Em primeiro lugar, creio que esse retorno ao que já faziamos antes se dá em grande medida pelo fato da Escola não está adequada do ponto de vista estrutural para que avancemos para novas práticas pedagógicas. O estudante já não aceita ficar confinado numa sala de aula durante pouco mais de quatro horas. Daí a sua solicitação contínua por atividades “diferenciadas”. Mas como desenvolver atividades diferenciadas, onde a tecnologia desempenha um papel maior, sem laboratórios e meios necessários para desenvolve-las?
O Professor, por sua vez, se vê impedido de atender tal solicitação. Não por que lhe falta preparação (há alguns sim), mas por questões estruturais. Falta espaço físico apropriado para o desenvolvimento de algumas práticas, falta laboratório equipados, falta equipamentos adequados e falta um serviço de acesso a internet de qualidade. Nesse contexto não há muito o que fazer. Fazemos o que podemos dentro das condições que temos.
Há uma tendência em colocar na conta do Professor a estagnação das práticas pedagógicas. São formações em cima de formações (quase sempre falando mais do mesmo). Cobra-se a adoção de novas metodologias e o uso da tecnologia. Esquecem-se no entanto da falta de condições estruturais para que isso ocorra. Além da burocracia excessiva que tira o foco do que é realmente necessário – o fazer pedagógico.
Não se trata aqui de fazer um discurso que justifique a acomodação por parte de muitos colegas. Acredito que mesmo em condições desfavoráveis conseguimos fazer um trabalho diferenciado. E faço tal afirmação a partir dos projetos e aulas que temos desenvolvido no CENSP-Lajeado. No entanto não podemos perder de vista a nossa limitação, até mesmo por uma questão de saúde mental. Não podemos nos responsabilizar pelo “fracasso da educação”. Façamos nossa parte, mas sem a ilusão de que seremos os “salvadores da pátria”.
Por exemplo, temos agora a implantação do Novo Ensino Médio que juntamente com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) – trás uma nova configuração para a educação básica. Entre estas, está a centralidade do Componente Curricular de Projeto de Vida – tornando-se o elo de ligação entre a base comum e as trilhas de aprofundamento. Sem uma profunda mudança do ponto de vista estrutural, as aulas desse Componente Curricular, como também das eletivas e das trilhas de aprofundamento vão ficar no terreno da teoria. E é justo responsabilizar o Professor por isso? Evidentemente que não.
Também não pode ir para conta dos Professores o fato dos estudantes não poderem exercer o seu poder de escolha prometido no discurso do Governo para aprovar o novo ensino médio. Sem essas mudanças estruturais o estudante não poderá escolher no que quer se aprofundar, terá que se conformar com que a escola tem condição de ofertar.
Com isso tal mudança tende a seguir o que diz Mészaros acerca da lógica das reformas educacionais no Sistema Capitalista – mudar para permanecer como está. Em alguns casos até que não seria tão ruim. Sobretudo quando tais mudanças tende a piorar o que já não era bom. Como é o caso do Novo Ensino Médio – que tem claramente uma perspectiva tecnicista. Aliás, ai está um ponto importante, compreender a lógica do Novo Ensino Médio é fundamental para nos opormos a ela. Sobretudo a área de humanas, que teve o seu espaço reduzido.
Enfim, parece que me desviei da questão Inicial. Retornando a ela, diria que as primeiras impressões que temos das aulas 100% presenciais é que a escola não está preparada para o estudante que aprendeu outras formas de aprender, utilizando a tecnologia no período pandêmico – o estudante da “sociedade informatizada”. O que fazer para que isso ocorra? Eis a questão que se impõem. Falamos aqui sobretudo do aspecto estrutural. Mas sabemos que não podemos reduzir apenas a isso. Deixemos assim como uma questão em aberto para motivar um debate necessário.
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atua como Professor da Educação Básica no CENSP-LAJEADO.