1- Emboscada
Era por volta das três
da madrugada. Danilo estava acordado, Daniel seu companheiro dormia
profundamente. De repente Danilo houve passos de alguém se aproximando, seu
coração acelera – seria quem eles estavam esperando há tanto tempo?
- Daniel, Daniel.
Acorda, tem alguém vindo ai.
Daniel acorda assustado
e mais assustado ainda fica quando imagina o que está próximo a acontecer.
- Será que é ele?
- Não sei, se prepara.
- Sim é ele, é ele. É o
Valdão.
Os passos se aproximam,
era alta madrugada, mas era noite de lua bonita, estava tudo claro. Era
impossível de não reconhecer a figura do Valdão – o nome falava por si só. Era
um sujeito grande, maior ainda era a sua fama de valentão. No entanto os irmãos
Danilo e Daniel estavam conscientes do que queriam fazer.
Valdão estava se
aproximando do lugar onde os dois irmãos estavam amoitados, cada passo do
valentão fazia o coração dos dois acelerarem mais ainda.
- É agora, vamos lá.
Valdão segue
tranquilamente rumo ao rio. Seu parceiro de pesca já o esta esperando desde as
duas horas, mas como sempre antes de ir para o seu compromisso Valdão passou na
casa de uma das suas três amantes. Essa era a sua rotina. Ali naquela pequena
cidade Valdão não tinha apenas a fama de valente, mas também de galã. Tinha
três mulheres, as três ele havia tomado de outros, que não ousaram enfrentar
Valdão por tamanha ousadia.
De repente ao passar
por trás de uma moita de capim sente um golpe forte na cabeça por trás. Sem
reação o valentão cai no chão. Daniel e Danilo não perdem tempo e o furam todo
com peixeiras, em poucos minutos Valdão esta morto, sem que se quer ousasse
alguma reação e muito menos conseguira ver o rosto de seus algozes. Foi tudo
muito rápido.
Danilo e Daniel tremiam
por dentro, seus corações continuavam acelerados. Eles haviam acabado de
cometer um crime, imaginavam como haviam sido capazes de fazer aquilo. Mas o
fato é que haviam.
Os dois irmãos pegaram
o Valentão jogaram em uma canoa, remaram até o meio do rio, chegando lá amarrou
uma pedra no pescoço desse e o jogou dentro do rio.
2- Mistério no Segredo
O mês de junho, julho e
agosto é verão no Tocantins. As chuvas se vão, os rios secam e ao longo do seu
leito formam-se diversas praias onde turistas e tocantinenses buscam para se
refrescar do intenso calor que faz nessa região. Mas as belezas naturais do
Tocantins não se resumem as praias – o bioma cerrado que é predominante no
estado também tem seus encantos. Sua flora e fauna incrível, além das
cordilheiras de serras presente em quase todo o território. As festas populares
é também um grande atrativo para quem quer conhecer a alma da cultura
tocantinense.
E foi querendo conhecer
este povo e esta terra que Natalia, Debora e Jessica vieram passar férias por
essas paragens, no entanto elas nem imaginavam o que as esperavam.
As amigas se divertiram
bastante nas praias de Ipueiras, Brejinho de Nazaré, na histórica cidade de
Porto Nacional – Caíram nas rodas de sucia ao som dos tambores do Tocantins, si
deliciaram com a gostosa culinária em especial a caranha assada na moqueca.
Divertiram-se como nunca.
Ao chegarem ao Lajeado
elas cismaram em querer subir o Morro do Segredo. De fato o Morro do Segredo é
encantador - uma das belezas naturais mais encantadoras do Tocantins. É
impossível não vê-lo e se sentir atraído. Mais encantador ainda era a visão lá
de cima, o ar, o clima.
Além das historias que
os moradores locais contavam a cerca de luzes misteriosas no topo do morro, de
riquezas escondidas protegida por fantasmas.
- Mas isso é historia
de pescador. Dizia os incrédulos, entre eles as três amigas.
- O que nós vamos fazer
lá em cima? Deve ser impossível chegar lá.
Debora não era muito
dada a aventuras. Preferia sombra e água fresca. Quanto menos esforço melhor.
Não conseguia entender o que tanto Natalia e Jessica queria fazer lá. Já estava
ótimo ver o morro lá de baixo e tirar muitas fotos.
- Vamos, vai ser
bacana. Dizem que a vista lá de cima é ótima.
- É verdade. Imagina as fotos que vamos tirar de lá.
Mesmo com as
ponderações de Natalia e Jessica – Debora não se sentia encorajada a subir o
imponente Morro do Segredo. Porém ela era incapaz de deixar suas companheiras
seguirem sozinha.
- Ok. A gente vai, mas
não iremos acampar lá.
- Tudo bem. Concordaram
as amigas.
Ao chegarem ao topo do
Morro às amigas ficaram encantadas. Não fora fácil a subida, ainda mais para
elas que não conheciam o local e nunca foram de aventuras, mas demostraram
muita coragem ao desafiar a subida do morro ainda mais sem guias.
- Que lindo!!! Nem
mesmo Debora conseguia esconder o encanto que sentia ao ver a bela visão do
topo do Morro do Segredo.
O tempo passou tão
depressa que as amigas nem perceberam. Logo em breve começaria a anoitecer era preciso
começar a descer, pois se anoitecesse seria impossível.
- Meus amigos vão pirar
quando virem essas fotos.
- É mesmo vão morrer de
inveja.
- Mas temos que começar
a descer se não escurece e não conseguimos achar o caminho certo. Ainda bem que
o celular pega aqui se acaso nós nos perdermos.
- Vira essa boca pra lá
Debora.
Quando as amigas
começaram a descer perceberam que não seria tão fácil, se a subida havia sido
difícil, a descida não seria menos.
