segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Castro Alves e as Vozes d’África – Festival Virtual de Arte e Literatura do CENSP-LAJEADO

“O povo é como o sol! Da treva escura

Rompe um dia co’a destra iluminada...”.

Castro Alves 


Castro Alves e as Vozes d’África – eis aí o tema do Festival de Arte e Literatura do Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência (Munícipio de Lajeado)  que ocorrerá na Semana de 16 á 20 de Novembro – onde se celebra o dia da Consciência Negra – uma data que ganha relevo este ano devido ao Movimento Black Lives Matter – que sacudiu os Estados Unidos da América e que tem inspirado manifestações no mundo todo contra o racismo.

No Brasil essa luta vem ocorrendo há séculos, quando a escravidão ainda era permitida oficialmente. De modo que se hoje á luta dos Negros por cidadania plena é difícil, imagina naquela época então. Mas foi nesse contexto que o jovem Castro Alves,  aspirante a advogado, levantou sua voz através da poesia para denunciar os horrores e imoralidade da escravidão – Não teve medo de mostrar na Casa Grande a condição desumana imposta nas senzalas. Tornou-se conhecido como o Poeta dos Escravos – o que dava voz aqueles que não tinham direito a palavra. 

No poema O sol e o povo (1865) ele escreveu: “O povo é como o sol! Da treva escura. Rompe um dia co’a destra iluminada. Como o Lázaro estala a sepultura”. Certamente ele estaria feliz vendo o levante de movimentos como Black Lives Matter. Pois como mostra os versos citados, ele sempre acreditou na capacidade do povo negro despertar e lutar por sua libertação. Como também podemos perceber em poemas como “A criança”, “Antítese” e “Saudação a Palmares”.

Desse modo o Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência não poderia escolher melhor nome para homenagear no seu festival de Arte e Literatura. Castro Alves foi um grande humanista, defensor da liberdade, amante das artes e da literatura. Aliás, fez dessa a sua arma em defesa de uma sociedade melhor. Em tempos onde a arte e a literatura, e também as ciências estão sobre ataque, celebrá-lo consiste num ato de subversão. E precisamos cada vez mais de atos de subversão para que as trevas não prevaleçam sobre a luz.

Não é a primeira vez que o Colégio Estadual Nossa Senhora da Providência realiza um festival de Arte e Literatura e muito menos promove a Consciência Negra – tais ações estão no Projeto Político Pedagógico da Escola que está em consonância com as dez competências gerais da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), entre elas a valorização e utilização dos “conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital para entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva”. 

Essa edição se dará no formato virtual devido a suspensão das aulas presenciais como medida de prevenção á COVID-19. Será mais uma experiência das muitas que estamos vivendo nesse contexto de pandemia. Se exitosa ou não, não sabemos. Mas se tem algo que temos aprendido nesse período é não ter medo de tentar – agir ao invés de se acomodar. Quando isso é assumido pelo coletivo então, a probabilidade de acerto aumenta significativamente. 

Sendo de forma virtual o alcance do evento é muito maior – qualquer pessoa com acesso a internet poderá apreciar as produções artísticas e literárias dos estudantes do CENSP-Lajeado. Além de acompanhar importantes reflexões dos nossos professores, através de videos-entrevistas, sobre temas relevantes como o racismo, a cultura quilombola, o papel da educação, entre outros. Além disso também haverá lives através do Google Meet. Sendo que numa dessas teremos uma roda de conversa sobre o nosso Poeta, a sua obra e o seu legado.

Fica então o convite a quem possa interessar (link do evento:https://sites.google.com/view/fal-censplajeado/in%C3%ADcio?authuser=0). Para mais detalhes e informações é só acompanhar as redes sociais do CENSP-LAJEADO.  E para concluir, citemos mais uma vez Castro Alves:

Parte, pois, solta livre aos quatro ventos

A alma cheia das crenças do poeta!...

Ergue-te, ó luz! – Estrela para o povo,

Para os tiranos – lúgubre cometa. 

                         Adeus, meu canto. 1865.

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.



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