sexta-feira, 30 de junho de 2023

Poema: Aulas do Projeto de Vida

Para os estudantes do Terceiro Período EJA – 2023/01

Que matéria é essa, professor?
Questionava a Maria Aparecida. 
Esse tal projeto de vida.
De onde que tiraram?

Lá ia eu 
tentar explicar.
Com um olhar desconfiado 
Eles me olhavam de lá. 

O Yuri no seu canto
Ficava a observar.
A Ketlem do outro lado 
Um caderno a rabiscar.

Eita João, agora vai 
Não pode desistir.
Queres ser Enfermeiro? 
Eu acredito em ti.

Lembro da primeira aula
Um estudante só. 
Não importava a quantidade 
Demos o nosso melhor. 

Qual o seu projeto de vida?
Onde pretendem chegar?
Que curso escolher?
Trabalhar ou estudar?

Um ótimo diálogo 
Essas questões suscitavam. 
E sem perceber
As horas rapidamente passavam. 

Chegou a Girleide
E logo se inturmou. 
Em seguida veio o Mateus
A turma se alegrou.

O que é felicidade?
O que você faz pra ser feliz?
No que pauta tuas escolhas?
Para onde aponta o teu nariz?

- Lá vem o professor.
Girleide reclamava de lá. 
Maria Aparecida respondia:
- Eu sei lá. 

Eu apenas sorria e dizia:
- quem terminar vai embora.
Desafio aceitou
Yuri terminava na hora.

Para completar a turma
Chegou a Andressa e o Gabriel. 
Ela quase não vinha
Ele sempre fiel.

Era uma turma pequena 
Mas grande em ambição. 
A força de vontade
Supera qualquer limitação. 

Quem ousaria dizer
Que não iriam conseguir? 
Para aqueles que duvidavam
Agora terão que engolir. 

Maria Aparecida, Yuri, Ketlem  
E Gabriel. 
Mateus, Andressa, Girleide, João 
O limite é o céu. 

O professor orgulhoso 
Vê seus alunos partir. 
Em busca dos seus projetos de vida 
Sei que irão conseguir. 

Pedro Ferreira Nunes - Casa da Maria Lúcia. Lajeado - TO. Lua Crescente. Verão de 2023.

domingo, 25 de junho de 2023

Leituras: Coletânea Simplesmente Amor...

Falar sobre o amor foi o desafio lançado por mais uma edição de uma obra literária organizada pelo Projeto Apparere. Desse desafio nasceu a coletânea simplesmente amor que apresenta trabalhos de autores, de diversos lugares, sobre a temática proposta. O resultado é uma obra de qualidade – que diverte, emociona, inspira e nos faz pensar.

Simplesmente amor é uma obra plural, não apenas por ser composta de trabalho de diferentes autores. Mas também no que se refere a ótica acerca da temática trabalhada bem como a forma de expressa-lá – crônicas, contos, poemas entre outros. Ou seja, alguns autores utilizam a ficção para apresentar sua visão do que é o amor. Já outros a própria vivência. Em alguns casos, ou talvez em todos, isso se mistura (ficção e realidade) sendo impossível distinguir. Ao final da leitura me pareceu que mais do que o amor, os textos falam sobre a vida. 

Mais adiante voltaremos a esse ponto. Antes falemos de como está organizada a  coletânea.

A obra é composta por 126 textos, cada 1 de um autor diferente (olha o tamanho da diversidade), formando um total de 259 páginas. E os trabalhos seguem a ordem alfabética do nome dos escritores. Essa disposição dos textos creio que possibilita uma leitura mais agradável da obra. Por que vai intercalando prosa com verso. Texto ficcional com não ficcional. E texto mais curtos, com outros mais longos. A edição é da editora Perse (de muita qualidade). E mais uma vez vale a pena chamar atenção para a capa do M.A Thompson. Os interessados podem adquirir o trabalho pelo site do Projeto Apparere.

É uma coletânea de fato recheada de bons trabalhos. Sendo difícil portanto selecionar os melhores. Ouso, no entanto, mencionar alguns que mais me afetaram durante a leitura. Nesse sentido aponto o texto que abre o livro – o conto “cem dias de solidão”, do Adenildo Aquino – escritor potiguar, radicado no Recife. 

Abro um parêntese para dizer que no final da obra há uma breve biografia de cada autor. Isso é muito importante para quem quiser conhecer mais os autores e buscar mais informações sobre aqueles que mais chama atenção do leitor. 

Outros contos que vale a pena o destaque são: “Por entre trilhos” da Ana Priscila Freire Batista, “Imperfeitos” da Antonella Nicolino, “A cafeteira que produz sonhos e amor” da Diana Paula Sousa, “Amor amargo amor” da Nádia Coldebella e  “A peça por trás da peça” do Roberto Schima. 