- Vamos depressa, esta
começando a escurecer. Dizia Debora nervosa.
- Vamos com cuidado se
não a gente se perde.
Jessica e Natalia já
não conseguiam esconder o nervosismo e tal como Debora temiam o que poderia
acontecer. E para o desespero das amigas tudo escureceu rapidamente, era
impossível saber o caminho.
- Meu Deus o que vamos
fazer? E nem ligar para alguém tem como, pois a gente não conhece ninguém por
aqui. Só se for pra policia?
- Ai meu Deus, o
celular tá sem sinal.
- Vamos ter que acampar
por aqui, pois é impossível a gente achar o caminho. Amanhã sedo a gente
continua a viagem.
Jessica era a mais
tranquila das três. Já Debora e Natalia estavam desesperada e se não fosse a
Jessica lhes tranquilizando elas teriam entrado em pânico. Mas o pior estava
por vir.
De repente as amigas
começaram a ouvir passos nas folhas secas.
- Quem estaria andando
por ali naquele horário. As amigas gritaram desesperadas, mas ninguém ás
responderam.
Os passos continuaram e
pararam novamente. As amigas tiveram na hora uma lembrança que as deixaram
ainda mais nervosas – lembraram-se das historias dos pescadores sobre visagens
no morro.
- Será que são
fantasmas? Debora, Natalia e Jessica abraçaram-se e ficaram de joelhos rezando.
De repente uma luz
gigante surge do nada no céu e numa velocidade indescritível começa a se mover
em direção as amigas.
- O que seria aquilo?
Que luz era aquela? A aparência era de uma enorme bola de fogo. Seria um
cometa, um asteroide? Um disco voador com extra terrestres?
As amigas já imaginavam
que aquele seria o fim delas, não só delas, mas se aquela bola de fogo caísse
ali, com certeza tudo ia pelos ares. Naquele momento o que elas mais queriam
era esta ao lado de seus familiares, morrer ali tão longe de todos e tudo?
A bola de fogo aproxima
delas e de repente desaparece do nada. As amigas ficam boquiaberta. O que teria
sido aquilo? Elas se tocam para ver se estavam inteiras e estavam. Melhor ainda
foi encontrarem-se com dois caçadores que rondavam por ali e lhes mostrarem o
caminho. Mal o dia amanheceu e as amigas jogaram as mochilas nas costas e
troaram a caminho de casa.
Da janela do ônibus
elas não puderam deixar de olhar o belíssimo Morro do Segredo. No entanto elas
esperavam nunca mais voltarem ali. A noite anterior já mais sairia da mente
daquelas amigas, como também o questionamento – o que teria sido aquela
visagem?
3- Kátia treck treck
- E ai Kátia quer dá um
pega?! Vai lá.
- Eita João, você sabe
que o Zé não gosta que você fuma maconha aqui, por causa dos meninos pequeno.
- Eu sei, mais ele tá
para o trabalho e não vai chegar agora. Vai meu dá um pega. Só um peguinha.
- Hum eu não. Isso vai
me deixar doida. Mais do que eu já sou. E o Zé não deve demorar muito não.
Kátia era discípula da
esbornia. Gostava de tomar cachaça como poucos. Quanto mais, melhor.
Dificilmente encontrava alguém que disputava com ela na cachaça. No entanto
esse era o seu único vicio, além de um porronca (fumo de palha), mas outro tipo
de entorpecentes não usava, sobretudo a tal da maconha que era comum por ali.
Ela não era contra, ao
contrario, tinha muito amigos que gostavam da erva. Ouvia varias historias a
cerca do efeito da maria joana, no entanto nunca havia visto nenhum
comportamento condenável por parte dos seus amigos que fumavam maconha. Mesmo
assim ela nunca sentiu vontade de dar um ‘tapinha’ num baseado. Porém naquele
dia diante da insistência de João, Kátia sentiu-se tentada a experimentar.
- Só um tapinha meu. É
de boa.
- Então tá.
- Puxa, prende e solta
viu.
Kátia fez como João
havia lhe orientado. Deu uns pega no baseado e ficou de boa. Pensou consigo:
- Isso não é o veneno
que todo mundo fala não. Eu tô de boa. Tô de booooooa.
Mas de repente. Algo
estranho começou a acontecer. Kátia virou a cabeça para o lado e escutou treck,
virou para o outro treck.
- Meu Deus. Que diabos
é isso? O que esta acontecendo comigo?
Todas as vezes que
Kátia movimentava a cabeça ouvia um barulho no seu pescoço – treck, treck. Ela
começou a desesperar.
- João, João você tá
ouvindo, olha esse barulho no meu pescoço.
Kátia mexia o pescoço
para que João ouvisse o barulho. Para ela todos podiam ouvir o Treck, treck.
João percebeu que era a ‘viagem’ da erva e começou a sorrir da amiga. Kátia
cada vez mais desesperada imaginava:
- Será que vou viver a
vida inteira com esse barulho? Treck, treck.
Ao ver o desespero de
Kátia que só aumentava João orientou-a a tomar um copo de leite para cortar o
efeito da erva. Após tomar o copo de leite em alguns minutos aliviada Kátia
percebeu que o treck, treck havia desaparecido.
Desse dia em diante
Kátia que nunca sentiu-se atraída pela erva sagrada dos rastas. Nunca mais iria
colocar um baseado na boca. Já pensou se o treck, treck voltasse?
- Não, isso não é para
mim. Prefiro cachaça mesmo.
4- Luna
Quando John viu Luna
foi amor à primeira vista, seu coração bateu acelerado tal como as baquetas da
bateria do Igor Cavalera do Sepultura. Não era a primeira vez que John se
apaixonava, mas nunca havia se apaixonado de forma tão intensa assim por mulher
alguma.
