segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Eleições em Lajeado – Análise e perfil dos Candidatos á Prefeito e Vice

De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as eleições municipais em Lajeado terá três candidaturas ao executivo e 31 ao legislativo. Diante disso vamos conhecer melhor o perfil dessas candidaturas e analisar o cenário eleitoral no município. Comecemos nesse primeiro texto apenas com as candidaturas majoritárias. 

Candidaturas ao executivo

Três chapas disputaram o voto popular para os cargos de Prefeito e Vice-prefeito em Lajeado. São eles: Júnior Bandeira e Nego Dílson pela Coligação “Fé, Família e Trabalho” formada pelos Partidos MDB e DEM. José Edival e Jaison Parente pela Coligação “Lajeado para todos” formada pelos Partidos PSC e PV. E Hilario Dias e Irmão Luiz pelo PROS. 

O primeiro ponto que nos chama atenção é a ausência de uma representante feminina entre as candidaturas ao executivo. O segundo ponto é o número reduzido de partidos que compõem as coligações – muito em consequência do fim das alianças proporcionais. Em terceiro,  o grau de escolaridade dos candidatos, apenas um possuí nível superior (Não que isso seja um fator que determina a capacidade política do postulante ao cargo).

Júnior Bandeira e Nego Dilson 

Junior Bandeira que tem 55 anos, ocupa atualmente o cargo de prefeito e possui Ensino superior – tentará se eleger para o seu quarto mandato á frente do executivo municipal. Dessa vez com a companhia de Nego Dílson como Vice – que tem 56 anos, atualmente ocupa o cargo de Vereador e possui ensino médio completo. Nego Dílson após vários mandatos de Vereador alça novos voos. Com a máquina pública na mão, o apoio da maioria dos atuais vereadores e de figuras como o Senador Eduardo Gomes, estrutura não faltará para que Bandeira e Nego Dilson busquem á vitória.

Mesmo diante de uma avaliação negativa do seu atual mandato, Bandeira continua sendo o favorito para permanecer á frente do executivo municipal. Ainda mais quando avaliamos os seus adversários. No entanto o seu favoritismo está bem distante daquele que lhe deu a vitória na eleição suplementar de 2019. Sobretudo pelas escolhas equivocadas que fez para compor o seu secretariado e pela gestão quase inerte – o que possibilitou a reorganização e fortalecimento da oposição. 

Há que se reconhecer que ele, assim como todos os demais prefeitos do país, tiveram sua gestão atrapalhada pela crise imposta por a pandemia de COVID-19. No entanto para parte significativa da população, era possível, e preciso, fazer mais. 

Outro aspecto importante que pode definir o êxito ou fracasso da candidatura Júnior Bandeira foi a escolha do vereador Nego Dilson para ocupar a vaga de Vice na chapa majoritária. Esperava-se que assim como nos outros pleitos (exceto na eleição suplementar) o candidato fosse um representante da comunidade Pedreira. Com isso não acontecer, e sabendo que a comunidade Pedreira tradicionalmente privilegia os candidatos locais, a questão agora é saber qual o impacto dessa decisão no resultado das eleições. 

Diante disso podemos dizer que essa escolha foi no mínimo arriscada. Mas compreensível do ponto de vista estratégico,  sobretudo pensando á longo prazo. Vejamos porque. Se Júnior Bandeira conseguir se reeleger agora, não poderá se candidatar novamente em 2024. Com isso esse grupo político, para permanecer no poder, necessitará de um candidato forte. E quem é atualmente o principal nome desse grupo político, depois do Bandeira, se não o Nego Dílson. 

E, ainda, para minimizar esse possível impacto negativo, há na chapa proporcional, candidatos a Vereador da Comunidade Pedreira. 

