domingo, 10 de agosto de 2025

Mama, I’m Coming Home ou sobre reconciliação

Quando os primeiros acordes do violão ressoam formando uma melodia conseguimos identificar o que vem pela frente. Ozzy Osbourne com os olhos lacrimejando, sentado no seu trono negro, observado por uma multidão canta a letra da clássica Mama, I’m Coming Home (1991): Times have changed and times are strange/Here I come, but I ain't the same/Mama, I'm coming home/Time's gone by, it seems to be/You could have been a better friend to me/Mama, I'm coming home.

Sua performance emociona a todos - tanto os presentes como os milhões que acompanham pelas mídias audiovisuais o show. Por que tanta comoção? Não é a primeira vez que Ozzy acompanhado do competente Zakk Wylde no violão e na guitarra interpreta essa canção que tem entre os seus compositores ninguém menos que o grande Lemmy (Motorhead). E é baseada na relação, em especial um período de separação, do príncipe das trevas (como Ozzy é “carinhosamente” apelidado) com sua esposa e empresária Sharon Osbourne. 

Agitado como sempre foi no palco, não é por opção que Ozzy performa sentado num trono. Mas pelos estragos feitos pelo  mal de Parkinson que o tirou do palco há alguns anos. No entanto, sua voz está potente como sempre. Um pouco embargada pela emoção do momento, o que acaba dando mais potência a uma canção que fala de voltar para casa (de reconciliação). Seria a canção perfeita para terminar aquele verdadeiro festival por onde desfilou grandes nomes do Rock and Roll para celebrar o legado do Black Sabbath - considerada a banda fundadora do metal. E a despedida de Ozzy dos palcos. De modo que a emoção tanto de Ozzy como do público era reflexo desse sentimento de adeus.

Depois dessa apresentação com sua banda solo o príncipe das trevas continuaria no palco para receber seus companheiros do Black Sabbath: Tony Iommi - Guitarra, Geezer Butler - contrabaixo e Bill Ward - bateria.  Aquela seria a última vez que o mundo iria ver a formação original performando ao vivo. E para isso eles escolheram o lugar onde tudo começou - a cidade de Birmingham (Inglaterra). Apesar da idade de todos presenciamos uma grande performance. Coroada com a clássica paranoid.

Talvez essa tenha sido a melhor escolha para terminar o show - é uma música mais animada. Enquanto Mama, I’m Coming Home é um tanto melancólica. E o objetivo era que as pessoas saíssem dali alegres. E elas saíram.

No entanto, vendo os registros das apresentações, o momento em que ele entoa Mama, I'm coming home, acompanhado pelo público emocionado, foi o que mais me afetou. De modo que eu acredito que esse registro entrará para história como um daqueles momentos icônicos do rock and roll. Como a interpretação do Joe Cocker  da canção dos The Beatles "With a Little Help From My Friends" no festival Woodstock (1969).

Não me lembro quando ouvi pela primeira vez Mama, I’m Coming Home. Mas lembro que fui afetado instantaneamente. Não foram poucas as vezes que a ouvia nas madrugadas goiana tomando cerveja e com saudades do Tocantins, de casa, de minha mãe. Hoje quando a ouço, lembro que já não tenho casa para onde voltar - não tenho mais minha mãe, pelo menos não fisicamente. Por isso a emoção do Ozzy nesse concerto final me comoveu tanto.

Fiquei refletindo sobre a beleza daquele momento. O quanto nós não gostaríamos de ter a chance de, na hora final, dizer para aquela pessoa que tanto amamos do nosso sentimento. Agradecer por tudo e dizer que ficaremos bem. Para mim foi exatamente isso que aconteceu em Birmingham. Os artistas que por lá passaram (Metallica, Guns n Roses, Lamb of God, Slayer entre outros) juntamente com o público deixaram essa mensagem ao grande Ozzy e seus companheiros de Black Sabbath. Que por sua vez retribuíram com uma breve, mas, marcante performance. Sem falar na atitude de doar os milhões de dólares arrecadados para instituições de saúde.

Num contexto em que um dos clássicos da banda (War Pigs) está mais atual que nunca diante do que vemos acontecendo na Ucrânia, Rússia, Irã, Israel e sobretudo na Palestina. Não deixa de ser um grande exemplo vindo de um gênero estigmatizado pela status quo.

Por fim, em um mundo onde as relações estão cada vez mais atravessadas pelo egoísmo - onde cada um só pensa em si, no seu ponto de vista, nos seus interesses. A letra de Mama, I’m Coming Home é um alerta para que não deixemos o egoísmo nos afastar de quem amamos. Conflitos sempre haverá numa relação seja ela com quem quer que seja. Mas às vezes é necessário ceder para que seja possível uma reconciliação. Pois nada é mais importante do que ter quem amamos ao nosso lado. Que façamos isso enquanto pudermos, pois haverá um momento que já não teremos essa chance.

Pedro Ferreira Nunes - Apenas um rapaz latino americano, que gosta de ler, escrever, correr e ouvir rock in roll.

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