quarta-feira, 12 de abril de 2017

A questão educacional no filme “Nenhum a menos”.


Numa perspectiva libertadora da educação o educando não apenas aprende como também ensina, assim como o educador não apenas ensina como também aprende. E nesse processo dialógico tanto o educando como o educador se transforma como também transformam o meio em que vivem. No filme chinês “Nenhum a menos” do cineasta Zhang Yimou vemos esse processo.
O filme “Nenhum a menos” conta a história de uma adolescente de 13 anos – Wei Minzhi – que sem nenhuma formação docente, assume uma turma de crianças num pequeno vilarejo pelo fato do único professor local ter sido obrigado a viajar para cuidar de sua mãe que esta doente. O professor promete que se a jovem não perder nenhum aluno, quando ele retornar lhe pagará seu salário e mais uma gratificação. Percebemos, portanto, que no inicio da história o único interesse da garota é com o dinheiro que irá receber. Tanto é assim que o seu objetivo é não perder nenhum educando, pois um a menos significa ter seu salário reduzido.
Seu grande objetivo passa a ser então manter as crianças na sala de aula independentemente se estão estudando ou não, se então aprendendo ou não. Mas a convivência com os educandos vai transformando a professora, aliás, logo a jovem professora percebe que tem muito mais a aprender do que a ensinar seus pequenos educandos.
O momento no filme em que essa transformação fica mais evidente é quando um educando abandona a escola para ir para cidade grande trabalhar para ajudar sua mãe que esta doente e vive em situação de miséria. Wei que já havia perdido uma educanda que fora selecionada para estudar numa escola de formação de atletas profissionais, agora perde um segundo. Vendo seus interesses contrariados á professora decide ir atrás desse educando até a cidade grande para traze-lo de volta. Neste momento Wei ainda tem em mente apenas o seu próprio interesse. Mas é no processo de descobrir o que fazer para trazer o educando de volta que ela começa sua transformação e, por conseguinte a transformação dos seus educandos.
Wei percebe que tem muito mais a aprender do que ensinar com os educandos. E essa mudança de postura da professora, faz com que os educandos mudem também – se tornem mais participativos e propositivos. É ai que percebemos a transformação tanto da educadora como dos seus educandos. Processo de transformação que só se completa quando ela realiza a viagem, fazendo enormes sacrifícios, para trazer de volta o educando que estava perdido na cidade grande. Quando retornam para casa, tanto ela como ele já não são mais os mesmos.
É inquestionável o papel transformador da educação. Não qualquer educação. Mas uma educação que tem como perspectiva a emancipação do sujeito. Onde educador e educando aprendem e ensinam mutuamente. Logo é preciso que o educador não tenha uma postura conservadora e autoritária, o estudante por sua vez não pode aceitar pacificamente conteúdos que muitas vezes não condiz com sua realidade. Quanto mais se trabalha questões da realidade concreta do estudante relacionando com as teorias cientificas, melhor se dá o aprendizado. Por fim, é preciso ter em mente o ensinamento do grande educador Paulo Freire – ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo. É justamente isso que ocorre no filme “Nenhum a menos”.
  
Pedro Ferreira Nunes é Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio.

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