quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Perguntas a se fazer para definir em quem votar para compor a Câmara de Vereadores da sua cidade

 “Ele apenas se recusou,
antes que fosse tarde de mais.
Pois sabia se aceitasse,
não poderia voltar atrás. 
Em seu olhar estava a resposta,
mas ninguém conseguiu entender.
E ficaram a se perguntar,
Por que?”
Inocentes 

Votar ou não votar? Eis a questão com que milhares de eleitores se deperam em anos eleitorais. A opção não votar tem ganhado mais adepto a cada ano (vide o aumento significativo do número de abstenções, votos nulos e brancos). Mas a grande maioria opta por votar mesmo sabendo da enorme probabilidade de se decepcionar com o seu ou sua elegida. Alguns desses, na próxima eleição, aumentarão as estatísticas das abstenções, votos nulos e brancos. Outros buscam justificar dizendo: - Como eu poderia saber?! Ninguém tem estrela na testa. É como se dissessem: - Nessa errei, na próxima acerto. Ou então acabam se deslocando para uma posição totalmente pragmática: - Ele rouba, mas faz.

Quanto a esses últimos não há muito o que  fazer. Mas os outros sim – esses poderão buscar diminuir a probabilidade de elegerem candidatos que depois os decepcionaram. E creio que um dos caminhos para diminuir essa probabilidade é fazendo algumas perguntas que lhes ajudaram a escolher melhor.


Qual a história do candidato ou candidata? 

Você deve minimamente saber em quem está votando. Qual a trajetória dessa pessoa. De onde veio. Qual a sua formação. A sua experiência. O que já fez. O que deixou de fazer. Como se posicionou diante de determinadas questões. São informações importantes que lhe ajudará a compor o perfil de um determinado candidato ou candidata e a partir daí vê se este é o perfil que você busca como sendo o melhor para ocupar uma cadeira no legislativo da sua cidade. Saber o perfil da sua candidata ou do seu candidato é o primeiro passo para que você não se decepcione quando ele ou ela se posicionar de determinada forma. O que não tem sentido é você votar em alguém com um perfil conservador e esperar que ele ou ela tenha uma postura progressista. Nesses casos o equívoco não é dele ou dela, mas seu.


Qual a relação da candidata ou candidato com a cidade?

Essa pergunta é importante por que não necessariamente você tem que votar em alguém que nasceu na sua cidade (um filho da terra como dizem). Mas essa candidata ou candidato deve conhecer a realidade socioeconômica do local da qual pretende ser um representante político. E esse conhecimento depende da relação que se estabelece na e com a comunidade. Alguns querem apenas explorar – sugar os parcos recursos do local – e quando se enchem batem as asas e vão embora. Já outros buscam contribuir para melhoria das condições de vida local – e ainda que as coisas não estão fáceis, não abandonam o barco. Votar em alguém natural do lugar poderia ser a solução, mas não necessariamente. O fato da pessoa ser um filho ou filha da terra não significa que ela tem uma relação diferente na e com a comunidade das que falamos anteriormente. Por tanto também se faz necessário, se você optar em votar em alguém nascido no local, saber a relação dessa pessoa na e com a comunidade – é uma relação de exploração ou uma relação de busca da melhoria das condições de vida de todas e todos? Esse questionamento é importante pois possibilita ao eleitor fazer um recorte de classe na hora de escolher em quem votar.


A candidata ou candidato sabe o que faz um vereador?

Si alguém se candidata a um determinado cargo o mínimo que se espera é que essa pessoa saiba os deveres e direitos desse cargo.  O problema é que muitos eleitores não sabem qual é o papel dos legisladores – de modo que fica difícil saber se o candidato ou candidata a vereador sabe qual será o seu papel se caso for eleito. Isso exige portanto que o eleitor se informe quanto ao que faz um vereador para que tenha condição de identificar se o candidato ou candidata a esse cargo também tem esse conhecimento. Sabendo o que faz um vereador, o eleitor irá eliminar muitos candidatos que se apresentam prometendo aquilo que não é da sua alçada, mas sim do executivo (no caso da prefeita ou prefeito). O que não dá é se votar em alguém que não sabe o que faz um vereador e esperar um bom desempenho desse. Não significa que a candidata ou candidato deva ser um especialista – que não possa no decorrer do mandato ir aprendendo e melhorando. Mas se não procura ter o mínimo de informação acerca do cargo que se propõem desempenhar (para não prometer o que não irá cumprir) é bom você pensar melhor antes de votar numa figura assim.


O que o candidato ou candidata pode fazer pela cidade?

Essa, na minha visão, é a principal pergunta a se fazer. A partir dela podemos compreender tanto o candidato ou candidata, como o eleitor e a eleitora. É uma pergunta que geralmente não se faz – o que refleti a visão individualista hegemônica – onde as pessoas estão mais preocupadas consigo mesma do que com o coletivo. Nesse contexto o que prevalece é a pergunta: - o que você pode fazer por mim? Óbvio, o candidato ou candidata, que não é idiota responderá exatamente aquilo que você espera ouvir. Mas assim como promete pra você, prometerá também para muitos outros. E por mais honesto que seja não conseguirá satisfazer a todos – pois é humanamente impossível agradar o que cada um, num universo de milhares, deseja. Quando isso acontece vem então a decepção: “- Ah, fulano de tal me enganou, me prometeu isso e não cumpriu”. Me desculpe, você quis ser enganado. Você mereceu ser enganado ao pensar em si e não no coletivo. Quando fores votar em alguém busque saber o que esse alguém pode fazer pela cidade – pois fazendo para cidade estará fazendo por todos, incluindo você. Se o candidato ou candidata não tem projetos para cidade, mas apenas promessas para conquistar seu voto, não reclame se depois de eleito ele ou ela virar as costas para ti.

Creio que essas quatro perguntas – que não precisam serem feitas para um determinado candidato ou candidata – e nem encaradas como uma receita de “Como votar bem”. São apenas pontos de reflexão para que você faça uma escolha consciente na hora de definir em quem votar.  São perguntas que mostram como a política conduzida a partir de uma ótica racional é o caminho para que façamos boas escolhas acerca dos rumos que a cidade irá tomar e de quem melhor pode conduzi-la nessa jornada. Óbvio, não é necessário você seguir essa lógica, mas não se iluda esperando um resultado adverso do que que tem colhido – não vai achando que ao votar numa figura medíocre terá outra coisa se não mandatos medíocres. 

Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Licenciado em Filosofia pela Universidade Federal do Tocantins. 

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