Luna não era um
mulherão, estava mais para uma adolescente, apesar de já ter 19 anos. Loira,
usava o cabelo curto com algumas madeixas pintadas de azul e uma linda flor na
lateral, tinha um belo alargador nas orelhas e sua pele clara destacava as
belas tatuagens que cobriam seu corpo. Fumava um cigarro em cima do outro e ao
lado um copo de conhaque.
Havia muitas mulheres
naquele bar, algumas até mais bela que ela, mas ela com certeza era quem mais
chamava a atenção de todos, no entanto ela não dava corda para nenhum dos
corajosos que ousaram chegar perto dela.
De repente começou a
tocar no salão o som pesado do Motorhead. Ela ergueu-se e começou a dançar,
todos a observavam, em especial John que estava encantado por ela.
– Ah, como queria ter
essa maluca nos meus braços. Pensava John.
Luna olha para John
sentado em um canto tomando uma cerveja e olhando para ela. Ela caminha até
onde ele esta e pergunta se pode sentar-se com ele, surpreso John gaguejando
responde-a que sim.
- Olá tudo bem? Você
está sozinho? Quer companhia? Posso me sentar aqui com você?
- Pois não. Fica a
vontade. Aceita alguma bebida?
- Um conhaque, por
favor.
E assim John e Luna
começam a conversar sobre varias coisas, ela tomando o seu conhaque e ele
cerveja e ouvindo o som sujo, veloz e pesado do Motorhead que ecoava no salão
do bar.
- E então, aqui tá
bacana. Mas você não quer ir para um lugar mais tranquilo? Só eu e você?
- Claro, vamos sim.
Respondeu todo animado John.
Nem nos seus melhores
sonhos ele poderia imaginar que um dia teria uma mulher daquela nos seus
braços, mas o fato é que sem explicação aquela princesa estava a fim de ficar
com ele. E assim os dois seguiram no conversível de John até um motelzinho na
beira da BR que cortava o local. Quando entraram para o quarto Luna pediu uma
garrafa de conhaque. John lembra-se apenas da primeira dose de conhaque que
tomou, quando foi no dia seguinte acordou sozinho no quarto de motel, sem
roupa, sem grana e sem carro. Luna havia sumido.
5- E ai. Vamos brincar?
Ele seguia por aquelas
ruas com certo receio. Nunca havia andado por ali, mas as historias que havia ouvido
sobre aquele local não era animadoras. O bairro era conhecido por toda á Palmas
como território de traficantes e prostitutas com altos índices de violência.
Mesmo com todas essas informações ele decidiu conhecer o local.
As ruas estavam
desertas apesar de não ser tarde da noite. Ele entrou em uma pequena viela e
viu dois bares. Decidiu entrar no primeiro. Havia apenas um homem com duas
mulheres numa mesa tomando cerveja e o atendente no balcão. Ele sentou em uma
mesa e pediu uma cerveja. Logo uma mulher aproximou-se dele e perguntou se
podia sentar com ele.
- Tudo bem. Pode ficar
a vontade.
- Você não é o tipo de
pessoa que anda por aqui.
- De fato. É a primeira
vez que ando por esses lados.
Ela não era uma mulher
bela. Se ele a visse na rua com certeza não chamaria a atenção dele. Estava
longe do padrão de beleza que a sociedade nos impõe. Era negra e gorda. No
entanto a sua simpatia era cativante e no decorrer do bate papo que iam tendo
ele ia tendo cada vez mais uma forte atração por ela.
- E ai. Vamos brincar
hoje?
- Sim, vamos. Mas
tomemos mais umas cervejas antes.
- Que bom.
Enquanto iam tomando
cervejas iam conversando animadamente. Ele quis saber de onde ela era, qual era
a sua historia, quanto tempo estava naquela vida. Ela respondeu a todos os
questionamentos dele com muita tranquilidade.
- Eu sou baiana. Estou
apenas a 6 meses nessa vida, comecei quando o meu casamento chegou ao fim. Dai
deixei o interior da Bahia e vim morar em Palmas. E você de onde vem, o que
você faz?
Ele também respondeu os
questionamentos dela. Não escondeu a sua identidade tal como muitos homens
fazem quando se relacionam com uma prostituta. Ela lhe passava tanta confiança
e tranquilidade que ele ficou totalmente à vontade.
- Vamos lá então. Se
não eu fico bêbado e não dou conta de nada. Rs.
- Sim, vamos! Rs.
Na cama ela mostrou
toda a sua experiência fazendo com que ele ficasse relaxado e conseguisse o que
havia ido procurar ali. Ele por sua vez não teve do que reclamar.
- E então, você gostou?
- Sim, foi muito bom. Quanto
é o programa?
- Trinta reais.
- Agora eu tenho que
ir. Muito obrigada.
- Obrigada você. Volta
tá?!
- Sim, eu volto. Tchau.
6- A morte de John
- Garçom manda mais uma
garrafa de Whisky meu. Gritou John.
- Já deu, vamos fechar.
É a ultima.
Era 6 da manhã, John
era o único de pé, juntamente com seus amigos já havia tomado umas quatros
garrafas de Whisky, além de bastante cervejas. Seus amigos já tinham pedido
arrego. John saiu então com uma garrafa na mão procurando mais um bar aberto.
Naquela hora, impossível.
Não queria voltar para
casa, odiava a vida ali, trabalhar e estudar a um tempo desistira. Também não
queria voltar para sua terra natal. Sua vida era de bar em bar em busca de
sexo, drogas e rock in rol. Mesmo assim não estava feliz.
Cansara-se de tudo e de
todos, cansara de viver. Ele que nunca foi de beber, estava bebendo, nunca foi
de fumar, estava fumando. Já tinha sido preso por brigar na rua, e porte de
maconha. Tudo isso apenas em 6 meses.
