segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Breve reflexão sobre o processo das conferências públicas no Brasil



Não é de hoje que tenho uma posição critica as conferências realizadas pelo poder público tanto a nível regional como nacional. Especialmente a partir do momento que tomei conhecimento de que as políticas aprovadas coletivamente nestes espaços são simplesmente engavetadas pelos governos de plantão. Podemos apontar um exemplo emblemático – a conferencia nacional de comunicação realizada em 2010, onde uma série de questões para democratização da mídia no Brasil – foram aprovadas, mas cinco anos depois, nenhuma saiu do papel.

Há vários outros exemplos, o que careceria de um estudo mais aprofundado para aponta-los, o que não é o objetivo desse breve artigo, fica ai por tanto a tarefa para nossa academia. O que proponho aqui é uma breve reflexão sobre o processo das conferencias – se de fato estão cumprindo o seu papel que é de debater, propor e elaborar coletivamente politicas públicas para melhorar a vida da população. 

Ora, se as decisões levantadas nestes espaços são simplesmente engavetadas não é desperdício de dinheiro público a sua realização? Pois é de conhecimento de todos que não é barato o custo para realização das conferencias – gasto com material impresso, camisetas, transporte, alimentação, hospedagem entre outros. Tudo isso com recursos públicos para realizar uma farsa, pois infelizmente é isto que tem caracterizado estas conferências públicas. 

Outro fator a se refletir é a participação da sociedade civil organizada neste processo. Uma participação mínima. E isso é reflexo da falta de credibilidade da população neste espaço como um instrumento para construção coletiva de politicas públicas para melhorar a vida da comunidade. Nas conferências municipais, especialmente no interior essa realidade é ainda pior, poucas pessoas da sociedade civil comparecem, e os que lá vão, não participam ativamente, ficam apenas aplaudindo e levantando crachás.

Nas poucas conferências públicas que tive a oportunidade de participar como a de juventude nos municípios de Goiânia e Aparecida de Goiânia e das cidades em Palmas o maior numero de participantes são de burocratas ligados ao serviço público. São eles que coordenam e dirigem os trabalhos, são eles que propõem as politicas que devem ser aprovadas e são eleitos como delegados. Na maioria das vezes propostas rebaixadíssimas que mesmo assim não são colocadas em praticas – tanto no município, nem no estado e pior ainda a nível nacional.

Em uma conversa recente com uma servidora pública do município de Lajeado – ela comentava que não via sentido na realização da conferência municipal de assistência social na cidade, pois não via sentido perder tempo discutindo, elaborando e aprovando propostas que já mais seriam colocadas em praticas pela prefeitura municipal. Ela dizia saber muito bem disso, pois havia participado da conferência anterior que não tinha dado em nada.

Foi a partir desse dialogo e do acompanhamento de duas conferências públicas que se realizaram recentemente no município de Lajeado (assistência social e segurança alimentar). Que reavivou as críticas que trago comigo já há algum tempo a cerca do processo das conferências públicas no Brasil. Crítica que se tornou mais contundente ao presenciar como se dá este processo no interior – assim podemos afirmar – se nas grandes cidades as conferências tem todos os problemas que já relatamos a cima, imaginem no interior do interior do Brasil.

No Lajeado, por exemplo, grande parte das pessoas que foram convidadas se quer sabiam que iriam participar de uma conferência pública municipal ou pior ainda, não sabiam se quer o que é uma conferência pública. Na conferência de assistência social o convite para os idosos não dizia em momento algum que o evento se tratava de uma conferência, mas sim de um momento de recreação. Já na de segurança alimentar o convite dizia que era para um jantar em homenagem ao dia dos pais. Ora, que contribuição que essas pessoas podiam dar em uma discussão que elas se quer sabiam do que se tratava e  com que proposito se dava. Sem falar na desonestidade e a falta de respeito com essas pessoas que foram ludibriadas a participar dessas conferências.

Estes exemplos mostram que o próprio poder público não leva os processos de conferência a sério, que realizam por realizar, simplesmente para cumprir tabela, já que eles mesmos sabem que nada do que será aprovado ali iram colocar em prática. E se o poder público que é o responsável por efetivar as políticas que são aprovadas nestes espaços não leva as conferências a sério. Qual o estímulo à população tem para participar? E assim segue a realização das conferências públicas no Brasil.

Pedro Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio

Nenhum comentário:

Postar um comentário