“Amar é um ato de coragem” – uma prosa reflexiva da Karoliny Mesquita de Oliveira é bastante interessante. Nessa mesma linha também segue “o que é o amor?” da escritora paulista Kate Roda. “A vida sem ela” é uma crônica desse que vos escreve (que modéstia a parte não deixa cair o nivel da obra, pelo contrário). E entre os poemas temos: “Hino ao amor eterno (compromisso)” do Carlos Alberto Affonso, “Perdoa-me” do João Gomes Andre e “Você procura o amor?” da Sandra Costa.

Na maioria dos textos temos uma visão romântica do amor – o que não poderia ser diferente. Pois estamos falando de uma obra literária. Nesse sentido o amor ao invés de um afeto, acaba sendo personificado numa pessoa. Nesse sentido alcançar o amor significa conquistar a pessoa amada. Ao caminhar nessa perspectiva creio que falhamos ao tratar do amor. Eu particularmente tenho tentado encara-lo de uma perspectiva mais racional, sobretudo a visão espinosana que define o amor como uma alegria relacionada a uma causa externa – e que aumenta a nossa potência de agir. Seguindo essa perspectiva não conquistamos o amor, somos afetados por ele. Desse modo não estamos falando de algo que se possuí. 

Por isso na minha visão os textos da coletânea simplesmente amor falam mais sobre relacionamentos, sobre a vida. Pois afinal de conta o que é a vida se não o que os autores nos apresentam nas suas crônicas, contos e poemas – encontros e desencontros. Chegadas e partidas. Aventuras e desventuras. Começos e fins. Alegrias e tristezas. E por aí em diante.

Simplesmente amor, poderia melhor ser defendido como “así es la vida”. De todo modo é uma obra que não decepciona os amantes da leitura. E nos mostra que tem muitos talentos fazendo literatura de qualidade nesse nosso país. Ainda que a falta de apoio e de reconhecimento persistam. Sobretudo para quem não faz parte do cânone literário brasileiro.

Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino-americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll. 

terça-feira, 20 de junho de 2023

Um relato sobre os desafios do Ensino de Filosofia no contextual atual

Como trabalhar o ensino de Filosofia na educação básica num contexto de mudanças na educação caracterizado pela redução do espaço das ciências humanas na grade curricular de ensino com a implantação do Novo Ensino Médio? Esse desafio se torna ainda maior quando trabalhamos numa escola (pública) periférica localizada no interior do Tocantins. Esse é o nosso caso – atuando no Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência em Lajeado. Nesse contexto, acreditamos que é fundamental pensar o ensino de filosofia a partir de uma perspectiva filosófica. E foi isso que fizemos instigado pelas discussões proporcionadas pela disciplina Filosofia do Ensino de Filosofia do PROF-FILO.

A minha trajetória enquanto docente é um tanto recente. Me graduei em 2019 e comecei a atuar na educação básica em 2020. No entanto, com duas semanas de sala de aula fomos surpreendidos com a suspensão das aulas presenciais como medida necessária para contenção da pandemia de COVID-19. A partir daí tivemos que encarar durante dois anos o ensino remoto e híbrido - um período marcado por muita dificuldade na relação entre professor e aluno – a meu ver, fundamental no ensino de Filosofia. Fizemos o que foi possível, dentro das condições que tínhamos, para que o estudante pudesse minimamente manter o vínculo com a escola e não abrir mão de uma formação escolar. Em 2022, retornamos de forma 100% presencial, num contexto bastante desafiador. Do ponto de vista pessoal tinha a questão da minha pouca experiência de sala de aula. De outro lado, teríamos pela frente o início da implantação do Novo Ensino Médio e também o desafio de enfrentar o déficit de aprendizagem da pandemia – que certamente seria mais grave em português e Matemática, mas que afetaria no desenvolvimento do ensino de Filosofia.

Nesse contexto ter ingressado no Mestrado Profissional de Filosofia (PROF-FILO) foi muito importante pois me proporcionou a pensar minha prática docente enquanto professor de Filosofia. E a partir daí encontrar respostas para os desafios do cotidiano. Assim temos feito. E creio que o resultado tem sido positivo. A visão da comunidade escolar acerca do ensino de filosofia tem mudado – o engajamento dos estudantes nas aulas e o nosso espaço nos projetos também. A partir da nossa orientação três estudantes conseguiram um resultado de destaque num concurso nacional de redação com a temática dos direitos humanos e a questão do idoso na nossa sociedade – o que mostrou o potencial da filosofia para além das aulas desse componente curricular.

Aparentemente pode parecer que estou fugindo do proposito desse trabalho. Que é escrever um memorial da disciplina Filosofia do Ensino de Filosofia, destacando filósofas e filósofos que me chamaram atenção bem como as temáticas trabalhadas. Mas creio que não. Uma das questões fundamentais que as aulas me suscitaram foi pensar a minha prática docente. Daí creio ser fundamental fazer essa retomada da minha trajetória e dos desafios enfrentados como também dos avanços obtidos.

