sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Enquanto isso fumo meu cachimbo e tomo mais uma dose de Conhaque


Ele é um dos milhares de tocantinenses,

que se recusa a tomar a vacina contra a COVID-19. 

Acredita que a mesma irá no espaço de 10 anos

ceifar a vida daqueles que a tomaram. 


Penso em dizer para ele:

- a morte é o nosso destino certo,

Independente de vacina.

Ela caminha ao nosso lado 

e a qualquer momento 

pode nos abraçar. 


Certamente no decorrer de 10 anos

Muitos morreram

Pois esse é o destino

De todo ser vivente

Como filosofou Chicó

No auto da Compadecida.


Mas não falo nada. 

Prefiro fumar o meu cachimbo 

e tomar uma dose de Conhaque. 


Se fosse inteligente 

Utilizaria minha fala

Para justificar 

A sua negativa 

Em tomar vacina 

A partir de outra perspectiva. 


Eu responderia:

- Pobre diabo, 

enquanto se recusa a vacinar

acreditando em teorias conspiratórias, 

não deixa de consumir

sua dose diária de veneno 

através dos alimentos contaminado 

com agrotóxico. 


Se de fato fosse inteligente evitaria come-los. 

Penso em dizer, mas para quê?  

Ele não quer ouvir. 

Que morra na ignorância. 


Dou mais uma cachimbada, 

tomo mais uma dose de Conhaque.


As vezes penso se tenho agido de forma correta

Ao não partir para o conflito

Não fazer o debate.

Mas como debater com quem não sabe ouvir?

Agir com coerência 

É  melhor do que perder tempo em discussões 

Com deficientes auditivos.


Há outros deles por aqui

Alguns mais jovens.

Esses me entristecem  mais ainda.

Outros inclusive com diploma

Do ensino superior. 

É camarada, 

Há muito analfabeto 

Com diploma de Doutor. 


Todos em comum 

O discurso arrogante.

Sentem-se a bala que matou o Che.

Quanta mediocridade, 

Quanta mediocridade.

Não precisaria de muito para ridiculariza-los

Mas para que? 

Eles fazem isso sozinho.


É melhor  fumar o meu cachimbo,

Tomar mais uma dose de Conhaque. 


Antigamente três doses de Conhaque 

Me nocateuva.

Hoje em diante nem uma garrafa me derruba.

É, quem disse que seria fácil ser professor? 

Mas tem suas alegrias.

Ao meu lado companheiros valorosos.

Juntos temos feito coisas incríveis. 


Ela foi embora,

Falta? Sinto sim.

Mas ficar lamentando 

Não é o meu perfil.

Sigo fumando o meu cachimbo 

E tomando Conhaque.


Foi um ano produtivo.

Pessimista na análise 

Otimista na ação. 

Eu sigo assim

Se alguém perguntar por mim?

Diga que continuo firme 

Juntos aos que não escolheram 

O lado fácil da História. 


Não, isto não é um poema

Ou pode ser.

Será o que você leitor 

Quiser que seja.

É incrível, 

Mas há quem lê o que escrevo.


Em breve tem mais,

Por esse ano

Deu.

Por Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in Roll.

domingo, 5 de dezembro de 2021

Relato de Experiência: Projeto Dialogicidade

"Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção."

Paulo Freire


A ideia do Projeto Dialogicidade surgiu quando estava fazendo a devolutiva do portfólio do Estudante feito pela SEDUC-TO para o início do período letivo de 2021. Percebi através daquele instrumental que era possível estabelecer um processo dialógico por meio dos Roteiros de Estudo. Sobretudo a partir da metodologia Freireana. Com isso aproveitariamos também para celebrar o Centenário de Paulo Freire.

Daí vem o nome “Dialogicidade” – o que explícita a intencionalidade do Projeto. Mas como funcionária na prática? A partir da devolutiva dos Roteiros de Estudo pelos Estudantes, eu levantava falas significativas (explicitas ou implicitas) que seriam problematizadas e aprofundadas através de temáticas relacionadas com as falas. Como o estudante tinha acesso a isso? Por meio de um podcast – com episódios quinzenais compartilhados nas Salas Virtuais e Grupos do WhatsApp das turmas do Ensino Médio e Educação de Jovens e Adultos – EJA Terceiro Segmento (que era o público alvo do Projeto). 

