sexta-feira, 30 de abril de 2021

Primavera literária no Tocantins

Enquanto leitor e militante da literatura tocantinense, tenho observado que nos últimos três anos tem ocorrido uma espécie de primavera literária no Tocantins. Tanto a partir de iniciativas individuais como de projetos coletivos. 

Essas iniciativas tem contribuído na mobilização e articulação de escritores de norte a sul do Estado. Propiciando o diálogo e a troca de experiência entre autores mais conhecidos e novos talentos. Desse movimento certamente teremos bons frutos. Já estamos tendo na verdade, com a publicação de obras que entraram para o hall dos clássicos da literatura tocantinense.

Essa primavera literária no Tocantins tem sido possível sobretudo a partir da apropriação das mídias digitais por parte dos autores que produzem literatura no Estado. As mídias digitais propiciam um meio acessível para publicação e divulgação da produção literária tocantinense. Contribuí também para que se construa uma rede de contatos e trocas entre esses autores. Além de uma aproximação maior com o leitor.

O interessante é que isso não tem se restringido ao campo virtual. E tem dado fruto a coletâneas, antologias e outras obras tanto no formato impresso como e-books. Creio que com o fim das restrições decorrentes da pandemia de COVID-19 isso será ainda mais possível, inclusive com a possibilidade de organização e realização de eventos literários. 

Um dado interessante é que esse movimento tem partido sobretudo do interior. Com destaque especial para Araguaína e Gurupi.

Cabe também destacar o espaço que alguns portais de Notícia têm dado a literatura regional. Um espaço ainda pequeno diante da quantidade de portais que temos no Tocantins. No entanto já é algo a se comemorar. Destacaria aqui sobretudo o portal do jornalista Cleber Toledo (Coluna do CT) onde temos a coluna “livros e cia” assinada pelo imortal da Academia Tocantinense de Letras – Zacarias Martins. E também mais recentemente o Espaço Literatura.

Os portais de noticia tem um alcance de público mais amplo do que os canais virtuais dos autores. Desse modo são importantes ferramentas para divulgar a nossa literatura. Alguns fazem isso de forma esporádica. Mas o ideal seria seguir o exemplo da Coluna do CT, criando um espaço para literatura. Uma coisa é fato, produção literária no Tocantins para alimentar esses espaços não falta.

É importante ressaltar que tanto os autores ganham com isso, sobretudo pelo fato de poder ter o seu trabalho divulgado em um espaço visitado por um público mais amplo e diversificado. Como também esses portais ao disponibilizar ao seu público um conteúdo diferenciado. E ganha sobretudo a literatura tocantinense que sai fortalecida desse processo.

Diante disso ressaltamos que ainda temos muito a avançar, não só em relação ao aspecto ressaltado acima, mas também quando por exemplo, analisamos a quantidade de editoras que temos no Estado ou de eventos literários. Os custos da publicação de um livro impresso é algo que torna essa tarefa inacessível para muitos autores. E a distribuição e comercialização dessas obras então nem se fala. E se não há uma boa distribuição e comercialização o alcance dos leitores a essas obras fica reduzidíssimo. Já o autor, ao invés de receber pelo seu trabalho tem que pagar.

Essa, porém, não é uma realidade exclusiva de quem produz literatura no Tocantins. E a depender do Governo Federal a situação tende a piorar com a proposta de taxação de 12% sobre os livros – tornando assim algo que já é inacessível para muitos, mais inacessível ainda. Ora, se o Governo não ajuda, pelo menos deveria não atrapalhar. E isso serve tanto para esfera Nacional como Estadual e Municipal.

Apesar de todas as dificuldades, vê o que tem ocorrido no campo literário tocantinense – uma verdadeira primavera literária - nos anima. Resta por tanto, continuarmos semeando frutos para outras primaveras literárias ainda mais fecundas.