Outro ponto importante das aulas, sobretudo as trabalhadas pelo Professor Lucas Faustino, foi a retomada histórica da constituição do Ensino de Filosofia no Brasil e os seus desafios sobretudo a partir de 2014 onde vimos a ascensão da extrema direita ao poder. Desse modo, além de instigar uma reflexão acerca da nossa prática docente também nos levou a entender o Ensino de Filosofia como uma trincheira de resistência ao projeto de dominação - como diria os marcusianos, através da racionalidade tecnológica.

Como resistir a esse processo? Por meio do pensamento crítico. Desse modo, o ensino de Filosofia deve promover esse pensamento a partir de diferentes pensadores. E como isso se dá? O professor Lucas Faustino nos propôs pensar a Filosofia como um canteiro de obra. Na minha prática docente busquei utilizar o termo: laboratório experimental. Por que acredito que foi isso que fizemos ao longo de 2022 – transformamos a sala de aula num laboratório experimental onde observávamos o que funcionava ou não. E a partir daí buscávamos desenvolver os objetos de conhecimento divididos da seguinte forma:

No 1° bimestre a temática seria o conhecimento, trabalhando na 1ª série a filosofia antiga e medieval e na 2ª série a moderna e contemporânea. No 2° bimestre a temática seria a política, trabalhando na 1ª série a filosofia antiga e medieval e na 2ª série a moderna e contemporânea. No 3° bimestre a temática seria a ética, trabalhando na1ª série a filosofia antiga e medieval e na 2ª série a moderna e contemporânea. E por fim, no 4ª bimestre a temática seria a ciências, trabalhando na 1ª série a filosofia antiga e medieval e na 2ª série a moderna e contemporânea.

Observamos que a estratégia de definir um objeto de conhecimento por bimestre foi bastante acertada e nos permitiu aprofundá-lo mais. Isso foi ressaltado inclusive pelos estudantes que relataram a dificuldade em outros componentes curriculares onde se trabalha muito objetos de conhecimento de forma superficial. Nós sabemos que a filosofia abrange uma infinidade de objetos de conhecimento. Sendo impossível trabalhar todos em três anos do ensino médio com uma aula por semana (quando não tem um feriado, um recesso ou culminância de um projeto). De modo que o caminho que assumimos foi o de reconhecer essa impossibilidade e a partir daí fazer um recorte daquilo que acreditamos ser fundamental numa formação básica.

Na 3ª série do ensino médio pegamos um caminho diferente. Após uma aula de introdução a filosofia onde utilizamos o texto “Quem tem medo de Filosofia” do Valerio Rohden. Dividimos os estudantes em grupos e pedimos que eles discutissem e escolhessem três temáticas que eles gostariam de ver nas aulas de Filosofia. A partir daí todas as aulas de filosofia foram planejadas em cima das temáticas propostas pelos estudantes, entre essas temáticas destacamos: violência contra a mulher, direitos humanos, discriminação racial, desigualdade e liberdade.

Pensando o ensino de Filosofia como um canteiro de obras, o professor Lucas Faustino nos mostrou que precisamos seguir algumas etapas. Ora, quando você vai construir uma casa não começa do telhado, não é mesmo?! Aí que entra a questão da metodologia. Na minha prática docente assumi como metodologia a problematização. E aqui ressaltamos as aulas da Professora Solange Campos Costa, sobretudo acerca de uma pensadora que passou a fazer parte do meu hall de referências.

Antes de falar dessa pensadora é importante enfatizarmos o quanto a presença das mulheres é negligenciada no Ensino de Filosofia. Daí a importância de disciplinas que fazem esse resgate.

Nas aulas da professora Solange também compreendi o ensino de filosofia como resistência, mas a partir de uma perspectiva feminina. Todas as pensadoras que nos foi apresentada tem a sua relevância, mas confesso ter me simpatizado mais com a bell hooks. Ainda mais depois que a professora Solange nos mostrou a relação dela com o pensamento do Paulo Freire. Digo isso não pelo fato de que seria necessário existir essa relação, mas porque tenho um certo domínio da metodologia freiriana. E isso contribuiu para que houvesse da minha parte uma maior assimilação da perspectiva educacional proposta pela hooks.

Creio que essa pensadora foi fundamental para que eu pensasse nessa ideia da sala de aula como um laboratório experimental. Em uma das suas falas sobre a sala de aula bell hooks nos diz que mesmo com suas limitações, esse espaço está cheio de possibilidades. E nesse campo de possibilidades “temos a oportunidade de trabalhar para a liberdade”. Para tanto precisamos abrir a mente e o coração para podermos enfrentar a realidade – uma realidade muitas vezes intragável para quem mora no interior do interior do Brasil – para quem tem como horizonte terminar o ensino médio e vender sua força de trabalho num emprego precário.

