Dona Maria se arrasta por entre
os carros, oferecendo panos de prato para comprar o pão de cada dia em baixo do
sol escaldante de Goiânia. Lá esta ela todos os dias, faça
sol ou chuva. A idade avançada e um problema na perna fazem com que ela não se
locomova rapidamente, assim quando o sinal fecha, ela se arrasta por entre os
carros que na sua maioria nem o vidro abaixa! Dona Maria por sua vez nada diz,
apenas estende o braço.
O seu olhar é como se pedisse
desculpa por existir, por está ali, por ter que se sujeitar aquele papel. O seu
olhar trás uma tristeza profunda que os motoristas que passam rapidamente por
aquela via em um dos setores mais nobres de nossa capital, fazem questão de
ignorar. Nos seus carros do ano, com o vidro fechado, segue suas vidas.
Dona Maria segue a sua vida também,
provavelmente até o momento que sua saúde não permitir mais, morrerá quem sabe em
uma fila de espera do SUS, sem atendimento. Aqueles que passam todos os dias
a ignorando nos seus carros do ano, provavelmente não sentiram falta, até por
que outras tantas Marias apareceram nos seus caminhos pedindo desculpa por
existir e uma ajuda para sobreviver.
Já eu não posso deixar de não
notá-la e me indignar todos os dias quando passo de ônibus indo para o trabalho
e vê-la no seu martírio, vendo o seu olhar, o seu olhar tão triste. Quando não
há vejo fico imaginando o que aconteceu, se haverei de novo. Doe muito vê-la e
outras tantas Marias. Não posso fazer muita coisa, concretamente para mudar a
realidade delas cause nada.
No entanto procuro transformar a
indignação de ver essa realidade em força para continuar lutando pela
transformação dessa sociedade. Assim dona Maria, não lhe prometo um futuro sem
opressão, sem injustiças, sem exploração. Mas lhe prometo nunca deixar de
lutar, de dedicar e sacrificar até a minha ultima gota de sangue a luta pela
construção de uma nova sociedade - Uma sociedade solidaria, a sociedade socialista!
*Pedro
Ferreira – Educador Popular e marxista revolucionário.