Quando John deixou sua
terra natal, sua mãe e queridos familiares tinha na cabeça o projeto de começar
uma nova vida naquela capital. Estudar, se formar, construir uma nova historia
enterrando os fantasmas do passado que sempre vinha lhe incomodar.
Inicialmente conseguira
um trabalho bem como estava se preparando para o vestibular, mas de repente
tudo mudou, sem explicação John começou a beber, fumar, brigar. Tornou-se um
ser noturno, habitante da vida boemia da capital.
Há seis meses que John
vivia aquela vida, e há três dias que não voltava para casa. Como não obteve
êxito em busca de um bar aberto às seis da manhã de uma segunda-feira, decidiu
voltar para casa.
- Onde você estava
John? Isso é vida?
John seguiu
silenciosamente para o seu quarto sem da atenção aos questionamentos do seu
irmão. Fechou a porta, procurou uma Gilette e ao som de Janis Joplin cortou
seus pulsos e dormiu profundamente, eternamente.
7- Últimos suspiros
Seu corpo estava
estendido no chão do quarto, ainda tinha vida e dava os últimos suspiros.
Sentia uma dor imensa no peito e estava banhado de sangue do tiro que acabara
de receber.
O gosto do whisky que
tomava a poucos minutos, já tinha sido substituído pelo gosto do sangue. Estava
só, não conseguia gritar e mesmo se conseguisse ninguém o escutaria. Estava
morrendo e era irreversível. A dor maior não era do tiro em si, mas de quem o
dera.
Saiu do trabalho as 18h
e foi direto para casa, no caminho parou apenas para comprar um whisky. Os
telefonemas insistentes continuavam, mas ele mantinha a sua posição de não
atende - lo. Era preciso por um fim naquela historia, já estava cansado, não
via futuro naquilo que se tornara uma questão demasiadamente desgastante.
Ligou a TV, mas não
achou nada de interessante para assistir, desligou e em seguida ligou o som e
preparou uma dose de whisky. Queria esquecer-se de tudo aquilo, mas não
conseguia parar de pensar, sabia que por algum tempo sofreria e que até nunca
estaria curado totalmente, sempre haveria uma cicatriz. Mas com certeza não
doeria tanto.
Desde o primeiro
momento ele sentiu que era algo arriscado, mas o desejo falou mais alto e ele
não teve como resistir, jogou-se totalmente, entregou-se de corpo e alma aquela
historia. Pobre diabo, como ele previa aquilo se tornava cada vez mais
perigoso. Não tinha mais jeito tinha que por um ponto final aquilo.
Sentiu que por mais que
quisesse se continuasse ali naquela cidade aquele problema sempre viria bater
na sua porta, era preciso sair dali, ir para outra cidade, quem sabe outro
estado, começar uma nova vida, sim era preciso fazer isso, era preciso fugir
dali. E foi isso que fez com que ele jogasse uma mochila nas costas e partisse
daquela cidade.
Passara-se dois meses,
tudo ia caminhando de forma tranquila, já estava em outra cidade, trabalhando e
estudando. Ainda não conseguira sair e não tinha amigos, gostava de fica só
ouvindo musica, trancado na quitinete que morava com uma garrafa de whisky na
mão.
Não sabia como cargas
d’águas conseguiram o telefone dele, mas nas ultimas duas semanas as ligações
eram frequentes, imaginava consigo - Será que descobriram onde estou morando?
Decidira não atender,
não queria ouvir a voz de ninguém, estava sofrendo por dentro, mas permaneceria
firme sem recuar no seu proposito de concretizar por ali uma nova vida.
Quando preparava mais
uma dose de whisky ouviu de repente as batidas de alguém o chamando na porta.
Assustou – se, imaginou quem seria, pois ninguém além de sua família sabia onde
estava morando. Nem mesmo os colegas do trabalho e do cursinho sabiam onde ele
morava.
Hesitou em abrir, mas
as batidas continuaram, perguntou quem era, mas ninguém o respondeu. Decidiu
não abrir, mas as batidas continuavam, tentou ver quem estava lá fora, mas não
tinha como. De repente tudo se fez em silencio, decidiu então abrir a porta
para ver se via rastro de quem estivera por ali. Não havia ninguém.
Retornou então para
dentro, trancou a porta e foi preparar mais uma dose de whisky , era o ultimo
da noite, em seguida iria dormi, tinha que acordar cedo para ir até o cursinho
e depois seguiria para o trabalho. Com o copo de whisky na mão decidi abrir a
janela para observar o movimento na rua, era algo que não fazia com frequência.
Quando abriu a janela
viu alguém conhecido na rua, mas foi rápido, de repente um tiro acerta seu
peito e ele cai para trás, o copo de whisky voa longe, ele esta mortalmente
ferido. Sim, não tinha enganado, vira muito bem quem fizera aquilo com ele,
como podia ter sido tão cruel assim. Estava morrendo, já sentia o frio da morte
percorrendo todo o seu corpo.
Tudo se fez em
silencio, no seu quarto apenas a voz roca de Janis Joplin ecoava vindo do seu
aparelho de som, um vento frio entrava pela janela, lá fora também tudo era
silencio. No chão ao lado do copo de whisky que quebrara com o impacto da
queda, ele acabava de dar seus últimos suspiros.
8- Despedida
Chegara à hora, ela o
abraçou tão forte como que sentisse que seria a ultima vez, não queria solta-lo
nem um instante, mais teve que fazê-lo, suas mãos que pousavam sobre o corpo
dele foram recuando levemente, no rosto um sorriso triste que transparecia a
dor de uma despedida. Virou-se e entrou no ônibus.
