Não
era a primeira vez que Sidnei – o famoso quati branco – era
levado para passar uma temporada no hospital de urgência de Palmas.
A verdade é que no ultimo período isso estava se tornando uma
rotina.
O
médico lhe proibia terminantemente de colocar um pingo de cachaça
na boca, ele então retornava para casa, jurava de pé junto para
todos que já mais tomaria se quer uma dose de pinga. E resistia
bravamente em sua resolução – um mês, dois meses, até três
meses. E quando todo mundo acreditava que ele havia superado o vicio,
o miserável aparecia travado na cachaça.
E
quando começava beber não havia quem o fizesse parar. Era dia e
noite, semanas e semanas enfiado na cachaça. Só parava quando o seu
organismo já não suportava mais e tinha que ser levado as pressas
para o hospital de urgência de Palmas.
E
lá ficava uma, duas, três semanas, até um mês. Escutava a
ladainha do medico o mandando escolher entre a vida e a cachaça.
Recebia alta, voltava para casa, jurava para todo mundo que não
tomaria mais bebida alcoólica. Ninguém acreditava num primeiro
momento. Com o passar dos meses o povo começava acreditar, mas logo
ele aparecia engatado na cachaça novamente.
-
Homem, tu larga essa cachaça que tu morre diabo.
-
Eu num tô bebendo não.
-
Como não tá bebendo? E esse cheiro de cachaça? Eu sou besta por
acaso?
-
Só tomei uma dosinha.
-
Bom. O médico já ti avisou. Continua desce jeito que tu vai parar
de baixo do pé de gameleira.
Nem
com a ameaça de ir parar na cidade dos pés juntos o pobre miserável
conseguia largar a cachaça. Porém da ultima vez ele exagerara e foi
levado já nas ultimas para o hospital de urgência. Estava tão mal
que todos por ali já contavam como certo a sua morte.
Passou-se
uma, duas, três, quatro semanas e nada do quati branco melhorar. E
as noticias que chegavam em Lajeado não eram animadoras.
-
O quati branco esta a beira da morte.
-
É. Dessa ele não escapa.
E
não escapou mesmo. A noticia foi recebida com muita tristeza pela
sua família e seus companheiros de cachaça.
-
É. Ele bebia suas cachaças, mas não fazia mal a ninguém.
-
É mesmo.
Agora
já não se podia fazer nada, o pobre quati branco estava morto.
Perdeu a batalha que vinha travando há vários anos contra a
cachaça. Aos familiares e amigos restava organizar o velório,
comprar o caixão, abrir a cova e então despedir-se do ente querido
– que deixaria saudades.
Chega
então o grande momento aguardado – a chegada do corpo para ser
velado. No entanto para surpresa geral, o miserável não havia
morrido. Estava vivíssimo da silva. Tudo não havia passado de um
engano. Outro homem com nome de Sidnei havia morrido no mesmo
hospital que ele estava internado e na hora de comunicar a família
do morto erraram de enderenço. E assim a noticia que chegará em
Lajeado é que havia sido o pobre do quati branco que se encontrará
com “o único mal irremediável”.
-
Essa misera tá viva? Vamos enterrar ele. Ora depois de todo o
trabalho que ele nos deu? Vamos enterra-lo vivo. E assim o povo fez.
Enterrou o pobre coitado vivo.
Não,
não foi isso que aconteceu. A verdade é que sua família e seus
companheiros fizeram uma grande festa regada a muita cachaça em
comemoração ao retorno da terra dos mortos feita pelo quati branco.
Claro, ele não tomou nenhuma dose, pois após a experiência que
vivera, jurou de pés juntos que nunca mais colocaria uma dose de
cachaça na boca.
Mas
como vocês podem imaginar, após alguns meses ele voltou a tomar
todas. E assim a sua batalha contra a cachaça continua, resta saber
até quando ele vai resistir.
Pedro Ferreira Nunes é Peta e escritor Popular Tocantinense.
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