José Edival e Jailson Parente

Se há uma candidatura capaz de ameaçar a vitória do atual grupo político no poder. Essa candidatura é a do atual Presidente do legislativo municipal – o Vereador José Edival – que tem 58 anos e possui o Ensino Fundamental Completo. Edival foi uma figura chave na vitória do atual grupo da situação na eleição suplementar – inclusive ocupando a vaga de Vice. Mas nem chegou a assumir, decidiu retornar para o legislativo municipal e concluir o seu mandato como presidente da Câmara de Vereadores. A partir daí o seu distanciamento do grupo da situação foi só se aprofundando, e consequentemente foi se  aproximando da oposição. 

O seu candidato a Vice também é um ex-aliado do chamado grupo do Bandeira – Jailson Parente – que tem 48 anos, é Agricultor e possui o Ensino Fundamental Completo. Jailson buscará atrair os votos da Comunidade Pedreira. Aproveitando-se sobretudo da brecha deixada pelo grupo da situação. 

Além de contar com ex-aliados do grupo do Bandeira, José Edival também herdou o espólio político do Ex-Prefeito Tércio Neto. E isso tem lá seus bônus e ônus. Os bônus são os votos daqueles que permanecem fiel ao grupo político do ex-prefeito. E os ônus é a visão negativa que parte significativa da população tem de Tércio Neto e sua gestão. Além de outras figuras desse grupo político como é o caso da Vereadora Leidiane Mota e do Vereador Cassado Adão Tavares. 

No entanto, mesmo que não saía vitorioso do pleito, a candidatura de José Edival dá  uma maior musculatura para chapa proporcional da oposição, garantindo assim a sua sobrevivência. E com chances reais de eleger um ou mais representantes para ocupar uma cadeira na Câmara de Vereadores, na próxima legislatura. 

Hilario Dias e Irmão Luiz 

A surpresa deste pleito eleitoral em Lajeado fica por conta da candidatura de Hilario Dias com o irmão Luiz de Vice. Hilario tem 53 anos. É Servidor Público e possuí o Ensino Médio Completo. Já o irmão Luiz tem 47 anos. E tem o Ensino Médio incompleto. Ambos são figuras conhecidas na cidade. Inclusive não é a primeira vez que se apresentam como candidatos a um cargo eletivo para população lajeadense. Ambos já postularam o cargo de Vereador. Mas não obtiveram êxito. Não creio que agora terão um resultado muito diferente. Serão no final das contas uma alternativa para os eleitores que fugiram da polarização entre Bandeira e Edival. E que não queiram anular o voto ou votar em Branco. 

Esses eleitores serão certamente uma minoria, mas que no final das contas pode pesar muito no resultado que determinará quem vencerá o pleito. Pois em Lajeado, cada voto de fato faz a diferença. Para comprovar o que estou falando, olhem a diferença de votos entre o primeiro e segundo colocado na eleição municipal para prefeito em 2016.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Comentários sobre o livro “Emílio ou Da Educação” de Jean-Jacques Rousseau

“O Homem é muito forte quando se contenta com ser o que é, e é muito fraco quando deseja erguer-se acima da humanidade”.

Jean-Jacques Rousseau

A obra foi escrita entre 1757 e 1762 e alguns estudiosos especulam que a motivação de Rousseau teria sido um certo remorso pelo fato de ter abandonado os cincos filhos que teve com a sua companheira – Thérèse Levasseur. O fato é que quando da sua publicação em Paris no ano de 1762 a obra não teve uma boa recepção pela classe dominante da época – e quem lê-lo verá que não foi sem motivo – Rousseau não poupou críticas – especialmente aos governos, a igreja e as famílias ricas. A partir daí não é de se admirar que o parlamento francês sentenciasse a queima do livro em praça pública e o nosso filósofo se visse em maus lençóis ameaçado de prisão. 

É, Rousseau é mais um exemplo de que aquele que sai da caverna e retorna para trazer a luz aos que ali ficaram nem sempre é bem recebido.

