quarta-feira, 28 de outubro de 2020

Crônica: A morte d’um limoeiro

Baruch Espinosa
 “Tenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los.” 
Baruch Espinosa

No meu quintal havia um limoeiro que produzia bastante limões. Mas de repente suas folhas e frutos secaram, e ele morreu. O que teria ocorrido? Alguma praga? Para algumas pessoas não. O diagnóstico seria mão ruim. Mão ruim? Isso mesmo. No interior há uma crença de que algumas pessoas tem a mão ruim ao ponto de que quando colhe alguma fruta no quintal alheio a árvore da qual essa fruta fora colhida, morre.

Não sei bem se esse fenômeno tem algum fundamento racional ou se é apenas uma infeliz coincidência. De todo modo não pude deixar de pensar comigo no tipo de energia que essa pessoa carrega consigo – uma energia capaz de matar uma árvore não deve ser coisa boa. No entanto me disseram que ter uma “mão ruim” não significa que se é uma pessoa ruim. O que seria então e por que? Como toda crença não há uma explicação. É assim e ponto – ou você acredita ou você não acredita.

Que exista pessoas que não são boas companhias, certamente. Pessoas que parecem capaz de sugar nossas energias e nos deixar para baixo, não há dúvida – ou como diria Baruch Espinosa – pessoas que diminuem a nossa potência de agir. Mas daí dizer que há pessoas que tem uma espécie de maldição que quando tocam numa planta condenam-na á morte, me parece um tanto de loucura.

O fato é que o limoeiro no nosso quintal morreu. Aparentemente não foi nenhuma praga – o que reforça a tese de que teria sido mão ruim. Prefiro ficar com Espinosa e dizer: Ele teve um mau encontro – isto é, um encontro com algo ou alguém que lhe afetou com um afeto triste – que diminuiu a sua potência de agir.

Taí, talvez a filosofia do Espinosa pode nos ajudar a explicar tudo isso. Para Espinosa tudo que existe (incluindo nós humanos e as árvores) faz parte de uma única substância. Essa substância é entendida como “o que existe em si e por si é concebido” (Ética, p. 78). Por tanto, algo perfeito. E se somos parte dessa substância também carregamos essa atribuição. Desse modo não teríamos conosco uma energia capaz de destruição. O que pode acontecer é termos ideias inadequada das coisas – sobretudo quando nos  deixamos guiar por superstições – que por sua vez nos leva a cultivar paixões tristes – que diminuem a nossa potência de agir.

Entre as paixões tristes que diminuem a nossa potência de agir estão o ódio, o ressentimento, o desespero e a inveja. Desse modo quando agimos afetado por uma dessas afecções não só estamos causando dano ao outro, mas também a nós mesmos. E esse outro que causamos dano não necessariamente precisa ser outra pessoa. Pode ser, por exemplo, uma árvore.

A partir dessa perspectiva digamos então que o nosso limoeiro não morreu por causa de uma mão ruim (olhos, talvez). Mas que tenha sido afetado por um afeto como a inveja. E isso diminuiu a sua potência de agir ao ponto de leva-lo á morte – o que talvez não tenha sido ruim. Dizem que algumas coisas precisam morrer para renascer mais forte – quem sabe esse não seja o caso do nosso limoeiro. Já quem ou que fez isso com ele pagará uma pena maior. Aliás,  já está pagando, pois viver com esse tipo de afecção não deve ser fácil. “Que a terra lhe seja leve”.

Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular.

sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Ética e Política em tempos de pandemia

Para início de conversa vou lhes contar uma breve estorinha. Imaginem uma cidadezinha litorânea que sobrevive graças ao dinheiro que os turistas que vão visitar as praias locais gastam ali. De repente surgi um tubarão atacando os turistas e vitimando alguns. Imaginem o pânico que se instala naquele local. Então as autoridades políticas e técnicas começam a discutir o que fazer diante desse problema que surgiu. Por um lado as autoridades técnicas vão defender a interdição imediata das praias e o cancelamento da temporada de verão. Já as autoridades políticas vão defender o contrário, justificando que se a temporada for cancelada a cidade entrará em colapso financeiro. E os impactos para população que ali vive serão enormes. Nesse primeiro momento a posição defendida pelas autoridades políticas prevalece. E assim as praias continuam aberta para banho, mas com uma vigilância um pouco maior. Mesmo assim no final de semana seguinte o tubarão ataca novamente deixando mais uma vítima mortal. A partir daí as autoridades políticas se convencem de que não adianta aumentar a vigilância, é preciso resolver o problema pela raiz – o inimigo  (no caso o tubarão) precisa ser eliminado ou se não a vida não voltará ao normal naquela pequena cidade. Convencida então a autoridade política, as medidas de prevenção como interdição das praias e cancelamento da temporada são tomadas, e então se parte para caçada.

