quinta-feira, 19 de maio de 2016

A história de meu pai Zé Ferreira e seu amor pelos livros.

Meu pai Zé Ferreira estudou formalmente apenas três meses de sua vida, o suficiente para que aprendesse a ler e escrever. Amava os estudos, no entanto teve que abandona-los para ajudar seu pai na dura lida no roçado nas terras de um coronel que mandava naquela região. Era a primeira metade do século XX no interior do Piauí – lugar onde ele, filho único de Romualdo Ferreira nasceu. Sua mãe morreu quando ele tinha apenas 5 anos de idade. Ele então foi criado pela madrasta – dona Elvira.

Apesar de ter sido obrigado a abandonar os estudos formais, meu pai nunca deixou de estudar. Tinha um grande amor pelos livros – no entanto naquela época não era fácil adquiri-los. Mesmo assim não perdia tempo quando encontrava alguma coisa que pudesse ler para que desenvolvesse a sua capacidade de leitura.
Aos 18 anos de idade recebeu a noticia de seu pai Romualdo Ferreira, de que iriam deixar aquelas terras e seguiriam para outras paragens. Meu pai não entendeu muito o porquê da mudança já que lá tinham uma vida relativamente prospera. E mais ainda pelo fato do que ao contrario de muitos nordestinos que naqueles idos deixavam sua terra rumo ao sudeste do país – São Paulo e Rio de Janeiro. Vovô Romualdo optou por adentrar mais ainda rumo ao sertão – seguiu para o Maranhão e depois de uma curta temporada ali seguiu para o norte de Goiás, hoje Tocantins.
Estabeleceram-se na região de Miracema do Norte, onde vovô Romualdo foi trabalhar de caseiro numa pequena chácara às margens esquerda do rio Tocantins. Nessa mesma época meu pai casou-se pela primeira vez e deste casamento teve o primeiro filho – uma menina batizada de Rosa. Depois de três anos de casado sua esposa morreu.
Tempos depois se casou pela segunda vez com a senhorita Corina, com ela teve cinco filhos – Leila, Luzimar, Cleide, Kátia e Katiane. Viveram treze anos de muita felicidade. Ele trabalhava na roça dos outros, ela cuidava da casa. Decidiram morar por um tempo em Colinas – um centro urbano mais desenvolvido do que Miracema do Norte. Mas não ficaram muito tempo por ali, logo retornaram para Miracema.
Quando casou-se com Corina descobriu que ela não era alfabetizada. Ele então alfabetizou-a e depois incentivou-a entrar numa escola e continuar os estudos. Mas como as coisas ficaram difíceis para eles na cidade e tiveram que voltar a morar na roça, ela teve que largar os estudos. E lá ela morreu em decorrência de complicações no parto.
Com o tempo meu pai casou-se pela terceira vez, agora com uma jovem de nome Maria Lucia, mãe solteira de um menino de nome Joedson e que morava com os pais em uma chácara vizinha a de vovô Romualdo. Com ela viveu 15 anos e teve cinco filhos – José filho, Paulo, João, Vera Lucia e Pedro. Sim, eu mesmo, essa criatura que vos escreve.
Com minha mãe Maria Lucia, papai formou uma grande família – o filho dela, as filhas dele, e os filhos que os dois fizeram juntos. A vida não era fácil para quem tinha apenas a força de trabalho para tirar o sustento da família das terras dos outros. Mesmo assim eles iam sobrevivendo. E quando as forças já não suportavam o duro trabalho no roçado eles decidiram se mudar para o bairro correntinho em Miracema.
No inicio da década de 90 as coisas começaram a desandar no casamento e meu pai decidiu por um ponto final no seu relacionamento com minha mãe. E depois de um tempo meu pai decidiu casa-se pela quarta vez. E com sua atual esposa Raimunda – com quem teve duas filhas –Juceli e Deuzeli. Já vive há 22 anos.
Durante todo esse tempo, mesmo quando sua rotina era o duro trabalho no roçado não abandonou o amor pelos livros. Lembro-me quando pequeno, quando ia passar os finais de semana com ele, de encontra-lo sentado em uma cadeira lendo algum livro. Além dos vários livros que ele tinha em uma mesinha. Aliás, uma das coisas que me empolgava quando ia para casa do meu pai era o fato de saber que iria encontrar livro para ler. Já que desde pequeno eu era apaixonado por livros, mas não tinha acesso a muitos.E lá em meu pai era certo que teria acesso a muitos livros, já que parte da sua curta aposentadoria era e é até hoje destinada para aquisição de livros. Ele tem tantos, que dá para montar uma grande biblioteca. E apesar da idade, hoje em dia quem vai visita-lo em sua casa, provavelmente o encontrará lendo.
E eu acabei herdando dele este amor pelos livros como também a paixão pelos estudos. Apesar de que o tipo de literatura que eu aprecio hoje, é bem diferente da que ele gosta. Mas não tenho duvida que é dele que herdei tamanho amor pelos livros. Uma herança que não tem preço e que carregarei comigo para sempre.
Pedro Ferreira Nunes
19 de Maio de 2016.

Outono, lua crescente.Casa da Maria Lucia, Lajeado-TO. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário