“Ninguém
tem maior consciência da opressão do que aquele que a sofre.
Ninguém tem maior consciência da pobreza do que aqueles que a
sofrem. E Ninguém melhor reage a pobreza do aqueles que a sofrem.
Miguel
Arroyo, Simpósio Educação, Pobreza e Desigualdade Social – UFT,
Campus de Palmas. 24 de Nov. 2017.
Era
uma noite de sexta-feira. Estava frio devido à chuva que caíra ao
longo do dia na capital tocantinense. Assim que terminou minha aula
mais do que de pressa me encaminhei para o Cuica para ver se
conseguia pelo menos pegar a parte final da fala do professor Miguel
Arroyo na abertura do simpósio sobre “Educação, Pobreza e
Desigualdade Social”. Ora, quem milita na educação ou pretende
tornar-se um educador não pode deixar passar a oportunidade de ouvir
um sujeito tão importante. Até por que não é todos os dias que
temos o professor Miguel Arroyo entre nós.
Cheguei
ao Cuica exatamente no momento que a fala do professor Miguel Arroyo
se encaminhava para o fim. E quão lotado estava o Cuica, o que me
surpreendeu positivamente, já que apenas duas vezes havia visto o
Cuica lotado desde que ingressei na UFT – e não era nem de
estudantes e nem de professores, mas sim de latifundiários e seus
representantes políticos que haviam ido ouvir a então ministra da
agricultura Kátia Abreu falar sobre o MATOPIBA. Agora não, agora
era diferente. O auditório estava lotado de estudantes e professores
de vários cantos do Tocantins que vieram discutir o papel da
educação no combate a pobreza e a desigualdade social.
Apesar
do pouco que ouvi foi tão marcante que posso afirmar ter sido o
principal momento vivenciado por mim durante esse ano na UFT. Afinal
de contas, como diz a canção: “quando se sabe ouvir não precisa
muitas palavras” não é mesmo?! Também é preciso destacar que
existem figuras tão diferenciadas que conseguem com poucas palavras
transmitir muito mais do que as aulas de todo um período na
universidade – Miguel Arroyo é uma dessas figuras. Eis ai bem
objetivamente a diferença entre ser educador ou um professor
simplesmente.
E
o que ele disse de tão marcante assim? No pouco que pude ouvir, ele
nos chamou a atenção para o papel da resistência. É através da
resistência que tomamos consciência, que nos libertamos e que nos
humanizamos. Para Arroyo, como educadores devemos questionar o que
está posto, resistir, lutando para se libertar e dessa forma se
humanizar. Em suma, antes de querer transformar o outro devemos
transformar a nós mesmos, antes de querer libertar o outro, devemos
libertar a nós mesmos e antes de querer humanizar o outro devemos
humanizar a nós mesmos, um processo que se dá através da
resistência, da luta por libertar-nos.
Arroyo
foi enfático ao afirmar: “Ninguém tem maior consciência da
opressão do que aquele que a sofre. Ninguém tem maior consciência
da pobreza do que aqueles que a sofrem. E Ninguém melhor reage a
pobreza do aqueles que a sofrem”. Assim ele se coloca
contrariamente a concepção pedagógica equivocada daqueles que
acreditam que estão se formando professores e irão transformar o
mundo – que irão conscientizar os oprimidos, que irão acabar com
a pobreza. Ora, é muito arrogância achar que os pobres e oprimidos
não tem consciência. A estes, Arroyo reafirma uma questão
fundamental, a libertação do oprimido é obra do próprio oprimido,
a superação da pobreza é obra daqueles que sofrem com a pobreza.
O
professor Miguel Arroyo chama atenção para o fato de que não é só
a escola que humaniza. Tal afirmação se deu quando ele se questiona
a cerca do que humaniza os pobres, já que a pobreza os desumaniza.
Ele responde: “Não é só a escola. A suas resistências contra a
pobreza é que os humaniza”. E não falta exemplo que corroboram
com a afirmação do professor Miguel Arroyo – podemos destacar em
especial a luta dos sem teto, dos sem terra, dos indígenas e dos
quilombolas.
E
na atual conjuntura política do país o maior exemplo de resistência
contra o governo Temer e suas reformas é justamente do MTST – um
movimento que organiza os setores mais pauperizados da sociedade e
faz um importante trabalho de formação de base. Por fim, o
professor Miguel Arroyo afirmou “Pobre é resistente. Nós somos
pobres aniquilados pela pobreza. Vitimas da pobreza, mas resistindo,
resistindo”. E citando Paulo Freire conclui: “Paulo Freire
sempre falou “os oprimidos resistem, por libertar-se da opressão””.
Quando
o professor Miguel Arroyo terminou sua fala não teve que não se
contagiasse, e todo o auditório foi tomado por uma onda de aplausos
e gritos entusiasmados em sua saudação – o que perdurou por mais
de minuto. Com certeza a fala do professor Miguel Arroyo nos enche de
animo para continuarmos a tão necessária resistência contra a
opressão que assola o nosso povo. E por fim para coroar a noite a
arte de resistência através dos acordes de violão e das cantigas
do Juraildes da Cruz e a poesia do poeta Paulo Aires encerraram o
momento.
Pedro
Ferreira Nunes é “apenas um rapaz latino americano, sem dinheiro
no banco, sem parentes importantes, e vindo do interior”.
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