Quando
tomei conhecimento de que a greve geral convocada para o dia 05 de
dezembro havia sido cancelada imediatamente me veio à cabeça o
livro “Que fazer?” uma das principais obras de Vladimir I. Lênin.
Nesse livro o líder bolchevique trava uma polêmica importante com a
ala oportunista do Partido Social Democrata Russo. Polêmica que
culminará na divisão do partido e a criação da fração
bolchevique que terá um papel fundamental na orientação dos
operários, camponeses pobres e Soldados para tomada do poder em
outubro de 1917.
E
o que o livro de Lênin tem haver com a greve sabotada pelas
principais centrais sindicais do país? Resguardando o contexto
histórico em que o livro foi escrito e a que se pretendia acredito
que essa obra nos trás uma tarefa bastante atual – romper com
setores oportunistas (tanto no terreno sindical, no movimento
popular, estudantis e partidos) que defendem a conciliação de
classes ao invés da luta e da resistência.
A
sabotagem da greve do dia 05 de dezembro não é um fato isolado, não
nos esqueçamos de que no mês de junho também essas mesmas centrais
convocaram uma greve geral, mas que, no entanto não jogaram nenhum
peso na sua realização. Agora fizeram pior, cancelaram a greve,
desmoralizando assim mais ainda o já tão desmoralizado o atual
movimento sindical brasileiro, caindo no descredito e contribuindo
para uma maior fragmentação da já tão fragmentada esquerda no
país.
Outra
questão importante é que algumas dessas organizações jogaram mais
peso mobilizando os trabalhadores para acompanhar um depoimento do
Lula em Curitiba do que para protestar contra a aprovação da
reforma trabalhista ou agora na reforma da previdência.
Dizei-me
que autoridade essas organizações tem para se dizer representantes
dos trabalhadores se quando é para defender os interesses destes
preferem a conciliação com a burguesia? Diante desse contexto ouso
dizer que o nosso principal inimigo não é o governo Temer – um
governo fraco que já teria caído há muito tempo. Mas isso se
tivéssemos organizações com legitimidade junto a classe
trabalhadora para orienta-la. Desse modo uma tarefa fundamental se os
trabalhadores quiserem avançar na luta em defesa dos seus direitos é
passar por cima das direções burocratizadas de sindicatos, centrais
sindicais e partidos políticos. Em suma, romper com os setores
oportunistas que atuam no sentido de segurar os trabalhadores para
que não radicalizem na luta por direitos.
Que
nos acusem de divisionistas, de ultrarradicais, de “frescos”, de
não buscar construir a unidade. Ora, não se constrói a unidade da
classe em gabinetes, em discursos, em artigos. Constrói-se a unidade
nas ruas, nas lutas, na resistência. E é isso que procuramos fazer.
Não buscando conciliar o inconciliável como estes senhores prometem
fazer. Desse modo acusar-nos de preferir o caminho da luta ao da
conciliação deve ser para nós um motivo de orgulho. Se querem o
caminho da conciliação que assim seja. Se preferem seguir para o
“pântano” que façam bom proveito. “[... Até consideramos que
vosso lugar é precisamente o pântano, e nos sentimos dispostos a
prestar toda a colaboração que estiver a nosso alcance para
levar-vos até lá...]”. (Lênin, 2015; 52).
As
palavras de Lênin contra os oportunistas são bastante atuais
analisando o contexto que vivemos. De modo que precisamos resgata-las
e reafirma-las para que os trabalhadores não se iludam com discursos
que nos levaram a situação que estamos hoje. E que não mudará via
eleições como alguns querem nos fazer acreditar. Aliás, essa
mudança de postura, essa moderação no discurso, não é nada mais
do que a busca por acomodar interesses eleitorais. Uma linha
prejudicial à esquerda – que tem crescido nos lugares onde
radicaliza o discurso e não onde prega a conciliação.
Em
“Que fazer?” Lênin (2015) afirma “[... nossa tarefa imediata é
combater o joio. A nossa tarefa não consiste em semear o trigo em
pequenos vasos. Ao arrancar o joio, limpamos o terreno para que o
trigo cresça... devemos preparar ceifeiros que hoje saibam arrancar
o joio e amanhã colher o trigo...]”. Uma tarefa que também nos
parece bastante atual no presente contexto. Sobretudo por que revela
a preocupação com a formação de quadros e o trabalho de base.
Algo que foi quase que completamente abandonado pelas organizações
dos trabalhadores na ultima década – o que contribuiu para
burocratização, a estagnação e o descredito nessas organizações.
Um
bom exemplo nesse sentido são as eleições do principal sindicato
de trabalhadores do Tocantins (SINSEP – Sindicato dos Servidores
Públicos do Estado do Tocantins). Onde o atual presidente concorre o
quarto mandato. E só foi possível a inscrição de uma chapa de
oposição devido à intervenção judicial. Infelizmente isso não é
um fato isolado e nem uma realidade apenas do movimento sindical no
Tocantins. A burocracia sindical impede qualquer tipo de renovação,
afastando assim os jovens trabalhadores para que participem
ativamente da vida sindical, assumindo tarefas.
Essa
questão vai de encontro com a afirmação de José Paulo Netto de
que o problema da esquerda atualmente é a questão organizacional.
Precisamos pensar estruturas organizacionais alternativas que superem
essas organizações burocratizadas que ao contrario de
potencializar, amortiza a luta de classes. De acordo com Netto (2015)
“[... a crise contemporânea do capital abre para nós uma
oportunidade concreta de, exercitando a crítica radical, fomentar a
reconstituição e a renovação de uma cultura política
socialista...]”. Estamos à altura dessa tarefa? Não pretendemos
fechar questão aqui. Fica por tanto a reflexão.
Pedro
Ferreira Nunes é Educador Popular e Militante do Coletivo José
Porfírio. Atualmente faz parte da Coordenação Geral do Centro
Acadêmico de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.
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