Simplesmente amor é uma obra plural, não apenas por ser composta de trabalho de diferentes autores. Mas também no que se refere a ótica acerca da temática trabalhada bem como a forma de expressa-lá – crônicas, contos, poemas entre outros. Ou seja, alguns autores utilizam a ficção para apresentar sua visão do que é o amor. Já outros a própria vivência. Em alguns casos, ou talvez em todos, isso se mistura (ficção e realidade) sendo impossível distinguir. Ao final da leitura me pareceu que mais do que o amor, os textos falam sobre a vida.
Mais adiante voltaremos a esse ponto. Antes falemos de como está organizada a coletânea.
A obra é composta por 126 textos, cada 1 de um autor diferente (olha o tamanho da diversidade), formando um total de 259 páginas. E os trabalhos seguem a ordem alfabética do nome dos escritores. Essa disposição dos textos creio que possibilita uma leitura mais agradável da obra. Por que vai intercalando prosa com verso. Texto ficcional com não ficcional. E texto mais curtos, com outros mais longos. A edição é da editora Perse (de muita qualidade). E mais uma vez vale a pena chamar atenção para a capa do M.A Thompson. Os interessados podem adquirir o trabalho pelo site do Projeto Apparere.
É uma coletânea de fato recheada de bons trabalhos. Sendo difícil portanto selecionar os melhores. Ouso, no entanto, mencionar alguns que mais me afetaram durante a leitura. Nesse sentido aponto o texto que abre o livro – o conto “cem dias de solidão”, do Adenildo Aquino – escritor potiguar, radicado no Recife.
Abro um parêntese para dizer que no final da obra há uma breve biografia de cada autor. Isso é muito importante para quem quiser conhecer mais os autores e buscar mais informações sobre aqueles que mais chama atenção do leitor.
Outros contos que vale a pena o destaque são: “Por entre trilhos” da Ana Priscila Freire Batista, “Imperfeitos” da Antonella Nicolino, “A cafeteira que produz sonhos e amor” da Diana Paula Sousa, “Amor amargo amor” da Nádia Coldebella e “A peça por trás da peça” do Roberto Schima.
“Amar é um ato de coragem” – uma prosa reflexiva da Karoliny Mesquita de Oliveira é bastante interessante. Nessa mesma linha também segue “o que é o amor?” da escritora paulista Kate Roda. “A vida sem ela” é uma crônica desse que vos escreve (que modéstia a parte não deixa cair o nivel da obra, pelo contrário). E entre os poemas temos: “Hino ao amor eterno (compromisso)” do Carlos Alberto Affonso, “Perdoa-me” do João Gomes Andre e “Você procura o amor?” da Sandra Costa.
Na maioria dos textos temos uma visão romântica do amor – o que não poderia ser diferente. Pois estamos falando de uma obra literária. Nesse sentido o amor ao invés de um afeto, acaba sendo personificado numa pessoa. Nesse sentido alcançar o amor significa conquistar a pessoa amada. Ao caminhar nessa perspectiva creio que falhamos ao tratar do amor. Eu particularmente tenho tentado encara-lo de uma perspectiva mais racional, sobretudo a visão espinosana que define o amor como uma alegria relacionada a uma causa externa – e que aumenta a nossa potência de agir. Seguindo essa perspectiva não conquistamos o amor, somos afetados por ele. Desse modo não estamos falando de algo que se possuí.
Por isso na minha visão os textos da coletânea simplesmente amor falam mais sobre relacionamentos, sobre a vida. Pois afinal de conta o que é a vida se não o que os autores nos apresentam nas suas crônicas, contos e poemas – encontros e desencontros. Chegadas e partidas. Aventuras e desventuras. Começos e fins. Alegrias e tristezas. E por aí em diante.
Simplesmente amor, poderia melhor ser defendido como “así es la vida”. De todo modo é uma obra que não decepciona os amantes da leitura. E nos mostra que tem muitos talentos fazendo literatura de qualidade nesse nosso país. Ainda que a falta de apoio e de reconhecimento persistam. Sobretudo para quem não faz parte do cânone literário brasileiro.
Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino-americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.
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