Por Pedro Ferreira Nunes – Poeta, Escritor e Educador Popular.

segunda-feira, 26 de abril de 2021

Leituras: Segundo Manifesto pela Filosofia

Em tempos de polarização entre ciências e negacionistas um manifesto pela Filosofia parece deslocado da realidade. Há tempos que a Filosofia foi colocada pela nossa sociedade no campo das coisas inúteis ou supérfluas. Tanto que os esforços para retirá-la da grade curricular obrigatória da Educação Básica no Brasil, foram enormes. Mas não se engane, pois esse não é um fenômeno só do nosso país. Reformas educacionais em países como a Espanha também reduziram o espaço da Filosofia no sistema de Ensino.

É nesse contexto que o Filósofo francês Alain Badiou lançou o Segundo Manifesto pela Filosofia. Trata-se de uma atualização do Primeiro Manifesto lançado há 20 anos. Para o nosso filósofo é necessário manter o otimismo do pensamento no cenário atual. Pois qualquer perspectiva de mudança não será possível sem a força do pensamento. De modo que a Filosofia se posiciona como mais necessária do que nunca, se colocando como uma barreira ao processo de emburrecimento que querem nos impor, sobretudo a partir de uma mentalidade tecnicista.

De acordo com Badiou, no campo dos saberes, o que nos querem enfiar goela abaixo é uma mistura de um cientificismo tecnologizado e um legalismo burocrático. O primeiro se caracterizada por uma visão dos cérebros como um simples objeto. Já o segundo se expressa na forma suprema da “avaliação” que faz de todos especialistas saídos de parte nenhuma, que concluem invariavelmente, que pensar é inútil e até prejudicial. 

Para o nosso filósofo é preciso reafirmar a potência afirmativa da ideia. Por isso o seu esforço nesse segundo manifesto pela Filosofia é mostrar que: Se a Filosofia pode ser o que você deseja que ela seja. É preciso ver realmente o que você vê. Isto é, será se realmente compreendemos o que é a Filosofia e qual o seu papel? Como podemos dizer que algo é inútil ou supérfluo se não o conhecemos de fato? 

Ao longo do seu segundo Manifesto pela Filosofia, Badiou irá abordar esse problema a partir do desenvolvimento dos seguintes pontos: 1- Opinião; 2- Aparição; 3- Diferenciação; 4- Existência; 5- Existência da Filosofia; 6- Mutação; 7- Incorporação; 8- Subjetivação; e 9- Ideiação. Tudo isso seguindo um estilo matemático e as regras clássicas do discurso. 

 Alain Badiou é uma referência contemporânea no campo da Filosofia. Tendo uma trajetória marcada pela docência e pela militância política. Nascido no ano de 1937 em Rabat no Marrocos. Filho de um Professor de Matemática – que também foi Prefeito de Toulouse e atuou na Resistência Francesa. Badiou exercesseu a docência na Universidade de Paris VIII, tornando-se posteriormente Professor emérito da École Normale Supérieure de Paris. Na sua trajetória acadêmica orientou nomes como Slavoj Zizek e Vladimir Safatle. 

Na militância política atuou no Movimento de Maio de 1968 na França, além de ter ajudado a organizar e participar de organizações como L’Union des Communistes de France Marxiste-Léniniste (UCF-ML). Entre as suas obras publicadas destacamos: Em busca do real perdido (2015), O ser e o vento (1988), Elogio ao amor  (2013) e “A República de Platão  (2013). Além da Filosofia, Badiou se envereda por outros gêneros literários como o Romance.

Alguns estudiosos da sua vasta obra dizem que um problema fundamental do nosso filósofo é acerca do sujeito. Podemos perceber isso no Segundo Manifesto pela Filosofia. Badiou defende a força do pensamento justamente por acreditar que este é o caminho para que o sujeito submetido a uma sociedade onde todos são homogeneizados – transformados em meros consumidores – possa se libertar. 

