segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Algumas palavras sobre o discurso dos “políticos” tocantinenses a cerca do projeto de transposição do Rio Tocantins


Nos últimos dias vários representantes políticos de diversos partidos tem se posicionado contrariamente a transposição do Rio Tocantins – Siqueira Campos, Kátia Abreu, Josi Nunes, Lázaro Botelho e Mauro Carlesse. Inclusive tramita na assembleia legislativa um projeto de lei de autoria do deputado Mauro Carlesse (PHS) que impediria essa possível transposição das águas do rio Tocantins. E está circulando nas redes sociais um abaixo-assinado em apoio a este projeto. A partir dai surge uma questão. Será que estas figuras estão realmente preocupadas com a preservação do rio Tocantins? Ou é apenas discurso demagógico?

O fato é que nenhum dos 11 representantes tocantinenses no Congresso Nacional (8 deputados federais e 3 senadores) moveu uma palha para que o projeto fosse barrado na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados. Só depois da aprovação do projeto é que três desses onze representantes se posicionaram (A senadora Kátia Abreu e os deputados federais Josi Nunes e Lázaro Botelho). Além de se omitirem da discussão e aprovação do projeto de lei de autoria do deputado Gonzaga Patriota do PSB de Pernambuco. Também não informaram a população tocantinense que estava em curso no congresso nacional um projeto que se aprovado e executado vai impactar a vida de milhares de famílias que vivem nas margens do rio. 
 
Ora, mesmo que não haja deputados tocantinenses compondo a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos deputados. A bancada tocantinense poderia muito bem pressionar os deputados dessa comissão a não aprovar um projeto que atinge diretamente os interesses do povo tocantinense. Sobretudo sem ouvi-los através de audiências públicas. Se não queriam fazer essa pressão diretamente poderiam mobilizar a população a se mobilizar para fazê-la tal como tem sido feito agora.

No entanto ás declarações contrárias dos políticos locais ao projeto de transposição das águas do rio Tocantins e o chamado para que o povo se mobilize para barra-lo. Só começaram a surgir após a repercussão por parte da imprensa regional da aprovação do projeto na CCJ da câmara dos deputados sem a necessidade de votação no plenário e por tanto podendo seguir para discussão e aprovação no senado. Diga-se de passagem, essas declarações foram dadas tardiamente. E, sobretudo devido à repercussão negativa do projeto nas redes sociais e pela pressão da imprensa regional.

O fato é que a maioria da população tocantinense foi pega de surpresa. Inclusive no período da aprovação do projeto na câmara escrevemos um artigo com o titulo “Transposição das águas do rio Tocantins?” Um título que acredito representa bem o que veio na cabeça de muitos tocantinenses a tomar conhecimento do projeto. Quando escrevemos esse artigo denunciando o absurdo de um projeto de um deputado de outra unidade da federação que demonstra não conhecer as condições atuais do rio Tocantins e, sobretudo sem dialogar com a população local, não havia ainda nenhum posicionamento de políticos locais contrário ao projeto.

No entanto, nas ultimas semanas, não tem faltado posicionamento de figurões da política regional contrário à transposição e defendendo o rio Tocantins. Mas será que estas figuras estão realmente preocupadas com a preservação do rio Tocantins? Ou é apenas discurso demagógico? Ora se o rio Tocantins a cada ano está numa situação mais calamitosa é pelo modelo hegemônico de exploração dos recursos naturais do Estado – modelo hegemônico pautado no agronegócio e no hidronégocio. E quais os políticos responsáveis pela hegemonia desse modelo de exploração no Tocantins se não Siqueira Campos, Katia Abreu, Mauro Carlesse entre outros?! Se o rio Tocantins está morrendo estes senhores tem as mãos suja de sangue.

Desse modo, a população tocantinense não pode se iludir com esse discurso demagógico. Colocar a defesa do rio Tocantins nas mãos dessas figuras é condena-lo a morte. Ora, essa burguesia entreguista é capaz de vender a própria mãe. Por que não venderia o rio Tocantins? Aliás, não é isso que fazem através do hidronegocio?! 
 
Todo esse discurso contrário à transposição do rio Tocantins por parte desses senhores tem como foco as próximas eleições. Inclusive o projeto de lei do deputado Mauro Carlesse – que está muito longe de ser a salvação do rio Tocantins. Pois se limita a impedir a transposição dos rios do Tocantins para outros estados. Atacando assim uma questão pontual, que não encara e nem resolve devidamente o problema como um todo. E atende simplesmente os interesses da burguesia agrária do Tocantins que quer continuar tendo o monopólio da exploração dos recursos hídricos do Estado. 
 
Ora o que adianta por um lado impedir a transposição dos rio do Tocantins para outras regiões do país e por outro continuar construindo usinas hidrelétricas e expandindo um modelo agropecuário que devasta os recursos naturais do Tocantins? Nós que verdadeiramente defendemos os rios do Tocantins como um patrimônio de todo o povo tocantinense devemos lutar por uma lei mais ampla – que além de impedir a transposição dos nossos rios também proíba a construção de usinas hidrelétricas, a exemplo do projeto UHE Monte Santo no rio do Sono. E a flexibilização das leis ambientais do Tocantins através da reforma do código florestal em discursão na assembleia legislativa.

Portanto não nos iludamos com discursos demagógicos desses representantes da burguesia agrária tocantinense. Salvar o rio Tocantins e outros rios do Estado é tarefa de todos nós. Foi a nossa mobilização que obrigou alguns políticos locais a se posicionarem. Foi a nossa mobilização que obrigou o deputado Gonzaga Patriota a dialogar com os parlamentares para explicar melhor o projeto. E é a nossa mobilização que irá enterrar esse projeto de vez.

Pedro Ferreira Nunes – é Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

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