Por Pedro Ferreira Nunes
Vale tudo eleitoral
O nível da campanha eleitoral no Tocantins que já era ruim
conseguiu a faceta de piorar ainda mais. Se já não bastasse a ausência de
projetos e programas de governo das principais candidaturas, os principais
candidatos a ocupar o palácio Araguaia decidiram partir para o vale tudo
eleitoral.
Sim, vale tudo eleitoral, podemos resumir assim a disputa
travada entre Sandoval Cardoso (SD) X Marcelo Miranda (PMDB) nesta reta final
da campanha eleitoral no Tocantins. Um duelo que tem nos causado náuseas de tão
baixo que é o nível. Acusações e mais acusações, tanto de um lado como do
outro. Infelizmente esta é uma velha tática utilizada de norte a sul do Brasil
– o terrorismo psicológico com a população. Tática utilizada magistralmente
pelo PT a nível nacional que concerne em acusar o outro de tudo que você faz,
mas é claro omita este detalhe. Essa tática que vem sendo utilizada pelos
principais candidatos que disputam o pleito eleitoral não é nem um pouco
original, porém funciona infelizmente.
Por exemplo, a apreensão de um avião no interior de Goiás
com 500 mil reais além de milhares de santinhos do candidato ao governo do
Tocantins Marcelo Miranda e do candidato a deputado federal Gaguim, ambos do
PMDB. Não se sabe a origem do dinheiro e nem do material de campanha. Tanto
Marcelo Miranda como Gaguim negam serem responsáveis pelo material apreendido.
Á Policia Civil de Goiás e á justiça eleitoral estão investigando o caso, no entanto
o episodio já esta sendo usado ostensivamente na campanha eleitoral tanto de um
lado como do outro.
Até o momento as investigações da policia civil de Goiás tem
apontado que o recurso pertence mesmo a Marcelo Miranda. No entanto muito
provavelmente quando o episodio for esclarecido de fato, isto é, se for
esclarecido. ‘A vaca já foi pro brejo’ como se diz popularmente por aqui. E os
responsáveis por tal crime muito provavelmente ficaram impunes, como é de praxe
no Brasil. Mas o vale tudo eleitoral não se resume a isto. A cada dia uma nova
denuncia surge – processo na justiça, calotes, perseguições e por ai vai. O
gozado de tudo é que há muito pouco tempo atrás eles estavam no mesmo palanque
como também no mesmo governo. Ai eu repito aquela velha ladainha que vocês
pobres leitores estão cansados de ler nos meus artigos, no entanto não posso
deixar de falar – são ou não são farinha do mesmo saco?
A tendência nessa reta final da campanha eleitoral é o nível
baixar muito mais. Pois se falta proposta, sobram-se acusações. Ainda mais
quando sabemos que tanto a ficha de Marcelo Miranda como de Sandoval Cardoso
não são das mais limpas.
Cabos eleitorais
“Não quero nem saber, só quero ganhar
meu dinheiro.”
Milhares de pessoas aproveitam este período para trabalhar
como cabo eleitoral e ganhar uma grana extra. Quando um desses o aborda lhe
pedindo voto para tal candidato e você o questiona sobre quem é este candidato
e qual projeto ele defende. É então que vemos que o pobre coitado esta ali pelo
dinheiro que irá receber e não por que acredita no candidato para quem esta
trabalhando. Se você o aperta mais um pouco ele lhe dirá – não quero nem saber,
só quero ganhar o meu dinheiro.
É então que um misto de tristeza e revolta me invade.
Revolta por que é este tipo de atitude que faz com que estas
oligarquias politicas se perpetuam no poder por varias décadas. Não vê o
imbecil que o pouco dinheiro que ganha agora, será tirado muito mais de suas
costas durante o mandato do tal candidato.
Nos dá uma vontade imensa de o pegar pela garganta e lhe dar
uma aula sobre o quão é prejudicial tal atitude oportunista. No entanto o que
eu conseguiria com uma atitude tão arrogante? Em vez de aproxima-lo de mim para
tentar conscientiza-lo, eu muito provavelmente estaria o repelindo.
Ai vem o misto de tristeza, por compreender que as pessoas
não se submetem a este papel por serem oportunistas. Mas para quem vive quase
na miséria, sem trabalho, sobrevivendo graças a um bolsa qualquer, é difícil
recusar alguns trocados para fazer campanha para quem quer que seja.
Assim é preciso compreender que não será do dia para noite
que conseguiremos despertar a consciência do trabalhador – de que enquanto não
rompermos com este ciclo vicioso ele continuará na miséria. Também não será com
atitudes sectárias que apenas nos isola do povo que conseguiremos ganhar a sua
consciência.
