segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

A greve sabotada. Que fazer?


Quando tomei conhecimento de que a greve geral convocada para o dia 05 de dezembro havia sido cancelada imediatamente me veio à cabeça o livro “Que fazer?” uma das principais obras de Vladimir I. Lênin. Nesse livro o líder bolchevique trava uma polêmica importante com a ala oportunista do Partido Social Democrata Russo. Polêmica que culminará na divisão do partido e a criação da fração bolchevique que terá um papel fundamental na orientação dos operários, camponeses pobres e Soldados para tomada do poder em outubro de 1917.
E o que o livro de Lênin tem haver com a greve sabotada pelas principais centrais sindicais do país? Resguardando o contexto histórico em que o livro foi escrito e a que se pretendia acredito que essa obra nos trás uma tarefa bastante atual – romper com setores oportunistas (tanto no terreno sindical, no movimento popular, estudantis e partidos) que defendem a conciliação de classes ao invés da luta e da resistência.
A sabotagem da greve do dia 05 de dezembro não é um fato isolado, não nos esqueçamos de que no mês de junho também essas mesmas centrais convocaram uma greve geral, mas que, no entanto não jogaram nenhum peso na sua realização. Agora fizeram pior, cancelaram a greve, desmoralizando assim mais ainda o já tão desmoralizado o atual movimento sindical brasileiro, caindo no descredito e contribuindo para uma maior fragmentação da já tão fragmentada esquerda no país.
Outra questão importante é que algumas dessas organizações jogaram mais peso mobilizando os trabalhadores para acompanhar um depoimento do Lula em Curitiba do que para protestar contra a aprovação da reforma trabalhista ou agora na reforma da previdência.
Dizei-me que autoridade essas organizações tem para se dizer representantes dos trabalhadores se quando é para defender os interesses destes preferem a conciliação com a burguesia? Diante desse contexto ouso dizer que o nosso principal inimigo não é o governo Temer – um governo fraco que já teria caído há muito tempo. Mas isso se tivéssemos organizações com legitimidade junto a classe trabalhadora para orienta-la. Desse modo uma tarefa fundamental se os trabalhadores quiserem avançar na luta em defesa dos seus direitos é passar por cima das direções burocratizadas de sindicatos, centrais sindicais e partidos políticos. Em suma, romper com os setores oportunistas que atuam no sentido de segurar os trabalhadores para que não radicalizem na luta por direitos.
Que nos acusem de divisionistas, de ultrarradicais, de “frescos”, de não buscar construir a unidade. Ora, não se constrói a unidade da classe em gabinetes, em discursos, em artigos. Constrói-se a unidade nas ruas, nas lutas, na resistência. E é isso que procuramos fazer. Não buscando conciliar o inconciliável como estes senhores prometem fazer. Desse modo acusar-nos de preferir o caminho da luta ao da conciliação deve ser para nós um motivo de orgulho. Se querem o caminho da conciliação que assim seja. Se preferem seguir para o “pântano” que façam bom proveito. “[... Até consideramos que vosso lugar é precisamente o pântano, e nos sentimos dispostos a prestar toda a colaboração que estiver a nosso alcance para levar-vos até lá...]”. (Lênin, 2015; 52).
As palavras de Lênin contra os oportunistas são bastante atuais analisando o contexto que vivemos. De modo que precisamos resgata-las e reafirma-las para que os trabalhadores não se iludam com discursos que nos levaram a situação que estamos hoje. E que não mudará via eleições como alguns querem nos fazer acreditar. Aliás, essa mudança de postura, essa moderação no discurso, não é nada mais do que a busca por acomodar interesses eleitorais. Uma linha prejudicial à esquerda – que tem crescido nos lugares onde radicaliza o discurso e não onde prega a conciliação.
Em “Que fazer?” Lênin (2015) afirma “[... nossa tarefa imediata é combater o joio. A nossa tarefa não consiste em semear o trigo em pequenos vasos. Ao arrancar o joio, limpamos o terreno para que o trigo cresça... devemos preparar ceifeiros que hoje saibam arrancar o joio e amanhã colher o trigo...]”. Uma tarefa que também nos parece bastante atual no presente contexto. Sobretudo por que revela a preocupação com a formação de quadros e o trabalho de base. Algo que foi quase que completamente abandonado pelas organizações dos trabalhadores na ultima década – o que contribuiu para burocratização, a estagnação e o descredito nessas organizações.
Um bom exemplo nesse sentido são as eleições do principal sindicato de trabalhadores do Tocantins (SINSEP – Sindicato dos Servidores Públicos do Estado do Tocantins). Onde o atual presidente concorre o quarto mandato. E só foi possível a inscrição de uma chapa de oposição devido à intervenção judicial. Infelizmente isso não é um fato isolado e nem uma realidade apenas do movimento sindical no Tocantins. A burocracia sindical impede qualquer tipo de renovação, afastando assim os jovens trabalhadores para que participem ativamente da vida sindical, assumindo tarefas.
Essa questão vai de encontro com a afirmação de José Paulo Netto de que o problema da esquerda atualmente é a questão organizacional. Precisamos pensar estruturas organizacionais alternativas que superem essas organizações burocratizadas que ao contrario de potencializar, amortiza a luta de classes. De acordo com Netto (2015) “[... a crise contemporânea do capital abre para nós uma oportunidade concreta de, exercitando a crítica radical, fomentar a reconstituição e a renovação de uma cultura política socialista...]”. Estamos à altura dessa tarefa? Não pretendemos fechar questão aqui. Fica por tanto a reflexão.
Pedro Ferreira Nunes é Educador Popular e Militante do Coletivo José Porfírio. Atualmente faz parte da Coordenação Geral do Centro Acadêmico de Filosofia da Universidade Federal do Tocantins.

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