Parece um tanto utópico falar em liberdade numa sociedade em que os indivíduos são forçados a se comportar e agir de determinada forma. Nesse sentido, vemos surgir componentes curriculares como o Projeto de Vida – que segue justamente numa perspectiva de formação acrítica - de preparar corpos doceis para o mercado de trabalho.

Mas é justamente nesse contexto que o ensino de Filosofia se impõe como resistência. E como prática da liberdade. Não podemos perder de vista essa questão. Para tanto devemos usar mão de diferentes possibilidades, mas sobretudo a leitura e a escrita, como meios para formação de uma consciência crítica.

Na nossa experiência em sala de aula avançamos muito nesse sentido. Inclusive no componente curricular de Projeto de Vida, onde buscamos fazer uma articulação com a filosofia trabalhando Paulo Freire, bell hooks, Platão, Espinoza, Sartre entre outros. Buscamos fugir das aulas meramente expositivas, ainda que tenham sido necessárias, sobretudo no momento de trabalhar os conceitos. E nesse sentido a escrita foi importante, porque percebi que eles tinham dificuldade em falar, em se expressar. E nos exercícios de escrita eles se soltavam mais sobretudo quando a questão era o conhecimento de si. Já em relação a leitura buscamos ir para além dos manuais e ler os próprios filósofos e filósofas. Também buscamos trabalhar obras literárias a partir de uma perspectiva filosófica como por exemplo o romance O cortiço do Aluízio Azevedo entre outros.

Enfim, acredito que mesmo num contexto adverso o ensino de Filosofia tem mostrado sua força. Aqueles que tentaram tirá-lo da grade curricular da educação básica acabaram contribuindo para que ocorresse o contrário. No entanto precisamos continuar atentos e com o espirito de bell hooks e tantos outros fazendo da sala de aula um espaço de possibilidade de formação para liberdade.

*Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica no CENSP-LAJEADO. 


quinta-feira, 15 de junho de 2023

O homem que enganou “os home”

Em memória do Sidney, o famoso Quati Branco


Pescar por essas bandas é sempre uma grande aventura. E o Quati branco bem sabe disso pois nasceu e cresceu nas barrancas do rio Tocantins pescando e correndo dos home. De modo que aprendeu cedo com o seu pai a arte de pescar e de cair no braqueara quando necessário. 

Se a vida não era fácil para quem só tinha a pesca como fonte de subsistência em Lajeado, com a construção da usina hidrelétrica as coisas tiveram uma piora considerável. Conseguir um bom pescado por essas bandas estava mais difícil que tirar leite de onça. Só mesmo se arriscando na área proibida para pesca podia se conseguir um jaú, uma caranha, um barbado e com muita sorte até um fiote.

Sempre se corria o risco de dar de cara com os home. E com eles não tinha conversa – era tortura psicológica, cacetete nos lombos e um passeio não muito agradável até a cadeia pública de Miracema. 

É certo que não ficariam muito tempo atrás das grades, logo estariam novamente na cidade e logo estariam novamente nas barrancas do rio atrás de um bom pescado. Mas se pudessem evitar cair na mão dos home, evitavam. O problema é quando começavam beber cachaça – algo não muito raro – Perdiam a noção do perigo e iam até o inferno se necessário atrás de um jaú.

Ninguém melhor que o Quati Branco conhecia cada loca de pedra daquele rio. Por tanto quem quisesse ter uma melhor sorte na pescaria era bom tê-lo como guia. Para convencê-lo não havia argumento melhor que um litro de cachaça – seu alimento preferido. E foi assim que conseguiram lhe convencer a ir naquela noite para o rio. 

Era madrugada, ventava um vento frio de congelar a alma, no céu uma linda lua desfilava sua beleza. As muriçocas haviam dado uma trégua. Eles dormiam sob o lajeiro, enquanto o momento certo de agir não chegava. O que eles não contavam é que seriam surpreendidos pelos home.

- Acorda bando de vagabundos!!! Vocês não sabem que é proibido pescar aqui? Cadê os peixes? 

- A gente num pego nada não. 

- Tá com conversa seus meliantes. Eu conheço vocês. 

- É verdade seu puliça. A gente tava esperando a lua sumir.

- E as tralhas de pesca de vocês? Pode passar tudo.

- Só tem essas.

- E a tarrafa? E as redes?

- Só tem isso ai.

- Conversa. Então tá na hora de tomar um banho para tirar essa inhaca de cachaça do corpo.

O Quati Branco conhecia bem aquele ritual. E logo pensou consigo: – pronto, vai começar de novo. Tomar banho nessa água fria, nesse frio desgraçado, com roupa e tudo às 3h da madruga ninguém merece.

