A investigação em curso contra Wanderlei Barbosa teve início em 2021-2022, quando ele ainda era vice-governador. Logo depois assumiria o executivo estadual com a queda do então Governador Mauro Carlesse. De lá para cá ele foi eleito para um segundo mandato faltando pouco mais de um ano para finalizá-lo. De modo que não temos como não questionar: - por que só agora?
Tanto a nível nacional como regional o judiciário tem se comportado como um Deus ex machina. Para quem é conhecedor da mitologia grega sabe muito bem do papel que essa figura desempenha intervindo no destino dos mortais. Ele sempre aparece no momento decisivo da trama mudando o que parecia ser certo.
Com alta aprovação popular e a falta de uma oposição forte, o governador Wanderlei Barbosa, antes do afastamento, se colocava como líder do processo sucessório. As duas principais pré-candidaturas até então disputavam o seu apoio: a senadora Dorinha (União Brasil) e o presidente da ALE-TO - Deputado Estadual Amélio Cayres (Republicanos). Essa liderança passa agora para o seu vice - Laurez Moreira. Até então renegado como ele fora por Carlesse.
É importante lembrar que sem a queda do Carlesse impulsionada por uma decisão judicial, Wanderlei dificilmente teria se tornado Governador. Antes, sem a queda de Marcelo Miranda, também impulsionado por decisão judicial, Carlesse dificilmente teria sido governador. Acontecerá o mesmo com Laurez? Ainda é muito cedo para afirmar isso. Pois enquanto houver possibilidade de retorno do governador Wanderlei, a liderança do Laurez é relativa. Na verdade, de todo governante. Enquanto tem o poder na mão não lhe faltará aliados. Quando este lhe escapa, os aliados se afastam. É o realismo político camaradas. Nesse jogo não há espaço para quem pensa a política numa perspectiva idealista.
Enquanto o primeiro encontra fundamento no pensamento do Maquiavel - a partir do qual podemos resumir que a política deve ser feita a partir da realidade, ou seja, das coisas tal como elas são. Se vivemos num contexto em que cada um só pensa em si. Eu devo agir buscando os meus interesses. Ainda que isso signifique passar por cima de determinadas normas morais. O segundo encontra fundamento no pensamento grego clássico, onde a política é pensada a partir de como a sociedade deveria ser - onde o interesse comum se sobrepõe aos interesses individuais.
De todo modo, uma dose de prudência, como recomendava Aristóteles, é sempre aconselhável. Aliás, até Maquiavel ressalta a importância da prudência para que o governante não seja odiado. Nas suas próprias palavras: “Pouca prudência pode induzir os homens a optar por coisas que de momento têm sabor agradável mas que internamente estão repletas de veneno”. Num cenário de incertezas, então, a prudência é ainda mais fundamental.
Há que saber fazer uma análise de conjuntura acertada para se posicionar bem no tabuleiro da política. Esse não foi o caso daqueles que entraram com o pedido de impeachment do governador Wanderlei na ALE-TO. Ora, que motivos os deputados, que estavam sendo beneficiados pelo governo. Sobretudo o presidente do parlamento que parecia ser o seu pré-candidato preferido à sucessão estadual teria para fazê-lo? De modo que tal medida serve mais para “lacração” nas redes sociais do que como um efeito prático. Mas o fato é que diante da popularidade do governador Wanderlei nem para isso servirá. A não ser para reafirmar o perfil medíocre daqueles que o fizeram.
Por enquanto o que tem vindo à tona é muito sério. E se confirmado, Wanderlei Barbosa deve não apenas ser afastado. Mas também impeachmado e condenado juntamente com os demais que fizeram parte do esquema.
Num cenário ideal caberia o povo se sublevar e pressionar o parlamento estadual na direção de um impeachment do Governador Wanderlei. O que no cenário atual não vemos possibilidade. Desse modo, se a população continua se omitindo do seu papel. Caberá ao deus ex machina (judiciário) intervir. Quando e como será a próxima intervenção? Aguardemos os acontecimentos. Terminemos com as palavras que as náiades inscreveram no túmulo do filho do Hélio (sol) que morreu a tentar conduzir a carruagem do sol: "Aqui jaz Faetonte, cocheiro do carro paterno; não conseguiu dirigi-lo, mas morreu num ato de grande ousadia". Ele pelo menos teve a dignidade de tentar. E nós, povo tocantinense, quando ousaremos conduzir o nosso destino?
Pedro Ferreira Nunes - Mestre em Filosofia (UFT) e Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins.
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