O
sonho de muitos que nascem no sertão, no interior do país é ver o
mar. Não são raras as historias de pessoas que se emocionam ao
vê-lo pela primeira vez. Poetas e músicos transformam essa emoção
em arte – desde criança vi pela TV, li em livros, ouvi em musicas
as belezas do mar sendo louvadas. Até mesmo o grande poeta do sertão
– Patativa do Assaré – mostrou todo o seu encantamento pelo mar
num belo poema:
“Eu
não gostei do rejume. Da vida da capitá, Eu aqui só gostei munto.
Do má, deste grande má... Aquilo é que é sê bonito, Eita, mazão
colossá! Não goza na vida. Quem morre sem vê o má”.
Mesmo
assim nunca tive fixação em querer conhece-lo. Mas como sou um
amante da natureza, seria normal que quando tivesse a oportunidade, isto é, se tivesse tal oportunidade. Iria me emocionar.
Eu
nasci e cresci nas margens do rio Tocantins, sou um apaixonado pelo
rio. Mesmo após a construção da UHE de Lajeado e todo o processo
de transformação que ele passou. Quando preciso recarregar minhas
energias corro para o rio Tocantins e mergulho em suas águas ou
simplesmente fico observando as águas seguirem hora mansamente,
hora subversivas. Amo tanto o rio Tocantins que após passar oito
anos sem vê-lo quando o reencontrei não pude deixar de chorar. No
entanto comparado ao mar o rio Tocantins é uma lagoa. Assim seria
natural emocionar-me diante do imenso oceano.
Tive
a oportunidade de sair do sertão tocantinense, conhecer outras
regiões do nosso país e inclusive o litoral. No entanto nas
primeiras oportunidades de conhecer o mar, acabei recusando o
convite, pois as tarefas revolucionárias exigiam que meus modestos
esforços se voltassem para outras frentes.
Nessas
idas e vindas, retornei para minha terra natal, para o sertão
tocantinense. Por tanto me distanciando novamente do litoral. E da
oportunidade de quem sabe um dia me jogar nas águas do mar. O mar de
tantos artistas – músicos, poetas, escritores. De viajantes e dos
amantes.
Mas eis que num certo dia chegou à oportunidade. Foi numa
viagem a Santos – SP que fiz para participar de um encontro de
educação popular. Foi então que vi o mar pela primeira vez - da
janela do ónibus. Era
noite, não deu para ver direito, mesmo assim pensava comigo ao ver
as ondas quebrando na praia – veja só o que está aqui tão
próximo de mim. O mar que encanta tanta gente e que tantos interioranos sonham conhecer.
No
outro dia por insistência de duas companheiras fomos até a praia.
Elas que moravam em São Paulo queriam muito ver o mar. Até então
não havia falado para ninguém que aquela seria a minha primeira vez no mar. Quando descobriram ficaram admirados. Mas
eu confesso, não senti nenhuma emoção ao ver o mar pela primeira
vez. E só com muita insistência coloquei o meu pé na areia e mais
insistência ainda pisei na água, mas não ousei mergulhar.
Os
meus companheiros estavam mais entusiasmados por ser a minha primeira
vez diante do mar, do que eu mesmo. Não que eu seja insensível, ao
contrario, sou sensível por demais, sobretudo diante das belezas
naturais. No entanto não senti nenhuma emoção diante do mar.
A
verdade que eu estava extremamente encantado com uma moreninha da
voz doce, de um olhar meigo e um sorriso de ternura que estava ao meu
lado. Ela me fez pular as minhas primeiras sete ondas. E se
tivéssemos só nós dois ali, com certeza ela me convenceria a
entrar no mar, e sem muito esforço. Ao lado dela, não importava o
lugar onde estivéssemos todo o resto se tornaria insignificante, até
mesmo o maravilhoso luar daquela noite em Santos.
Eu
confesso. Não senti emoção ao ver o mar pela primeira vez. No
entanto será uma experiência inesquecível. Não pelo mar, mas pela morenhinha que com aquele sorriso encantador que roubou meu coração.
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