Ele por sua vez saiu
dali rapidamente, como sempre tentando esconder seu lado humano, demasiado
humano. Caminhava rapidamente como se precisasse fugir dali, no entanto parou
por um momento e ficou observando o ônibus partir – Talvez esperasse que ela
desistisse e voltasse correndo para os seus braços.
Naqueles segundos ali,
veio tudo a sua cabeça – nos momentos que passaram juntos, de tudo que tinha
acontecido. Conheciam – se já há algum tempo. Por caminhos diferentes se
encontraram no mesmo ideal, lutar por uma sociedade justa e igualitária, e
desde o primeiro momento se apaixonou pelo sorriso e pelo olhar dela.
Com o tempo sua paixão
por ela só aumentava, queria tê-la, no entanto esse sonho cada vez parecia mais
distante. Era um sonho vê-la, tocá-la, tê-la, o sonho tornou se realidade,
mesmo que por apenas alguns dias, algumas noites, mais que noites foram
aquelas.
Os dias que passaram
juntos foram de uma felicidade imensa – Ele que vivia com a cabeça voltada pra
militância política construindo a luta da classe trabalhadora. Pela primeira
vez pensou em casar, ter filhos, morar no interior, claro com ela.
Agora naquela fria
rodoviária ele observava todos os seus sonhos irem embora naquele ônibus. Não
era o ônibus em si, mas sim quem ele levava. Não era para tanto, ela não iria
para tão longe assim.
Mais ao ver o ônibus
partindo da rodoviária e perde-lo de vista nas curvas do caminho, era como se
ele adivinhasse no seu intimo – Nunca mais haverei.
Ao chegar à solidão do
seu quarto, onde ainda podia sentir o perfume dela impregnado no ar, onde há
poucos dias pela primeira vez se entregaram a mais intensa paixão. Leu a carta
que ela lhe deixará que apenas confirmava o que ele já sentia.
“...Se lembra quando a
gente chegou um dia acreditar, que tudo era pra sempre, sem saber que o pra
sempre, sempre acaba.” Renato Russo
9- O Reencontro
Paulo estava sentado no
ponto de ônibus esperando o veiculo para seguir até a capital. Fumando um
palheiro e observando a belíssima serra na sua frente. - Precisava arrumar
algumas coisas na capital que era impossível de serem realizadas na pequena
cidade em que morava.
Desde que voltara para
sua terra natal pensava em encontra-la, aquela que fora a sua amada, o seu
grande amor. No entanto após tanto tempo ali já havia perdido a esperança de
reencontra-la. Perguntou alguns amigos se por acaso sabiam alguma noticia dela,
no entanto ninguém sabia. As coisas por ali não haviam mudado tanto, mas muita
gente da sua geração havia ido embora dali tal como ele o fizera. Assim Paulo
ficava pensando o que será que havia acontecido com sua amada.
- Será que ela continua
casada com aquele cara? Será que teve filhos? Em que cidade esta morando, em
que estado?
Paulo conheceu-a no
colégio. Ambos tinham apenas 14 anos. Paulo ainda não namorava, ela já estava
noiva e logo se casou. Desde que há viu pela primeira vez ele se apaixonou por
ela, já ela gostava de outro. Com o tempo eles se aproximaram e ela que vivia
um momento de crise no seu casamento começou a se aproximar de Paulo e também
se apaixonou por ele.
A cada dia a paixão dos
dois só aumentava, no entanto ela continuava casada. Paulo a amava com todas as
suas forças, mas não tinha coragem de toma-la em seus braços e rouba-la do seu
marido. Paulo era um covarde. – Amava-a muito, mas não tinha coragem de se
declarar.
Ela o amava, Paulo bem
sabia. Todos que os viam juntos falavam que eles estavam tendo um caso. O boato
se espalhou e o marido dela proibiu-a dela se aproximar dele. Percebeu que
estava perdendo sua mulher para aquele menino e se ele não tomasse uma atitude
a perderia de vez.
A duras penas Paulo
teve que se afastar de sua amada isso lhe doeu muito no coração. Ele bem sabia
que se tivesse coragem ela largaria o seu marido e ficaria com ele, mas ele não
tinha força para rouba-la.
De repente o ônibus
surge na estrada. Paulo levanta e dá com a mão para que o automóvel pare.
Quando Paulo entra não pode acreditar em quem ele está vendo na sua frente
sentada sozinha em uma poltrona. Sim era ela. Continuava linda como sempre. Mas
estava com a cara de poucos amigos. Si quer olhou para Paulo e quando fez, o
fez com certa indiferença.
Paulo não pode deixar
de se sentir desapontado. Esperou tanto por aquele momento, imaginou tanto como
seria. Fez tantos planos. Mas as coisas já não era como antes, como pode passar
por sua cabeça que ela continuava gostando dele e que agora depois de tantos
anos ele teria a chance de viver o amor que não puderam viver na juventude.
Chegou a pensar em
sentar ao lado dela. Puxar conversa com ela. Saber como ela estava o que tinha
feito em todos esses anos que não se viam. Mas o olhar de poucos amigos dela o
afugentou. Paulo pensava: - Tudo bem que ela não o amasse mais, mas esse olhar
dela de ódio o machucava por dentro. Aquela raiva que transparecia no seu olhar
seria dele?
Paulo teve medo de
cumprimenta-la e sentar junto dela, imaginou que ela seria áspera com ele e não
suportaria mais essa decepção. Eles que se amaram tanto outrora estavam ali,
mas si quer se cumprimentaram.
O ônibus entra na
capital. Ela se levanta e caminha para porta. Para diante de Paulo abre um
grande sorriso e diz:
- Olá Paulo quanto
tempo? Tudo bom contigo?
Paulo não pode deixar
de se sentir surpreso e responde-a:
- Oi menina tudo bem?!
Onde você esta morando?
- Continuo morando lá e
estou trabalhando aqui na capital.
