“Educar é combater. E o silêncio não é meu idioma”.
Callajeros
Por que não se pergunta a um estudante de Medicina: por que Médico? Ou um estudante de Direito: por que Advogado? Ou ainda um estudante de Engenharia: por que Engenheiro? Pelo fato dessas profissões não serem tão desvalorizadas quanta a profissão de professor, sobretudo professor da educação básica.
O professor da educação básica trabalha muito e ganha pouco. Quase sempre está inserido num ambiente de trabalho insalubre – sem condições estruturais para desenvolver as atividades. De modo que não é de se admirar que se tenha um índice de adoecimento mental enorme entre os profissionais da educação.
Quando ocorre uma mudança como a que estamos vivendo em consequência da pandemia de COVID-19, ele tem que se virar como pode para garantir minimamente, que o estudante não seja mais prejudicado do que está sendo. Por exemplo, tirando dinheiro do próprio bolso para se equipar melhor, do ponto de vista tecnológico. Pois o Estado exige que ele dê aulas remotas através do ensino híbrido mas não lhe fornece uma estrutura mínima para que essas aulas sejam dadas.
É por essas e outras que essa pergunta (por que professor?) é feita para um pobre estudante que está cursando uma licenciatura na intenção de se tornar professor da educação básica. Ou mesmo a quem já está atuando na área. É camarada, há que se ter uma boa dose de amor pela profissão. E também de loucura. Pois afinal de contas como diz Nietzsche: “há sempre alguma loucura no amor”. No caso do professor da educação básica, põe loucura nisso.
Talvez tenha sido isso que me atraiu para docência, essa dose de loucura que existe em ser professor. Em se doar quase integralmente a uma causa que parece perdida – a de humanizar através da educação, num sistema que desumaniza.
É um desafio atuar nesse contexto. Talvez por isso é cada vez menor o número de criaturas dispostas a cursar uma licenciatura e se tornar um professor. Entre esses poucos, parte significativa chegam ali por “acidente” – foi o possível com a nota que alcançaram no ENEM. Com isso muitos desistiram no meio do caminho ou se tornaram profissionais frustrados – que alimentaram a visão de que estudar para ser professor é uma perca de tempo.
Nunca tive uma visão romântica acerca da profissão. Para mim sempre foi muito claro que assim como a educação é prioridade só nos discursos de candidatos a algum cargo de representante político, da mesma forma é o discurso que defende a valorização do professor. Deixa o professor ir fazer uma greve por mais valorização salarial e condições de trabalho que veremos o discurso mudar radicalmente. Não pense que o governante de plantão pensará duas vezes em jogar seus cães fardados com cassetetes, gás lacrimogêneo e balas de borracha em cima dos grevistas.
Apesar disso ou talvez por isso não me desânimo. Pois para mim isso reflete o medo que o Estado tem do professor – do seu papel transformador. Eles querem profissionais submissos, medíocres. Por isso é preciso tornar a profissão menos atrativa e mais desvalorizada. Sendo assim ajo de forma contrária, busco a excelência, busco fazer a diferença. Sem esperar reconhecimento de quem quer que seja. Apenas a satisfação íntima de está sendo coerente com o que acredito.
Por isso nunca me incomodei com a pergunta: Por que Professor? Tanto que nunca me dei o trabalho de respondê-la. Ora, não preciso justificar as minhas escolhas para ninguém. Preciso apenas ter consciência se é isso que quero de fato. E se é isso que quero de fato, busco fazer da melhor forma possível.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente atua como Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.
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