quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Primeiras reflexões sobre o ensino de Filosofia: A necessidade de resgatar o conceito clássico de Política.

*Pedro Ferreira Nunes

Como trabalhar o tema da política com a juventude que parece não ter o mínimo de interesse por essa questão? Como despertar o interesse dos jovens por tal temática, sobretudo num contexto em que a política parece não mais fazer sentido? Pelo menos no seu conceito clássico. Mas será que a juventude tem consciência do conceito clássico de Política? Ou estamos caminhando para o fim da política como aponta o filósofo Desidério Murcho?

“Chegamos então ao fim da política? Teremos então no futuro não o conhecido jogo político mas apenas gestores competentes, como em Singapura? Talvez...”(Murcho, 2010).Os últimos processos eleitorais pelo mundo parecem caminhar nesse sentido. O fato é que o discurso apolítico, apartidário e meritocrático tem cada vez mais ganho espaço, especialmente entre os jovens. O que torna maior o desafio dos que trabalham com o ensino de filosofia – e que tem a Política como um dos seus quatro grandes eixos.

Por que tem ocorrido esse desinteresse pela política? Seria por que nas palavras de Desidério Murcho (2010) um interesse intenso pela vida política só faz sentido para generalidade das pessoas quando o conforto da sua vida privada está em risco, ou quando têm a esperança de que uma mudança política terá resultados importantes para qualidade da sua vida privada?

Nesse contexto acredito que o principal desafio do ensino de filosofia a cerca da política passa, em primeiro lugar, pela desconstrução da visão que se tem da politica na sociedade contemporânea.E em segundo lugar, resgatar o seu conceito clássico. Para tanto é preciso partir dos seguintes problemas: O que é a política? E para que serve a política? Em seguida, partindo das respostas dadas a essas questões, o professor de Filosofia deverá aprofunda-las, trazendo o seu conceito clássico.

De acordo com Japiassú (2001) “Em sua concepção e na tradição clássica em geral, a política como ciência pertence ao domínio do conhecimento prático e é de natureza normativa, estabelecendo os critérios da justiça e do bom governo e examinando as condições sob as quais o homem pode atingir a felicidade (o bem-estar) na sociedade, em sua existência coletiva”.

Nessa linha é importante ressaltar a concepção aristotélica de política, na qual “o homem é um animal político que se define por sua vida na sociedade organizada politicamente” (Japiassú, 2001). Óbvio, sem deixar de abordar a concepção de Platão – que “enuncia as condições da cidade harmoniosa, governada pelo filósofo- rei, personalidade que governa com autoridade mas com abnegação de si, com os olhos fixos na idéia do bem”.

De acordo com Murcho (2010) “...os intelectuais, herdeiros de leituras e tradições bem definidas, encaram a vida publica aristotelicamente, como um valor em si, e a vida privada com uma vida de privação. Mas a generalidade da população sempre encarou a vida pública como um mero meio para ter uma vida privada melhor”. Diante disso podemos afirmar que para a generalidade da população a política só é interessante quando lhes é útil de alguma forma. Mas isso é politica ou politicagem?

Como vimos anteriormente a politica é tudo aquilo que diz respeito aos cidadãos, ao governo da cidade e aos negócios públicos. E a politicagem? De acordo com Rodrigues (2015) trata-se “... da corrupção da finalidade politica, na medida em que administração dos negócios ou bens públicos não está mais voltada ao beneficio da coletividade e sim a satisfação de interesses particulares e pessoais dos gestores”.

No geral a concepção que se tem de política na contemporaneidade se aproxima mais do conceito de politicagem. E é justamente essa concepção distorcida que afasta a generalidade da população da política. Por que existe essa distorção? Por que a politicagem é rotineiramente mostrada como se fosse política? Não se trata de um erro ocasional, de uma confusão conceitual. Mas de um objetivo claro das elites dominantes que não tem nenhum interesse que a generalidade da população participe ativamente da vida política da cidade. Dai a importância do ensino de filosofia desconstruir essa visão em torno da política e resgatar a sua concepção clássica.

Aliás, penso que o ensino de filosofia deve se caracterizar, sobretudo, em um processo de desconstrução. Não só em relação à política, mas também em relação a diversas questões da contemporaneidade. Precisamos desconstruir a visão hegemônica que nos é imposta como pronta e acabada – um processo que não se dá de forma impositiva, mas sim dialógica.

 * Bolsista do PIBID-Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. Atual na Escola Frederico José Pedreira Neto - Palmas/TO.

Referências

JAPIASSÚ, Hilton; Marcondes, Danilo.Dicionário Básico de Filosofia. 3º Edição. Jorge Zahar Editor – Rio de Janeiro; 2001.

MURCHO, Desidério. O fim da Política. Disponível em: criticanarede.com. Acesso em: 30 de Agosto de 2017.

RODRIGUES, Epitácio. Política, Politicagem, Ciência Política e Filosofia Política. Disponível em: blogspot.com. Acesso em: 09 de Setembro de 2017.

Nenhum comentário:

Postar um comentário