Paulo pensou na ultima
vez que viu ela. Encontraram-se na rua, ele a cumprimentou, tomou coragem e
falou com ela.
- Menina casa comigo?
Ela olhou para ele e
sorriu. Agora ali diante dela ele pensava nessa proposta que fizera a ela há
tantos anos atrás. O ônibus estava chegando ao ponto em que ela iria descer.
Paulo toma coragem e quando o ônibus para ele pergunta:
- Você pensou na
proposta que eu ti fiz?
- Que proposta?
- Aquela proposta meu.
- Não me lembro. Qual?
- Casa comigo?
Ela abriu um grande
sorriso e não lhe respondeu. O ônibus seguiu e ele teve a certeza que a
historia deles ainda não havia acabado. Ele a amava e ela ainda o amava.
Um corpo
O corpo estava ali
estendido na rua. Centenas de curiosos cercavam o local tentando saber o que
havia acontecido. Era uma jovem, tinha cerca de 16 para 17 anos, voltava da
faculdade para casa, havia sido violentada brutalmente. Todos estavam
consternados, revoltados. Ela não era a primeira vitima, outras mulheres haviam
tido o mesmo destino daquela jovem. Infelizmente todos ali sabiam os culpados por
aquele crime absurdo dificilmente seriam pegos, julgados e condenados. Não ao
contrario, continuaram soltos cometendo mais crimes bárbaros.
O corpo estava
estendido no chão do bar, o copo de cerveja quebrara com a queda, o cigarro que
fumava ainda estava na sua mão aceso. Era uma bela mulher, havia decidido por
um ponto final naquele relacionamento com aquele cara que mostrara si ser
extremamente violento. Ele não aceitava, tal como muitos por aqui. Disse que
queria conversar com ela. Ela concordou, seria a ultima vez que iria encontrar
com ele. Ela encontrou com ele em um bar, pediu uma cerveja, ascendeu um
cigarro. Ele mais uma vez lhe pediu perdão, jurou como tantas outras vezes que
nunca mais bateria nela. Mas ela estava irredutível, era o momento de por um
ponto final naquela historia, começar uma nova vida. Ele não aceitou, puxou o
revolver que carregava na cintura e descarregou nela. Mais uma vitima do
machismo, mais uma vitima da violência contra a mulher, mais uma estatística
que não terá uma solução.
O corpo foi encontrado
em baixo de uma ponte, no mato, em um lugar isolado. Ela era tão jovem, tinha
apenas treze anos. Seu corpo havia sido todo esfaqueado, mais de vinte facadas.
– Por que tanto ódio. O assassino acreditava que ela era um empecilho para o
seu romance com a mãe dela. Ela só queria ver sua mãe feliz, ao lado de um
homem que realmente a merecia, e este homem não era ele. Tanto que ele mostrou
ao assassinar uma criança que tinha todo um futuro pela frente.
O corpo foi encontrado
em um quarto, em cima da cama. Era jovem, havia acabado de deixar a casa da mãe
para morar na capital, não tinha um bom relacionamento com o padrasto. Estava
feliz, estudava e trabalhava, arranjou um namorado. Acreditava que ele era um
príncipe encantado, queria casar, ter filhos, constituir uma família junto com
ele. Mas todos os seus sonhos tiveram fim nas mãos daquele que ela acreditava
ser o grande amor de sua vida.
O corpo foi encontrado
boiando no rio Tocantins, amarrada, após ser abusada violentamente. Era mais
uma jovem vitima da violência contra as mulheres, mais um numero mais uma
estática, mais um crime sem solução no nosso estado, no nosso país.
Todos os dias as
mulheres do nosso estado vão estudar, vão para o trabalho sem saber se
voltaram. Em cada esquina, em cada beco poderão se tornar mais uma vitima, mais
um número, mais uma estatística. As mulheres da minha terra sabem que a
qualquer momento podem se tornar a próxima vitima da violência contra a mulher,
mesmo em suas casas, onde deveria ser seu porto seguro.
Corpos e mais corpos, a
cada dia mais corpos. Jovens, mulheres trabalhadoras vítimas da violência. E o
governo o que faz? E as autoridades o que fazem? Nada. Até quando continuaremos
sem fazer nada? Infelizmente isso não são histórias fictícias, são baseadas em
fatos reais de violência contra as mulheres no Tocantins.
– Basta de violência
contra as mulheres já!
A morte do encantador de serpentes
em uma madrugada sangrenta
Era madrugada fria. Os
pelotões de soldados em marcha vasculhavam todos os cantos da cidade. O som da
batida dos tambores marcava o marchar das tropas. As ruas da cidade estavam
desertas e escuras. Ao contrario de poucos minutos antes das tropas adentrarem
na cidade.
Em poucos minutos tudo
era correria e tiros - O corpo dele ainda se encontrava estendido no meio da
praça, solitário sob o próprio sangue e crivado de balas. O vento frio zunia
como uma canção melancólica, o belo luar desaparecerá sob as nuvens, o céu
estrelado se extinguiu.
Não haviam matado um
terrorista, bandido ou reacionário. Era apenas um jovem sonhador, um poeta que
com seus versos melódicos encantava serpentes. Não foi o único que tombara sob
o fogo das metralhadoras e fuzis das tropas golpistas. Homens, mulheres e
crianças banharam aquela madrugada com sangue.
Mas ele era apenas um
poeta, um jovem poeta que tentava através dos seus versos, despertar o amor e o
fogo revolucionário escondido dentro dos corações de todos os filhos da classe
trabalhadora. Fora perseguido como um cão, executado como um monstro. Agora
como um troféu seu corpo ensanguentado e crivado de balas era exibido em praça
pública.