Se libertar das amarras de um sistema dominante que busca fazer desaparecer o exercício do pensamento, que cultua o mercado e nos impõem uma vida sem criatividade, com um mundo simbólico engolfado, sem poesia e repetitiva. Amarras que se fortalecem a partir da dinâmica de um mundo cada vez mais digital. Nessa linha, um artigo publicado recente no El País, com o título de “Más filosofía no mundo digital”,  vem de encontro com o manifesto do Badiou.

No artigo do El País, o Professor Eduardo Infante crítica a educação na nossa sociedade por castrar uma postura contestadora por parte dos estudantes: “En nuestra educación se castiga a todo aquel que se atreva a cuestionar, a poner en duda a pensar por sí mismo; y se premia la obediencia y la sumisión. Cuando llegan a los cursos superiores, la capacidad de asombro, la curiosidad y la duda están prácticamente muertas, desactivando con ello todo el potencial emancipador de la filosofía. ¿Qué importa que, para entonces, concedamos a nuestros jóvenes la libertad de expresión cuando hemos anulado su libertad de pensamiento?".

Diante dessa reflexão, concluímos afirmando a importância do Segundo Manifesto pela Filosofia do Badiou. Em tempos de falsos dilemas, falsos embates, manipulações, fake news e reducionismo. A Filosofia se coloca cada vez mais necessária como condição sine qua non para resistirmos ao autoritarismo e a desumanização que avança a passos largos.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

terça-feira, 20 de abril de 2021

Direitos Humanos como disciplina no Ensino Fundamental?

Está em discussão na Assembleia Legislativa do Tocantins um Projeto de Lei que inclui na grade curricular do Ensino Fundamental o componente curricular de Direitos Humanos. A proposta é interessante por chamar atenção para uma questão importante, sobretudo no contexto brasileiro onde a discussão em torno da temática dos direitos humanos é carregada de preconceitos.

Quem nunca ouviu a famosa acusação tão comum no nosso cotidiano de que defender os direitos humanos significa defender direitos de bandidos. Ou provocações do tipo: - cadê o pessoal dos direitos humanos?! -Isso é culpa do pessoal dos direitos humanos que ficam passando a mão na cabeça. Essa visão distorcida, acerca dos direitos humanos, vem sendo construída há décadas e contribuí para normalização da violação dos direitos da Pessoa humana, sobretudo pelo Estado.

A partir daí percebemos que há uma intencionalidade por parte de setores da sociedade nesse processo. Não é interessante para esse setor que viola ou promove a violação dos direitos humanos uma sociedade que se oponha de forma consciente a essa violação. Já os demais que reproduzem esse discurso não percebem que ao negar os direitos humanos estão negando os seus próprios direitos enquanto ser humano.

Para compreendermos melhor esse ponto é interessante trazer o poema Intertexto do Bertold Brecht: “Primeiro levaram os negros/Mas não me importei com isso/Eu não era negro/Em seguida levaram alguns operários/Mas não me importei com isso/Eu também não era operário/Depois prenderam os miseráveis/Mas não me importei com isso/Porque eu não sou miserável/Depois agarraram uns desempregados/Mas como tenho meu emprego/Também não me importei/Agora estão me levando/Mas já é tarde./Como eu não me importei com ninguém/Ninguém se importa comigo.” 

Brecht nos mostra onde a indiferença nos leva. E se tem algo que caracteriza o discurso antidireitos humanos é a indiferença alimentada pelo ódio e o desprezo. Infelizmente para alguns indivíduos eles só compreenderam a importância exata dos direitos humanos quando necessitarem. Mas ai pode ser tarde.

Nesse contexto é essencial que os direitos humanos não só esteja no currículo da Educação Básica, desde o ensino fundamental como propõem o Projeto. Mas que também seja vivenciado, sobretudo nas relações extraclasse. Isso é em resumo o que defendo num artigo que escrevi para conclusão do Curso de Especialização em Filosofia e Direitos Humanos, intitulado de “Os afetos que circulam entre os muros da escola: A importância da Ética para Promoção dos Direitos Humanos”.

