Nesses anos de docência para mim todo final de bimestre não é diferente. Por um lado os estudantes correndo atrás da gente buscando um pontinho a mais e por outro as exigências burocráticas de lançamentos no sistema de gerenciamento escolar (SGE). Sobre esse segundo não tenho muita dificuldade já que não sou daqueles que deixam tudo para última hora. Já em relação a nota dos estudantes o meu critério é simples.
Como ponto de partida todo mundo tem 10,0. Manter essa média até o final do bimestre depende do que cada um produz ou deixa de produzir em sala de aula. Isso significa que o estudante é avaliado de forma contínua a partir de três aspectos: conceitual, procedimental e atitudinal. O resultado final é que são raros aqueles que chegam ao final do bimestre com a média 10,0. O que ocorre no geral são estudantes precisando de pontos extra para alcançar a média ou melhorar. Em relação a alcançar a média não sou muito exigente. Pois não há no meu horizonte a palavra reprovação. Já conseguir uma média 8,0 em diante é outra história.
Há sempre aqueles estudantes que não se importam com a nota que vai para o boletim, desde que esteja dentro da média. Mas há aqueles que compreendem que aquilo não é apenas um número. E sim reflexo do que eles foram como estudante no bimestre e a partir daí buscam modificar a situação.
Enquanto professor gostaríamos que isso fosse o comportamento de todos, mas compreendo que faz parte de um processo. No entanto, quando alguns despertarem talvez seja tarde. Não, não me culpo por isso. Compreendo que como professor tenho uma limitação. Por mais brilhante que eu seja (e não sou) se o estudante não quiser, não tem como fazer milagres.
Mas enfim. Desde o ano passado tenho feito o seguinte com os estudantes que buscam melhorar sua média. Eles são desafiados a elaborar um memorial do que trabalhamos no bimestre ou escrever um ensaio filosófico a partir de um tópico determinado. Nesse bimestre especificamente me deparei com uma antiga fábula chinesa (a centopeia confusa) num livro de filosofia do Juvenal Savian e então solicitei que os estudantes, que quisessem, poderiam elaborar um ensaio acerca dela.
A fábula retrata uma centopeia despreocupada e feliz que um dia encontra um sapo que lhe faz uma pergunta existencial: - quando você anda, em que ordem você mexe suas patas? A centopeia não só não soube responder. E por mais que refletisse em busca de uma resposta não encontrou. Essa questão a perturbou tanto que ela não conseguiu mais pôr as patas em movimento. E ao não se mover ficou presa em seu buraco e morreu de fome.
Quando propus o exercício não havia refletido sobre. De modo que não criei expectativa acerca do que receberia dos estudantes. Meu objetivo era instigá-los a pensar e ao ver a reação deles a primeira leitura já me dei por satisfeito. No entanto, à medida que ia recebendo os ensaios fui buscar compreender a fábula e ver em que medida aquela mensagem contribuiria para mudança de visão daqueles estudantes.
O que me ocorreu foi justamente uma relação com o processo avaliativo. Quando fazemos uma avaliação corremos o risco de que o estudante se comporte como a centopeia. Diante de um determinado resultado começa a dizer que não é capaz e de fato se torna incapaz. Não compreende que os questionamentos/críticas são importantes para o nosso aprendizado e a partir daí a melhora de nós mesmos. O fato de ter ido mau numa prova, de não ter conseguido responder a um questionamento, não significa que é o fim. Será que eles entenderam? Contribuir para isso será meu objetivo no próximo semestre.
Por Pedro Ferreira Nunes - Professor de Filosofia na Rede Estadual de Ensino do Tocantins.
Nenhum comentário:
Postar um comentário