*Por Pedro Ferreira
Hoje existe uma presença muito forte de jovens dentro dos
movimentos populares, principalmente nos movimentos de sem-terras. Porém, com uma
precariedade muito grande de organização. Por um lado, as direções desses
movimentos focam a luta muito em cima das questões imediatas dos trabalhadores
sem-terras e acabam se esquecendo de incentivar a formação de novos quadros
dirigentes e militantes da revolução agrária no Brasil. E quando o fazem tratam
como uma questão secundaria.
No entanto, por outro lado, o interesse de se organizar e formar
deve partir do próprio grupo de jovens. Mas a coordenação do movimento
deve incentivar e criar condições objetivas e subjetivas para que tal
iniciativa se concretize. Jamais a coordenação deve cometer o erro de querer
submeter os jovens, mas sim dar condições para que eles se organizem e atuem
com autonomia.
Para Che Guevara o problema com as organizações juvenis é que geralmente
elas acabam tendo um caráter mecanicista, isto é, elas acabam reproduzindo a
mesma política e as mesmas ações das direções da organização. Praticas que,
muitas vezes, são viciadas e ultrapassadas, que mais produzem recuo do que
avanços. Impedindo, assim, segundo Che, que a juventude se torne a verdadeira
vanguarda.
É necessário que em um dado momento a juventude se organize e se torne
dirigente, é necessário que tenha as suas próprias características, que cometa
os seus próprios erros e acertos:
“a insistência que continuamente, lhe é feito, é para que não deixem de
ser jovens, não se transformem em velhos teóricos ou teorizantes, conservem a
frescura da juventude, o entusiasmo da juventude.” (Che Guevara, 1964).
A juventude deve ser contestadora, subversiva, não pode aceitar a
proibição, não pode se submeter à ordem. No movimento a juventude deve se
tornar e desempenhar o papel de vanguarda, não se distanciando dos outros
companheiros e formando uma cúpula. Mas deve funcionar como um motor
propulsor de todo o movimento.
Para chegar à condição de motor propulsor a juventude deve transformar a
si mesma, ser uma organização autêntica, que vai liquidando todas as rebarbas
da velha sociedade morta e avançando rumo uma sociedade justa e igualitária.
“Se todos são capazes de unir a capacidade para transformar-se
internamente, dedicando-se aos estudos... E acostumando-se a fazer do trabalho
produtivo, pouco a pouco, algo que dignifica tanto, que se converte de momento
e por meio do tempo, em uma necessidade, então será automaticamente vanguarda,
dirigentes da juventude, e nunca terão que pleitear o que fazer. Farão
simplesmente o que, em um dado momento, lhe pareça ser lógico. Não terão que
buscar aquilo que agrada a juventude. Os senhores serão autenticamente a
juventude e a representação do mais avançado da juventude.” (Che Guevara,
1964).
Para Che Guevara uma das tarefas da juventude é impulsionar e dirigir
com o exemplo, a produção do homem de amanhã e com essa produção, e nessa
direção está incluso a nossa própria produção, pois para Che nós não somos
perfeitos. É através de nossa militância cotidiana e as nossas relações
humanas, o estudo profundo, a discussão critica tudo isso é o que vai
transformando o povo. No
movimento a juventude, ao se organizar, deve ter claro quais são as tarefas
colocadas e, principalmente, deve ter claro qual será a sua tarefa fundamental.
E então agir.
Para Plínio de arruda Sampaio os jovens de hoje nasceram em um
período difícil, porém para ele a grande adversidade dessa conjuntura, é o fato
de que o povo não acredita mais ser possível mudar, e assim nós reduzimos
nossas ilusões. “Vocês não podem reduzir as suas ilusões, não podem aceitar o discurso
proibido... É proibido falar em alternativa, é proibido falar em socialismo, é
proibido falar em mudanças, é proibido falar em direito, é proibido... (Plínio
de Arruda Sampaio, 2010).
Para superar o modelo de sociedade em que vivemos, e fortalecer as lutas
cotidianas dos trabalhadores assim como suas organizações, é de primordial
importância a participação da juventude, não como massa de manobra, mas com o
papel de vanguarda, como um motor propulsor.
Ser jovem é muito mais que uma questão de idade, ser jovem é uma questão
de espírito, de atitude, como bem coloca Che Guevara:
“Não tenha nunca o medo, os que são jovens, jovens de espírito sobre
tudo, de preocupar-se com o que tem que fazer para agradar. Simplesmente faça o
que é necessário, o que lhe pareça lógico em um dado momento. Assim a juventude
será dirigente.”
- Texto escrito e trabalhado em processos de formação e organização da juventude camponesa em Goiás.
*Bacharel em Serviço Social, Educador Popular e Militante do Bloco de
Resistência Socialista.