- Fica um ao lado do outro. E quando eu mandar um de cada vez vai dá um mergulho e sai para fora. Tá entendido?

- Sim, senhor.

- Eu não ouvi.

- Sim, senhor!!!

- Melhorou.

Os soldados que acompanhavam o comandante se divertiam com a cena dando ótimas risadas. Já o comandante mantinha uma certa seriedade. A alegria dos soldados aumentou mais ainda quando o primeiro pescador caiu na água – a cara de dor do pobre ao mergulhar naquela água fria em plena madrugada foi como se alguém tivesse feito cócegas nos soldados. Nem mesmo o comandante conseguiu segurar o riso.

- Agora o próximo. 

E a cena se repetiu – os soldados e o comandante caindo na risada diante do sofrimento dos pobres diabos. Chega então a vez do Quati Branco. Ele bem sabia que o pior não era nem tanto entrar na água fria, o problema era na hora de sair. Ai sim o frio apertava como se fosse o abraço da morte.

- Vamos, o que tá esperando seu vagabundo?! Cai na água já. Gritou o comandante no pé do ouvido do Quati Branco. 

O Quati Branco tomou bem o fôlego e mergulhou. Mas ao contrário dos anteriores não voltou. 

- Uai, cadê ele? Será que morreu? Comentou o Comandante com os demais. E em seguida começaram a gritar pelo desgraçado. Mas não obtiveram resposta.

Há uns bons metros dali o Quati surgia tranquilamente. Ele planejara bem aquela ação. Enquanto os soldados e o comandante sorriam dos seus companheiros que eram obrigados a mergulhar com roupa e tudo na água fria – Ele matutava consigo mesmo: - Eu mergulho, seguro o fôlego e nado por dentro d'água o mais longe que eu puder. Saiu lá na frente, nessa escuridão não irão me ver, e se me verem caio no braqueara e eles não me pegam nem com o diabo.

Dito e feito. O plano do Quati funcionou perfeitamente. Naquela noite ele não faria o papel de bobô daqueles imbecis fardados que achavam ter o rei na barriga – que se divertiam torturando pobre diabos enquanto suas mulheres se divertiam com os amantes. Naquela noite o Quati Branco se tornou o homem que fez de bobô “os home”, isso ele já mais esqueceria. Nem ele e nem ninguém por essas bandas.

Por Pedro Ferreira Nunes – um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.


sábado, 10 de junho de 2023

Direito á Educação, Busca Ativa e a Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Lajeado

Cena da série 2° Chamada 
O direito a educação expresso na Constituição Federal de 1988 está sendo garantido a todo cidadão? A resposta é não quando analisamos os números que dão conta da quantidade de crianças, jovens e adultos fora da escola. Ora, não basta uma lei que afirma o direito a educação sem a efetivação de ações que garanta o acesso e a permanência na escola. 

Essa situação é ainda mais crítica quando pensamos no público da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Pois estamos falando de pessoas que por algum motivo não conseguiram concluir a educação básica na idade adequada e perderam o vínculo com o ambiente escolar. Família e trabalho também são fatores que pesa, pois a necessidade de sobrevivência se sobrepõem aos estudos. Desse modo as ações de acesso e permanência para esse público deve ser pensadas a partir da sua especificidade.

Para compreender um pouco melhor a realidade da EJA, a série 2° chamada produzida pela Rede Globo de Televisão, dá uma boa idéia. Ainda que a realidade retratada é bem específica. Ou seja, a periferia de uma grande metrópole. No entanto, os afetos que circulam naquele ambiente são os mesmos que circulam em qualquer sala de EJA (seja numa grande cidade ou no interior), a saber, a esperança e o medo. 

Para Espinoza não existe esperança sem medo e nem medo sem esperança. Pois estamos falando de dois afetos ligados a incerteza. Nós não temos certeza do que aquilo que esperamos aconteça, daí vem o medo. Por outro lado não temos certeza de que não possa acontecer daí vem a esperança. 

O estudante da EJA transita entre a esperança e o medo, buscando uma segunda chance para realizar um caminho interrompido no passado. A escola é essa segunda chance, pois através dela se pode vislumbrar uma mudança de vida. Para tanto é preciso perserverar. Enfrentar dia a dia todo o tipo de obstáculos que aparece no caminho. São poucos os que conseguem vencer esses obstáculos, sobretudo por que não encontram apoio. Pelo contrário. Há mais desestímulo do estímulo. 


Busca Ativa Escolar 

Uma política criada para enfrentar a questão da evasão é o programa da busca ativa escolar – que teve suas ações intensificadas sobretudo durante e no pós-pandemia de COVID-19, onde se observa um aumento significativo do número de crianças, jovens e adultos fora da escola. 

