Alguns vão dizer que é por causa dos The Beatles e toda a áurea que envolve a banda. Todos os membros desse grupo britânico de rock foram transformados em ícones da cultura pop. E o John Lennon, por exemplo, numa lenda. Mas o fato é que do ponto de vista cultural, e por que não político, não é possível compreender o século XX – tanto no campo da música como comportamental – sem falar na obra construída pelo quarteto de Liverpool. Desse modo, não é de se admirar que um lançamento inédito da banda após tantos anos cause tanta euforia. Ainda mais pelas circunstâncias – John Lennon e George Harrison, mortos. E Paul McCartney e Ringo Starr já se aproximando da aposentadoria. De modo, que ao que tudo indica esse será o último lançamento inédito da banda – que foi possível graças a registros deixado tanto por John como por Harrison. Em resumo, tudo corrobora para que a composição se torne icônica.
Todo esse contexto pode até favorecer do ponto de vista publicitário a obra. Mas não é isso que a torna algo belo. Para compreender essa afirmação um texto do filósofo estadunidense John Hospers sobre atitude estética é muito oportuno.
De acordo com esse autor (2016) “quando contemplamos esteticamente uma obra de arte ou a natureza, fixamos-nos apenas nas relações internas, ou seja, no objeto estético e nas suas propriedades, e não na sua relação com nós próprios, nem se quer na sua relação com o artista que o criou ou com o nosso conhecimento da cultura em que surgiu”. Ou seja, devemos ter uma postura neutra ao contemplar esteticamente uma obra de arte – uma tarefa um tanto difícil. Diria quase impossível. Por isso que muitas vezes julgamos uma obra de arte a partir de uma perspectiva moral ou cognitiva.
Ainda de acordo com Hospers (2016) o valor estético de uma obra de arte está na sua unidade: “O objeto unificado deve conter dentro de si um amplo número de diversos elementos, onde cada um contribui em alguma medida para a total integração de todo unificado, de modo a que não exista confusão apesar dos elementos díspares que o integram. No objeto unificado, todas as coisas são necessárias, e nenhuma é supérflua”. Ou seja, não é possível alterar nenhuma vírgula sem que isso prejudique o todo.
Todos os elementos internos que compõem Now and Then formam uma unidade única. Mostrando que estamos diante de uma obra de arte de um enorme valor estético. Ou seja, um clássico.
Mas como não somos seres puramente racionais não poderia deixar de destacar o aspecto emotivo da canção – que a mim me remeteu a ausência, ao luto. A melodia em si já nos remete a uma época que se foi. E a letra então vem afirmar esse sentimento nos fazendo recordar de outros invernos e de pessoas que aqui já não estão – mas que sobrevivem na nossa memória.
eu sinto a sua falta.
Oh, de vez em quando,
eu quero que você esteja lá para mim.
Sempre retorne para mim...”
Desse modo somos levados a refletir sobre a vida. E o clip da canção (que é uma obra de arte a parte) comandado por ninguém menos que Peter Jackson (O Senhor dos Anéis ), remete mais ainda a isso ao abordar tempos distintos e conciliar juventude com maturidade – passado com presente. Enfim, é para ouvir, ouvir e ouvir. E agradecer a oportunidade de apreciar obras desse nível em tempos como os nossos em que o supérfluo domina.
Pedro Ferreira Nunes – Um rapaz latino-americano que gosta de ler, escrever, correr e ouvir Rock in roll.
Parabéns,como sempre uma reflexão maravilhosa.
ResponderExcluirObrigado, querida. Obrigado por sempre ler minhas divagações
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