É alta madrugada e o
dia parece que demorara nascer. O povo daquelas bandas enfrentaram dias
tenebrosos sob o jugo dos fascistas golpistas. Não será fácil. Muitos tombarão, outros tantos serão
torturados, alguns exiliados.
Mas nada será como
aquela madrugada, a madrugada em que o encantador de serpentes foi morto
brutalmente. Sem julgamento, sem condenação, sem se quer cometer qualquer
crime. Fora morto sem explicação. Seria, no entanto seus versos clamando o amor
e chamando a revolução?
Não, não foi por nada
que o mataram, sabiam do seu fervor revolucionário e de como era perigoso para
os golpistas aquele encantador de serpentes e, sobretudo seus versos. Por isso
foi caçado como um cão e morto como um monstro.
Mataram um poeta, um
jovem poeta. No entanto seus versos não serão esquecidos, ecoaram nos quatros
cantos daquela cidade sendo declamado de boca em boca e fazendo com que o povo
se organize, se desperte e lute contra o exercito golpista.
O jovem poeta que fora
morto naquela madrugada sangrenta já mais será esquecido, tornou-se um Martim e
seu exemplo guiara o exercito popular que se formará através da leitura dos
seus versos, continuando assim a luta por seus ideais. E enfim chegará o dia em
que o exercito popular de encantadores de serpentes triunfarão sob os
golpistas-fascistas.
Um certo José
Após mais um dia de
trabalho José pega o ônibus de volta para casa, é o primeiro dos quatro que
terá que pegar para chegar à periferia onde mora. Há oitos anos desde que
chegou do interior que trabalha como faxineiro em um supermercado. Tinha mulher
e quatro filhos.
José nasceu e cresceu
em uma pequena cidade como muitas que existem no interior do nosso país. Não há
trabalho, não há infraestrutura, não há condições para se viver dignamente. Nem
se quer terra havia. A pequena chácara onde nasceu e cresceu juntamente com
seus irmãos teve que abandonar devido à construção de uma usina hidrelétrica
sobre o rio.
Quando morava na
chácara mesmo passando dificuldade conseguia tirar da terra o suficiente para
viver com dignidade, no entanto desde que fora obrigado a deixar sua terrinha
passou a sobreviver às duras penas naquela pequena cidade que não lhe dava
nenhuma condição para viver dignamente, assim ele juntou sua mulher e seus
filhos e decidiu partir dali em busca de uma vida melhor em um grande centro.
Assim que chegou
naquela cidade não teve dificuldade para arrumar um trabalho como faxineiro em
um supermercado, havia muita gente do interior trabalhando na capital, e os
trabalhadores de sua terra tinham a fama por ali de serem bons funcionários.
No entanto nem tudo
eram flores, o salario mínimo que recebia se quer dava para sobreviver, mal
podia pagar o aluguel do barracão onde morava com sua esposa e seus filhos, a
comida era escassa, não havia nenhuma mordomia, mesmo com a esposa de José o
ajudando com o seu salario de diarista.
José tinha a esperança
de quem sabe um dia comprar sua casa própria, mas como se o dinheiro que
ganhava mal dava para sobreviver? Passou se um ano, três, seis, já havia oito
anos que estavam ali, mas a vida não melhorava. José continuava pagando aluguel
e sobrevivendo com um salario de fome.
As vezes ele pensava na
sua terra, no interior onde vivera, na chácara onde crescera e teve que
abandonar para que o governo pudesse construir uma usina hidrelétrica para
vender energia e encher o bolso de dinheiro das elites locais. Pensava em
voltar um dia, mas sabia também que a vida por ali não seria fácil, naquela
cidade pelo menos tinha trabalho, não era grande coisa, mas era melhor do que
nada.
José continuava a sua
rotina, tinha a esperança de um dia sair do aluguel, sua esposa já não tinha
tanta esperança assim e, portanto decidiu voltar para o interior com os filhos
e deixar José só ali. No dia em que ele chegou ao barracão em que morava e viu
que sua esposa havia o deixado, ele perdeu o chão, não podia acreditar, foi
para um bar bebeu todas, no outro dia não conseguiu ir para o trabalho.
No outro dia quando
chegou ao trabalho seu gerente deu lhe uma grande bronca e o fez assinar uma
advertência por ter faltado o trabalho, nos oito anos que estava ali ele nunca
havia faltado e mesmo assim na primeira vez que fizera levara uma grande bronca
do patrão e teve que assinar uma advertência.
José seguia no ônibus
de volta para o barracão onde morava de aluguel, sentia muita falta de sua
mulher, de seus filhos, queria tê-los a seu lado, sonhava um dia sair do
aluguel e ter uma casa própria. Ouvia a propaganda política do governo dizendo
que estava acabando o déficit habitacional, já havia oito anos que José havia
assinado um cadastro e nada de sua casa sair.
Passou se dez, vinte,
trinta anos e José continuava como faxineiro no chão daquele supermercado. Nunca
mais soube noticia de sua mulher, dos seus filhos, não voltou mais para terra
onde nascera e crescera, continuava morando de aluguel em um barracão, sozinho.
Após mais um dia de
trabalho e enfrentar o transporte caótico de volta para o barracão onde morava.
José tranca-se no seu quarto, deita em sua cama e adormece. Sonha com sua
mulher, com seus filhos, todos estão na cidade do interior onde ele nasceu e
cresceu. Vivendo felizes na pequena chácara de sua família.
José adormece
profundamente e já mais acorda novamente, enfim realiza o sonho de conseguir
uma casa própria, sete palmos de terra de onde já mais será tirado. No
cemitério da cidade do interior onde nasceu e cresceu, ali viverá eternamente
ao lado de seus pais, irmãos, mulher, filhos e amigos.
1 Coquetel molotov
- Tá confirmado. O
governo decidiu aumentar a tarifa do transporte coletivo. O aumento de 20
centavos passa a valer a partir de amanhã.