Podcast 

O Podcast (que no fundo é um programa de rádio) é a moda da vez quando falamos em mídia – você encontra todo tipo de podcast – notícias, esporte, entretenimento e inclusive educativo. Este último ganhou força sobretudo com as limitações impostas pela pandemia de Covid-19. E isso se dá tanto pela facilidade de produzir um podcast (Você só precisa de um aparelho celular – e nem precisa ser dos melhores). Como também pelo acesso, sobretudo se você utiliza meios alternativos como Google Drive e WhatsApp. Além de que você pode baixar o episódio e ouvir quando e quantas vezes quiser, sem a necessidade de uma internet tão potente.

A produção 

Não é a minha primeira experiência produzindo um podcast com fins educativos. No ano letivo de 2020 produzi o “Aufklärung” – que tinha uma perspetiva diferente do Dialogicidade. Naquela oportunidade o objetivo era trabalhar os objetos de conhecimento trabalhado nos Roteiros de Estudo.  Com  isso a temática era definida antes. Já o Dialogicidade os episódios foram surgindo no decorrer do período letivo de 2021, a partir da Devolutiva dos estudantes. De todo modo, a experiência com o “Aufklärung”, foi um aprendizado para que eu produzisse melhor, creio, o Dialogicidade.

A partir da experiência produzindo Podcast o que posso dizer é que a dificuldade não é o acesso e domínio das ferramentas necessárias para sua produção.  O que não falta são aplicativos e plataformas que nos auxilia nessa tarefa. A dificuldade é ter conteúdo para alimentar o projeto. Para tanto é necessário dedicar um tempo para estudo, pesquisa, organizar um cronograma e ter um planejamento de execução das ações necessárias. Além de pensar como tornar os episódios mais atrativos – como introduzir músicas durante a fala, para não ficar algo massante (ouvir outros podcast para se inspirar na criação do seu, é uma boa dica). Enfim, é algo que requer tempo, organização e planejamento. 

Os episódios 

Com o Projeto Dialogicidade foram 12 episódios produzidos ao longo do período letivo de 2021 – que iniciou em Maio. 

