segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Patrimônio histórico e cultural na serra do Lajeado esta ameaçada de acabar em até 10 anos

O alerta foi da Arqueóloga Drª Julia Cristina de Almeida Berra do IPHAN, numa palestra sobre a arte rupestre da serra do Lajeado, no encontro internacional de arte e cultura realizado nos dias 17 e 18 de setembro na cidade de Lajeado do Tocantins. A Drª Julia Cristina afirmou que o estado de conservação das pinturas rupestres é péssimo e com mais duas queimadas, tal como a que aconteceu recentemente no município, essas pinturas poderão desaparecer.

A arte rupestre da serra do Lajeado é um patrimônio histórico e cultural pouco conhecido pela população tocantinense, desconhecida, sobretudo, pela população que vive na região onde se encontra os sítios arqueológicos. Desconhecimento que tem levado a destruição dessa riqueza.

Os estudos que levaram a descoberta dos primeiros sítios arqueológicos nessa região iniciaram-se com a construção de Palmas. Hoje existem 52 sítios ao todo. A arte rupestre encontrada na serra do Lajeado tem como característica a variedade de pinturas, algo que não se encontra em outros sítios arqueológicos pelo Brasil. Essa característica também mostra que a região fora habitada por povos nômades diversos.

Não há estudos que apontam quem fez estes desenhos. Ou que aponta um período preciso de quando foram feitas. Alguns são bem antigos, outros mais recentes. Pesquisadores acreditam que estes desenhos podem ter sidos produzidos entre 12 a 7 mil anos. O fato desses povos terem sido exterminados dificulta os estudos para saber a origem dessa arte.

Descaso do poder público, Falta de estrutura para fazer pesquisas e poucos profissionais

Essa é a realidade de quem faz arqueologia no Tocantins, como bem colocou o professor Drº Marcos Aurélio Câmara Zimmermann da UNITINS. Na discussão sobre artefatos líticos e cerâmicos com o professor Drº Marcos Aurélio ficou claro que o descaso do poder público, a falta de estrutura para fazer pesquisas e a escassez de profissionais reflete no fato de que não é possível dar conta da demanda existente no Tocantins.

A discussão mostrou também a responsabilidade da comunidade na proteção desse patrimônio histórico e cultural. No entanto para que a população possa desempenhar este papel é preciso que ela tome conhecimento disso – da importância dessas riquezas históricas. Dai a necessidade da educação patrimonial nas escolas. Mas cabe ao poder público garantir através de leis a estrutura adequada para concretizar essa proteção.

Outra questão importante colocada pelo professor Marco Aurélio foi à necessidade da construção de um museu na cidade de Lajeado para que os objetos explorados nos sítios arqueológicos da cidade, que estão hoje num museu em Porto Nacional possam retornar para Lajeado. É preciso também que a câmara de vereadores aprove o quanto antes leis para garantir a preservação do patrimônio histórico e cultural tal como foi feito em outros municípios tocantinenses, por exemplo, Palmas e Gurupi.

O quadro apresentando pela Arqueóloga Julia Cristina e pelo Professor Marcos Aurélio sobre a situação da arqueologia no Tocantins – arte rupestre e os artefatos líticos e cerâmicos – não é nem um pouco animador. O risco da perda desse patrimônio histórico e cultural é eminente. Especialmente a arte rupestre. Nesse sentido é fundamental que o poder público e a comunidade tocantinense em geral despertem para necessidade de preservarmos essa riqueza. Riqueza que pertence a todos nós. E que é preciso que nos apropriemos dela de forma consciente – nas escolas, nas universidades, entre outros espaços – para podermos preserva-la.

O encontro internacional de arte e cultura do município de Lajeado

Além da discussão sobre arte rupestre na serra do Lajeado e dos artefatos líticos e cerâmicos nos
sítios arqueológicos do município de Lajeado. Discutiu-se a cosmologia do povo xerente, a necessidade da educação patrimonial nas escolas e o nucleamento inicial de Lajeado a partir de 1850.
Realizou-se também no encontro oficinas de argila, cestaria, fantoche e lítica. Apresentações culturais das escolas – teatro e dança. Apresentação de artistas populares – musica, literatura de cordel, fantoches e exibição de filmes.

A exposição de artefatos líticos e cerâmicos de Lajeado organizado pelo Núcleo tocantinense de arqueologia foi um dos pontos altos do encontro. Como também a exposição dos trabalhos artesanais feitos pela Associação das Mulheres Artesãs.

Aliás, o encontro internacional de arte e cultura do município de Lajeado foi organizado e realizado pela Associação das Mulheres Artesãs – AMAE. E foi com certeza um marco importante para cultura da cidade de Lajeado como também do estado do Tocantins. Resgatar a historia do município e preservar o patrimônio histórico e cultural invejável que o Tocantins possui, e especialmente a cidade de Lajeado, é dever de toda a sociedade. E este encontro realizado pela AMAE foi com certeza o primeiro passo nesse sentido.

Diante disso é fundamental que outras edições desse encontro possam se realizar, para que a cada ano possamos discutir, debater e apontar – sociedade e poder público – ações para preservar esse patrimônio histórico e cultural.


Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.

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