos filosóficos. Por tanto não é uma obra conclusiva. Ficando assim em aberto para possíveis modificações.
É fato que a leitura de um texto de filosofia não é algo simples, sobretudo para quem não está familiarizado com a linguagem filosófica. Por tanto é compreensível à preocupação do filosofo e professor Antônio Joaquim Severino que o levou a elaborar este livro que busca de forma inicial trazer algumas orientações de como deve ser feito a leitura de um texto de filosofia. No entanto há um grande risco, em vez de facilitar a leitura sistemática de textos filosóficos, “como ler um texto de filosofia” pode dificultar ou mecanizar este processo.
Ora, o próprio nome do livro já indica que o mesmo é uma espécie de manual – uma formula “matemática” de como ler um texto de filosofia. Mas é só a partir do esquema apresentando por Antônio Joaquim Severino que é possível ler um texto de filosofia? É fato que não. No entanto, o autor omite outras possibilidades. Sobretudo que não sejam tão mecânicas como a apresentada nesta obra.
É inegável a importância das questões abordada pelo autor – especialmente da relação escritor e leitor – e a cerca da compreensão e a interpretação. Aliás, a nossa critica não é a cerca do conteúdo apresentado pelo autor, os elementos que ele aponta para a leitura analítica de um texto filosófico é fundamental. A nossa critica se dá, sobretudo a cerca da forma com que é apresentado, ou melhor, á “formula”.
Com essa critica não estamos dizendo que o livro “como ler um texto de filosofia” seja descartável. O mesmo apresenta boas orientações iniciais de como fazermos uma leitura analítica. No entanto é preciso ressaltar, algo que o autor não fez, que não existe receita pronta e acabada para se ler um texto de filosofia tal como o livro sugere. O fato é que a forma mais eficaz de se ler um texto de filosofia é lendo. É lendo que se vai familiarizando com a linguagem filosófica e, por conseguinte se conseguirá compreende-lo e interpreta-lo.

*Trabalho apresentado para disciplina de Leitura e produção de texto cientifico, do primeiro período do curso de Filosofia da UFT.

Nenhum comentário:

Postar um comentário