Essa estorinha que acabei de contar é o enredo do filme “O Tubarão” de Steve Spielberg lançado em 1975 – completando portanto 45 anos agora em 2020. Justamente no momento em que a humanidade enfrenta um terrível inimigo que tem vitimado milhares de pessoas mundo afora. Diante disso podemos fazer um paralelo entre o enredo do filme “O Tubarão” e o momento que estamos vivendo. Tanto a nível de Tocantins, a nível de Brasil,  como também a nível mundial. Como todos sabem o foco inicial do Novo Coronavírus se deu na China. E a partir daí foi se alastrando para o mundo todo. A medida que o vírus foi se alastrando vimos duas posturas que se assemelham muito as posturas das autoridades daquela cidadezinha onde apareceu o tubarão. Um lado dizendo se tratar de um problema minúsculo que passaria logo, logo. Por tanto não precisaria se tomar medidas drásticas. Ainda mais pelo fato de que o nosso país tem determinadas características que iria impedir um estrago tal como vimos em países como Itália e Espanha. Em suma, minimizando a crise que estamos vivendo, dizendo que havia um certo exagero por parte daqueles que defendiam o isolamento social, o fechamento das escolas, das universidades e do comércio não essencial. E por outro lado, aqueles fundamentados sobretudo nas orientações da OMS (Organização Mundial da Saúde) alertavam para o fato de que se tratava de um problema sério e enquanto não se descobrisse uma vacina eficaz seria necessário algumas medidas (especialmente o isolamento social, uso de máscara e de álcool em gel) para evitar uma proliferação maior do vírus. Temos ai portanto as duas principais posições que vimos surgir nesse período de pandemia. Por um lado alguns minimizando a gravidade da crise argumentando que o pior seria o isolamento social que desencadearia uma crise ainda maior com a consequente quebra econômica. E do outro lado se chamando atenção para a gravidade do problema e para necessidade de se tomar algumas medidas, que se não elimina o vírus, pelo menos evitando que ele se fortaleça. 

Quando nós fazemos esse tipo de reflexão, de como agir em determinada situação nós estamos no campo da Ética. Pois a ética é justamente isso, é a reflexão acerca das nossas ações. Nós agimos moralmente. E a partir da Ética nós refletimos sobre esse agir moral. Para ficar mais claro vejamos uma questão Ética do contexto atual: Por que mesmo diante dos números de casos e de mortes as pessoas continuam ignorando os alertas das autoridades sanitárias? Mesmo diante dos números  (que são reais) e das estórias de famílias devastadas por esse vírus não nos sensibilizamos e continuamos agindo como se nada estivesse acontecendo? Quando agimos assim, estamos agindo de forma virtuosa? Na concepção clássica de ética, agir virtuosamente é agir em busca do bem. E agir através de ações justas. A partir do momento que ignoro as orientações dos profissionais da saúde, colocando em risco não só a própria vida, mas sobretudo daqueles que estão ao meu redor, da comunidade que eu vivo. Será que estou agindo virtuosamente? É uma questão Ética que a filosofia nos propõem nesse contexto de pandemia.

O filósofo brasileiro Vladimir Safatle nos chama atenção para o fato de que a substância ética de um povo é definida a partir da maneira que ela lida com a morte. Como estamos lidando com as mortes decorrentes da COVID-19? Qual o nosso comportamento diante do crescente número de mortes? Mortes evitáveis em muitos casos. Esse comportamento revela a nossa substância ética, ou melhor dizendo, a falta dela. Pois se agir eticamente é agir em busca do bem, estamos agindo de forma contrária. Estamos agindo de maneira egoísta e não virtuosa. Estamos agindo pela indiferença. E são vários os exemplos nesse sentido: pessoas em festas clandestinas, se aglomerando em pontos de banho, não utilizando máscaras em locais públicos. Ignorando totalmente os alertas dos profissionais de saúde. E mesmo das autoridades políticas por meio dos decretos. É como se nada estivesse acontecendo. Milhares de pessoas morrendo e... uma completa indiferença. Uma diferença que percebemos no discurso daqueles que dizem: - Ah, já tava pra morrer! Também, tinha um monte de doenças – era cardíaco, era diabético. Uma indiferença total diante do luto do outro – da vida, a vida não tem nenhum valor. Isso mostra muito da nossa substância ética. Quando nos comportamos com total indiferença, seguimos na contramão do que propõem a ética. Tanto que é necessário decretos e outras  medidas de vigilância para impedir que as pessoas se aglomerem. Quando chegamos ao ponto de ter que ameaçar com multa as pessoas para que usem máscaras, não há nem o que dizer. E esse não é o único exemplo da nossa falta de consciência ética. É só observarmos o aumento de bens e serviços e os casos de desvios de recursos públicos da saúde, sobretudo num momento desses em que muitas pessoas morrem por falta de um atendimento básico.