Mas se em vida o seu Emílio lhe trouxe mais desventuras do que venturas. Após sua morte a sua obra foi ganhando cada vez mais relevo, tendo inegavelmente influenciado nos processos revolucionários que levaram a ascenção da burguesia. E no campo educacional então, se tornou e continua sendo uma referência mais de 250 anos após sua publicação – um exemplo é a sua presença nos cursos de formação de professores – eu particularmente tive contato com essa obra no meu curso de graduação em Filosofia na UFT.

E pensar que quando da sua publicação fora desprezado pela academia.

Mesmo com uma escrita acessível semelhando a um romance – o que contribui para que a leitura flua mais rapidamente – “Emílio...” não é um livro que se lê numa única sentada. Para se ter uma idéia, numa edição da editora Martins Fontes (2014) são mais de 700 páginas. No entanto não digo isso apenas pelo número de páginas. Ora, se o formato se assemelha a um romance, não se pode perder de vista que se trata de uma obra filosófica – com conceitos filosóficos que não dispensa um dicionário de filosofia para uma maior compreensão do que o filósofo está propondo. 

Além disso, o ideal é que antes de ler o “Emílio...” o leitor tenha lido o “discurso sobre a desigualdade entre os homens”. Isso contribuirá por demais para que o leitor compreenda a concepção que Rousseau tem do homem e da natureza – concepção que determinará a sua perspectiva educacional.

Só pude fazer isso depois que concluí o curso de graduação em Filosofia, pois a dinâmica da vida acadêmica com uma aula de uma disciplina diferente a cada dia – cada uma com suas leituras e seus trabalhos – não nos permite se dedicar a uma obra dessas de forma aprofundada. Primeiro me dediquei ao estudo das três primeiras partes para um trabalho de assessoria. Depois decidi lê-lo todo pelo prazer da leitura – que só é possível verdadeiramente quando você faz de forma descompromissada. E dessa leitura descompromissada veio a ideia de escrever esse texto – que também é para mim um exercício prazeroso – sobretudo quando não se é necessário seguir as regras academicistas.

Dito isso gostaria de destacar alguns pontos que me ocorreram durante a leitura. Não se trata de uma análise aprofundada, mas de algumas questões que possa estimular quem não leu a obra a lê-la. Trata-se de um clássico – e ai está o primeiro ponto que destaco – ler esse livro nos faz compreender o verdadeiro significado da palavra clássico – como algo que ultrapassa o seu tempo pela capacidade singular de permanecer atual. O que só é possível quando se vai na raíz do problema. 

Outro ponto é que não se deve ler o “Emílio...” em busca de respostas para os problemas do campo educacional que enfrentamos na contemporaneidade. Ora, não estamos falando de um manual, mas de uma obra filosófica de um pensador que se propôs a refletir um determinado problema, numa determinada realidade. Óbvio essa reflexão pode nos ajudar a pensar a educação na atualidade, mas desde que não percamos de vista de que não se trata de um modelo a ser copiado. Se há algo para ser copiado de Rousseau (ou de qualquer outro filósofo) não é tanto a sua perspectiva filosófica, mas a sua atitude filosófica, isto é, a sua postura questionadora em relação ao estabelecido.

Nessa linha ouso dizer que talvez o grande legado do “Emílio...” não é tanto a perspectiva educacional que o filósofo defende ali, mas o exemplo de alguém que parou para refletir criticamente sobre a educação num determinado contexto e a partir dessa reflexão propôs uma transformação profunda das práticas pedagógicas daquela sociedade. Se cabe a nós segui-lo de alguma maneira é através desse exercício – refletir sobre a educação na atualidade e a partir daí se necessário propor mudanças. 

A perspectiva educacional de Rousseau pode nos ajudar nesse processo de reflexão acerca da educação na contemporaneidade. Mas, mais no sentido de nos ajudar a levantar questões e não tanto de dá repostas. No entanto, o que me parece é que a abordagem que se dá ao “Emílio...” (sobretudo nos cursos de formação de professores) é um tanto manualesca – busca-se na obra, respostas para os problemas que enfrentamos no campo educacional hoje. Respostas que não encontraram não só no “Emílio...” mas em livro nenhum. 

