Seu
Disomo veio com sua família de Porto Nacional para viverem na pequena cidade do
Lajeado, pois como viviam da pesca, não havia melhor lugar no estado para se
dedicar a este oficio. Assim construíram uma casa de palha de coco babaçu nas
margens do córrego Lajeado e próximo ao rio Tocantins.
Não
era difícil encontra-los, eles sempre andavam em grupo. Por isso ganharam o
apelido de Quatis – animal do cerrado que anda em bando. Gostavam de tomar uma
cachacinha e estavam sempre correndo da policia ambiental que os perseguiam no
rio por pescar em áreas proibidas.
Em
toda cidade interiorana é tradição pegar alguém para cristo, isto é,
marginalizar, crucificar. Em Lajeado as elites elegeram os Quatis. Tudo de ruim
que acontecia por ali eles eram os culpados, independente de qualquer investigação.
Se tinha briga – era os quatis. Se tinha roubo – eram os quatis. Se tinha
assassinato – eram os quatis, Se alguém soltava um pum – eram os quatis.
E
eles sofriam na mão da polícia. Eram presos, apanhavam e depois eram soltos,
pois nada havia sido provado contra eles. Tudo isso por que não havia quem
intercedesse por eles, não tinham direitos, a eles eram negados qualquer tipo
de direitos. Os Quatis nunca foram bem vindos ao Lajeado, sempre tentaram
expulsa-los daqui, para as elites locais eles sujavam a imagem da cidade que
tem uma economia que depende grande parte do turismo. Mas eles amavam viver por
essas bandas, mesmo com todas as hostilidades sofridas.
Como
não havia como expulsa-los daqui as elites locais tomaram uma decisão drástica.
Mataram o meleta – o mais jovem. Mataram dona Eurides – a matriarca da família.
Mataram seu Disomo – o patriarca. Mataram o nego – o filho mais velho. No
entanto eles são muitos e ainda por cima procriam. Quanto mais os matam, mais
eles renascem e se fortalecem. E vão tomando conta da cidade, pois á cidade
também vos pertence.
Mesmo
sendo marginalizados, eles fazem muito mais pela cidade do que muito
burguesinho parasita que sobrevive do suor dos trabalhadores locais. E essa
burguesia os odeia, sobretudo por que eles não se deixam explorar por ela, não
se submetem a ela, não se humilham, não abaixam a cabeça.
A
burguesia lajeadense os teme por que sabe que eles carregam nas veias o sangue
de zumbi dos Palmares e que no dia que se revoltarem decapitaram suas cabeças –
esperem e verão seus burgueses malditos.
Pedro Ferreira Nunes - Poeta e escritor.
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