Chegamos então a um ponto importante que é a relação entre ética e política. No livro clássico do Aristóteles “Ética á Nicômaco.  Ele nos diz que a finalidade da política é a busca pelo bem humano, sobretudo numa perspectiva coletiva. E como ela faz isso? Despertando nos cidadãos ações nobres. Será que é isso que isso que está acontecendo? Será se nossos representantes políticos estão utilizando a política para despertar nos cidadãos ações nobres. Reflitam sobre isso, pensem nas medidas que as autoridades políticas estão tomando – são ações, são políticas, que buscam unir a população para que superemos esse momento? Nós sabemos qual é o problema. Ainda não sabemos como destrui-lo, mas sabemos como evitar que ele se fortaleça. E mesmo sabendo de tudo isso, por que agimos de forma contrária. São questões que a filosofia moral, que os filósofos estão fazendo nesse contexto. E que todos nós, cidadãos, deveríamos fazer. Pois é a partir dessas reflexões que definiremos como será o mundo de amanhã. Essas reflexões contribuíram para construção do mundo pós-pandemia de COVID-19. Nós queremos um mundo que avance cada vez mais para a sua destruição ou nós queremos um mundo onde as pessoas sejam mais solidárias? Nós queremos um mundo onde cada um olha apenas para o seu próprio umbigo. Ou queremos um mundo (uma cidade, um Estado, um país) onde todos se ajudam e caminham unidos para vencer os desafios que surgiram. Pois uma coisa é fato, a pandemia de COVID-19, não é a primeira e nem será a última crise que a humanidade vai enfrentar. Antes dela tivemos outras, e no futuro certamente haverão outros desafios que precisaremos enfrentar. Como enfrentar esses problemas e o que surgirá a partir daí está na mão de todos nós. Nós podemos optar por enfrentar tal como a Filosofia nos propõem, de forma racional. Ou podemos deixar nos guiar pela irracionalidade e caminhar para nossa autodestruição. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Aula ministrada para estudantes da 3° Série do Ensino Médio do CENSP-LAJEADO. 

terça-feira, 20 de outubro de 2020

Campanhas eleitorais no Tocantins: Muito barulho, poucas ideias!

Carreata em Miracema 
Muito barulho, poucas ideias – eis aí como poderíamos definir as campanhas eleitorais dos candidatos que estão pleiteando um cargo nessas eleições municipais de 2020 nas cidades Tocantinenses. Sobretudo no interior. Ao que parece, partem da concepção de que, quem fizer mais barulho em carretas, é aquele que mais terá chance de ser eleito. Nesse caso a força de mobilização está mais no poderio econômico no que nas propostas e projetos (ideias) dos candidatos.

Em alguns municípios a principal disputa entre os candidatos tem sido essa, a de quem faz mais barulho. Dessa forma quando um faz uma movimentação mobilizando o seu eleitorado. No momento seguinte o outro busca mobilizar ainda mais gente para demonstrar mais força que o seu adversário. Que no momento seguinte não deixará de dar outra resposta no mesmo sentido. Refletindo sobre isso me veio na cabeça o exemplo de dois adolescentes disputando quem é mais “pegador”. 

Eis ai o nível de maturidade dos nossos candidatos e seus correligionários – a maturidade de um adolescente alienado. Enquanto isso os problemas dos municípios – que são muitos – deixam de serem discutidos seriamente.

Esse exemplo nos mostra como estamos cada vez mais sobre o domínio da mediocracia. E não é o único. Em alguns municípios por exemplo, a disputa não é entre quem tem o melhor projeto de governo, mas qual o candidato que tem a bênção do atual gestor. Em outros municípios chegamos ao cúmulo de um candidato adotar o sobrenome de um ex-gestor com o objetivo de atrair mais votos. E o interessante nesses casos é que são geralmente candidatos defensores da meritocracia. Mas no caso essa meritocracia deve ser aplicada só aos outros. Já eles não se intimidam em utilizar um padrinho para conseguirem alcançar o que almejam. De modo que podemos dizer que há mais mediocridade do que mérito nessa ação.