Essas respostas virão da realidade por parte dos professores e outros profissionais que estão vivenciando o dia a dia do ambiente escolar.

Outro ponto que enfatizaria a respeito do “Emílio...” é que ao final da leitura me pareceu muito mais um livro de ética do que uma obra pedagógica. É interessante que Rousseau num dado momento escreve que as pessoas se enganaram em relação “A República” do Platão ser uma obra política, para ele trata-se de uma obra pedagógica. Não sei se algum especialista na obra de Rousseau levantou esse questionamento (não fiz nenhuma pesquisa para saber) mas para mim talvez seria mais interessante estudar o “Emílio...” mais da perspectiva  da ética do que da pedagógica. Pois o filósofo foca mais na formação moral do indivíduo do que qualquer outra coisa. E nesse processo de formação a família é a base.

Enfim, de qualquer modo “Emílio ou Da educação” é uma obra que merece ser lida – ela trás importantes reflexões sobre a nossa condição humana – e nos ajuda a refletir sobre as consequências de nos afastarmos dessa condição. Sobretudo por que tendemos a nos tornar indivíduos fracos e submissos.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente atua como Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Poema: Um sonho


 Um sonho

Sonhei um sonho,
que me deixou apavorado.
No sonho que sonhei,
o mundo havia parado.

As ruas desertas,
o comércio fechado.
As pessoas em suas casas,
todo mundo isolado.

As cidades submetidas,
a uma nova ordem mundial.
Imposta por um vírus,
um vírus mortal.

Muitas pessoas morriam,
velhos e até crianças.
O medo aumentava,
diminuía a esperança.

Enquanto uns desesperavam,
outros pensavam em lucrar.
Enquanto uns desacreditavam,
outros buscavam cooperar.

E assim íamos seguindo,
com as mortes aumentando.
Mesmo diante dos números,
muitos continuavam negando.

Quanto mais se negava,
mais o vírus se fortalecia.
Cada passo que dávamos,
mais rápido sucumbiamos.

Foi então que acordei,
e fiquei bastante mau.
Pois não estava sonhando,
tudo era bem real.

Pedro Ferreira Nunes - Casa da Maria Lúcia. Lajeado-TO. Verão de 2020.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Outdoors, poluição visual, toxicidades e mediocridades

“The toxicity of our city, of our city”.

System of a Down

Nas ruas de Gurupi 
Nos aproximamos da querida capital do Tocantins, é um sábado, mais um sábado sob a ordem imposta pela pandemia do Novo Coranavírus. Eu deveria está em casa, e preferiria está em casa. Mas como a cidade que eu moro não me dá acesso a serviços básicos  (e as contas não esperam) é preciso ir até a capital. 

A viagem segue tranquila sob uma paisagem exuberante – pode soar suspeito de minha parte, mas para mim o trecho entre Palmas e Lajeado é um dos mais belos do mundo. Durante o trajeto uma coisa nos chama atenção: a quantidade de carro vindo em direção ao interior. Certamente não são pessoas indo trabalhar ou ter acesso há algum serviço (que não encontrariam na capital). É, não é de se admirar que dia após dia os casos de COVID-19 estejam aumentando no interior. 

Mas o que me chama atenção mesmo é a poluição na entrada de Palmas. E não estou falando das queimadas, comum por essas bandas, sobretudo nessa época. Mas sim dos outdoors – em especial os que se referem a figura do atual presidente da república. Esse tipo de outdoors (a favor e contra o presidente) tem ocupado cada vez mais a paisagem visual das cidades brasileiras. E olha que ainda estamos bem distante das eleições de 2022.

Olhando aquelas peças não pude deixar de pensar comigo – o ambiente tóxico das redes sociais está se proliferando. Reflexo da mediocridade que tomou conta da nossa vida política e social. E assim caminhamos para uma cidade cada vez mais tóxica de pessoas ressentidas – tanto á direita como á esquerda.

