quarta-feira, 21 de junho de 2017

Cesar Simoni e a política de Segurança Pública no Tocantins

Secretário de Segurança Pública -TO
A divulgação recente do atlas da violência 2017 pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) não trouxe nenhuma novidade a cerca da crescente violência no país. Violência que vem sendo denunciada há algum tempo por movimentos sociais – pelo fato de ter um alvo especifico – jovens negros da periferia e mulheres. O que foi inclusive fruto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no senado federal.

Diante disso o que cabe ressaltar nesse episodio é a resposta das forças de segurança diante dos dados oficiais. E é justamente por se tratar de dados oficiais – dados levantados por um órgão de Estado – que a Segurança Pública se viu obrigada a dar uma resposta. Pois se se tratasse de um levantamento de uma ONG, seria peremptoriamente ignorado ou negado. Portanto, é ai que está à importância do atlas, pois apesar de apenas afirmar o que já se sabia pelos movimentos sociais, acaba dando legitimidade a pauta dessas organizações.

No entanto nosso objetivo principal aqui é analisar a resposta dos órgãos de segurança pública, mais especificamente, a resposta dos órgãos de Segurança Pública do Tocantins. Comecemos, portanto fazendo algumas perguntas: Qual foi à postura do Governo Estadual através da Secretaria de Segurança aos dados apresentado pelo atlas da violência 2017 no Tocantins? Quais serão as ações tomadas para reverter o quadro de crescente violência no Estado? A fala do senhor Cesar Simoni – atual Secretário de Segurança Pública nos dá essa resposta.

Antes vejamos os dados que obrigaram os órgãos de Segurança Pública do Tocantins a se posicionarem. De acordo com o IPEA entre 2005 e 2015 houve um aumento de 164% no número de assassinatos no estado. A taxa de homicídios avançou 128% - indo de 14 para 33 mortes para cada 100 mil habitantes, isso em 10 anos. Seguindo a tendência nacional, os jovens na faixa etária entre 15 e 29 anos são os mais vitimados no Tocantins. Por exemplo, em 2015 o aumento foi de 176% em relação a 2005 de vitimas nessa faixa etária. Os dados do IPEA também mostraram que os mais atingidos são os jovens negros – 32,8 mortes para cada 100 mil habitantes. Já entre as outras etnias o índice é de 27,9 mortes para cada 100 mil habitantes. Também cabe destacar o aumento dos índices de violência contra as mulheres – em 10 anos teve um aumento de 128% no Tocantins.

Diante desse quadro qual foi à resposta do Secretário de Segurança Pública do Tocantins? A culpa é do estatuto do desarmamento. Para Cesar Simoni “desarmar o cidadão foi um ato impensado, um resultado que não aconteceu”. Logo, portanto é preciso armar o cidadão, pois para Simoni “hoje qualquer bandidinho entra em um restaurante, rende todo mundo com um revolver 32, atira e mata uma pessoa e sai ileso. Se ele soubesse que poderia três, quatro ou cinco armados não faria isso”.

Refletimos sobre esse exemplo. Será que de fato o “bandidinho” desistiria ou a possibilidade de um tiroteio vitimar muito mais pessoas com tanta gente armada não seria muito maior? Nos parece que a resposta é óbvia. E para tanto não precisa ser um perito em segurança para deduzir no que resultaria um tiroteio com pessoas despreparadas num restaurante.

Além de defender o armamento da população – voltando a uma espécie de faroeste. Os representantes dos órgãos de Segurança Pública do Tocantins também falaram na criação de mais delegacias e no aumento de contingente da policia militar através de concurso público. Isto é, aumentar os instrumentos de coerção e punição – seguindo a lógica de remediar em vez de prevenir. Nada se falou, por exemplo, em investir na inteligência, para atuar na perspectiva de evitar que crimes aconteçam. Não se falou, por exemplo, que o problema não é prender, pois se prende até de mais no Tocantins. A questão é quem se prende. De acordo com Silva (2016) “prisões da miséria que assola negros, que são assolados pela pobreza”. E que se quer tem direito a julgamento, pois o Tocantins ocupa o primeiro lugar no ranking de presos sem condenação, são 75% segundo dados do DEPEN de 2015.

Cabe, no entanto ressaltar que o discurso do secretário de Segurança Pública do Tocantins não é um discurso isolado. Representa muito bem um discurso cada vez mais forte na sociedade – e que no Congresso Nacional tem na bancada da bala o seus representantes. Bancada que, aliás, tentou revogar o estatuto do desarmamento. A famigerada bancada da bala é hoje a principal bancada no Congresso Nacional com 275 deputados, superando a bancada do boi e a evangélica. Mas que no final das contas formam uma única bancada a BBB (da Bala, do Boi e da Bíblia).

Este grupo, do qual o senhor Cesar Simoni faz parte esta longe de querer resolver a crise na segurança pública brasileira. Aliás, os dados acima, nos faz refletir se se trata de fato de uma crise ou de um projeto em curso – um projeto de higienização e criminalização da pobreza. E ai não tem como citar Darcy Ribeiro no seu celebre texto “Sobre o óbvio” quando ele fala da “crise educacional”. De acordo com Ribeiro (1986) “a crise educacional do Brasil da qual tanto se fala, não é uma crise, é um programa. Um programa em curso, cujos frutos, amanhã, falarão por si mesmos”. Podemos estender isso para a questão da segurança pública também.

Por fim, longe de defender o cidadão, o que se vê por parte desse grupo do qual o Secretário de Segurança Pública do Tocantins faz parte, na verdade, é a defesa dos interesses da indústria armamentista. Que ninguém se iluda quanto a isso.

Pedro Ferreira É Educador Popular e bacharel em Serviço Social. Atualmente cursa Filosofia na Universidade Federal do Tocantins.

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