Sendo eleito não dá para esperar algo diferente desses senhores e senhoras. Políticos medíocres que são, se cercaram de pessoas medíocres. E farão uma gestão medíocre. Como fazer para que isso não aconteça? Começar justamente se atentando para duas questões: primeiro, o candidato tem ideias próprias? Segundo, tem projeto de governo voltado a enfrentar os problemas da sua cidade? 

Votar fundamentado nas respostas dessas duas questões é votar buscando o melhor para sua cidade. E votar buscando o melhor para sua cidade é votar buscando o melhor para você. O que estamos ponderando é para que se faça uma escolha racional. Afinal de contas estaremos elegendo aqueles que conduziram o nosso município nos próximos quatro anos – que definiram as nossas prioridades (Ainda mais quando temos uma sociedade Civil pouco organizada).

Sabemos que nas médias e pequenas cidades Tocantinenses os eleitores não tem muitas opções. Sobretudo no que diz respeito á candidatos progressistas. A alternativa será então votar no menos pior (o mau menor) ou não votar. Quem optar pelo menos pior deve saber que este pode até ser uma alternativa mas não será a solução. De modo que continua valendo o que defendo há anos, isto é, a construção de candidaturas progressistas compromissadas com as causas populares – mas sei que isso ainda está um tanto distante da maioria dos nossos médios e pequenos municípios. 

Á curto prazo podemos e devemos fortalecer as organizações da sociedade civil existentes nesses municípios. Para que possam desempenhar, de forma mais autônoma, o papel de fiscalizar e cobrar dos representantes políticos locais a execução de políticas que visem atender o bem comum. Além de propor e realizar ações que contribuam no combate às expressões da questão social que afligem esses municípios.

Quem sabe também, não possamos dar um recado já nessas eleições a esses candidatos que acreditam que eleição se ganha no barulho e não pelo fato de se ter o melhor projeto para conduzir a cidade nos próximos quatro anos. Se conseguíssemos isso, já seria uma grande mudança de perspectiva 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

quarta-feira, 14 de outubro de 2020

Por que Professor?!

“Educar é combater. E o silêncio não é meu idioma”.

Callajeros


Não é raro aqueles que optam por cursar uma licenciatura ouvir a pergunta: Por que Professor? Pergunta que não parte apenas do senso comum, mas também de profissionais frustrados com a profissão, com os quais nos deparamos sobretudo no período de estágio – ou quando começamos trabalhar numa escola pública. 

Por que não se pergunta a um estudante de Medicina: por que Médico? Ou um estudante de Direito: por que Advogado? Ou ainda um estudante de Engenharia: por que Engenheiro? Pelo fato dessas profissões não serem tão desvalorizadas quanta a profissão de professor, sobretudo professor da educação básica.

O professor da educação básica trabalha muito e ganha pouco. Quase sempre está inserido num ambiente de trabalho insalubre – sem condições estruturais para desenvolver as atividades. De modo que não é de se admirar que se tenha um índice de adoecimento mental enorme entre os profissionais da educação.

Quando ocorre uma mudança como a que estamos vivendo em consequência da pandemia de COVID-19, ele tem que se virar como pode para garantir minimamente, que o estudante não seja mais prejudicado do que está sendo. Por exemplo, tirando dinheiro do próprio bolso para se equipar melhor, do ponto de vista tecnológico. Pois o Estado exige que ele dê  aulas remotas através do ensino híbrido mas não lhe fornece uma estrutura mínima para que essas aulas sejam dadas. 

É por essas e outras que essa pergunta (por que professor?) é feita para um pobre estudante que está cursando uma licenciatura na intenção de se tornar professor da educação básica. Ou mesmo a quem já está atuando na área. É camarada, há que se ter uma boa dose de amor pela profissão. E também de loucura. Pois afinal de contas como diz Nietzsche: “há sempre alguma loucura no amor”. No caso do professor da educação básica, põe loucura nisso.

Talvez tenha sido isso que me atraiu para docência, essa dose de loucura que existe em ser professor. Em se doar quase integralmente a uma causa que parece perdida – a de humanizar através da educação, num sistema que desumaniza.