Na modalidade EJA essa situação tem um complicador maior por que o estudante (maior de idade) não é obrigado a se matricular. E no contexto de crise que vivemos muitos optam pelo trabalho. Ainda que essa oposição entre trabalhar ou estudar seja falsa. A busca deve ser conciliar os dois, por mais difícil que isso seja, sobretudo para alguns chefes de família. Para isso que a grade curricular da EJA é organizada de forma diferente do Ensino regular. Justamente por compreender que o estudante da EJA tem um perfil diferente do estudante das turmas regulares. 


EJA em Lajeado 

Se no geral a Educação de Jovens e Adultos (EJA) econtra-se numa situação preocupante. Na cidade de Lajeado o problema se agrava. Atualmente temos apenas uma turma ativa, no Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência (CENSP Lajeado), de estudantes concluintes. Com isso a perspectiva é não haver turmas ativas na cidade. A questão mais grave é em relação aos 1° e 2° períodos (estudantes de ensino fundamental), que deveriam ser atendidos pela Rede Municipal da Educação. Ora, sem turmas dos 1° e 2° Segmentos, obviamente o número de matrículas no 3° Segmento diminuirá ao ponto de não haver mais matriculas. E é justamente o que está acontecendo.

Atualmente fala-se muito em busca ativa escolar em Lajeado, mas efetivamente o que tem sido feito? Sobretudo para esse público que não conseguiu concluir a educação básica na idade certa. Ou seja, o público da Educação de Jovens e Adultos (EJA). Uma coisa é fato, há pessoas na cidade nessa situação. Por que elas não estão sendo buscadas? Por que o direito a educação dessas pessoas não estão sendo garantido?

Será uma perda muito grande para cidade do Lajeado não ter oferta de turmas da EJA de 1°, 2° e 3° Segmento. Se com a existência dessas turmas já é difícil. Sem turmas estaremos afastando mais ainda essas pessoas da escola. Pois dificilmente terão condição de frequentar as turmas regulares ou se deslocar para outro município. 

Ferreira, Oliveira e Silva (2015) ao analisar a gestão e qualidade na educação municipal, chama atenção para dificuldade que as pequenas cidades tem de ofertar uma educação básica de qualidade devido a falta de recursos financeiros para garantia das condições de oferta de ensino-aprendizagem. Além disso apontam como complicador a falta de recursos humanos com formação e experiência na área. 

Nos parece que, apesar de ser um município pequeno, não é essa a situação do Lajeado. Desse modo o problema está mais  para uma questão de gestão.

Ainda de acordo com esses autores (2015), quando se fala em qualidade da educação percebe-se a disputa entre duas visões distintas. A primeira construída a partir de uma perspectiva empresarial e econômica da educação. Já a outra, na qual nos inserimos, parte da visão da educação como um direito social.

A primeira está preocupada com índices e formação de mão de obra para o mercado de trabalho. Já a outra tem como finalidade a formação para cidadania crítica e para emancipação social. Para tanto se faz necessário “a ampliação do direito à educação por meio do alargamento de sua obrigatoriedade, gratuidade, laicidade, escola de tempo integral, gestão democrática, formação e valorização dos profissionais da educação e custo-aluno-qualidade, que implica na definição de adequadas condições para o acesso, permanência e qualidade social da educação pública” (2015, p. 64). Ou seja, requer ações efetivas mais do que discursos vazios, deslocados da realidade.

Atuando como docente na Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Lajeado há pouco mais de três anos. Percebemos a importância dessa modalidade de ensino na garantia do direito a educação a pessoas que há muito tempo tinha deixado a escola e tiveram a oportunidade de concluir a educação básica e a partir daí vislumbrar uma mudança de vida. Não nos falta exemplos, inclusive de pessoas que depois de muitos anos conseguiram concluir o ensino médio e partiram para um curso técnico ou superior. Imagine tantos outros que estaremos negando essa oportunidade se permitirmos que não aja mais salas ativas de Educação de Jovens e Adultos (EJA) em Lajeado.

Desse modo, mais do que uma crítica, esperamos com essas linhas sensibilizar tanto as autoridades públicas municipais da cidade do Lajeado como a comunidade em geral para a importância de nos mobilizarmos para evitar que isso ocorra.

Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular, Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. E Professor da Educação Básica no CENSP Lajeado.


segunda-feira, 5 de junho de 2023

Crise hídrica e o livro “Gestão de Recursos Hídricos em Tempos de Crise”, de Ricardo Motta Pinto-Coelho e Karl Havens

É possível superar a crise da água? Essa questão talvez não tenha muito sentido para quem vive num território que água ainda  não é um problema. Mas é só analisarmos as mudanças ambientais que ocorreram no território APA-Serra do Lajeado, sobretudo após a construção de Usinas Hidrelétricas como a Luiz Eduardo Magalhães e a Peixe Angical, para vermos que isso não tardará em acontecer, sobretudo se não houver uma mudança de paradigma. É nesse contexto que ganha importância a leitura da obra Gestão de Recursos Hídricos em Tempos de Crise”, de Ricardo Motta Pinto-Coelho e Karl Havens.

