O alerta foi da
Arqueóloga Drª Julia Cristina de Almeida Berra do IPHAN, numa palestra sobre a
arte rupestre da serra do Lajeado, no encontro internacional de arte e cultura realizado
nos dias 17 e 18 de setembro na cidade de Lajeado do Tocantins. A Drª Julia
Cristina afirmou que o estado de conservação das pinturas rupestres é péssimo e
com mais duas queimadas, tal como a que aconteceu recentemente no município,
essas pinturas poderão desaparecer.
A arte rupestre da
serra do Lajeado é um patrimônio histórico e cultural pouco conhecido pela
população tocantinense, desconhecida, sobretudo, pela população que vive na
região onde se encontra os sítios arqueológicos. Desconhecimento que tem levado
a destruição dessa riqueza.
Os estudos que levaram
a descoberta dos primeiros sítios arqueológicos nessa região iniciaram-se com a
construção de Palmas. Hoje existem 52 sítios ao todo. A arte rupestre
encontrada na serra do Lajeado tem como característica a variedade de pinturas,
algo que não se encontra em outros sítios arqueológicos pelo Brasil. Essa
característica também mostra que a região fora habitada por povos nômades
diversos.
Não há estudos que
apontam quem fez estes desenhos. Ou que aponta um período preciso de quando foram
feitas. Alguns são bem antigos, outros mais recentes. Pesquisadores acreditam
que estes desenhos podem ter sidos produzidos entre 12 a 7 mil anos. O fato
desses povos terem sido exterminados dificulta os estudos para saber a origem
dessa arte.
Descaso
do poder público, Falta de estrutura para fazer pesquisas e poucos
profissionais
Essa é a realidade de
quem faz arqueologia no Tocantins, como bem colocou o professor Drº Marcos
Aurélio Câmara Zimmermann da UNITINS. Na discussão sobre artefatos líticos e
cerâmicos com o professor Drº Marcos Aurélio ficou claro que o descaso do poder
público, a falta de estrutura para fazer pesquisas e a escassez de
profissionais reflete no fato de que não é possível dar conta da demanda
existente no Tocantins.
A discussão mostrou
também a responsabilidade da comunidade na proteção desse patrimônio histórico
e cultural. No entanto para que a população possa desempenhar este papel é
preciso que ela tome conhecimento disso – da importância dessas riquezas
históricas. Dai a necessidade da educação patrimonial nas escolas. Mas cabe ao
poder público garantir através de leis a estrutura adequada para concretizar
essa proteção.
Outra questão
importante colocada pelo professor Marco Aurélio foi à necessidade da
construção de um museu na cidade de Lajeado para que os objetos explorados nos
sítios arqueológicos da cidade, que estão hoje num museu em Porto Nacional
possam retornar para Lajeado. É preciso também que a câmara de vereadores
aprove o quanto antes leis para garantir a preservação do patrimônio histórico
e cultural tal como foi feito em outros municípios tocantinenses, por exemplo,
Palmas e Gurupi.
O quadro apresentando
pela Arqueóloga Julia Cristina e pelo Professor Marcos Aurélio sobre a situação
da arqueologia no Tocantins – arte rupestre e os artefatos líticos e cerâmicos
– não é nem um pouco animador. O risco da perda desse patrimônio histórico e
cultural é eminente. Especialmente a arte rupestre. Nesse sentido é fundamental
que o poder público e a comunidade tocantinense em geral despertem para
necessidade de preservarmos essa riqueza. Riqueza que pertence a todos nós. E
que é preciso que nos apropriemos dela de forma consciente – nas escolas, nas
universidades, entre outros espaços – para podermos preserva-la.
O
encontro internacional de arte e cultura do município de Lajeado
Além da discussão sobre
arte rupestre na serra do Lajeado e dos artefatos líticos e cerâmicos nos
sítios arqueológicos do município de Lajeado. Discutiu-se a cosmologia do povo
xerente, a necessidade da educação patrimonial nas escolas e o nucleamento
inicial de Lajeado a partir de 1850.
Realizou-se também no
encontro oficinas de argila, cestaria, fantoche e lítica. Apresentações
culturais das escolas – teatro e dança. Apresentação de artistas populares –
musica, literatura de cordel, fantoches e exibição de filmes.
A exposição de
artefatos líticos e cerâmicos de Lajeado organizado pelo Núcleo tocantinense de
arqueologia foi um dos pontos altos do encontro. Como também a exposição dos
trabalhos artesanais feitos pela Associação das Mulheres Artesãs.
Aliás, o encontro
internacional de arte e cultura do município de Lajeado foi organizado e
realizado pela Associação das Mulheres Artesãs – AMAE. E foi com certeza um
marco importante para cultura da cidade de Lajeado como também do estado do
Tocantins. Resgatar a historia do município e preservar o patrimônio histórico
e cultural invejável que o Tocantins possui, e especialmente a cidade de
Lajeado, é dever de toda a sociedade. E este encontro realizado pela AMAE foi
com certeza o primeiro passo nesse sentido.
Diante disso é
fundamental que outras edições desse encontro possam se realizar, para que a
cada ano possamos discutir, debater e apontar – sociedade e poder público –
ações para preservar esse patrimônio histórico e cultural.
Pedro
Ferreira Nunes é educador popular e militante do Coletivo José Porfírio.
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