O teor dos outdoors revelam bem o nível do debate político atual, um debate político dominado pela mediocridade – que segundo o filósofo Alain Deneault “designa o que está na média, assim como superioridade e inferioridade designam o que está acima e por baixo”. Desse modo, “não existe a medidade”. 

Para Deneault vivemos numa espécie de “mediocracia” ou seja, num governo dos medíocres – “a mediocridade não faz referência à média como abstração, mas é o estado médio real, e a mediocracia, portanto, é o estado médio quando a autoridade está garantida”.  Nosso filósofo ressalta que “a mediocracia estabelece uma ordem na qual a média deixa de ser uma síntese abstrata que nos permite entender o estado das coisas e se torna o padrão imposto que somos obrigados a acatar”. Isto é, agir também de forma medíocre, ou utilizando uma frase enfatizada por Deneault – “entrar no jogo”.

Há algum tempo temos entrado no jogo dos medíocres – e o resultado até então tem sido desastroso. E continuará sendo pois em se tratando de mediocridade eles são insuperáveis. De modo que fiquei pensando comigo, essa guerra de outdoors no final das contas vai favorecer o presidente – que sabe como ninguém surfar em propagandas negativas.

Enfim, não fiquei muito tempo ali, em menos de 30 minutos já estava retornando para casa. Deixamos Palmas para trás com o seu calor infernal, seus outdoors poluindo a paisagem e deixando o nosso ar um pouco mais tóxico.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Alguns comentários sobre as eleições municipais no Tocantins

Fim das coligações proporcionais 

Com o fim das coligações proporcionais a partir das eleições municipais de 2020, os partidos tiveram que se fortalecer internamente para poder sobreviver  num sistema que tende cada vez mais fechar o funil caminhando para o modelo bipartidário estadunidense. Aliás esse é o sonho da elite brasileira – caminhar para um sistema político-partidário dominado por duas organizações que disputaram entre si quem administrará os interesses do capital. Diferenciando-se apenas em que intensidade imporam medidas de austeridade.

É mais vantajoso lançar candidaturas próprias 

Não é de se admirar que haja nessas eleições tanto pré-candidatos (sobretudo ao executivo). Pois para os partidos (pequenos e médios) é uma questão de sobrevivência, já que não poderão se coligar para as eleições proporcionais. Em outras palavras, não poderão pegar carona em partidos mais fortes. De modo que é mais vantajoso lançar candidatura própria para dar uma maior visibilidade ao partido e a sua chapa proporcional do que se coligar com um partido maior e ficar invisível – pois obviamente o partido maior vai priorizar a sua chapa proporcional. 

Cláusula de desempenho

As eleições de 2018, sobretudo para o legislativo, foi uma amostra do que acontecerá com os partidos (pequenos e médios) que abrem mão de candidaturas próprias para apoiar outras (que o diga o PC do B) – não conseguiram atingir a cláusula de desempenho e tiveram que se fundir com outros partidos para continuar recebendo verba do fundo eleitoral. Em 2022 o sarrafo irá aumentar e os partidos que não se fortalecerem dificilmente conseguiram superar a cláusula de desempenho.

Questão de sobrevivência 

Nos processos eleitorais anteriores também era comum um número grande de pré-candidaturas ao executivo. No entanto muitos buscavam apenas fazer barganha para vender o passe mais caro para o candidato ou partido com maior estrutura. O que não é o caso de agora. Salvo exceções, a estratégia de sobrevivência é lançar candidatura própria. Óbvio, isso para os pequenos e  médios partidos. Já que os grandes partidos, mesmo não lançando candidaturas próprias para o executivo em alguns lugares, conseguem compensar em outros.