É um desafio atuar nesse contexto. Talvez por isso é cada vez menor o número de criaturas dispostas a cursar uma licenciatura e se tornar um professor. Entre esses poucos, parte significativa chegam ali por “acidente” – foi o possível com a nota que alcançaram no ENEM. Com isso muitos desistiram no meio do caminho ou se tornaram profissionais frustrados – que alimentaram a visão de que estudar para ser professor é uma perca de tempo. 

Nunca tive uma visão romântica acerca da profissão. Para mim sempre foi muito claro que assim como a educação é prioridade só nos discursos de candidatos a algum cargo de representante político,  da mesma forma é o discurso que defende a valorização do professor. Deixa o professor ir fazer uma greve por mais valorização salarial e condições de trabalho que veremos o discurso mudar radicalmente. Não pense que o governante de plantão pensará duas vezes em jogar seus cães fardados com cassetetes, gás lacrimogêneo e balas de borracha em cima dos grevistas. 

Apesar disso ou talvez por isso não me desânimo. Pois para mim isso reflete o medo que o Estado tem do professor – do seu papel transformador. Eles querem profissionais submissos, medíocres. Por isso é preciso tornar a profissão menos atrativa e mais desvalorizada. Sendo assim ajo de forma contrária, busco a excelência, busco fazer a diferença. Sem esperar reconhecimento de quem quer que seja. Apenas a satisfação íntima de está sendo coerente com o que acredito.

Por isso nunca me incomodei com a pergunta: Por que Professor? Tanto que nunca me dei o trabalho de respondê-la. Ora, não preciso justificar as minhas escolhas para ninguém. Preciso apenas ter consciência se é isso que quero de fato. E se é isso que quero de fato, busco fazer da melhor forma possível. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente atua como Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Eleições em Lajeado II – Perfil dos Candidatos á Vereador


Como prometido, nesse segundo texto vamos falar do perfil dos candidatos a ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores de Lajeado na próxima legislatura – que segundo o sistema de Divulgação de Candidaturas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), são 31. Disputando 9 vagas. Desses, apenas 6 buscam a reeleição. O que significa que no mínimo, teremos três novos parlamentares no legislativo lajeadense. Já as demais, dependerá do desempenho dos atuais vereadores nas urnas.

Em Lajeado, ao contrário do que ocorreu em outros municípios, o número de candidatos á Vereador diminuiu – em 2016 eram 58, agora em 2020 são 31. Desse modo poderíamos dizer que a priori será uma eleição menos concorrida. Mas não é bem assim, pois se por um lado diminuiu o número de candidatos, por outro aumentou a competitividade. Sobretudo com o fim das coligações proporcionais. E a maior disputa não será entre candidatos a vereadores de grupos adversários. Mas entre integrantes da mesma chapa. O que faz com que a campanha seja mais propositiva, com cada candidato mostrando suas qualidades ao invés de atacar os seus concorrentes. Afinal de contas, se preferirem a linha da desqualificação pessoal, estarão dando um tiro no próprio pé.

A tática dos grupos políticos que estão disputando o pleito eleitoral no município de Lajeado foi o de concentrar as candidaturas em poucos partidos. Diante disso os 31 candidatos estão divididos em apenas 3 legendas – o MDB, DEM e PSC. Sendo que os candidatos do MDB e DEM compõem o grupo do Prefeito e candidato a reeleição – Júnior Bandeira. E os candidatos do PSC o do Presidente da Câmara de Vereadores e Candidato á prefeito – José Edival. Já Hilario Dias não lançou chapa de Vereadores.

A maioria dos candidatos á Vereador estão no grupo da situação – 22. E os 09 restantes estão com a oposição. Isso pelo menos oficialmente, já que nos bastidores se apresentam pedindo voto apenas para si. Sobretudo nos locais onde o atual prefeito não tem uma boa receptividade.

Perfil dos candidatos 

Dos 31 candidatos que disputam uma vaga no legislativo lajeadense 21 são homens e 10 mulheres. Isso significa que o percentual de candidaturas femininas não ultrapassa o que estabelece a legislação eleitoral, isto é, um mínimo de 30%. Diante disso podemos dizer que a política em Lajeado continua sendo comandada majoritariamente pelos homens. Com o espaço da mulher sendo reduzido unicamente ao que impõem a legislação eleitoral. 

A situação da juventude é ainda pior, pois apenas 3 candidatos se encaixam nessa faixa etária de idade. 2 candidatos estão na faixa etária da chamada terceira idade (idosos) e os demais, 84%, compõem o grupo da meia idade (30 á 59 anos).