- Precisamos Fazer um
ato contra esse aumento. Pode ser que a partir desse a população se levante e
se mobilize contra tal absurdo.
- O que fazer então?
- Capitalista só sente
quando mexemos nos bolsos deles.
- A ação tem que ser
hoje à noite. Não temos tempo para articular. É planejarmos e fazer nós mesmos.
- Que tal tocarmos fogo
em uns ônibus.
- Ótima ideia.
- O melhor ainda é
irmos a uma garagem e tocarmos fogo em vários.
- Quem topa ir?
- Vamos todos!
- Ok. Do que
precisamos?
- Vamos fazer uns
coquetéis molotov.
- Sim. Umas garrafinhas
de cerveja, gasolina e pano. E claro, fogo.
- Que horas são?
- Quinze minutos para
meia noite.
- Ótimo horário. Vamos
arrumar todo o material para confeccionar os coquetéis molotov dai vamos para
ação no máximo até duas da madrugada que é o horário ideal.
Camilo que estava na
sala ao lado organizando uns materiais para uma atividade de formação com o
campesinato. Não pode de deixar de ouvir toda a conversa da turma da direção do
DCE sobre o plano de incendiar a garagem da empresa de ônibus que comandava o
transporte coletivo na capital.
Ele acompanhou toda a
luta da direção do DCE para que a tarifa do transporte coletivo não aumentasse
por ali, no entanto isolados, o movimento estudantil não conseguira barrar o
aumento.
Como não estava havendo
muitas manifestações por parte da população contra o aumento da tarifa, e esta
já era um ato consumado. Camilo via como importante a ação clandestina do DCE
em incendiar alguns ônibus na garagem da empresa de transporte coletivo como
protesto pelo aumento da passagem.
- Então Camilo. O que
achou do nosso plano? Vamos com a gente?
- Só se for agora!
- Então vamos.
Ele que era calejado
com ações de ocupações com o movimento campesino tanto no campo como na cidade,
não precisava de muito convencimento para engajar em qualquer luta pelos
direitos do povo trabalhador. Ainda mais se fosse para atingir o bolso dos
capitalistas.
Tudo pronto à turma
partiu em dois carros rumo à garagem da empresa de ônibus. Quando chegaram na
primeira garagem avaliaram que não seria prudente incendiá-la, já que estava
localizada no meio da cidade, poderia ocorrer um incêndio maior do que eles
previam e a vigilância por ali era maior.
- Então camaradas. Há
mais duas garagens na cidade. Sei que uma delas fica em um lugar afastado.
Disse Camilo
- Ok. Então vamos
passar nas duas dai vemos qual é a melhor para gente fazer nossa ação.
Todos concordaram e
seguiram. No entanto Camilo começou a perceber que quanto mais chegavam perto
do local onde realizariam a ação, o entusiasmo de seus camaradas ia diminuindo.
E assim aqueles jovens a cada passo, menos iam se parecendo com os jovens que
horas antes planejavam com entusiasmo o incêndio dos ônibus.
Ao passarem pela
segunda garagem a maioria avaliou que também seria arriscada a ação por ali.
Havia muitos moradores em volta. Seguiram para ultima garagem.
- Essa aqui é perfeita.
É bem afastada. Não tem muita segurança e tem um matagal próximo aonde podemos
nos refugiar. Disse Camilo
De fato o local dava
uma grande condição para que realizassem a ação sem serem identificados.
- Ok. Vamos para o bar
ali para planejarmos melhor como fazer e quem irá fazer.
Ao chegarem ao bar
começaram a montar o plano. Pois não dava simplesmente para chegarem jogando
coquetel molotov sem se protegerem das câmaras e dos seguranças e mesmo da
policia que hora e outra fazia ronda por ali.
- Então camaradas, a
gente vai de três ou quatro pelos fundos da garagem, pulamos o muro e
incendiamos os ônibus. Deixamos os carros bem afastados e qualquer coisa nós
nos escondemos nesse matagal que fica ao lado da garagem. Disse Camilo
- É muito arriscado,
não vamos conseguir.
- A Policia vai chegar
em minutos. Tem um batalhão próximo daqui. Os seguranças podem nos pegar e
ainda tem as câmaras.
- Sim, mais nada disso
pode acontecer também. E além do mais, ninguém faz uma ação dessas sem correr
nenhum risco, não é camaradas. Disse Camilo que continuou: - Vamos lá
camaradas. Não andamos tanto para nada, estamos aqui do lado, preciso só mais
de dois camaradas comigo, o restante espera nos carros.
- Acho melhor a gente
adiar essa ação. Vamos articular algo maior e com mais gente. Só nós, é muito
arriscado.
- Meu a gente vai por
dentro desse matagal. Ninguém vai nos ver. Não há segurança lá no fundo da
garagem, não há nem iluminação lá. E não precisamos nem pular o muro, acendemos
os coquetéis molotov e jogamos.
- Acho melhor não,
vamos pra casa.
Mesmo com todos os
argumentos de Camilo. Os camaradas do DCE desistiram da ação. Camilo já vinha
percebendo que cada vez mais que se aproximavam da garagem, menos entusiasmo
eles iam demostrando. E assim procuravam obstáculos onde não havia,
simplesmente para justificar seus medos.
Camilo voltou para o
escritório decepcionado com seus companheiros. Abriu uma cerveja e retomou
novamente o trabalho anterior de organizar o material para atividade com o
campesinato. O final de semana prometia muita ação no interior. No entanto ele
não conseguia tirar da cabeça a experiência frustrante que acabara de viver.
Pensava consigo uma velha cisma que tinha com o movimento estudantil – muito
entusiasmo no debate, mas na hora de agir, o entusiasmo se esvai.
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