Nas pequenas cidades é diferente

No Tocantins, se notamos nas grandes cidades um número maior de candidaturas ao executivo. Nos pequenos a tendência é  outra. Uma explicação para esse fenômeno é, que, devido o fim da coligação proporcional, é melhor se lançar por um partido com maior estrutura. Com isso os pequenos e médios partidos que já quase não existiam no interior, diminuíram mais ainda. Já nas grandes cidades, fatores como o autofinanciamento e a militância – Como também a prioridade da Direção Nacional no momento de decidir a distribuição dos recursos favorece candidaturas puro sangue. 

Concentração de Poder

Diante dessa nova realidade teremos como resultado uma maior concentração de poder nas mãos de poucos partidos políticos. Ao contrário do que ocorreu nas eleições de 2016, onde o resultado foi uma grande fragmentação partidária. E essa concentração de poder ficará nas mãos de velhos conhecidos – O MDB e o DEM. Seguidos do PSD, PODEMOS, PP e PL.

Resistir é preciso!!!

Se por um lado você atinge os partidos de aluguel – partidos sem ideologia, sem programas e sem projetos – á não ser utilizar a estrutura partidária como moeda de troca para ganhar dinheiro. Atinge também os partidos ideológicos – com programas e projetos – sobretudo antissistema. Tudo bem que esses partidos nunca tiveram grande força no Tocantins e nesse contexto então é que não terão mesmo. Mas é preciso resistir e construir alternativas para barrar esse processo, que como dissemos no início, caminha para transformar o sistema político-partidário brasileiro numa cópia do modelo estadunidense.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Aula interdisciplinar: Um olhar para pandemia de COVID-19 a partir da Arte, da Filosofia e da História

Obra do Artista Eduardo Kobra

ARTE

  • Das muitas definições acerca do que é a Arte, opto pela da Maria Lúcia de Arruda Aranha, que diz se tratar de um conhecimento intuitivo do mundo. Que através do sentimento produz o seu objeto de conhecimento. 
  • É um dos conhecimentos mais antigos do mundo como percebemos ao estudar a história da música e das pinturas rupestres;
  • Esse contexto de pandemia tem sido um terreno fértil para produção artística nos mais diversos campos. Para citar alguns exemplos, destacaria no campo literário a antologia Ruas Vazias – O Coranavírus em prosa e verso (Editora Veloso) que apresenta olhares diversos a partir da literatura acerca do momento que estamos vivendo. No campo musical um projeto que salta aos olhos é o do Sepulquarta, comandado pelos integrantes da banda Sepultura. E no campo das artes plásticas destacaria o trabalho do Eduardo Cobra e do Banksy;
  • As obras de arte nos sensibilizam para os problemas que estamos enfrentando através dos sentimentos que elas nos transmitem. Como também nos ajuda a suportar as angústias e incertezas que o contexto atual nos trás. Como disse o ator Rodrigo Santoro numa entrevista recente – imagina como seria o isolamento social sem uma música, um livro, um filme. A partir desse exercício imaginativo você terá uma dimensão acerca da importância da Arte.
  • As obras de arte que estão sendo produzidas nesse contexto serviram como objeto de conhecimento  (Doc. Histórico) para que no futuro as pessoas possam estudar e refletir sobre como atravessamos esse momento histórico;
  • Assim como as obras artísticas feita no passado nos ajuda a compreender o modo de vida e as aspirações de outros momentos da nossa história. 