À esquerda nas eleições
Eula Angeli (PSOL) teve uma melhora significativa nesta reta
final. No entanto ainda esta muito aquém do que esperávamos de um partido que
esta se apresentando tão bem a nível nacional bem como em estados como Rio
Grande do Norte, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro. Infelizmente no Tocantins o
PSOL se quer apresentou-se como um partido de esquerda, por tanto contribuindo
muito pouco para construção de uma tradição de esquerda por essas terras. Eula Angeli,
coitada, não pode ser crucificada pelo seu despreparo. A responsabilidade é
totalmente dos seus companheiros de partido de colocar uma pessoa sem nenhuma
formação de esquerda numa candidatura majoritária, ainda mais ao governo do
estado.
Em um artigo escrito em meados de 2013 falávamos da
necessidade de construir uma candidatura com um perfil de esquerda ao governo
do Tocantins. Hoje podemos afirmar que esta candidatura é com certeza a de
Carlos Potengy (PCB) que vem desempenhando um importante papel para construção
de um projeto popular e anticapitalista no Tocantins. No inicio do processo
teve algumas limitações, no entanto no ultimo período teve um avanço
significativo. Infelizmente a falta de estrutura impediu que o PCB apresentasse
melhor o seu programa. Por exemplo, na propaganda de radio e tv o mesmo
programa ficou se repetindo sempre, apenas agora nessa ultima semana o partido
apresentou um novo programa. Porém, mesmo com todas as limitações, sobretudo em
um estado onde não há uma tradição de organizações da esquerda revolucionaria é
animador ver surgir novas lideranças populares e organizações de esquerda tal
como o PCB.
Independente do resultado eleitoral, a candidatura do PCB
sai vitoriosa em ser a única que procurou dialogar com o movimento popular bem
como fortalecer um projeto popular e anticapitalista para o Tocantins.
O triste retrato das eleições no
interior do interior do Brasil
Eleição no interior geralmente se torna um tipo de disputa
de torcida.Há dois grupos políticos que historicamente brigam entre si pelo
poder local, estes grupos geralmente são ligados as principais oligarquias que
governam o estado. Assim a cidade se divide em dois grupos que se digladiam
entre si, não muito raramente sendo capazes de ir às vias de fato.
Para grande maioria da população do interior não existe
candidaturas para além dessas duas. Pude ver este triste retrato em conversas
que tive recentemente. Em especial com uma camaradinha que me questionou por
que eu não estava participando do processo eleitoral na cidade, bem como em que
candidato ao governo do estado eu votaria. Expliquei a ela que eu estava sim
participando do processo, não tão ativamente como gostaria, como também tenho
candidato ao governo. Expliquei-a que pela falta de estrutura nossos candidatos
não tinham condições de fazer campanha em todo o estado. Disse-a que o papel de
candidaturas da esquerda não é entrar para o vale tudo eleitoral, mas sim
defender nossos princípios. Ela admirada questionou-me - quem é esse candidato?
Para o governo do Tocantins? Não são apenas dois candidatos? Expliquei então a
ela que além dos dois principais candidatos, existem outros três, como também
além dos três candidatos a presidente da república que ela sabe, existe outros
oito. Espantada ela falou que não sabia da existência desse tanto de
candidatos.
- Vou votar no seu candidato. Respondeu-me ela.
Orientei-a á não tomar uma decisão antes de conhecer o
perfil e o projeto político que defende todos os candidatos, tanto ao governo
do estado, a presidente da republica, como também para os outros cargos. Que
não votasse em um candidato apenas por que eu defendia-o, assim como qualquer
pessoa. Que ela pudesse tomar uma decisão partindo de sua própria analise
olhando para o todo e não apenas para uma parte.
Infelizmente esse é o triste retrato das eleições no
interior do interior do Brasil. Nem todos têm a liberdade e o direito de saber
e decidir em quem deve votar ou não. Em um jogo de cartas marcadas, rara as
exceções, candidaturas majoritárias são enfiadas goela abaixo da população. As
outras, sobretudo as de esquerda são intencionalmente omitidas da população.
E ainda muitos estufam o peito para dizerem orgulhosos que
vivemos em uma democracia. Que espécie de democracia é esta? Serve para o povo
pobre e oprimido da cidade e do campo? Não senhores, essa farsa burguesa não
nos serve. Lutemos para supera-la.
Brevíssimo comentário a cerca da
campanha do MPF sobre igualdade na disputa eleitoral
Falar em igualdade de condições em um
processo eleitoral onde num cenário com 11 candidaturas a presidência da
republica, apenas três aparecem. Onde estas três candidaturas tomam 90% do
tempo de radio e tv. Sendo que estas três candidaturas contam com uma grande
estrutura de financiamento de multinacionais para comprar apoio politico e
pagar cabos eleitorais. É no mínimo uma piada. Em vez de falar, é preciso dar
igualdade de condições, e isto, só com uma reforma política de fato.