Por Pedro Ferreira
São
16h, estou no terminal Praça ‘A’ esperando o eixo anhanguera para continuar
minha viajem do trabalho de volta para casa. Há quase dois anos desde que vim
do norte para trabalhar e estudar em Goiânia levo essa vida. Acordar 05h30 pego
quatro ônibus para ir para o trabalho aonde chego às 7h e pego mais quatro
ônibus para retornar para casa aonde chego por volta das 17h, isto é, apesar de
trabalhar e receber por o8 horas diárias, contando o tempo de deslocamento para
ir e voltar na verdade trabalho 12h.
Mas
não há alternativa para quem tem que pagar aluguel e, portanto deve morar na
periferia onde os mesmos são mais em conta. Assim é necessário utilizar o
transporte coletivo para atravessar a cidade e poder chegar até o trabalho. Sim
essa e a minha rotina há quase dois anos, seguir até um dos maiores
hipermercado da capital goiana, em um dos setores mais nobres da cidade para
vender minha força de trabalho em troca de um salario mínimo.
Aos
poucos o sonho de entrar na faculdade e me tornar um professor vai ficando
esquecido em meio à dura rotina. Como o meu coração que também vai endurecendo
tal como aquela paisagem de concreto que me arrodeia diariamente e que também
endurece todos que vivem por ali.
Quase
dois anos naquela rotina, nada de novidade, os vendedores ambulantes, os
pedintes, os ônibus superlotados. Mas naquela tarde aconteceu algo diferente,
mais uma vez pegamos o eixão superlotado que ao passar pelo terminal praça ‘A’
lotou mais ainda. A maioria das pessoas seguia em silencio, o aperto não era
fácil, mas sempre havia grupos conversando, alguns alegremente sobre diversas
coisas, a conversa tomava todo o eixão. Ou que quiséssemos ou não, tínhamos que
compartilhamos daquelas historias.
Foi
de repente - Um choro começou a ser ouvido por todos e cada vez mais ia
ganhando força, sobretudo com o silencio que ia se fazendo. Todas as conversas,
os sorrisos, tudo foi se apagando. Apenas o choro era ouvido, um choro forte,
melancólico e demasiadamente triste. Cada soluço daquela senhora com seus 40
anos de idade mais ou menos, era como uma facada em cada um que estava ali.
Ninguém
a consolou tentou saber daquele choro, daquele choro triste, daquele choro tão
triste. Apenas todos se calaram e ficaram sentido aquela dor. O que seria, o
que tinha acontecido com aquela senhora? Ninguém ali sabia, tal como eu era a
primeira vez que muitos viam aquela mulher. Mas não podíamos deixar de sentir
aquela dor profunda que ela sentia, logo nós que a tanto nada sentíamos.
O
choro dela era tão triste, como se fosse de um filho que perde a mãe. Não eu
acho que era pior. Como a mãe que perde um filho. No ponto final todos nós
descemos e seguimos nossas vidas, ela também. Cada um de nós com nossas dores,
angustias e esperanças, percebendo nos humanos, mesmo na dura rotina que
enfrentávamos.
*Dedicado a minha irmã Vera Lucia e a todos os tocantinenses que vivem em Goiânia e outros grandes centros em busca de melhores condições de vida.