São 18h30 da tarde, desço do coletivo e sigo
correndo para a xerox para tirar a copia de um trabalho que tem que ser
entregue naquele dia para o professor. Tal como eu centenas de estudantes
também fazem o mesmo movimento. Todos apressados, pois as aulas começaram as
19h00. Mas não adianta pressa, pois como sempre nesse horário a xerox esta
lotada, ora afinal de contas é a única no campus onde estudam mais de cinco mil
estudantes. E ainda por cima apenas uma pobre funcionaria correndo de cima para
baixo para dá conta de atender todo mundo.
Por um momento cheguei a me estressar, mas logo cai
na realidade, ao ver a pobre menina tentando atender mais de cinquenta pessoas
estressadíssimas. Percebi ali que além das impressoras a funcionária também tem
que ser multifuncional – organiza copias, tira xerox, encaderna e recebe o dinheiro
dos clientes. Lembrei-me de uma aula que tivemos alguns dias antes quando
discutíamos a cerca da exploração da mão de obra. Lembrei-me também do Ricardo
Antunes e sua tese a cerca da espoliação do trabalho. Mas para mim aquilo
lembrou mais trabalho escravo.
O que me indignou mais ainda foi à insensibilidade
das pessoas que ali estavam, destilando seu descontentamento em cima da pobre
funcionaria que não tem nenhuma responsabilidade por aquele caos que se
estabelece todos os dias naquele espaço. Para eles era se como ela estivesse
fazendo “corpo mole’’. Cinquenta pessoas esperando ser atendida ao mesmo tempo
por uma única pessoa que por sua vez tem que fazer “mil e uma” atividade. Mesmo
assim, para a maioria ali, ela era a culpada.
É muito fácil destilar ódio contra uma pobre
funcionaria terceirizada – que tem que engolir muita humilhação para tirar o
seu pão de cada dia. Por outro lado não vemos tanta disposição assim desses
“revoltados” contra quem de fato é o responsável por esta situação. Chama esse
povo para ir na reitoria fazer uma manifestação reivindicando outra xerox no
campus. Serão pouquíssimos os que iram.
Depois de esperar um bom tempo consegui tirar as
copias que eu precisava e então segui para aula. Mas não consegui tirar da
cabeça aquela cena – a sala da xerox lotada com apenas uma funcionaria correndo
de cima a baixo para dá conta de atender todo mundo. Pensei comigo – naquele
ritmo não vai demorar para que ela tenha um problema de saúde logo, logo.
Voltei lá no dia seguinte e notei que ela tinha
agora a companhia de outra funcionaria. Comentei então com ela:
- Pô meu. Até que enfim arrumaram alguém para ti
ajudar. Ainda bem, o povo quase ti matava ontem.
- Rs. Pois é, são muito estressados. Querem que a
gente atenda todo mundo ao mesmo tempo. E ainda por cima brigam com a gente.
- Eu vi. Mas agora vai melhorar pra ti.
- Nada. Aqui pode ter duas funcionarias que não dá conta
do serviço não.
E ela tinha toda razão, nos dias seguintes a cena da
sala cheia se repetiu, mesmo agora com duas funcionárias. O fato é que é
inadmissível que um campus tão grande como o da UFT em Palmas, com mais de
cinco mil alunos tenha apenas uma xerox. Ora, por que motivos foi fechado a
xerox do anfiteatro? Isso tem que mudar, a pobre menina da xerox não pode pagar
a conta pela incompetência dos que gerem o campus da UFT em Palmas.
Pedro Ferreira Nunes é poeta e escritor popular. E esta cursando filosofia na UFT.
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