sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Algumas palavras sobre o livro: Pesquisas e práticas em Ensino de Filosofia a partir do PROF-FILO

Quem atua com o ensino de Filosofia no chão da escola muitas vezes se sente desamparado pela falta de material didático que atenda a realidade da sala de aula. Diante disso ter uma obra com a sistematização de pesquisas e práticas desenvolvidas a partir do ensino de Filosofia na educação básica é certamente uma iniciativa importante. Esse é o caso do livro organizado pelos Professores Doutores: Paulo Sérgio Gomes Soares e José Soares das Chagas. A partir de trabalhos desenvolvidos no Mestrado Profissional em Filosofia (PROF-FILO).

Os organizadores são professores do Núcleo da Universidade Federal do Tocantins (UFT) do Programa de Mestrado Profissional em Filosofia. Quanto aos trabalhos são de estudantes egressos do programa, juntamente com seus orientadores. São trabalhos que foram desenvolvidos em Estados como Paraná, Pernambuco, Piauí e Tocantins. E que apresentam possibilidades de práticas pedagógicas a serem desenvolvidas tanto no ensino fundamental como médio. Assim como reflexões sobre o ensino de Filosofia e pesquisas desenvolvidas na área.

O relato das práticas desenvolvidas na sala de aula de diferentes contextos nos faz refletir acerca da nossa própria realidade. E certamente contribuem para que repensemos a nossa prática docente. O mais importante nessas pesquisas desenvolvidas é que as professoras-pesquisadoras e professores-pesquisadores não tentam nos empurrar uma fórmula de como desenvolver o ensino de filosofia. Muito pelo contrário. O que fica de mais importante é a atitude de tentar responder aos problemas que perceberam a partir da realidade em que estão inseridos. Ressaltando inclusive os limites que o sistema nos impõe. Sobretudo em relação a uma carga-horária mínima - carga-horária essa que não raramente é afetada por atividades imposta de cima para baixo pelas secretarias de educação. Além da dificuldade de engajar criaturas que acreditam que “sabem tudo”. Inclusive que, na sua visão limitada, o estudo escolar é coisa supérflua. Ainda mais quando esse estudo, no caso da filosofia, exige entrega - sair na nossa zona de conforto.

O livro é dividido em capítulos. E cada um contém o relato de uma pesquisa desenvolvida. Ao todo são 10 capítulos em que no geral percebemos uma forte influência da concepção de um ensino de Filosofia a partir da tradição francesa. Inclusive os três primeiros capítulos que abrem a obra tem como principal referência teórica Michel Foucault: 1- Orientação Sexual na Escola: Desafios filósofos na perspectiva de Michel Foucault (Romulda M. F. Vieira e Christina Lindberg); 2- Loucura, Saber-poder em Michel Foucault e o filme Bicho de Sete Cabeças: Uma proposta para experiência filosófica no ensino médio (Marcella Aparecida Schiavo Trava e Stela Maris da Silva); 3- “O que passou não conta?” A Filosofia e o ensino de Filosofia enquanto atitude - Limite referências Foucaultianas (Marcella Aparecida Schiavo Trava e Stela Maris da Silva). Os dois capítulos seguintes (4 e 5) trazem uma nova perspectiva. Tentando romper com a filosofia clássica: 4- Dessacralizar para filosofar desafios, rupturas e possibilidades da Filosofia na Educação Brasileira (Eusébio A. de Oliveira e Cristiano Dias Silva); 5- A Escola dos sonhos - conhecimento ancestral transmitido pelas palavras dos espíritos animais (Adriane C. dos Santos e Roberto Amaral). E eu ousaria dizer que são os dois textos mais interessantes juntamente com o 6 e o 7: 6- Imagens que pensam: O stop-motion como estratégia para explorar a presença das imagens técnicas na sociedade (Aline Aquino Alves e Leon Farhi Neto); 7- Música e oficinas pedagógicas no ensino de Filosofia em uma escola da educação básica na SEDUC-PI (Akyciel S. Farias e José Soares das Chagas). O 8 não traz nenhuma prática desenvolvida em sala de aula. Limita-se a uma reflexão sobre o ensino de Filosofia: 8- O ensino de Filosofia como uma questão filosófica (Heros Falcão Araújo e José Soares das Chagas).  O 9 também não traz nenhuma prática desenvolvida em sala de aula. Mas revela um fato interessante - a desigualdade de gênero no campo da pós-graduação em Filosofia assim como as pesquisas desenvolvidas: 9- PROF-FILO entre 2018 e janeiro de 2022: Notas para pensar as pesquisas sobre ensino de Filosofia (Bárbara N. Honorato Sousa e Pedro Gontijo). O capítulo 10, o capítulo que encerra o livro, também não traz um relato de uma prática desenvolvida em sala de aula. Mas um relato de experiência sobre a produção de uma espécie de wikipédia de Filosofia: 10- Wiki de ensino de Filosofia do sertão filosófico: um relato de experiência (Gabriel Kafure da Rocha e Emival Tibúrcio Silva).

Além das possibilidades que as pesquisas e práticas apresentadas neste livro oferecem aos professores e professoras que atuam no ensino de Filosofia. É também uma evidência da importância desse programa de mestrado profissional. E aqui temos apenas uma pequena amostra já que o PROF-FILO está em todo o Brasil.