A obra apresenta um olhar para a gestão dos recursos hídricos na nossa sociedade a partir da Limnologia ou Hidrobiologia – que é a ciência, que a partir de uma perspetiva multidisciplinar, estuda a água – o seu crescente processo de destruição e uso sustentável. Para Pinto-Coelho e Havens (2016), no momento de crise que estamos vivendo é importante estudar a gestão dos recursos hídricos – que se caracteriza por uma distribuição desigual –  Isto é, há lugares que encontramos uma quantidade razoável de água, já em outras regiões temos escassez. Sobretudo quando falamos em água doce.

O ponto de partida dos autores é uma breve apresentação sobre a história da Água – ressaltando a sua importância para a vida humana. Um exemplo nesse sentido é a afirmação de que sem água não há produção de energia. E é a energia que movimenta a agricultura e a indústria – que por sua vez movimenta a economia. Os autores também apresentam alguns recursos hídricos e a sua importância, como é o caso dos Rios, Lagos, os Reservatórios, Estuários, Aquíferos e geleiras. Um ponto interessante da obra que nos possibilita uma maior compreensão é a análise de casos, como por exemplo o desastre ambiental em Mariana (MG). A crescente demanda por água e a falta de saneamento básico nas cidades é outro ponto abordado pelos autores. Como também a importância da educação ambiental e de uma governança da água com políticas públicas, legislação apropriada e regulamentação. Por fim eles encerram falando sobre perspetivas para o futuro da água. A seguir destacaremos um pouco mais os pontos centrais, na nossa visão, trabalhados na obra. Antes conheçamos um pouco os nossos autores.

Ricardo Motta Pinto-Coelho atua há mais de 30 anos no Departamento de Biologia Geral da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Suas atividades de pesquisa concentram-se nas áreas de limnologia e gestão de reservatórios, ecologia de organismos aquáticos e nos impactos da eutrofização sobre a biota aquática. Como professor, dedica-se ao ensino de ecologia geral e à limnologia, com vários cursos a distância (e-learning) em ecologia geral. E Karl Havens tem 25 anos de experiência profissional em ensino, pesquisa e extensão nas áreas de ecologia de organismos planctônicos e limnologia de lagos e estuários, especialmente no que se refere aos efeitos da eutrofização nesses ecossistemas. Dedica-se em especial a estudar o impacto de agentes estressores naturais e humanos na estrutura e na função do plâncton e de outros componentes dos ecossistemas aquáticos. 

Para os autores (2016) é importante pensar na relação entre homem e natureza. Sobretudo quando falamos em saúde ambiental, sustentabilidade e bem-estar. A Água é um recurso essencial para a vida. E aprendemos ao longo da história, que quando não tratada, pode gerar doenças. Eles ressaltam que a água não serve apenas como alimento. Desde a antiguidade percebemos a sua utilidade no transporte, mas sobretudo na produção de energia. Só lembrarmos que as máquinas a vapor propiciaram a revolução industrial e toda as mudanças econômicas e sociais advindas desse processo.

Nossos autores (2016) salientam que sem água não há produção de energia. Logo estamos diante de um elemento importante para economia. No Brasil, por exemplo, o maior consumo de água é na agricultura. Seguido, em segundo lugar, pela indústria. E em terceiro pelo uso doméstico. Percebe-se por tanto a utilidade da água na produção de alimentos. E nessa linha, a pecuária bovina é a que mais gasta água, seguido do porco e da galinha. Já as frutas e legumes gastam menos água.

Para Pinto-Coelho e Havens é importante economizar água, mas o Brasil faz o contrário. Quando falamos em produção de energia a aposta do Brasil é nas Usinas Hidrelétricas (requer muita água). E, majoritariamente, em energia não renovável. E a falta de diversificação no campo da produção de energia faz com que hora e outra enfrentemos crises como a do apagão em 2001. Já no campo da produção de alimentos uma alternativa interessante seria a pesca. Há uma crescente demanda por pescado o que demonstra o seu potencial econômico. Sem falar na importância para saúde, tendo em vista  (o peixe) se tratar de  um alimento saudável. No entanto para o desenvolvimento da aquicultura é necessário um ecossistema saudável.

Quando se fala em ecossistema saudável os Rios são fundamentais. Nossos autores (2016) afirmam que para que um grande Rio tenha saúde ecológica se faz necessário mudanças na economia da região.

Os rios são importante para vida humana, apesar de pouco contribuirem para o estoque de água. A sua importância se dá entre outros no transporte de materiais orgânicos, fertilizando o solo – sem isso algumas áreas seriam menos produtivas. 