Creio que essa abordagem deveria ser feita a partir de uma perspectiva filosófica, especialmente do campo da Ética. De modo que tenderia a discordar da criação de uma disciplina específica de Direitos Humanos, sobretudo na linha que propõem o projeto apresentado na Assembleia Legislativa do Tocantins, mais voltado para noções de direitos. Melhor seria, assim como na Inglaterra e outros países Europeus, tornar obrigatório o Ensino de Filosofia no Ensino Fundamental. 

Ora é impossível falar em direitos humanos sem entender as concepções filosóficas que os fundamentam. Até por que em última análise o que define a nossa conduta diante desses direitos não é a legislação mas sim a moral vigente.

De qualquer forma a ideia do Promotor de Justiça de Paraíso – Paulo Alexandre Rodrigues Siqueira que culminou no Projeto apresentado pelo Presidente do Legislativo Tocantinense – Antônio Andrade. Tem o mérito de pautar essa discussão importante, sobretudo num contexto em que o discurso antidireitos humanos ganhou força com o discurso de ódio e as fake News.

Desse modo é importante que o mesmo avance e que a sociedade civil organizada seja chamada para discuti-lo.

Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

quarta-feira, 14 de abril de 2021

Ética e Vacinação

Como era de se esperar a vacinação da população brasileira segue a passos lentos. Já não bastasse a dificuldade de adquirir um artigo tão disputado pelo mundo inteiro. Soma-se a isso a postura do Governo Bolsonaro que sempre negou a gravidade da pandemia e a eficácia da vacina. De modo que esperar outro resultado diferente do que estamos vivendo é um tanto de ingenuidade. 

Nesse cenário de escassez de vacinas e que a pandemia golpeia ferozmente a nossa população. Não é de se admirar ações oportunistas buscando tirar algum proveito da situação. No Tocantins essas ações tem partido de parlamentares apresentando requerimentos para que seja priorizado algumas categorias profissionais no organograma de vacinação. Diariamente a impressa local da notícia de um novo requerimento apresentado nesse sentido – que servem mais como marketing político do que para qualquer outra coisa já que no momento atual as doses de vacina disponível não está dando nem para os atuais grupos prioritários.

O esforço coletivo deve ser a imunização de todos. De modo que quanto mais fragmentarmos a população em grupos prioritários mais difícil será de se alcançar esse fim. Enquanto isso não é possível devemos reforçar as medidas de biossegurança como o uso de máscaras, a higienização das mãos com álcool em gel e o isolamento social. Isso acompanhado de um auxílio financeiro decente para as famílias que estão em situação vulnerável. Pois não é possível falar em biossegurança sem garantir comida na mesa para quem não tem.

Podemos dizer então que estamos na contramão do que é necessário. A nível Federal o Governo Bolsonaro com o aval do Congresso Nacional aprovou um auxílio emergencial de míseros R$ 250,00. A nível regional nem isso – apenas um mísero kit de alimentação e higiene. Não se vê por parte dos nossos parlamentares nenhum movimento para garantir comida na mesa dos Tocantinenses que estão passando fome – nenhuma iniciativa para criar um auxílio emergencial local (com exceção de Palmas que anunciou nessa terça-feira 13/04, a criação de um auxílio emergencial de R$ 200,00).

Nesse contexto chamamos atenção para questão Ética. Nessa pandemia falou-se muito sobre ciência e negacionismo. Inclusive a humanidade foi dividida nesses dois campos. Esqueceu-se no entanto que o que define nossas ações é a nossa conduta moral. É a partir da Ética que conseguimos compreender por que agimos de determinada forma e não de outra. É a partir da Ética que conseguimos compreender onde chegamos. E inclusive projetar o que está por vim. 

Se estamos na situação que nos encontramos hoje é consequência da conduta Ética do Governo Bolsonaro mas também de parte significativa da população brasileira. Se essa conduta não for mudada certamente o resultado esperado não pode ser diferente. Conhecendo o Governo não podemos esperar por essa mudança de conduta, por tanto não temos alternativa se não arranca-lo da Presidência da República. Isso não resolverá todos os nossos problemas, mas dará uma guinada importante. 