Em relação a escolaridade, pouco mais de 60% declarou possuir o Ensino Médio Completo. Cerca de 20% possui curso superior. E o restante não chegou a concluir a educação básica. Já em relação a ocupação, a maioria, cerca de 60%, declarou ser autônomo.  Os outros 40% são de servidores públicos. 

A partir desses dados podemos traçar um perfil geral do candidato a Vereador em Lajeado – homem, na faixa etária de 30 á 59 anos, que possui o Ensino Médio Completo e trabalha como autônomo. 

Esse perfil nos revela muita coisa. Talvez a principal seja que esse candidato está mais preocupado em melhorar de vida do que contribuir para a melhoria de vida da população. É também um perfil que não representa a diversidade que é o povo de Lajeado. Diante disso esperamos que o legislativo lajeadense não seja dominado unicamente por esse perfil. Precisamos ter uma presença maior das mulheres e da juventude nesse espaço. Mas isso quem decidirá é o eleitorado da cidade no dia 15 de novembro de 2020.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Literatura: Antologia “Ruas Vazias” – o coronavírus em prosa e verso


Muitos escritores mundo afora estão aproveitando o período de isolamento social (em decorrências da pandemia de COVID-19) para produzir sobre o contexto histórico que estamos vivendo. Entre os diversos trabalhos publicados destacamos a antologia literária organizada pelo editor e escritor Eliosmar Veloso, que acaba de publicar pela Editora Veloso a “Antologia Ruas Vazias – o coronavírus em prosa e verso 2020”. 

A obra conta com trabalhos de 34 autores de 6 Estados brasileiros (Tocantins, Pará, Maranhão, Goiás, Minas Gerais e Rio Grande do Sul) – o que nos dá a possibilidade de ver a partir desses diferentes olhares (de lugares distintos) como o isolamento tem os afetado. Com isso a antologia “Ruas Vazias...” serve como um importante registro histórico acerca do contexto atual e como referência para as futuras gerações – estudiosos e curiosos – que buscaram compreender como encaramos e superamos esse momento.


Minha participação 

Entre os autores que participam dessa antologia está esse que vos escreve. São três poemas de minha autoria escrito especialmente para a publicação. O primeiro intitulei de “A canção”, o segundo “Um sonho” e o terceiro “Hoje”. São poemas que foram inspirados em conversas com pessoas próximas á mim, em textos filosóficos e no noticiário sobre a situação atual.

Quando fui consultado sobre o projeto de publicação de uma antologia literária abordando essa temática dei o meu apoio instantaneamente, ressaltando inclusive que eu já tinha escritos sobre o tema. Mas na medida que o projeto foi se concretizando achei que a bela iniciativa do Eliosmar Veloso merecia o meu esforço de criar poemas inéditos. E assim fiz, submeti-os e foram aprovados. 

Quando comecei a escreve-los me dei o desafio de fazer poemas que falassem da situação que estamos vivendo não de forma explícita. Tanto que não há menção a pandemia, a novo coronavírus e nem a COVID-19. Acreditava eu que ao fazer isso meus poemas seriam atemporais – que daqui há 100 anos continuassem relevantes. Prepotência minha, não?! No final das contas são apenas poemas singelos, como é a minha poesia. E espero que possam aprecia-los.


Financiamento coletivo e fortalecimento da literatura

Um ponto importante a se ressaltar é que os custos da publicação da antologia “Ruas Vazias” foi financiado por todos os poetas e escritores que participam da obra. Creio que essa é uma ótima alternativa para que tenhamos nossos trabalhos publicados – um grupo de autores se juntam, publicam conjuntamente e dividem os custos da produção – e assim não fica pesado financeiramente para quem não tem condição de bancar uma publicação do próprio bolso – algo que no Brasil não é tão acessível assim. 

É também uma alternativa de fortalecimento da literatura – aumentando a produção literária – sem ficarmos esperando a boa vontade de algum gestor público de plantão tomar iniciativas nesse sentido.

É óbvio que essas alternativas tem lá suas limitações. Por exemplo no caso da antologia “Ruas Vazias...” o número de exemplares publicados foi reduzido. Para que tivesse uma tiragem maior seria necessário mais recursos. Isso significa que nem todos que se interessarem em adquirir e ler a obra terá acesso a mesma. Mas aqueles que conseguirem terão nas mãos uma importante obra literária com registro do momento que estamos passando.

Enfim, quem sabe nos projetos futuros não contemos com o envolvimento de mais autores. E com a sensibilidade do poder público em olhar com mais atenção para a nossa literatura.

Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular.