segunda-feira, 24 de abril de 2017

“Sobre a Origem e a Natureza dos Afetos” – Terceira parte do livro – Ética Demostrada em Ordem Geométrica, de Baruch Spinoza.


Sonia Rosa Neiva e Pedro F. Nunes 
Estudantes de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins. 

Qual a origem e a natureza dos afetos? Antes precisamos saber – O que são afetos? E a natureza? O que é a natureza? O que são o desejo (cupiditas), a alegria (laetitiae), a tristeza (tristia)? Como podemos amar e odiar? Aliás, o que é o amor? Existe o livre arbítrio? Trazemos conosco a alegria e a tristeza? Mente e Corpo são substâncias distintas? Somos por natureza – invejosos e propensos ao ódio e a inveja? Eis os problemas que o filosofo holandês de origem judaica Baruch Spinoza se propõem a refletir na sua obra clássica “Ética demostrada em ordem geométrica” mais especificamente, na terceira parte – “Sobre a origem e natureza dos afetos”.
Spinoza busca a partir de uma perspectiva racionalista explicar os afetos e ações do homem. Ele nos dirá que tal fato é possível pela existência de leis e regras universais da natureza. Logo é preciso tratar da questão dos afetos de forma racional, sendo assim não há método melhor do que o geométrico. Para tanto Spinoza afirma que é preciso que ações e apetites (appetitus) sejam vistos como linhas, planos e corpos. Partindo dai Spinoza definirá o que é afeto – são afecções do corpo que aumentam ou diminuem, ajuda ou limita a potência de agir do corpo. Que pode ser por causa adequada ou por causa inadequada. Dependendo da causa agimos por ação ou por paixão. Para Spinoza, mente e corpo não são substâncias distintas, pelo contrário, ele se coloca duramente contra a concepção dualista de Descartes – da separação entre espirito e matéria. Para Spinoza, mente e corpo são unos, modos da mesma substância. Aliás, para este autor existe apenas uma substância que é Deus – que também pode ser chamado de natureza (Deus sive natura). Logo quando agimos por causa adequada, agimos de acordo com a natureza. Já quando agimos por causa inadequada padecemos. Para este autor existem três afetos primários que são o desejo (cupiditas), a alegria (laetitiae) e a tristeza (tristia) a partir daí advém o amor, o ódio, a esperança, o medo e etc. O contato entre estes afetos geram outros afetos. E pelo fato do corpo humano ser constituído de muitos indivíduos de natureza diversa somos afetados de diversos modos. Nessa linha Spinoza diz que nos esforçamos por promover o que nos conduz a alegria e nos esforçamos por afastar ou destruir ao que conduz a tristeza.
Spinoza ressalta a natureza invejosa do homem que o torna propenso ao ódio e a inveja. Propensão que é afirmada pela educação familiar. E que tem sido levado ao extremo na sociedade capitalista em todos os sentidos. Mas não tiremos conclusões precipitadas de que se trata de uma concepção determinista. Spinoza busca sempre ressaltar a diversidade de afetos, de objetos e de desejos. Logo a conclusão que podemos tirar é que há uma multiplicidade de possibilidades resultante dos conflitos que é o que caracteriza a realidade.
Spinoza subverteu o pensamento dominante de sua época, não abriu mão de defender o que acreditava, mesmo que isso resultasse em perseguição, sobretudo do campo religioso. Foi acusado de heresia e até mesmo de ateísmo. Mas sobreviveu, e seu pensamento influenciou grandes nomes como Karl Marx, Nietzsche e Freud, e continua influenciando diversos pensadores que a cada dia descobre uma nova potência na filosofia de Baruch Spinoza. Nessa obra especifica é importante olharmos para questão ética e moral. Para Spinoza não existe moral ou imoral, não existe bem ou mal, o que existe são corpos e suas potências (conactus) que ao entrarem em contato diminui ou aumenta, ajuda ou limita a potência de agir. Logo a realidade se torna um jogo de forças que busca afirmar o ser através da potência. 

Referência bibliográfica
 
SPINOZA, Baruch. Ética Demostrada em Ordem Geométrica - Terceira Parte “Sobre a Origem e a Natureza dos Afetos”. Tradução: Roberto Brandão. Disponível em minhateca.com.br. Acesso em: 25 de Março de 2017. 


*Resumo para apresentação no Seminário da disciplina de Fundamentos de Ética, do 5° período do Curso de Filosofia.

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