Em relação a imunização da população através da vacinação é preciso rechaçar essas condutas oportunistas como a dos parlamentares Tocantinenses. Repetindo o que já foi dito anteriormente, o esforço nosso deve ser por: Vacina para todos. Qualquer iniciativa contraria é perda de tempo, seguindo a linha do que disse a Médica Pneumologista Margareth Dalcomo em entrevista ao El País ao criticar a medida aprovada na Câmara do Deputados que autorizou a aquisição de vacinas por iniciativa privada (medida que contou com 7 votos favoráveis dos 8 parlamentares federais que temos).

O que os parlamentares fizeram foi legalizar a conduta dos empresários Mineiros que estavam tentando uma imunização dos seus de forma “Não oficial”. E que merecidamente foram enganados por uma falsa Enfermeira que aliás deveria ganhar uma medalha por nos revelar a Ética desses senhores. A partir daí podemos compreender a motivação dos deputados ao votar no projeto – certamente não é a busca do bem comum.

A pandemia revelou mais do que nunca a nossa substância Ética. E isso não se modificará da noite para o dia. Infelizmente parece que a visão pessimista do Filósofo Sul-Coreano Byung Chu Han sobre o mundo pós-pandemia, pelo menos a curto prazo, é o que prevalece. Se quisermos modificar essa realidade, trabalhar a Ética na escola é mais do que necessário. É a partir da educação que podemos vislumbrar uma substância Ética diferente do nosso povo no futuro.

Por Pedro Ferreira Nunes – É Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. 

sábado, 10 de abril de 2021

Resenha: Sexs Pastels e o Punk Rock do Gatillazo

 El fin del mundo está a punto de llegar

y los culpables (aparte de tú y yo)

la ultraderecha imbécil, el dinero y dios.

Gattilazo

Como um amante do rock, sobretudo punk e metal, ouço qualquer novidade que caia em minhas mãos. No entanto nem tudo fará parte da minha play list de cabeceira. Esta é um tanto restrita (o mesmo se sucede com relação a livros e filmes). E para esse círculo restrito, essa banda de punk rock espanhol que conheci recentemente, já faz parte. Trata-se da Gatillazo, creio eu não muito ouvida no Brasil, mas pelo que vi pelos números de visualizações no YouTube, bastante apreciada na Espanha e em países de língua espanhola como o Chile.

Encontrei os caras por acaso na internet e afetado pelo som e pela performance do seu vocalista (Evaristo Páramos) me fez imediatamente buscar mais coisas sobre a banda. E na medida que eu ia os conhecendo, mais os apreciava. Baixei então um disco gravado de uma performance ao vivo deles intitulado de “Sexs Pastels” (a referência a banda britânica Sexs Pistols não é mera coincidência), e desde então tenho ouvido cotidianamente. 

Carregado de ironia e sarcasmos eles destilam uma crítica contundente ao capitalismo, ao fascismo, ao nacionalismo e a monarquia através de suas letras acompanhadas de um som veloz.

A banda foi formada em 2005 por ex-integrantes de outro grupo de punk rock espanhol (La Polla Record). Tendo como integrantes na sua formação atual: Evaristo Páramos – vocais, Txiki – guitarra, Tripi – bateria, Butonbiko – baixo e Angel – guitarra. 

Em “Sexs Pastels” temos a banda numa grande performance num estúdio ao vivo. No melhor estilo punk rock, como um soco no estômago, tocando um petardo atrás do outro em 1 hora e 10 minutos. 

