O principal responsável por alimentar o sistema é o professor que está na regência da sala de aula. Devendo portanto dedicar parte do seu tempo para esse fim. A questão é que a dinâmica escolar nem sempre possibilita que isso seja feito a contento. Obrigando, não raramente, o professor de fazer isso no seu tempo que deveria ser de descanso. Algo que facilitaria é se tivéssemos uma ferramenta que ajudasse - o que não é o caso da nova versão - que parece ter sido feita estrategicamente para complicar a vida de quem está na sala de aula. A versão anterior de fato já estava ultrapassada. Porém, imaginava-se que a mudança seria para melhor. Não foi o que ocorreu, infelizmente. Como consequência temos uma ferramenta que ao invés de otimizar o trabalho docente tem o tornado mais penoso. Ainda mais num contexto de deficiência do serviço de internet nas escolas.
Independente disso, como também do fato dos professores não terem passado por formação. Pela instabilidade do sistema e as suas constantes atualizações. Há prazos a serem cumpridos. E quando não são, a cobrança vem de forma enfática. Inclusive com ameaça de notificação entre outros.
Marcuse (1973) é um crítico do desenvolvimento tecnológico porque observa que esse desenvolvimento ao invés de contribuir para libertação dos indivíduos acaba tendo um efeito contrário. E é isso que observamos no caso da nova versão do sistema de gerenciamento escolar (SGE). Uma ferramenta que deveria contribuir com o nosso trabalho docente acaba se tornando algo nocivo que afeta a saúde mental.
O trabalho burocrático é certamente uma das partes mais estressantes do fazer docente. E acaba afetando a sala de aula. Pois enquanto o professor está perdendo tempo preenchendo coisas burocráticas está deixando de lado o estudo e o planejamento de atividades que de fato iria impactar na qualidade das aulas. Quase sempre é um trabalho repetitivo, preenchendo coisas que não fará nenhuma diferença no processo de ensino-aprendizagem.
Desde o seu lançamento no início do ano letivo, a ferramenta já passou por alguns ajustes. E o que se ouve é que estes ajustes continuarão. O que evidencia a má escolha realizada por quem adquiriu o produto. Enquanto isso, quem está na ponta está pagando a conta. Essa questão me fez lembrar de um pensamento há alguns anos ao ouvir uma colega reclamar da educação, sobretudo referente às exigências burocráticas.
- Se a burocracia mata a educação. Matemos a burocracia então.
Hoje acrescentaria. Ou matamos a burocracia ou ela nos matará. O índice de brasileiros com sentimentos negativos referente ao trabalho é enorme, como aponta pesquisa divulgada recentemente do State of the Global Workplace 2024. Que isso evolua para um adoecimento mental é mais do que óbvio. Também não faltam dados que mostram essa realidade, como, por exemplo, o divulgado pelo INSS, de 2023, que aponta um crescimento de quase 40% no afastamento de trabalhadores decorrentes de problemas como ansiedade e depressão. Os levantamentos também apontam que esse é um dos principais problemas que tem levado ao afastamento dos professores da sala de aula.
Engana-se quem pensa que o adoecimento mental dos professores está ligado apenas a sala de aula. A relação entre professor e aluno certamente não é fácil. Sobretudo num contexto em que a educação não é mais vista como um instrumento de mudança - tanto pessoal como social. E tanto a família como a sociedade passam por uma crise de valores. Mas, mais desgastante do que a sala de aula é certamente as demandas burocráticas que são cobradas do professor. E o pior, é que se observa, que essas exigências não tem como fim melhorar o processo de ensino-aprendizagem, mas justificar a existência de determinadas estruturas burocráticas.
Dito isso, infelizmente não vislumbramos uma mudança dessa realidade. Sobretudo porque ouvir quem está no chão da escola parece não estar no radar de quem pensa a educação no Tocantins. Além disso, quem está no chão da escola não está muito disposto a fazer um enfrentamento para que seja ouvido.
Pedro Ferreira Nunes - É Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins. Graduado em Filosofia (UFT). Especialista em Filosofia e Direitos Humanos (Unifaveni). E Mestre em Filosofia (UFT).
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