Já os Lagos por sua vez armazenam maior quantidade de água doce que os Rios. São centros de biodiversidade – uma das suas características que distingue um Lago de um reservatório é o seu equilíbrio dinâmico e a sua maior complexidade biológica e ecológica. As características hidrologicas de Lagos e Rios são diferentes. Um aspecto importante segundo nossos autores é o cuidado que se deve ter ao realizar ações de manejo e recuperação de Lagos.

Em relação a construção de reservatório pelo homem, eles (2016) destacam  que visa sobretudo a produção de energia – projetos que acaba afetando várias bacias hidrográficas. A construção de Usinas Hidrelétricas provocam tanto impactos ambientais como sociais – além de desapropriar as pessoas de suas terras altera a deposição de sentimentos nas várzeas tornando essas áreas muitas vezes improdutivas. Pinto-Coelho e Havens (2016) através de estudos de casos apontam que essas áreas sofre uma rápida degradação ambiental, tanto das águas como do seu entorno. De modo que seria interessante pensar num zoneamento.

Outro ponto importante são os riscos de desastres como o de Mariana (MG) – um desastre que impactou na vegetação e na fauna através de uma contaminação ambiental. Desastres como o de Mariana deve servir como exemplo, para tanto é preciso punir os responsáveis pela tragédia e recuperar a área degradada.

Além dos Rios e Lagos outra área importante são os estuários localizados nas regiões litorâneas. Aqui encontramos o ecossistema mais produtivo, mas também os mais sensíveis as mudanças climáticas – sobretudo por que são locais onde há uma grande desindade humana. Já os aquíferos também são ambientes importante para o armazenamento de água – servindo para consumo e irrigação. Nossos autores defendem o uso racional dos aquíferos. E alertam para o fato de que tanto a exploração de petróleo como as intrusões salinas colocam em risco esses ambientes. Por fim tem as geleiras, que é outro recurso hídrico importante. Pois alimentam os Rios e afetam o nível dos oceanos. Por tanto, segundo nossos autores, deve-se trabalhar para sua manutenção.

Com a migração do campo para cidade houve um aumento significativo do consumo de água no ambiente urbano – cidades que surgiram, na sua grande maioria, ao longo das margens dos Rios. Muitas, ainda hoje, não conta com saneamento básico. E a falta de saneamento básico provoca doenças.  Por exemplo, 80% das doenças estão relacionadas a baixa qualidade da água. Outro fator de agravamento dessa situação é o uso do automóvel – interferindo negativamente na qualidade da água.

Crises de água, como vimos em São Paulo (no Sistema Cantareira), é um alerta acerca do mau uso que estamos fazendo dos recursos hídricos. Que se não for modificado tende a se agravar. 

Nesse contexto a educação ambiental ganha um papel fundamental, sobretudo educação numa perspetiva popular – onde o diálogo e a valorização do saber popular são aspectos fundamentais. Para os nossos autores (2016) essa educação ambiental deve ser pensada para além do sistema de ensino oficial. Nesse sentido, mesmo sem deixar de levar em consideração a Política Nacional de Educação ambiental (PNEA) estabelecida pela lei 9.795/99, deve-se estimular os estudantes a buscar soluções.

Sobre a governança da água Pinto-Coelho e Havens  (2016) salientam ser necessário políticas públicas, legislação apropriada e regulamentação clara para utilização dos recursos hídricos. No Brasil do ponto de vista da legislação temos a lei 9433/97. Mais, de acordo com nossos autores, ainda falta muito para que o país tenha uma autêntica governança nesse campo. Mesmo dispondo de todos os recursos para que isso ocorra.

Por fim eles salientam sobre as perspetivas futuras para Água, defendendo ações que vão para além da conservação. Nossos autores diz ser necessário a construção de um pacto social sobretudo no sentido de fortalecimento de uma economia verde. E afirmam que para que a economia verde seja uma alternativa real á economia marrom, se faz necessário o envolvimento do capital financeiro. Mesmo assim eles encerram questionando acerca da possibilidade de se superar a crise da água. 

Considerações 

Ao concluir a obra com uma pergunta os autores deixam o problema em aberto. Ainda que ao longo do estudo apresentado por eles há claramente uma proposta para enfrentamento da crise hídrica, proposta que passa por uma melhor gestão dos recursos hídricos – e para melhor gerir esses recursos é preciso conhece-lo. Daí todo o percurso que eles fazem passando pela história da água até o estudo de casos concretos como os impactos ambientais decorrentes de impreendimentos como Usinas Hidrelétricas. Nesse sentido a obra tem uma importância inquestionável. Mas eu reformularia a pergunta final. Ao invés de pode se superar a crise das águas, questionaria: pode se superar a crise das águas nos marcos de uma sociedade fundamentada no modo de produção capitalista?

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.