segunda-feira, 30 de junho de 2025

Resenha: Porkão festival 2025

Para quem é do underground e compreende a importância de fortalecer lugares e pessoas que ousam promover a cena não pode deixar de exaltar festivais como o porkão festival. Na sua 18° edição realizada na noite do dia 28 de junho (2025)  no tendencies, esse evento que já pode ser considerado tradicional, organizado pelo André Porkão, mostrou a força de quem resiste fazendo arte no Tocantins e no Brasil as margens do sistema.

Fazia alguns anos que eu não ia num festival de rock. No Tocantins então tinha ido uma única vez na primeira edição do Agosto de Rock em Miracema, lá nos idos de 2004. Depois fui morar em terras goianas e acabei forjando meu gosto pelo punk e metal em festivais no DCE da UFG, no Martim Cererê e no Centro Cultural Oscar Niemeyer assistindo shows de bandas como o Sepultura, Ratos de Porão, Matanza, Claustrofobia, Ressonância Mórfica, Spiritual Carnage, Rolling Chamas entre outras.

Quando vi no programa que a banda santista Surra (SP), seria a Headliner do festival me intimei a ir. Afinal de contas, não é muito comum bandas como essa fazerem shows em terras tocantinas. Tanto que seria a primeira vez deles por essas bandas. Seria também a oportunidade de apreciar bandas locais que fazem música autoral de muita qualidade como a Magoo e o bando Urtiga e a Poeta do Caos.

O evento aconteceu numa noite de sábado, quando boa parte da cidade estava no arraiá da capital. Nada que atrapalhasse um público significativo comparecer ao evento. Até porque quem gosta de rock in roll, em especial metal e punk não vai deixar de ir para um festival com Surra e companhia para ir numa festa junina. E não digo isso por uma questão valorativa, até porque aprecio muito a cultura popular expressa nessas festas.


Confesso que estranhei um pouco o lugar e o público (nunca tinha ido no tendencies). Eu sou sobretudo um punk, vindo do interior e que mora na periferia da capital. De modo que quanto mais underground para mim (tanto o lugar como as pessoas) melhor. Vendo o estilo das pessoas me perguntei por um momento se aquela galera, um tanto aburguesada, sabia que a Surra é um grupo anticapitalista que meti o dedo nas mazelas desse país. Pensei comigo: - que diabos é isso, esse povo tá arrumado para um baile ou para um festival underground? Vendo os integrantes da Surra (Leeo, Guilherme e Victor) e o André Porkão e alguns outros. Não me senti totalmente deslocado. Não era o único com o estilo do dia a dia.

As apresentações tiveram início com a Bullet proof, banda palmense, que chegou metendo o pé na porta com o seu new metal de qualidade. Essa palavra vai aparecer em todas as demais apresentações, pois de fato foram todas apresentações de qualidade. E nesse sentido é preciso reconhecer a equipe de som - o som de todas as apresentações estavam impecáveis. Tanto das bandas locais como das atrações nacionais (o Leeo fez questão de ressaltar isso numa fala). Era possível apreciar cada instrumento. Nesse sentido da Bullet proof destaco o guitarrista que fazia um beck vocal gutural e o baterista.

A banda seguinte a subir no palco foi a Poeta do Caos, vinda de Paraíso (TO). Também com letras autorais Cláudio Macagi (vocalista) e companhia colocou o público para dançar num ritmo que lembrou o rock setentista e o Marcelo Nova da Camisa de Vênus. Além da performance do Cláudio, os demais músicos também mostraram muita competência nos seus instrumentos.

A banda seguinte foi a Vocifer que nos mergulhou no metal novamente, mas agora numa pegada melódica ala Angra. Confesso que não sou um apreciador de metal melódico mas não posso deixar de reconhecer o talento da banda. Com destaque para o seu frontman. Não é atoa que eles têm ganhado espaço no cenário nacional disponibilizando material de muita qualidade. Vendo a relação da banda com o público vi que parte significativa dos que ali estavam acompanham o trabalho do grupo e fazem parte da sua base de fãs. E para mostrar ainda mais a competência deles, eles foram o grupo de apoio do Marcello Pompeu na sua apresentação solo que veio em seguida.

Pompeu, para quem aprecia metal no Brasil, dispensa apresentações. Com mais de 60 anos de idade e 40 de carreira, é vocalista da lendária banda Korzus (SP). De modo que não é de se admirar que sua apresentação fosse uma catarse coletiva. Sobretudo porque ele brindou os presentes com interpretações de bandas clássicas como Kiss, Judas Priest, Slayer, Metallica e, não poderia faltar, Korzus. Nessa apresentação os músicos da Vocifer mostraram mais ainda sua competência.

Em seguida foi a vez da banda que eu mais esperava - a Surra. Antes o André Porkão, emocionado, subiu ao palco para agradecer a presença de todos.


Vendo o trio santista tocarem ao vivo fez todo o sentido o nome da banda. Eles deram uma surra sonora com sua mistura de punk, hardcore e metal que incendiou o local. Começando com: “Bom dia seu crente desgraçado/Preconceituoso e nojento/Tu me odeia porque eu falo errado/Sou fodido de grana e uso sempre a mema roupa… Foi uma bateção de cabeça do inicio ao fim de uma apresentação que não nos deu tempo para respirar, no melhor estilo: como um soco no estômago. A galera se empolgou e colocou a roda para girar. Como a minha idade não permite essas coisas radicais fiquei no pé da grade batendo cabeça. É impressionante a velocidade que o Victor toca bateria. A fúria do Leeo cantando e tocando guitarra é incendiário. E o Guilherme com seus óculos escuros tocando contrabaixo e cantando forma um conjunto perfeito. Em alguns momentos a música deles me remeteu aos Ratos de Porão. Outras ao Sepultura. No entanto, o trio tem uma identidade sonora construída ao longo de uma história de 13 anos de existência. E que lhe coloca como um dos nomes que levará adiante o legado da música pesada no Brasil.


Com perdão do péssimo trocadilho, mas não poderia deixar passar - a surra nocauteou muita gente. E quando o Magoo e o bando urtiga subiu no palco eram poucos os que ficaram para testemunhar uma ótima performance. Com músicas do seu último trabalho (Crônicas do Brega Açu) a trupe vinda de Taquaruçu colocou a galera para dançar no ritmo da guitarrada. Com destaque para a canção cintilante que nos instiga a puxar quem está do lado e dançar agarradinho. Eu não poderia deixar de prestigiá-los e fiquei até o final.

Enfim, foi uma noite e tanto, regado a rock in roll e cerveja. Aliás, preciso falar que a cerveja estava no ponto. Me despedi da menina do caixa ao comprar a saideira e segui renovado para casa. Vida longa ao Porkão festival, vida longa ao underground tocantinense, ao punk, ao rock in roll.

Pedro Ferreira Nunes - Apenas um rapaz latino americano, que gosta de ler, escrever, correr e ouvir rock in roll.

Num momento fui tomar um ar lá fora, no intervalo de uma apresentação e outra, e me deparei com o Leeo (Vocal e Guitarra) e o Victor (Baterista) da banda Surra (SP). Achei que seria legal falar para eles que acompanho e aprecio o trabalho da banda. Eles gentilmente agradeceram. Questionei então se teria algum problema deles fazerem um registro fotográfico comigo e responderam prontamente que de forma alguma. Inclusive o próprio Leeo pegou meu celular e puxou a self.

Nenhum comentário:

Postar um comentário