Para Jádyla Patrícia
Bem, a fotografia eu já tinha, me faltava pensar o que via, o que sentia e o que mudaria.
A imagem da fotografia mostra duas pessoas sorridentes, felizes. E era sempre assim. O que me fez lembrar de tantos momentos que vivemos juntos. Daí não me veio outra coisa na cabeça se não colocar que o que sentia ao ver aquela imagem era saudade e gratidão. Saudades de uma convivência amiga, das conversas, do companheirismo, dos sonhos e projetos que divididiamos. Por outro lado a gratidão de ter tido o privilégio de tê-la na minha vida. De tê-la proporcionado pequenas alegrias e termos vividos momentos inesquecíveis. Diante disso não poderia concluir de outra forma se não dizendo que não mudaria nada. Pois a nossa relação era tão bonita e a convivência tão tranquila que não poderia me sentir de outra forma senão agradecido.
Depois dessa experiência fiquei pensando como uma dinâmica aparentemente simples pode mexer tanto com a gente. No meu caso me proporcionou um olhar diferente para minhas memórias com minha mãe. A partir de agora não só aquela fotografia compartilhada vai me fazer sentir gratidão. Mas todas as outras que me farão lembrar da nossa convivência.
Não sei se os demais participantes da oficina tiveram uma experiência tão profunda assim. De todo modo, não tenho dúvida de que todos foram afetados de alguma forma ao fazer esse exercício de olhar para suas memórias de forma reflexiva.
Nesse sentido as atividades da Oficina de Narrativas Imagéticas foram de encontro com a análise que o Michael Pollak faz da relação entre memória e identidade social. Inclusive, Pollak foi um dos autores utilizado pela Jádyla nas aulas teóricas em preparação as atividades práticas.
Um aspecto que Pollak (1992) ressalta sobre a memória é que ela tem um caráter mutável ou seja, ela está em constante transformação. O olhar que temos hoje para um determinado fato do passado tende a se modificar com o passar dos anos. E essa mudança se dá não apenas numa perspectiva individual, mas também coletiva. Pois para o nosso autor (1992) a memória não diz respeito apenas ao indivíduo, ela é produto da coletividade. Por isso que ele ressalta que a memória é constituída tanto das lembranças do que vivemos pessoalmente como por tabela. Ou seja, “são acontecimentos dos quais a pessoa nem sempre participou mas que, no imaginário, tomaram tamanho relevo que, no fim das contas, é quase impossível que ela consiga saber se participou ou não.” Além dos acontecimentos nosso autor também pontua as pessoas (personagens) e os lugares como parte constituinte da memória.
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinquenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida... nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
— Mas o menino ainda existe.
A escola já não existe. Mas o estudante sonhador (que queria mudar o mundo) sim.
Enfim, com isso concluímos ressaltando mais uma vez a riqueza que foi essa oficina ministrada pela Jádyla. Acredito que atividades como essa são fundamentais para uma formação mais humana dos nossos estudantes – contribuindo tanto para o autoconhecimento como para sua identidade social enquanto parte de uma determinada comunidade. Acreditamos também que atividades como essa amplia o leque de possibilidade dos nossos estudantes quanto a sua formação profissional.
Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos.
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