segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

O amor pode destruir o ódio?!

Parece uma questão clichê de folhetim barato não é mesmo?! Até por que o mundo caminha no sentido contrário, isto é, o triunfo do ódio sobre o amor. Sendo assim como acreditar que o amor pode destruir o ódio? Antes de tentar responder a questão levantada é preciso saber: Afinal de contas o que é o amor? O que é o ódio? Qual a relação entre esses dois afetos? Não são questões difíceis de serem respondidas se partirmos dos clichês. Mas não é nosso objetivo aqui. Nosso objetivo é falar do amor e do ódio através da perspectiva filosófica de Baruch Spinoza, especialmente na sua obra: “Ética Demostrada a Maneira dos Geômetras”, Terceira parte - Sobre a Origem e a Natureza dos Afetos.

Desse modo antes de falar sobre o amor e o ódio propriamente, é preciso entender o que Spinoza compreende por afetos. Afetos são “afecções do corpo que aumentam ou diminui, ajuda ou limita a potência de agir do corpo”. E nessa afirmação encontramos um conceito central no pensamento de Spinoza – potência. Outro conceito importante é esforço. Potência e esforço são fundamentais para compreendermos a relação entre amor e ódio. E a compreensão dessa relação entre amor e ódio passa pelo entendimento de quais seriam nossos afetos primários. E quais seriam? O Desejo, a Alegria e a Tristeza. Segundo Spinoza o Desejo (Cupiditas) é o apetite com a consciência dele mesmo. Alegria (Laetitiae) é uma paixão pela qual a Mente passa a uma perfeição maior. Já a Tristeza (Tristitiae) é uma paixão pela qual ela passa a uma perfeição menor. É a partir dos afetos primários que se originam todos os demais. Inclusive o amor e o ódio.

Pronto, já sabemos de onde se origina o amor e o ódio, mas o que seriam essas afecções? Para Spinoza o Amor (Amor) é uma alegria concomitante a uma causa externa e que buscamos conservar. Já o Ódio (Odium) trata-se de uma tristeza concomitante a uma causa externa da qual buscamos nos afastar ou destruir. E como podemos amar ou odiar? Amamos pela Simpatia (Sympathia) que é Alegria. E Odiamos pela Antipatia (Antipathia) que é Tristeza. Parece simples, não é?! Mas não é tão simples assim.

Spinoza afirma que quando nossa mente é afetada por dois afetos simultaneamente, por exemplo, o amor e o ódio. Quando posteriormente for afetado por um deles, também será afetado pelo outro. Dessa forma por acidente, qualquer coisa pode ser causa de alegria, tristeza ou desejo. Em suma, podemos simultaneamente amar e odiar o mesmo objeto. Estes afetos contrários ao estado da mente provoca a flutuação da alma (animi fluctuario) – hora amamos, hora odiamos. Essa flutuação se dá pelo fato de que o corpo humano é composto de muitíssimos indivíduos de natureza diversa. Logo pode ser afetado de diversos modos.

Para Spinoza, amamos quem nos ama e odiamos quem nos odeia. Sendo assim, se odeio farei mal e se amo farei bem. Isso também parece uma questão óbvia né?! Mas é ai que está o problema. Como todos querem ser amados e louvados acabam se odiando e, por conseguinte fazendo o mal – Numa sociedade que cultua o individualismo, como é o caso da sociedade baseada no modo de produção capitalista, essa máxima tem sido levada ao extremo. Desse modo não é de se admirar que não raramente passemos a odiar aquilo que amávamos. E se alguém começar a odiar a coisa amada esse ódio será maior que o amor. Pois a tristeza será maior, tanto pelo ódio como pelo fato que já amou a coisa.

Mas o contrário também pode acontecer – alguém pode começar a amar a coisa odiada e esse amor será maior que o ódio. Dai que nosso filósofo afirma que o amor pode destruir o ódio. E aqui chegamos a nossa questão inicial – para Spinoza o amor que se origina do ódio, o amor que vem daquilo que odiávamos é maior. Seria, portanto preferível buscar amar aquilo que odiamos? Já que isso nos permitirá alcançar uma espécie de “amor supremo”? Spinoza brinca dizendo que seria a mesma coisa de querer ficar doente para depois obter a cura. E isso ninguém quer.

O que podemos concluir de tudo isso? Que sim, que o amor pode destruir o ódio, mas também que o ódio pode se sobrepor ao amor. Isso dependerá de agirmos racionalmente e da potência e do esforço de perseverar em uma dessas direções. 

Pedro Ferreira Nunes é – Educador Popular e bolsista do Pibid-Filosofia da UFT na Escola Estadual Frederico José Pedreira Neto.

*REFERÊNCIA: SPINOZA, Baruch. Ética Demostrada a Maneira dos Geômetras - Terceira Parte “Sobre a Origem e a Natureza dos Afetos”. Tradução: Roberto Brandão. Disponível em: http://docs11.minhateca.com.br/66423427,BR,0,0,BARUCH-Spinoza-Etica-Demostrada-a-maneira-dos-Geometras-PT-BR.pdf. Acesso em: 16 Out. 2017.

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Poema: Hasta la victoria siempre!

Venho de outros tempos
Forjado em mil batalhas
‘hasta la victoria siempre’
A nossa luta não para.

Em Palmares com Zumbi
Em Canudos com Conselheiro
Eu lutei até o fim
Ao lado dos meus companheiros.

Com Lampião no sertão
Zé Porfírio em Goiás
João Pedro lá em Sapé
Lutas monumentais.

Ao lado de Marighela
Com muito orgulho lutei
Na guerrilha do Araguaia
Confiante eu marchei.

Marchei com a Coluna Prestes
Com Julião nas ligas camponesas
Na revolta da chibata
Atuamos com firmeza.

No eldorado dos Carajás
Vi muitos companheiros tombar
E no massacre de Corumbiara
Eu também estava lá.

Ao lado de Chico Mendes
Na defesa da floresta
E com o cacique Raoni
Defendendo o que nos resta.

No Pinheirinho em São José dos Campos
Resistimos bravamente
No Parque Oeste Industrial
Não foi diferente.

Mataram-me tantas vezes
Outras tantas fui aprisionado
Me espancaram brutalmente
Sem dó fui torturado.

Mas continuo de pé
Resistindo e lutando
Podem me matarem sempre
Que acabo me levantando.

Sou o povo brasileiro
Que constrói este país
Haveremos de triunfar
Seremos um povo feliz.

Viemos de outros tempos
Forjado em mil batalhas
‘Hasta la victoria siempre’
A nossa luta não para.

Pedro Ferreira Nunes
Casa da Maria Lucia. Lajeado – TO. Lua Nova, Inverno de 2018.