Para começar temos “Pánfilo panfleto ataca de nuevo” onde criticam as mudanças de liberdade prometidas pelo capitalismo aos países que rompem com sua política: “Cuando el neoliberalismo rompe una revolución. La verdad salta a la vista. Que la violencia es la que sostiene el sistema capitalista”. Violência para impor uma ordem pior que a anterior. Em seguida temos “Asín es la vida” onde falam da postura conformista dos indivíduos diante de tanta miséria: “Qué podemos decir dice la mayoría (Así es la vida), qué le vamos a hacer si no hay solución (Así es la vida), no queremos saber, no hay ninguna salida (Así es la vida)”. Assim é a vida e temos que nos conformar pois nada irá mudar. É exatamente esse tipo de postura que a classe dominante espera de nós. 

Em “Con perdón” eles criticam a postura de quem muda de posição ao obter algumas benesses do poder: “Cuando era más joven yo te quería matar, era un intolerante fácil de adoctrinar, pero ahora he cambiao, se lo que hacer, y que decir y digo: Viva españa y viva el rey – viva dios, viva la ley, al servicio y siempre fiel mi constitución”. Na canção o exemplo é em relação a monarquia espanhola. Mas também serve para outros posicionamentos oportunistas.

Na sequência temos “Tortura”, onde denunciam a opressão contra quem ousa se rebelar contra sistema, ainda que “democrático”: Incomunícame, encapúchame, trasládame. Aterrorízame, golpéame, amenázame. Hazme perder la noción de la realidad. Hasta que firme tu declaración. “Buen Menú” é a próxima. E desse ironia sobre a violência institucional: Menú bien equilibrado, nutritivo y muy variado. Entremés de asesinato, vamos con el primer plato: Sopa de comportamiento desviado y agresivo, ensalada de desgracias sencilla o mixta con tropezones de policía. Bocaditos de estudiante... puré de represión”.

Bem camaradas, já deu para sentir que os caras não estão de brincadeira, e não estamos nem na metade. No entanto vamos parando por aqui, pois creio que já deu para perceber o posicionamento político da banda através da sua música, em especial do seu vocalista Evaristo Páramos – que é uma referência na luta anticapitalista Espanhola. Antes gostaria de destacar três canções que estão em “Sexs Pastels”, que foram as que me fizeram prestar mais atenção nas letras das músicas. Trata-se de “Ya no quiero ser yo”,  “Comunicado Empresarial” e Ridículo.

Na primeira eles falam da alienação que nos é imposta pelo sistema dominante, uma alienação que nos leva a deixar de ser quem somos. “Me he mirado en el espejo y no me he reconocido. En el extraño que se ve tras el cristal. Si el pasado y el presente se reflejan. Y no mienten tengo que hacer algo por mi porvenir. Ya no quiero ser yo. Ya no quiero ser yo. Ya no...”. É sem dívidas uma bela letra. Na segunda eles falam da substituição da mão de obra do operariado por máquinas, isso a partir do ponto vista patronal: Nunca más vais a tener trabajo ya no os necesitamos más. Porque es mentira que se trate de una crisis. El trabajo está muerto y éste es su funeral. Y se acabó, es el fin. Ya nadie necesita al proletario feliz”. Aqui salta a vista a visão da burguesia acerca dos trabalhadores como coisa que quando não serve mais deve ser descartado. Na terceira é uma crítica contundente ao cristianismo, sobretudo as suas instituições: “Cristiano muerto, matón cristiano querido soldado de cristo. Cristiano amado, amor cristiano todos los judas te besaron. Seáis bienaventurados mercaderes del señor, él os manda acumular”. Aqui a mercantilização da fé é o ponto chave.

É isso camarada, se você aprecia um bom punk rock (anticapitalista). Gatillazo não irá ti decepcionar. Em tempos de avanço da ultradireita, suas canções são gritos de resistência que merecem ser ecoados no mundo todo. Pois como eles alertam em Hsuícidio: “El fin del mundo está a punto de llegar, y los culpables (aparte de tú y yo), la ultraderecha imbécil, el dinero y dios”.

