terça-feira, 25 de outubro de 2016

Ultimo desejo

- Bom dia Daniel. E então, esta melhor?

Daniel continuou como estava, se quer moveu a cabeça para olhar para Patrícia. Ele sabia que estava morrendo, ela também sabia que ele não teria muitos dias de vida, mesmo assim no fundo do seu coração tinha a esperança que ele podia ser curado. O médico já havia lhe falado, mesmo assim ela acreditava que ele ainda pudesse se curar, e se ele não se curasse ela queria que pelo menos ele morresse tranquilo.

Daniel não conseguia compreender todo o carinho e dedicação de Patrícia para com ele. Ele que já tivera tantas paixões, por que a conheceu apenas naquele momento, naquela situação onde ele já estava em estado terminal. Patrícia por sua vez já mais podia imaginar que conheceria o grande amor da sua vida nos corredores de um hospital. Foi amor à primeira vista. Mas ela já mais podia imaginar que aquele jovem estava em um estado tão grave.

Nem ele mesmo podia imaginar, era tão jovem, cheio de vida. Era tão envolvido com a militância política, com a organização e formação de trabalhadores campesinos sem terra que deixara mão de sua própria saúde. Pensava tanto nos outros que acabou se esquecendo de si mesmo, assim quando descobriu a sua doença, essa já estava em estado avançado, não havia como voltar atrás.

Mas Daniel não se arrependera das escolhas que fizera e se pudesse voltar atrás faria novamente tudo outra vez. Mesmo em uma situação tão difícil ele conheceu o grande amor de sua vida, mas ele sabia que o relacionamento com Patrícia não teria futuro e tentou fazer com que ela desistisse dele, no entanto ela foi incisiva.

- Já mais vou lhe abandonar. Eu ti amo e sei que você vai sair dessa.

- Patrícia. Nós sabemos que o meu fim está próximo, por que nos enganarmos? Faço lhe um ultimo pedido. Não me deixe morrer aqui, neste quarto frio, nesta cama fria, com esses aparelhos sobre o meu corpo. Leve-me para minha terra, para minha casa é lá que quero morrer, por favor.

Patrícia acreditava do fundo de seu coração que Daniel podia se curar, mas se ele fosse se curar com certeza não seria ali naquele hospital, pois cada dia quando ela chegava para visita-lo o encontrava em uma situação pior. Assim ela pensava que talvez de fato fosse melhor tirar Daniel dali, leva-lo para sua terra. Se lá morresse, morreria feliz.

- Como fazer isso Daniel? Os médicos não irão deixa-lo sair.

- Vamos fugir meu amor. Por favor, este é meu ultimo desejo.

Era noite, Patrícia e Daniel corriam pelas ruas, como duas crianças fugindo cada vez mais para longe do hospital. Daniel abraçou-a fortemente e lhe deu um beijo apaixonado. Era uma noite linda, o céu estava estrelado. Patrícia estava admirada, há muito tempo que não via Daniel tão feliz. Seu corpo estava corado, corria sangue nas veias, sim Patrícia pensava consigo – Daniel está curado.

Patrícia e Daniel seguiram correndo pelas ruas da cidade - pela Avenida JK, pela Teotônio Segurado. - Pulando, gritando em uma felicidade indescritível. Ao chegarem à margem do rio Tocantins, na praia da graciosa. Abraçaram-se, beijaram-se apaixonadamente e fizeram amor nas areias da praia, depois pularam na água e tomaram um gostoso banho.

Por fim cansados adormeceram. Patrícia adormeceu nos braços do seu amado. Quando os primeiros raios do sol nasceram por trás da serra do Lajeado, Patrícia despertou-se e Daniel continuava adormecido, dormia profundamente, eternamente com um sorriso nos lábios.

Pedro Ferreira Nunes - Poeta e escritor popular tocantinense.

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