Domingo, 05 de outubro de 2025. Acordei vendo as celebrações acerca do aniversário de criação do Estado do Tocantins. As postagens que celebram as belezas dessa terra não me afetaram de alegria. Pelo contrário. Pois me ocorreu o seguinte pensamento: Qual o futuro de um Estado que não valoriza seus professores?
Esse pensamento é fruto do movimento que realizamos essa semana, direcionados pelo Sindicato dos Trabalhadores na Educação do Tocantins (SINTET-TO), reivindicando o envio do novo plano de cargos, carreiras e remuneração (PCCR) dos professores para a Assembleia Legislativa do Tocantins e posterior sanção do governador. O que pudemos perceber a partir do relato da conversa que o sindicato teve com o atual secretário da Educação - Hercules Jackson Moreira Santos - é que o atual governo não tem isso como uma das suas prioridades. Aliás, o perfil escolhido pelo governador em exercício - Laurez Moreira - para comandar a SEDUC já é um indicativo disso.
Não há justificativa para que a proposta elaborada por uma comissão (incluindo representantes da categoria dos professores) e discutida em encontros não seja encaminhada para a assembleia legislativa para que ali possam ser feitas as discussões e modificações que se acharem necessárias. O que não dá é para ficar segurando numa gaveta atrasando assim a sua efetivação.
É preciso enfatizar esse ponto pois o discurso do governo em exercício é de que a proposta está sendo estudada. Me desculpe, mas isso é nos tratar por ingênuos. Por mais que compreendamos que a proposta não foi elaborada pela gestão atual. E portanto entendemos à cautela. Mas em 30 dias de governo não ter sequer um cronograma concreto que indique quanto tempo irá demorar esse estudo e a previsão de envio para a assembleia legislativa é inaceitável.
Ora, nós não concordamos integralmente com a proposta do novo PCCR. Mas compreendemos que era melhor chegar a um denominador comum com o governo e fazer as propostas de melhorias na assembleia legislativa - onde o governo também terá a oportunidade de defender seu ponto de vista.
Fortalecer a luta pela aprovação de um novo Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) dos Professores da Rede Pública Estadual do Tocantins
Valorizar a carreira do magistério sobretudo na educação básica é fundamental para vislumbrarmos a melhoria do ensino. Pois em que pese todo o avanço tecnológico a presença de uma professora ou professor na sala de aula é condição fundamental para um aprendizado significativo. No entanto, não são muitos aqueles que se dispõem a seguir essa carreira.
Por um lado temos todo um discurso de criminalização do fazer docente sob a justificativa de que estes fazem doutrinação nas escolas a serviço de uma determinada ideologia. Por outro, temos a precarização das condições de trabalho, o excesso de afazeres burocráticos, assédio - tanto por parte dos chefes imediatos como de pais e estudantes, por fim, mas não menos importante a desvalorização salarial.
Nesse contexto, não é de se admirar que nossa categoria seja uma das que têm os maiores índices de afastamento do trabalho por doenças relacionadas à saúde mental, ou melhor dizendo, a falta dela. Levando inclusive alguns colegas a atitudes mais drásticas como o suicidio.
Para nós não há alternativa senão resistir - nas escolas e nas ruas reivindicando a valorização da nossa carreira e melhores condições de trabalho. Resistir não por nós apenas. Mas pela construção de outra sociabilidade - em que a solidariedade se sobreponha ao egoísmo dos regimes neoliberais - uma sociedade em que o Estado não seja um instrumento para o enriquecimento ilícito dos seus governantes enquanto os governados sobrevivem na miséria.
Diante disso respondemos o nosso questionamento inicial da seguinte forma: não é possível vislumbrar um Estado justo sem a valorização dos seus professores. Pois se são eles que tem a missão de educar entre outros para o exercício da cidadania e para o trabalho. Como esperar que eles façam isso com excelência se não lhes dão condição para tanto?
Por outro lado, não podemos deixar de lembrar aqui no Darcy Ribeiro quando disse que o dito fracasso da educação brasileira é na verdade um projeto para manter as coisas tal como estão. Nesse sentido não é interessante para o governo, a não ser como retórica, lutar para melhorar a educação. Até fazem isso superficialmente, mas sem valorização de quem está na sala de aula nada muda. E isso é bom para quem está no poder, não é mesmo?
Pedro Ferreira Nunes - Mestre em Filosofia (UFT) e Professor na Rede Pública Estadual de Ensino do Tocantins.
domingo, 5 de outubro de 2025
Tocantins: Qual o futuro de um Estado que não valoriza seus professores?
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