Pedro Ferreira Nunes é – Educador, Poeta e Escritor Popular 

terça-feira, 6 de abril de 2021

A Plataforma Escolas Conectadas e o desafio da Formação Continuada

As mudanças que tem ocorrido no campo educacional em decorrência da Pandemia de COVID-19 veio mostrar a importância da formação continuada no cotidiano dos educadores. Sobretudo ao possibilitar a aquisição de novos conhecimentos e a apropriação de ferramentas que nos dê condições de responder aos velhos e novos desafios que surgem no nosso cotidiano. 

Em relação a educação em tempos de pandemia podemos dizer que aqueles profissionais que não se acomodaram, certamente, não tiveram grandes problemas com esse negócio de ensino híbrido, aulas remotas (seja através de material impresso ou lives), salas de aulas virtuais entre tantas outras. Já em relação aos que se agarraram as práticas tradicionais, esperando um milagre de que do dia para noite retornariamos a “normalidade”, não podemos dizer o mesmo.

Ora, educar numa perspectiva transformadora exige de nós educadores o desafio constante de não se acomodar. Mas como não se acomodar? Não deixando de aprender, adquirir novos conhecimentos, e se apropriando de ferramentas que nos possibilite propiciar um ensino significativo em qualquer contexto. 

Quando falamos em formação continuada nos referimos sobretudo a concepção defendida por Mészáros no seu celebre “Educação para além do Capital”. De acordo com o Filósofo húngaro uma formação verdadeiramente continuada deve ser obra dos próprios educadores. Somos nós que devemos definir e autogerir a nossa formação. Para tanto podemos nos apropriar das diversas ferramentas e plataformas a nossa disposição, sobretudo no ambiente virtual.

São diversos os espaços que ofertam conteúdos de qualidade. Entre eles destacaria uma que me é mais familiar por ter feito alguns cursos por lá. Trata-se da plataforma Escola Conectadas – onde encontramos diversos cursos ofertados por instituições de Ensino credenciadas pelo Ministério da Educação  (MEC). 

Além do conhecimento há uma infinidade de possibilidades para serem desenvolvidas na nossa prática pedagógica tanto presencial como remotamente – tudo gratuito com direito a certificado.

O Escola Conectadas é uma iniciativa conjunta da Fundação Telefônica Vivo e Fundação Bancária La Caixa, iniciado em 2015, voltado para educadores brasileiros. E tem como objetivo oferecer cursos online de formação para Professores da Educação Básica – cursos que se dividem em duas modalidades: Mediados e autoformativos (Para maiores informações e acesso ao catálogo dos cursos acesse o link: https://www.escolasconectadas.org.br/).

Conheci a plataforma por acaso ao receber um convite para o curso “Escola digital: curadoria de objetos digitais”. Como estávamos num contexto de aula remota a temática me chamou atenção, sobretudo pelo termo “curadoria” que não me era estranho. A partir dessa primeira experiência decidi fazer outros cursos ofertados pela plataforma, entre eles: “Escola digital: tecnologia e currículo” e  “Produção colaborativa do conhecimento: redes para multiplicar e aprender”. São cursos importantes, eu diria que nem tanto pelos conteúdos, mas pelas ideias que nos possibilita desenvolver os nossos projetos.

Além do Escolas Conectadas há uma infinidade de opções para que nós educadores não nos acomodemos com os conhecimentos adquiridos na Universidade. Óbvio, é preciso se apropriar dessas ferramentas de forma crítica. O que significa que não devemos nos tornar meros reprodutores, transmissores de conhecimentos – distante da realidade que estamos inseridos ou utilizar ferramentas inacessíveis aos estudantes. 

Dito isso, é importante salientar que não podemos deixar de lado a luta mais ampla por transformações profundas no âmbito educacional. Sobretudo quando falamos em educação formal, pois por mais que o educador se esforce no sentido de melhorar enquanto profissional, a falta de estrutura e o excesso de burocracia não ajudam. Nesse sentido a formação continuada na perspectiva defendida por Mészáros pode contribuir inclusive para que não se perca de vista esse horizonte de uma transformação radical no âmbito educacional. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Pós-Graduando em Filosofia e Direitos Humanos.