FILOSOFIA

  • Tal como a Arte, a Filosofia não tem uma única definição. Mas temos que optar por uma. Diante disso fiquemos então com a do Horkheimer que compreende-a como crítica ao estabelecido. Esse tipo de conhecimento, fundamentado no logos, nasceu na Grécia, como alternativa ao mito e a religião;
  • Nas palavras do Valério Rodhen: “A filosofia afirma a liberdade das ações humanas, reivindica a necessidade geral da crítica, opõem-se a tradição, à resignação e lança luz sobre hábitos tão arraigados que parecem naturais”;
  • Os problemas e  dilemas que o contexto atual tem nos imposto tem sido terreno fértil para reflexões e produções filosóficas. Podemos pegar como exemplo, trabalhos do Slavoj Zizek, Chomsky, Byung Chul Han, Judith Butler, Bruno Latour, Joke J. Hermsen, Vladimir Safatle,  Giorgio Agambem entre outros;
  • Uma questão filosófica que o contexto atual nos trás é se estamos o usando o saber em nosso proveito. E também, o que fazer para minimizar os impactos da pandemia; Porque mesmo diante dos alertas sanitários devido o número crescente de casos e mortes continuamos agindo como se nada tivesse acontecendo. E sobretudo quais as perspectivas para o mundo pós-pandemia;
  • Essas questões tem mobilizado diferentes áreas da Filosofia. Tendo como resultado importantes reflexões que nos ajudam a compreender esse momento e vislumbrar as perspectivas futuras – como nossas ações e suas consequências determinaram o mundo de amanhã; 
  • As discussões no campo filosófico contribuem para o surgimento de novas ideias e novos valores morais, como pensadores do passado contribuíram para ideias e valores que cultivamos hoje;
  • As produções filosóficas atuais criam importantes objetos do conhecimento (doc. histórico) para que no futuro as pessoas possam estudar e refletir sobre como atravessamos esse momento histórico.


HISTÓRIA 

  • A História pode ser compreendida como um conhecimento mediante documentos. Pertence ao campo que denominamos de Ciências Sociais. E se é uma ciência precisa de comprovação para ser considerado um conhecimento válido. O que significa dizer que não basta narrar um determinado evento, é preciso comprovar que esse evento de fato ocorreu;
  • Para tanto é necessário um certo distanciamento do objeto em questão. Para que essa narrativa não seja contaminada pelo calor do momento. Um exemplo que podemos pegar é o impeachment da presidenta Dilma Rousseff – sobretudo em torno da narrativa de que teria sido um golpe ou não. Ao historiador cabe dizer como foi e não o que foi;
  • Em relação ao contexto atual o historiador vai narrar como se deu a pandemia de COVID-19, destacando o papel desempenhado pelos principais personagens dessa trama. E aqui o conceito de trama  cai bem, pois a história é uma espécie de romance real – que deve se fundamentar em documentos, como produções artísticas e filosóficas produzidas no e sobre o contexto atual;
  • A narrativa sobre esse momento histórico certamente servirá para que, no futuro, as pessoas entendam o que ocorreu – as medidas que se tomou e as consequências. E a partir daí evitar os erros cometidos. Assim como nós aprendemos, ou deveríamos aprender, com os eventos históricos do passado.


CONCLUSÃO 

A Arte, a Filosofia e a História são três tipos diferente de conhecimento que dialogam entre si, e desse diálogo criam novos objetos do conhecimento – que nos ajuda a compreender o nosso modo de vida e alcançar o fim desejável. Aquele que segundo Aristóteles basta por si mesmo – a felicidade.


PROPOSTA DE ATIVIDADE 

A partir da perspectiva apresentada que tal propor aos seus alunos elaborar um breve relato acerca desse momento que estamos vivendo? Como ponto de partida proponha as seguintes questões orientadoras: O que sentiram falta nesse período longe da escola; Quais as dificuldades encontraram para estudar em casa; O que fizeram para passar o tempo no isolamento social; E o que esperam da continuidade do seus estudos no pós- pandemia. E ao final crie um produto  (livro, vídeo ou coisa do género) com esses relatos e compartilhe.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular, licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-LAJEADO.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA 

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: Introdução à Filosofia. 3° Ed. Revista – São Paulo. Moderna,  2003.

ROHDEN, V. Quem tem medo da Filosofia?. In Introdução à Filosofia. Universidade Católica de Pernambuco – Departamento de Filosofia. Subsídios Didáticos – Fascículo I. Recife, 1984. Pág. 3-8.

VEYNE, Paul Marie. Como se escreve a História. Brasília. Editora UNB, 1982.