Para finalizar, recomendo a leitura de Pesquisas e práticas em Ensino de Filosofia a partir do PROF-FILO (2025, EDUFT), disponível gratuitamente na versão ebook pela editora da Universidade Federal do Tocantins (UFT). Também recomendo a conhecerem o programa de mestrado e porque não se aventurar em cursá-lo. Posso dizer a partir da minha vivência no curso que é certamente um divisor de águas na nossa formação. E consequentemente na nossa atuação enquanto docente em sala de aula.

Pedro Ferreira Nunes - Mestre em Filosofia (UFT) e Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins.

domingo, 5 de outubro de 2025

Tocantins: Qual o futuro de um Estado que não valoriza seus professores?

Domingo, 05 de outubro de 2025. Acordei vendo as celebrações acerca do aniversário de criação do Estado do Tocantins. As postagens que celebram as belezas dessa terra não me afetaram de alegria. Pelo contrário. Pois me ocorreu o seguinte pensamento: Qual o futuro de um Estado que não valoriza seus professores?
Esse pensamento é fruto do movimento que realizamos essa semana, direcionados pelo Sindicato dos Trabalhadores na Educação do Tocantins (SINTET-TO), reivindicando o envio do novo plano de cargos, carreiras e remuneração (PCCR) dos professores para a Assembleia Legislativa do Tocantins e posterior sanção do governador. O que pudemos perceber a partir do relato da conversa que o sindicato teve com o atual secretário da Educação -  Hercules Jackson Moreira Santos - é que o atual governo não tem isso como uma das suas prioridades. Aliás, o perfil escolhido pelo governador em exercício - Laurez Moreira - para comandar a SEDUC já é um indicativo disso.
Não há justificativa para que a proposta elaborada por uma comissão (incluindo representantes da categoria dos professores) e discutida em encontros não seja encaminhada para a assembleia legislativa para que ali possam ser feitas as discussões e modificações que se acharem necessárias. O que não dá é para ficar segurando numa gaveta atrasando assim a sua efetivação.
É preciso enfatizar esse ponto pois o discurso do governo em exercício é de que a proposta está sendo estudada. Me desculpe, mas isso é nos tratar por ingênuos. Por mais que compreendamos que a proposta não foi elaborada pela gestão atual. E portanto entendemos à cautela. Mas em 30 dias de governo não ter sequer um cronograma concreto que indique quanto tempo irá demorar esse estudo e a previsão de envio para a assembleia legislativa é inaceitável. 
Ora, nós não concordamos integralmente com a proposta do novo PCCR. Mas compreendemos que era melhor chegar a um denominador comum com o governo e fazer as propostas de melhorias na assembleia legislativa - onde o governo também terá a oportunidade de defender seu ponto de vista.
Fortalecer a luta pela aprovação de um novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos Professores da Rede Pública Estadual do Tocantins
Valorizar a carreira do magistério sobretudo na educação básica é fundamental para vislumbrarmos a melhoria do ensino. Pois em que pese todo o avanço tecnológico a presença de uma professora ou professor na sala de aula é condição fundamental para um aprendizado significativo. No entanto, não são muitos aqueles que se dispõem a seguir essa carreira. 
Por um lado temos todo um discurso de criminalização do fazer docente sob a justificativa de que estes fazem doutrinação nas escolas a serviço de uma determinada ideologia. Por outro, temos a precarização das condições de trabalho, o excesso de afazeres burocráticos, assédio - tanto por parte dos chefes imediatos como de pais e estudantes, por fim, mas não menos importante a desvalorização salarial. 
Nesse contexto, não é de se admirar que nossa categoria seja uma das que têm os maiores índices de afastamento do trabalho por doenças relacionadas à saúde mental, ou melhor dizendo, a falta dela. Levando inclusive alguns colegas a atitudes mais drásticas como o suicidio.
Para nós não há alternativa senão resistir - nas escolas e nas ruas reivindicando a valorização da nossa carreira e melhores condições de trabalho. Resistir não por nós apenas. Mas pela construção de outra sociabilidade - em que a solidariedade se sobreponha ao egoísmo dos regimes neoliberais - uma sociedade em que o Estado não seja um instrumento para o enriquecimento ilícito dos seus governantes enquanto os governados sobrevivem na miséria.
Diante disso respondemos o nosso questionamento inicial da seguinte forma: não é possível vislumbrar um Estado justo sem a valorização dos seus professores. Pois se são eles que tem a missão de educar entre outros para o exercício da cidadania e para o trabalho. Como esperar que eles façam isso com excelência se não lhes dão condição para tanto?
Por outro lado, não podemos deixar de lembrar aqui no Darcy Ribeiro quando disse que o dito fracasso da educação brasileira é na verdade um projeto para manter as coisas tal como estão. Nesse sentido não é interessante para o governo, a não ser como retórica, lutar para melhorar a educação. Até fazem isso superficialmente, mas sem valorização de quem está na sala de aula nada muda. E isso é bom para quem está no poder, não é mesmo?
Pedro Ferreira Nunes - Mestre em Filosofia (UFT) e Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins.