quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Crônica: Minutos que parecem horas, horas que parecem minutos II.

Há momentos que queremos que as horas passem devagar, já outros esperamos que passe rapidamente. E é justamente no momento que queremos que ás horas passe de pressa que elas parecem parar, já nos momentos que queremos que as horas parem é que elas passam mais de pressa ainda. É aquela máxima “tem horas que parecem minutos, e minutos que parecem horas”. As horas que parecem minutos podem ser tanto agradáveis como desagradáveis, já os minutos que parecem horas são sempre desagradáveis.No mesmo dia eu vive a experiência de passar por horas que pareciam minutos e por minutos que pareciam horas. E não foi nem um pouco agradável, pois as horas que pareciam minutos foi de muita angustia. E os minutos que pareciam horas foi mais angustiante ainda.

Na crônica anterior “Minutos que parecem horas, horas que parecem minutos I”relatei a angustia que foi esperar um ônibus, num domingo, para ir até Palmas fazer a prova de um concurso público. Depois do termino da prova a angustia recomeçou com a espera para pegar um transporte de volta para casa. Como tinha terminado a prova cedo acreditava que não teria muitos problemas em pegar um ônibus para o Lajeado, apesar de ser um domingo – um dia não muito bom para quem depende de transporte público se deslocar. E apesar de chegar ainda cedo no ponto do primeiro coletivo que teria que pegar percebi que não seria fácil. Todos que passavam estavam lotados o que me obrigou a ir caminhando até o ponto principal. E chegando lá recebi a triste noticia de que o ônibus que eu pretendia pegar havia acabado de passar. Quase entrei em desespero, pois já era mais de 18h, e quanto mais avançava ás horas mais difícil de transporte ficava. No entanto o jeito era esperar já que não havia muito o que fazer.

Ao contrario do sufoco da parte da manhã quando estava indo fazer a prova – que o tempo parecia correr depressa e eu queria que ele andasse devagar, agora não – o tempo parecia andar extremamente lento enquanto eu desesperadamente rezava para que ele andasse de pressa. Mas o tempo parecia não passar. E o que não passava na verdade era o ônibus. Foi então que apareceu outra alma para dividir comigo a agonia de esperar o ônibus. O que fez com que me tranquilizasse um pouco, sobretudo por que ela sempre sorrindo da nossa desgraça comentava – é melhor sorrir do que chorar.Mas na verdade era que estávamos os dois desesperados, já era 21h e nada de ônibus. A possibilidade de termos que dormirmos rodados ali na capital tornava-se cada vez mais real. Mas para nossa alegria surgi um ônibus – damos um sinal para ele parar, mas o mesmo não para, e nossa alegria se vai.

Pronto, tudo estava perdido. Começamos a fazer planos de onde dormiríamos. Já que grana para hotel estava fora de cogitação e muito menos incomodar algum conhecido. Não consigo esconder o meu desespero – depois de um dia tão angustiante ainda teria que dormir ali rodado, e nem a bela companhia do meu lado me animava.

- Vamos para rodoviária ou para o hospital geral. Pelo menos não ficaremos sozinhos lá. Sempre tem gente.

- Mas vamos esperar mais um tempo, pelo menos até ás 11h.

Passado um bom tempo, quando nossas esperanças já estava acabando, eis que surge uma Van.

– Essa é a nossa ultima esperança. Me disse a companheira. Damos um sinal para o veiculo parar, o mesmo diminui a velocidade, no entanto parece que não irá parar. Olhamos um para o outro já sem esperança. Mas para nossa surpresa o ônibus para um pouco a nossa frente. Olhamos um para o outro, sorrimos e corremos para pega-lo. Enfim toda a nossa angustia torna-se alegria. Ao longo do caminho vamos percebendo que não era apenas nós que estávamos naquela angustia que não parecia ter fim. Muita gente estava esperando o ônibus para voltar para casa. Sempre que o ônibus parava num ponto para pegar mais um passageiro – Gritavam: – Aperta mais um pouco que aqui é igual coração de mãe, sempre cabe mais um.

É. Não foi um dia fácil para mim, no entanto após passar por todo aquele sufoco tudo parecia muito menos dramático do que fora de fato. Afinal de contas consegui fazer tudo que havia planejado, apenas com uma intensa carga de dramaticidade só por que vivi intensamente a experiência de passar por horas que parecem minutos e minutos que parecem horas.


Pedro Ferreira Nunes – Poeta e Escritor tocantinense.

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