Natural de Sambaíba no Maranhão. Ary Carlos foi mais um Maranhense que veio construir uma rica trajetória, tanto na docência como na literatura, em terras tocantinas. No âmbito acadêmico teve diferente formações, sobretudo no campo da Educação, da literatura e da Filosofia. Nessas duas últimas possuía o grau de Mestre. Era um pensador livre que se recusava restringir a sua produção ao ambito acadêmico. Por isso não raramente figurava em jornais de circulação regional, como o Jornal do Tocantins, com artigos de opiniões. Essa verve provocadora pode ser conferida na sua extensão produção que perpassa diferentes gêneros.
Em sua página no Recanto das Letras (https://www.recantodasletras.com.br/autor_textos.php?id=3901&categoria=G) estão disponíveis 1203 textos. E a quantidade de leitura chega a quase 500 mil. Isso mostra que a sua produção tem um público leitor considerável. Desse modo, a decisão da família em manter sua página ativa (in memoria) é louvável. Não tenho dúvida, que pela sua riqueza, essa produção tem um potencial de atrair cada vez mais leitores. E quem sabe alguma editora se interesse em publicar versões impressas da sua obra – que tem como característica a provocação. Através dos seus textos Ary Carlos busca resgatar o exercício da crítica numa perspectiva livre – sem filiações a correntes do pensamento.
Falando em crítica um dos seus textos discorre justamente sobre essa temática. Dialogando com Marilena Chauí o nosso autor defende a crítica como o próprio exercício do pensamento – que não só nos ajuda a desmascarar as ideologias veladas como na compreensão de textos. Para Ary Carlos (2007) “a genuína crítica é forma de trabalho no qual pensamentos e discursos são vasculhados tendo em vista aquilo que silenciam.” Diante disso ele afirma: “não é à toa que os Críticos incomodam, provocam medo, são ameaças.”
Outro texto interessante é “Da poesia I”, onde o nosso autor reflete sobre o fazer poético, tecendo uma dura crítica ao que ele chama de banalização da poesia.
“Confunde-se justaposição de versos (ou mesmo um só) com Poesia. De minha parte, mantenho a esperança de que re-acharemos não apenas a sua real dignidade (Poesia) como a do próprio Poeta perdidos nesse rastejar infame de consumos e mesmices atoleimados.” (Ary Carlos, 2007).
De poesia Ary Carlos entendia. E não só teoricamente. Era um Poeta com P maiúsculo. Na minha singela análise, na sua produção literária, a poesia é onde ele mostra o seu maior talento. Como podemos conferir em “Garrafunda...” (2010):
“Onde aquela garrafinha azulada,
que descia por correntezas vermelhas, parou?
Há, sim, um menino corcunda escondido nela.
Temia raios e trovões.
Neste mundão, moço, não há mar,
apenas uns córregos, podres filetes,
riscando certos pontos.
Ouvi que um louco
treinou tiro ao alvo quando a viu.
Cantarolam, garanto, uma canção estranha
em que se ouve sobre um anjo feio
que levou a garrafinha e o corcunda.”
Há muitos outros na sua vasta produção literária. Como por exemplo, “Acorda, Brasil, Acorda” (2018) – onde ele faz um alerta importante: Deus, por Cristo, a Inteligência/Nós, em Marchas destemidas./Estupidez é clamar por "messias". Infelizmente o grito do poeta não foi ouvido e hoje pagamos a conta.
Para concluir, vamos de “Esperançar” (2017):
Hoje, a despeito de seus pesos,
Há de se Esperançar.
Arranca, pois, de teu Coração-Jardim,
Pétalas.
Cobre, cobre teus sorrisos,
Os bosques molhados,
As sombras chaves-de-noites.
O Amor é Luz,
O Amor é Sangue,
O Amor é Fogo...
No fundo, é secreta Viagem de Auroras!
Por Pedro Ferreira Nunes – Educador Popular e Especialista em Filosofia e Direitos Humanos. Atualmente é Professor da Educação Básica no CENSP-Lajeado.
Gostei desse poeta rockeiro 😎
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