quinta-feira, 2 de junho de 2016

10 questões sobre “O capital no século XXI” de ThomasPiketty

Confesso que quando recebi um exemplar de “O capital no século XXI” de presente, não me animei muito a lê-lo. Sobretudo após ver alguns comentários na sua contra capa recomendando-o como se fosse um clássico. Se figuras como Bill Gates, Paul Krugman, ElioGaspari e órgãos de imprensa burguesa como o The Gardian e o The Economist estavam elogiando essa obra, muito provavelmente não sairia boa coisa dali para os trabalhadores.

No entanto sabia que não era correto ignorar aquele livro só pelo fato de discordar de alguns comentários. Mesmo que por aqueles comentários já dava para prever qual a tese o autor defendia. Porém para fazer uma critica consciente de qualquer coisa é necessário conhecer. E a partir dai refutar e combater se necessário for.Diante dessas reflexões iniciei a leitura de “O Capital no Século XXI” do Piketty. E não me arrependi, pelo contrario, recomendo-o. Porém o que me leva a recomendar a sua leitura não são os mesmos motivos do The Economist. E são estes motivos que destaco nestas dez questões.

1-      Os dados levantados por Piketty e seus colaboradores são extremamente importantes para mostrar o aumento da concentração de renda e da desigualdade na sociedade capitalista. Tal fato mostra ao contrario do que tenta fazer o autor, a genialidade de Karl Marx. Que mesmo sem todos os instrumentos tecnológicos dos quais possuímos hoje, conseguiu mostrar que isso ocorreria;

2-      O autor afirma que o cenário catastrófico previsto por Marx não se realizou, mas ao mesmo tempo quando propõem que aja um maior controle do capital reconhece que essa questão não está superada;

3-      Os dados mostram claramente que o período onde houve uma diminuição da concentração de renda e da desigualdade coincide com a Revolução Russa e o crescimento da URSS. No entanto isso é completamente ignorado pelo autor que foca nas guerras mundiais;

4-      Aliás, o autor parece defender uma terceira guerra mundial para que aja uma maior diminuição da concentração de renda e da desigualdade. O que não deixa de ser bastante catastrófico;

5-      Nesse sentido, ao analisar a obra de Piketty percebemos que ele não apresenta nada de novo. Pelo contrário, o que vemos é uma proposta de retomada de politicas econômicas do tipo kenesyanas;

6-      Sua conclusão é um alerta para a classe dominante – ou superamos as politicas neoliberais que propiciam o maior aumento da concentração de renda e desigualdade. Substituindo-a por uma espécie de novo Estado de bem estar social. Ou o poder da burguesia está em cheque;

7-      Piketty clama por uma espécie de humanização do capitalismo para se evitar a previsão catastrófica de Marx. Experiências recentes, como por exemplo, os governos de Lula e Dilma do PT mostram que isso é impossível;

8-      O autor também defende que não existe mais luta de classes. Mas sim a luta dos 99% contra os 1% mais ricos. O que não se sustenta, pois tal divisão não dá conta de toda a complexidade e subdivisões que temos na sociedade;

9-      Apesar dos limites é preciso reconhecer a importância dessa obra, sobretudo no sentido de pautar na ordem do dia a questão do aumento da concentração da riqueza e, por conseguinte das desigualdades sociais;

10-   Por fim, que os trabalhadores não se iludam com as propostas reformistas de Piketty. Pois dai não sairá nada de diferente do que os trabalhadores já experimentaram. De reformas capitalistas só sairá mais capitalismo.

A leitura do “O Capital no Século XXI” do jovem economista Frances Thomas Piketty. Me deu mais convicção de é em Marx que temos os apontamentos teóricos para superação das desigualdades e do capitalismo. Pois as respostas de Piketty são completamente insuficientes para que os trabalhadores consigam superar a exploração e as desigualdades econômicas e sociais. Pelo contrario, Piketty reafirma a necessidade desse sistema nefasto que é o capitalismo. É uma velha receita embrulhada num pacote novo.


Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e militante do Coletivo José Porfírio.

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