Quando nos vimos pela última vez eu era um jovem interiorano sem muita perspectiva. Você já era uma mulher que há pouco tempo havia concluído um curso universitário e estava dando início a carreira profissional. Nos relacionávamos há uns dois anos. Havia amor entre nós. Mas nosso relacionamento não tinha perspectiva de futuro. Eu era uma espécie de porto seguro para onde você ia quando retornava de suas aventuras. Você para mim era a fuga de uma vida medíocre. Mas nem sempre você vinha, pois espírito livre como era não se deixava prender. Eu queria mais do que você podia me dar. Nunca deixei de pensar em você desde então. Não foram poucas as vezes que idealizei um reencontro. Por onde estava? Como estava? De vez em quando ouvia uma conversa sobre você. Eu fingia não dar muita importância para não mostrar meu interesse. Um dia a noite assistindo televisão, quase 20 anos depois da nossa despedida, recebo a ligação de um conhecido perguntando se podia passar meu telefone para você. Não acreditei. Teríamos então o nosso reencontro. Será que seria bom? Autorizei que o meu telefone fosse passado para você e fiquei aguardando o contato. Não foi naquele dia, nem no dia seguinte, nem na semana seguinte. Eu não fui atrás. Quando então do nada recebo uma mensagem. Aquilo mexeu comigo significativamente. Você dizia que queria me encontrar. Eu disse que seria um prazer. Mas algo na sua voz me dizia que talvez não fosse o certo a fazer. Eu já não era mais eu. Você já não era mais você. O encontro não se concretizou, você sumiu. Tempos depois recebo uma nova mensagem. Sua voz estava diferente. Senti vontade de estar com você mas estávamos distante territorialmente falando. No entanto, ainda que por mensagens conversamos como há muito não conversávamos. Falamos da vida, de música, de poesia. Prometemos nos encontrar quando você estivesse melhor. Sim, você não estava bem. Eu não quis saber porque. A não ser que você quisesse falar. Eu queria apenas te acolher sem julgamento. Faria mais se não fosse a distância. Por algumas semanas conversamos quase diariamente. Você dizia me acompanhar pelas redes sociais e tinha orgulho do profissional que eu havia tornado. Já você estava em busca de recomeço e precisava superar alguns vícios. Não estava sendo fácil mas iria conseguir. Fiquei imaginando o que a vida havia feito com você. Como tinha chegado naquela situação? No pouco tempo que estivemos juntos percebi que você coloca a emoção na frente da razão. Como tudo na vida viver assim tem seus aspectos bons e ruins. Saber conviver com isso é o ponto central. Sobretudo porque isso nos coloca em situações difíceis. Óbvio que falo isso porque sou um racionalista irremediável. Você certamente vai me chamar de covarde. Como quando você me chamou para morarmos juntos e não aceitei porque havíamos acabado de nos conhecer e ainda não nos conhecíamos o suficiente para dar um passo tão importante. Hoje com 40 anos estou bem pior. E você parece não ter mudado também. De repente você sumiu novamente. E apareceu 1 ano depois. Nesse tempo, confesso que cheguei a pensar que talvez você estivesse morrido. E que o nosso contato foi uma espécie de conciliação para que morresse em paz. Mas não. Que bom. Fiquei feliz em saber que você estava se tratando e que estava retornando para recomeçar a vida. Precisava de apoio. Que eu era peça importante nesse processo. Eu não podia dizer não para alguém que fora tão importante na minha vida. Ainda sabendo que talvez eu não correspondesse ao que você esperava. Ando bebendo muito, fumando muito. Óbvio que sob controle, creio eu. Pelo menos ainda não afetou o meu trabalho e minhas relações pessoais. Você falou que não tinha importância e a partir daí o nosso reencontro passou a ser questão de tempo já que do ponto de vista territorial estamos próximos novamente. No entanto, novamente algo parece nos afastar. Lembro lá que quando éramos jovens eu gostava de pensar que o nosso relacionamento não havia dado certo porque estávamos em tempos diferentes. E digo isso não em relação a idade mas ao espírito. Lembra daquela música da Legião Urbana? - Agimos certos sem querer, foi só o tempo que errou… De modo que imaginei que quando nos encontrássemos estaríamos no mesmo tempo. Mas vejo agora que não. Nós nos amamos, isso é fato. Mas as nossas perspectivas sobre a vida são opostas. De modo que nunca daria certo entre nós. Diante disso não sei se seria interessante nos reencontrar pessoalmente (presencialmente). Eu já não alimento esse desejo. Não posso dar o que você espera de mim. Talvez um dia nos encontremos por acaso. Ti darei um abraço, trocaremos algumas palavras, desejarei que você fique bem. E partirei de volta para minha vida. Não vou cometer o erro de querer que você se encaixe nela. Você é um espírito livre e jamais vai deixar de fazer o que quer. Eu também jamais abriria mão da minha vida para me encaixar na de outra pessoa. Pois por mais que não pareça, sou um espírito livre também. Enfim, é isso meu bem.
Fique bem.
Pedro Ferreira Nunes - Casa da Maria Lúcia. Lua Minguante. Lajeado -TO. Inverno de 2025.

Nenhum comentário:
Postar um comentário