No Tocantins não foi diferente, mesmo tendo um setor cultural fragilizado pela falta de políticas públicas de apoio e incentivo a cultura. Tivemos ao longo desse período pandêmico diversas iniciativas que mostram uma rica produção artística por parte dos artistas tocantinenses em diversas áreas. Bem como a utilização das mídias digitais para divulgação e compartilhamento dessa produção. Como consequência desse processo temos hoje uma maior apropriação, por parte da classe artística regional, do mundo digital, e da parte do público, um maior número de referências artísticas locais.
Eu particularmente passei a conhecer só agora nesse período pandêmico, muitos artistas que produzem arte no Tocantins. Olha que me considero um cara antenado e informado. Mas a questão é que estes artistas não tem a oportunidade de circular, e nós que vivemos no interior sobretudo, acabamos não tendo acesso a eles, e nem eles a nós. Com as lives e outros eventos virtuais isso se tornou possível.
Certamente a iniciativa da Prefeitura de Palmas com o edital Palmas Curte Arte em Casa e da Prefeitura de Porto Nacional com a edição virtual da Semana Cultural e da Feira Literária muito contribuíram para que os artistas de diversas áreas se sentissem estimulados a ocupar os espaços virtuais como o youtube. Desse modo se você pesquisa hoje no youtube: Palmas Curte Arte em Casa ou Flip portuense, você terá um ótimo leque de opções com atrações culturais Tocantinenses. Além disso é possível encontrar o trabalho de outros artistas produzidos de forma independente.
Se por um lado houve esse avanço por outro o retorno financeiro não foi o mesmo. O que mostra que o espaço virtual não substituí o presencial. Ainda mais por que os eventos culturais mobilizam toda uma cadeia de produção para além do artista. É sabido que alguns artistas conseguem lucrar com eventos on line, esse não é o caso de 99,9% dos nossos artistas.
Daí a importância da lei Aldir Blanc que injetará 17,4 milhões na economia do Tocantins através de Projetos Culturais – mostrando a sua importância para além de um recurso destinado a gerar uma renda para classe artística. Daí também a revolta por parte dessa classe artística com a devolução, por parte do governo Estadual, de 1,2 milhões, que poderiam ter sido usados para contemplar mais projetos e assim beneficiar muito mais artistas.
Se não houvesse demanda tudo bem, mas ao que parece, não houve foi vontade política. De modo que creio ser correto o questionamento levantado tanto em relação a este ponto como a outros. Por exemplo, a respeito dos critérios utilizados para a seleção dos projetos.
Mesmo antes desse questionamento público, quando consultei a lista para ver quais artistas seriam contemplados, esse aspecto me chamou atenção – o nome de alguns contemplados em mais de um projeto ou que não vivem exclusivamente da arte (ou pelo menos que não tem essa como a principal fonte de renda).
Não gosto de dar o meu exemplo pessoal, mas vou fazê-lo. Eu tenho alguns projetos artísticos, sobretudo no campo da literatura. Mas não achei que seria ético da minha parte inscrever projeto meu, sendo que atualmente estou empregado. Se eu me escrevesse e fosse contemplado poderia está tirando a vaga de um artista mais necessitado do que eu, no atual contexto.
Se fosse um edital de Cultura regular tudo bem, mas estamos falando de uma lei que tem como objetivo “promover ações para garantir uma renda emergencial para trabalhadores da Cultura e manutenção dos espaços culturais brasileiros durante o período de pandemia do Covid‐19” (Lei Aldir Blanc). Se eu tenho outra fonte de renda por que vou tomar o lugar daqueles que não tem? Mas tudo bem, não estou aqui para julgar. Cada um com sua consciência. Por outro lado, os pareceristas, que segundo o governo tinha um perfil técnico, deviam ter se atentado para isso.
De todo modo, se executados, os diversos projetos contemplados irão contribuir para que 2021 seja um ano movimentado no Tocantins, do ponto de vista cultural. E a partir daí não só garantir uma renda mínima para artistas e espaços artísticos, como também para o fortalecimento da cultura no Tocantins. Óbvio, esse fortalecimento só se dará de forma contínua, no momento que tivermos políticas públicas para cultura numa perspectiva de Estado e não de governo, numa perspectiva permanente e não pontual. Aos artistas cabe continuar não se acomodando e se reinventando – buscando alternativas para produzir e divulgar os seus trabalhos sem a necessidade de editais.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador, Poeta e Escritor Popular.
Ótimo artigo e oportuno.
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