  • Primeiro Episódio: Os quatro pilares da Educação – este foi o nosso ponto de partida. Também aproveitamos para apresentar o projeto e falar do seu objetivo, além da homenagem ao Paulo Freire. Aprender a ser, Aprender a conviver, Aprender a conhecer e Aprender a fazer – qual a importância desses pilares na nossa formação? Por que devemos conhecê-los? Foram questões que buscamos refletir;
  • Segundo episódio: Um olhar para pandemia de Covid-19 a partir da Arte, da Filosofia e da História (Ciências) – entender a perspectiva das diferentes áreas do conhecimento é importante para compreender como cada uma dessas áreas abordam determinados problemas. Trouxemos como exemplo a pandemia de Covid-19, por ser algo vivenviado por todos nos, e que portanto, facilita o etendimento;
  • Terceiro episódio: Pandemia, Ansiedade e desempenho escolar – refletir como a pandemia acelerou um problema que já existia antes – ansiedade. E como essa tem interferido no desempenho escolar, foi o nosso desafio. Buscamos mostrar que com alguns hábitos é possível controlar a ansiedade e a partir daí conseguir melhorar tanto na Escola como em outras áreas da vida social;
  • Quarto episódio: Educação e Biossegurança – aqui buscamos refletir sobre a importância da Educação na necessária mudança de hábito no espaço escolar quanto aos cuidados com a Biossegurança. Mas o que é a biossegurança? Quando surgiu esse conceito? Qual a sua importância? A partir de exemplos relacionados com o que estamos vivendo, buscamos responder essas questões; 
  • Quinto episódio: Bioética e Meio Ambiente – entender que a relação que estabelecemos com o Meio Ambiente interfere na nossa qualidade de vida foi o nosso objetivo nesse episódio. O nosso ponto de partida foi compreender o que é o Meio Ambiente, salientando que a nossa relação com ele se dá a partir dessa compreensão. Em seguida trabalhamos o conceitos de bioética; 
  • Sexto episódio: A relação entre a leitura,  escrita e Saúde Mental – Como a leitura e a escrita pode contribuir para controlarmos a ansiedade e evitar uma depressão? Eis ai o que buscamos responder nesse episódio. Para tanto trabalhamos o Diário de Anne Franck – uma obra que nos ajuda na reflexão proposta. Antes buscamos também trabalhar a compreensão acerca da diferença entre ansiedade e depressão;
  • Sétimo episódio: Educação como prática da liberdade – que educação é essa? Qual a sua importância? Por que devemos lutar para que essa perspetiva educacional possa de fato ser trabalhada? Foram questões que buscamos trabalhar. E ninguém melhor do que Paulo Freire para nos ajudar a responde-las. Com esse episódio buscamos enfatizar tanto a importância de Paulo Freire para educação como o fato de que construir uma educação como prática da liberdade é tarefa de todos que nela acredita;
  • Oitavo episódio: Arte Popular Tocantinense – Rica e diversa. Essa é a característica da Arte Popular feita no Tocantins. Com uma forte influência da cultura Indígena e Negra,  é uma arte engajada na luta pela construção da identidade Cultural do Tocantins. Buscamos ressaltar que para compreender a Arte Popular Tocantinense é necessário entender a característica multicultural do Tocantins, mesmo antes da sua criação em 1988;
  • Nono episódio: Leitura e Produção de Texto: Níveis de leitura –Entendendo a importância da leitura. E observando, pela Devolutiva das atividades, que a sua prática é bastante deficitária pelos Estudantes. Propomos abordar essa temática da Leitura e Produção de Texto em três episódios. Aqui focamos na importância da leitura e falamos dos seus três níveis: leitura exploratória, leitura analítica e leitura crítica. Ora, se se pretende escrever bem é preciso ler muito;
  • Décimo episódio: Leitura e Produção de Texto: Interpretação – continuando com a temática do episódio anterior, mas agora focando na interpretação. Antes demos uma recapitulada no que vimos sobre os níveis de leitura e em seguida entramos na questão da interpretação. Aqui ressaltamos a ideia de círculo hermenêutico – isto é para compreender um texto como um todo, preciso compreender as partes. E vice-versa. Saber por quem e em qual contexto foi escrito é outro aspecto importante;
  • Décimo primeiro episódio: Leitura e Produção de Texto: Como organizar as ideias – fechando os episódios dedicados a essa temática, trabalhamos a questão da escrita propriamente. Para tanto mostramos como organizar as ideias a partir da escrita. Como construir uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Diferentes tipos de textos, citações entre outras questões; 
  • Décimo segundo episódio: Projeto de Vida: para quê? – para finalizar o Projeto Dialogicidade retornamos ao início – ao portfólio do Estudante onde propomos uma reflexão acerca do período letivo de 2021. O que tínhamos projetado conseguimos alcançar? Quais os aspectos positivos? Quais os aspectos negativos. No que avançamos? No que precisamos melhorar? Todas essas questões sendo dirigidas para uma reflexão maior acerca do Projeto de Vida. 

Algumas considerações 

O objetivo de aprofundar, a partir de uma perspetiva crítica, questões surgidas nas aulas de Arte, Filosofia e História – nas turmas do Ensino Médio e EJA – Terceiro Segmento. Foi alcançado. Utilizando a metodologia Freireana que tem o diálogo como fator central, conseguimos problematizar questões importantes que contribua na formação de Cidadãos Críticos. 

Do ponto de vista dos estudantes considero que não houve um grande engajamento. O que já era esperado tendo em vista que o perfil dos nossos educandos não é muito de exercitar o pensamento crítico. E nisso temos a nossa cota de responsabilidade. Poderiamos colocar a falta de engajamento na tecnologia, no entanto creio que esse não foi um grande limitador já que a grande maioria possuí aparelho celular e acesso a internet, mesmo que limitada. Por tanto creio que o motivo de não ter havido um maior engajamento foi por fatores culturais. 

Diante desse contexto, o Projeto Dialogicidade, mostrou-se mais válido ainda, por estimular o exercício do pensamento crítico. E com isso contribuindo para que essa cultura da preguiça de pensar criticamente possa ser modificada. Outro ponto importante do Projeto foi mostrar que uma escola pública periférica tem sim condição de produzir conhecimento, a partir da sua realidade, e não só reproduzir o que tentam nos enfiar goela-abaixo. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente atua como Professor da Educação Básica no CENSP-LAJEADO.